
Para a maior parte dos m�dicos ouvidos pela reportagem, houve falha na condu��o da gest�o da COVID-19 no Brasil, principalmente pela falta de sinergia entre o governo federal, estados e munic�pios, chegando a ponto de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter de intervir e transferir a autonomia das tomadas de decis�o aos dois �ltimos poderes citados. O fato de n�o ter havido um denominador comum - agravada com a troca constante de ministros da Sa�de -, foi um dos erros apontados por Rodrigo Molina, infectologista e professor da Universidade Federal do Tri�ngulo Mineiro (UFTM).
“No final, jogaram toda a responsabilidade para cima das prefeituras, sendo que algumas n�o tinham condi��o nenhuma de fazer uma gest�o adequada. Tem munic�pio que n�o tem hospital, imagine fazer uma gest�o p�blica ampla desse jeito? A gest�o foi atribulada, o que culminou, sim, em um n�o controle efetivo quanto ao n�mero de casos. Tanto que foram aumentando rapidamente, chegando a 100 mil mortes r�pido”, analisa Molina.
A falta de alinhamento tamb�m foi destacada por Ant�nio Jorge, m�dico e ex-secret�rio de Sa�de de Minas. Para Ant�nio, a decis�o do STF foi importante, mas, na vis�o do especialista, faltou uni�o entre os poderes para gerir a crise no pa�s e classificou como “muito ruim” o fato de o Brasil concentrar 14% das mortes por coronav�rus no mundo.
“O Supremo tomou uma medida importante, que foi: dada a urg�ncia, os gestores municipais e estaduais t�m al�ada para tomar suas decis�es. Isso pode ter sido ben�fico em um aspecto, mas n�o � igual dizer que n�o deva haver uma coopera��o nacional. O Minist�rio (da Sa�de) precisa cada vez mais atualizar seus protocolos. Antes, era se voc� tivesse sintomas leves, que era para ficar em casa. Hoje, por qualquer sintoma tem que procurar a unidade de sa�de. Esse papel normatizador deve ser feito pelo Minist�rio”, opina.
J� para Sylvia Lemos Hinricsen, m�dica infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), n�o s� o Brasil, mas como todo o mundo, passou por um processo de aprendizado sobre a COVID-19. “ Acho que o que houve no mundo inteiro foram dificuldades de se entender a etiopatogenia do v�rus e ter que aprend�-la com a linha do tempo, � medida que algum centro publicava alguma coisa sobre suas experi�ncias. Foi muito observacional e muito em cima de tentativa de se fazer uma s�rie de procedimentos, e hoje a gente j� come�a a ver algumas tend�ncias”, afirma.
Manaus
Manaus, capital do Amazonas, registrou, entre 24 e 28 de setembro, 1.627 casos confirmados de COVID-19, n�mero que, no mesmo per�odo de agosto, estava em 1.255. Ou seja, um salto de quase 30%. Por isso, o prefeito Arthur Virg�lio Neto (PSDB) chegou a propor ao governo do estado que fosse feito um lockdown para controlar a velocidade da doen�a que, apesar de estar alta, especialistas descartam que seja uma “segunda onda”, como vem acontecendo na Europa.
Para Rodrigo Molina, saltos no n�mero de casos devem ser frequentes, uma vez que a popula��o tem sa�do mais de casa em fun��o das medidas de flexibiliza��o de setores da economia, sendo que algumas pessoas ainda insistem em n�o usar m�scara, formando, ainda aglomera��es. O especialista chama a aten��o para os feriados nacionais, como o pr�ximo dia 12 de outubro, quando � celebrado o dia de Nossa Senhora da Aparecida - padroeira do Brasil.
“Devemos prever a� sempre novas ondas de aumento - n�o estou dizendo segunda onda -, mas per�odos de eleva��o de casos. Estamos tendo um aumento de casos relativos ao feriado de 7 de setembro. At� falei com os alunos na aula que o brasileiro decretou o fim da pandemia no dia 7 de setembro. Foi todo mundo para a praia, todos os ambientes cheios, hot�is com 100% de ocupa��o, ent�o agora estamos vendo, na verdade, o que esse fato est� causando.”
Na vis�o de Ant�nio Jorge, o aumento do conv�vio social cria tend�ncia de algumas localidaded do Brasil terem novos picos de incid�ncias de casos. Apesar disso, o especialista n�o acredita que o caso de Manaus seja uma segunda onda. "Eu acho que, tanto na experi�ncia internacional quanto aqui, a gente viu que passado aquele tsunami inicial, quando a gente flexibiliza o conv�vio social h� um pique no n�mero de casos. Isso est� acontecendo em alguns locais, como em Manaus, de forma significativa, mas acho que � inevit�vel que tenhamos pequenas acelera��es”, salienta.
Sylvia Lemos Hinricsen tamb�m acredita que, com fato de as pessoas estarem mais expostas ao v�rus nas ruas, a incid�ncia de casos aumenta, mas que � muito cedo falar em segunda onda. “Houve as flexibiliza��es, saiu de uma situa��o de que antes era uma quarentena de p�nico, as pessoas dentro (de casa) e a partir do momento que elas come�am a sair, elas come�am a se expor.”
Cuidados
Para Ant�nio Jorge, h� uma “naturaliza��o” no n�mero de mortes di�rias por coronav�rus no Brasil. Com as medidas restritivas cada vez mais flex�veis, de acordo com o especialista, � criada uma sensa��o de “relaxamento” por parte das pessoas, que acabam deixando de lado cuidados b�sicos, como a troca de m�scara e a higieniza��o das m�os, uma vez que, na vis�o do m�dico, deve demorar a ter uma escala industrial de uma vacina, mesmo que ela for liberada � popula��o.
“Nem todos andam com �lcool em gel, a m�scara j� dura mais de um dia, porque do ponto de vista comportamental, � muito dif�cil essa situa��o. H� um relaxamento, infelizmente as mortes acabam virando paisagem, a gente j� acostumou a ver os n�meros - apesar de estarem diminuindo, caiu para 800, � uma trag�dia, ainda. Vai exigir muito das autoridades, recomenda��es de refor�o desses cuidados”, salienta.
Sylvia Lemos Hinricsen tamb�m refor�a o pedido para que a popula��o redobre os cuidados, uma vez que a COVID-19 ainda circula pela sociedade e que a comunidade cient�fica ainda est� aprendendo sobre como combat�-lo de maneira efetiva.
“O v�rus ainda circula. Ele n�o foi embora. N�o se acaba uma pandemia apenas achando que a pandemia acabou, porque isso seria negar a circula��o do v�rus. Ent�o todos os cuidados, os quatro pilares (uso da m�scara, higieniza��o das m�os e do ambiente, distanciamento f�sico de 1,5m a 2m e o distanciamento social), s�o important�ssimos, principalmente porque n�o temos ainda defini��es. O v�rus ainda est� sendo aprendido”, alerta.
Assim como Ant�nio Jorge, Rodrigo Molina chamou a aten��o para a vacina, que n�o deve ser distribu�da � popula��o � curto prazo, fazendo com que as pessoas mantenham os cuidados, como a higieniza��o e o uso da m�scara.
“O v�rus ainda est� circulando. Isso n�o deve acabar t�o cedo. A vacina n�o � uma realidade t�o pr�xima. Mesmo que a vacina esteja liberada, ela n�o vai conseguir ser distribu�da para toda a popula��o, provavelmente ser� por segmentos, como a gente v� at� hoje com a vacina da Influenza, e que a popula��o at� ent�o que haja uma vacina efetiva liberada - incluindo a distribui��o - � que tem que ter uma rotina de cuidados. Tratamento, uso de m�scara, evitar aglomera��o e se cuidar”, conclui.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�
Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�ncia
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