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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Monitoramento na Mata Atl�ntica busca salvar on�a-pintada

Projeto inclui ainda acompanhamento da anta e da queixada


31/10/2020 15:47 - atualizado 31/10/2020 15:55

O Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar tem o objetivo de gerar dados para subsidiar planos de conservação de animais(foto: Ivo Lima/Ministério do Esporte)
O Programa Grandes Mam�feros da Serra do Mar tem o objetivo de gerar dados para subsidiar planos de conserva��o de animais (foto: Ivo Lima/Minist�rio do Esporte)


As on�as-pintadas, antas e queixadas da Serra do Mar v�o participar de um dos maiores monitoramentos de mam�feros de grande porte j� feitos no bioma Mata Atl�ntica e o primeiro em larga escala realizado na regi�o. O Programa Grandes Mam�feros da Serra do Mar tem o objetivo de gerar dados para subsidiar planos de conserva��o da anta (Tapirus terrestris), da queixada (Tayassu pecari) e da on�a-pintada (Panthera onca).

O projeto ser� lan�ado oficialmente no dia 5 de novembro, em evento online nos perfis do Facebookhttps://www.facebook.com/grandesmamiferosdaserradomar e do Instagram 
https://www.instagram.com/grandesmamiferosdaserradomar/

O diferencial do programa � o monitoramento em larga escala. S�o 17 mil quil�metros quadrados (km²) de atua��o nos estados de S�o Paulo e Paran� – uma �rea equivalente a 11 cidades paulistas –, que integram o territ�rio da Grande Reserva da Mata Atl�ntica, o maior remanescente cont�nuo de Floresta Atl�ntica preservada do pa�s.

A implementa��o de um programa de monitoramento de grandes mam�feros em larga escala � importante para apoiar tomadores de decis�o nas a��es de prote��o e manejo a n�vel territorial em um dos maiores remanescentes de Mata Atl�ntica do pa�s e tem o potencial de engajar a sociedade civil nas a��es de conserva��o, por meio de uma estrat�gia de a��o multi-institucional e colaborativa, afirma o respons�vel t�cnico do Programa e membro da Rede de Especialistas em Conserva��o da Natureza (RECN), Roberto Fusco, membro da Rede de Especialistas em Conserva��o da Natureza e p�s-doutorando na Universidade Federal do Paran�.

Os resultados esperados desse programa permitir�o o acesso em tempo real �s informa��es sobre distribui��o de grandes mam�feros para poder identificar processos de recupera��o ou decl�nio populacional ao longo da regi�o; usar fotografias e v�deos obtidos por armadilhas fotogr�ficas para gerar entusiasmo e apoio p�blico e manter uma rede ampla de pessoas e institui��es colaborando no monitoramento de grandes mam�feros mediante armadilhas fotogr�ficas e pegadas.

Al�m disso, vai facilitar e ampliar a obten��o dos dados de ocorr�ncia das esp�cies, por meio da ci�ncia cidad�, com o desenvolvimento de um aplicativo de celular; oferecer recomenda��es de manejo aos gestores das unidades de conserva��o (UCs) p�blicas e privadas da regi�o e auxiliar na realiza��o das a��es previstas nos planos nacionais para conserva��o de mam�feros (PANs) de mam�feros amea�ados de extin��o.

O programa � feito pelo Instituto de Pesquisas Canan�ia (IPeC) e Instituto Manac�, com apoio da Funda��o Grupo Botic�rio de Prote��o � Natureza, WWF-Brasil e dobanco ABN AMRO, e com a parceria da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educa��o Ambiental (SPVS), Funda��o Florestal, do Legado das �guas – Reserva Votorantim, da Fazenda Elguero, do Programa de P�s-Gradua��o em Ecologia e Conserva��o da Universidade Federal do Paran� (PPG ECO – UFPR) e do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio).

Segundo Roberto Fusco, que � respons�vel t�cnico pelo programa, ao lado das pesquisadoras Bianca Ingberman e Mariana Landis, a iniciativa surgiu da necessidade de uma agenda integrada para monitoramento e conserva��o de grandes mam�feros.

Isso porque o resultado de 15 anos de pesquisa na regi�o indicou que tais esp�cies est�o mais presentes em locais mais elevados e remotos, deixando muitas �reas de floresta demograficamente vazias de grandes mam�feros, inclusive em unidades de conserva��o.

 

Amea�a de extin��o  


"A preocupa��o com a aus�ncia desses animais � pela viabilidade a longo prazo das esp�cies, que j� est�o amea�adas de extin��o. � um sinal de alerta. Grandes mam�feros necessitam de �reas extensas para sobreviver, s�o extremamente vulner�veis � perda de habitat e � press�o da ca�a, sendo os primeiros a desaparecer. A proposta, portanto, � oferecer dados robustos e de qualidade que indiquem onde essas esp�cies est�o, se elas est�o diminuindo, ou aumentando, e como est�o ocupando o territ�rio", explica Fusco.

O monitoramento integrado em larga escala de esp�cies amea�adas gera informa��es para planejamento de conserva��o e ajuda a criar estrat�gias mais efetivas para prote��o e recupera��o das popula��es desses animais.

Al�m disso, o volume e a qualidade dos dados influenciam diretamente na efetividade das a��es, possibilitando uma vis�o mais ampla e integrada, diz a pesquisadora Bianca Ingberman, doutora em ecologia e conserva��o pela Universidade Federal do Paran�.

"Para a Grande Reserva Mata Atl�ntica, uma das regi�es mais exuberantes e biodiversas do mundo, o programa visa contribuir de forma significativa com dados e informa��es para subsidiar o planejamento e estrat�gias de prote��o e recupera��o das popula��es de grandes mam�feros, esp�cies que s�o essenciais para o equil�brio do ecossistema. E, uma vez que a floresta esteja saud�vel, continuar� fornecendo os servi�os ecossist�micos que garantem bem-estar e qualidade de vida � sociedade, principalmente a disponibilidade h�drica e a regula��o do clima", acrescenta Bianca.

O bom manejo e conserva��o de �reas naturais atrai oportunidades de benef�cio socioecon�mico para a regi�o.

"A Serra do Mar tem grande potencial econ�mico. O turismo de natureza � um exemplo. Pode gerar emprego e renda, valorizando a voca��o local e mantendo a floresta em p�. S�o planos de manejo e de conserva��o bem fundamentados que catalisam essas oportunidades. Al�m disso, essas �reas podem receber investimento de empresas para projetos de conserva��o, uma pr�tica que gera reputa��o e que tem atra�do investidores de todo o mundo. A conserva��o, embasada na ci�ncia, ent�o, se torna um neg�cio com benef�cio m�tuo”, destaca Mariana Landis, pesquisadora do Instituto Manac� e doutoranda em ecologia aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de S�o Paulo.

Para o coordenador de Ci�ncia e Conserva��o da Funda��o Grupo Botic�rio, Robson Capretz, a Grande Reserva Mata Atl�ntica tem grande potencial para contribuir com o desenvolvimento regional baseado no turismo em �reas naturais e em neg�cios de impacto positivo ao meio ambiente.

"Informa��es sobre as esp�cies que habitam a regi�o e pr�ticas efetivas de conserva��o s�o essenciais para embasar atividades tur�sticas respons�veis e sustent�veis, que tamb�m prezem pela prote��o da natureza”, diz Capretz. Para ele, outro ponto importante � que a presen�a em grande densidade dessas tr�s esp�cies indica �timo status de conserva��o dos habitats, j� que elas s�o bem territorialistas e seletivas."

Frentes de a��o


O Programa Grandes Mam�feros da Serra do Mar atua em quatro frentes de a��o: monitoramento, com coleta de dados de maneira cient�fica e sistem�tica; planejamento de conserva��o, para apoiar os tomadores de decis�o nas a��es de prote��o e manejo; sensibiliza��o, para gerar mais conhecimento e valoriza��o da fauna da Mata Atl�ntica por toda a sociedade e, por fim, a rede de monitoramento.

Esta frente � uma estrat�gia de a��o multi-institucional e colaborativa com o objetivo de integrar e fortalecer os trabalhos de preserva��o na �rea por meio da articula��o de diferentes atores (gestores, pesquisadores, popula��o local, praticantes de ecoturismo, montanhistas) dentro de uma agenda comum de monitoramento e conserva��o de esp�cies amea�adas presentes na Grande Reserva Mata Atl�ntica.

Nos estudos que antecederam a cria��o do programa, tamb�m liderados pelo IPeC, a participa��o de moradores da regi�o gerou resultados: al�m de contribuir no mapeamento local de ocorr�ncia das esp�cies, eles ajudaram os pesquisadores a chegar a �reas montanhosas de dif�cil acesso.

Foi assim que a equipe conseguiu, em 2018, registrar, por meio de armadilhas fotogr�ficas, as primeiras on�as-pintadas (um casal) na Serra do Mar paranaense e mais um indiv�duo macho no ano seguinte.

"Esse fato mudou o status de ocupa��o da esp�cie na regi�o, reafirmando que a Serra do Mar no Paran� – que antes do registro era considerada como n�o ocupada por esse animal – necessita, sim, de investimento em conserva��o e mais pol�ticas de prote��o para a on�a-pintada. Com o programa, em uma �rea muito maior e com mais parceiros, por meio da rede de monitoramento, estamos confiantes de que teremos resultados t�o expressivos quanto esse", diz Fusco. O aux�lio de moradores na coleta de dados faz parte do processo de ci�ncia cidad�, importante para o engajamento da sociedade e para o entendimento de como funciona, de fato, uma pesquisa cient�fica, acrescenta.

Popula��o local


A frente de atua��o sensibiliza��o � feita por meio das redes sociais e da tecnologia. As imagens obtidas em campo com a tecnologia das armadilhas fotogr�ficas s�o transformadas em conte�do com conhecimento sobre a Mata Atl�ntica e sua diversidade, em uma linguagem acess�vel e cativante, afirma Fusco.

 "H� alguns anos, obter imagens de animais livres no habitat, mostrando a sua natureza, o seu comportamento, era praticamente imposs�vel, com custos astron�micos. Hoje, qualquer pessoa com um celular, pode conhecer o 'cotidiano' de uma on�a-pintada na floresta, por exemplo. V�deos feitos nas c�meras mostram os animais brincando, comendo, as f�meas com os seus filhotes, ou seja, realmente livres. Essas imagens, portanto, acabam tendo um poder muito grande de sensibiliza��o, gerando um sentimento de querer proteger aquela floresta onde vive aquele animal que viram no v�deo."

Adicionalmente, pelas redes sociais, as pessoas poder�o acompanhar como � uma unidade de conserva��o e quais s�o as atividades e a��es ali desenvolvidas.

"Pessoas bem engajadas com conhecimento e informa��o, fazem escolhas melhores e mais conscientes, tendo consequ�ncias diretas na conserva��o da biodiversidade brasileira", finaliza Fusco. 

Atualmente, a rede de monitoramento conta com cerca de 20 membros, que contribuem com levantamento de dados, equipes e outros recursos. Um dos membros � Caio Pamplona, chefe do N�cleo de Gest�o Integrada (NGI) Antonina-Guaraque�aba, do ICMBio, que refor�a a import�ncia da parceria.

 "� um importante passo na prote��o do maior cont�nuo de Mata Atl�ntica preservada do pa�s. Para as esp�cies, � parte de um trabalho decisivo, principalmente para a on�a-pintada, visto que a estimativa � de uma popula��o de apenas 250 indiv�duos e que, se nada for feito, em 60 anos, podem desaparecer completamente do bioma. Integrar e distribuir esses dados em rede ser� um grande diferencial para a��es coordenadas e efetivas. Estamos felizes em contribuir", afirma Pamplona.

Mam�feros brasileiros


O Brasil � o pa�s com maior riqueza de mam�feros conhecidos no mundo. S�o 701 esp�cies, das quais mais de 10% est�o oficialmente amea�adas de extin��o. Desse total, 90 esp�cies s�o end�micas � Mata Atl�ntica, ou seja, s� ocorrem nesse bioma, explica Fusco. 

Mam�feros de grande porte como a on�a, o porco-do-mato, a anta, o veado e a capivara, entre outros, sofrem com a perda de habitat e press�o de ca�a.

Os grandes mam�feros herb�voros, como a anta e a queixada, s�o essenciais para a manuten��o da floresta, por serem dispersores e predadores de sementes.Tais esp�cies s�o respons�veis pela dispers�o de mais de 100 tipos de sementes, por extens�o de cerca de 40 quil�metros, diariamente.

 "Florestas e �reas vazias desses animais podem sofrer com a perda de diversidade vegetal, consequentemente, o afastamento de outros animais que dependem dessas esp�cies da flora para sobreviver. A longo prazo, n�o seria exagero dizer que a viabilidade da floresta corre um grande risco", alerta o pesquisador. 

J� os grandes mam�feros carn�voros, como a on�a-pintada, por estarem no topo da pir�mide alimentar, s�o essenciais no controle e equil�brio de popula��es de outros animais que fazem parte da sua dieta, influenciando diretamente em toda din�mica do ecossistema.

 "� como um efeito em cascata: na aus�ncia de um predador, a abund�ncia de outras pode aumentar, causando diversos preju�zos, inclusive econ�micos, por invas�o de esp�cies animais em agriculturas", conclui Fusco.




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