
A morte � um ponto final. Mas pode tornar-se v�rgulas e palavras. M�es e pais que perderam filhos recorrem � prosa, � poesia, ao trabalho e ao ativismo para viver cada fase do luto, acalmar a dor latente e se conectar com os seus. Na v�spera do Dia de Finados, a Revista do Correio Braziliense traz hist�rias de pais e m�es que procuram de toda forma manter vivas as recorda��es de filhos e filhas.
Invers�o da ordem natural
Alexandre Varela, 51 anos, tem o costume de escrever textos cheios de emo��o sobre a perda do filho. Aos 19 anos, ele morreu no dia 21 de outubro de 2019, quando o pai diz ter sentido a maior dor da vida. Desde ent�o, nos dias 21 de cada m�s, o pai despeja no papel — ou melhor, na tela do computador — a saudade, as lembran�as e o cora��o.
Para o servidor p�blico, � uma forma de “celebrar a mem�ria” de Henrique, um garoto que descreve como reservado e disciplinado. “Tamb�m � uma maneira de elevar a import�ncia que ele teve na nossa vida. Al�m disso, acho que a gente tem que falar da morte. Ter consci�ncia dela � um aprendizado, faz voc� querer aproveitar cada momento com quem voc� ama”, acrescenta.
“Vivemos na contram�o. Era ele quem deveria me sepultar, cuidar de mim doente, mas a vida quis assim. Com isso, aprendemos que todo o tempo � de amar”, lamenta o pai. Em abril do ano passado, Henrique foi diagnosticado com um tumor no c�rebro. Ele vinha sentindo dores de cabe�a h� algum tempo e os m�dicos investigavam a causa. Quando finalmente descoberta, foram cirurgias, interna��es, home care, quimioterapia. E, no in�cio de setembro, a not�cia de que o c�ncer havia alcan�ado um est�gio contra o qual n�o se podia mais lutar.
Diante de um momento t�o dif�cil, a m�e de Henrique, Tatiana Borges, 43, farmac�utica, tamb�m usou a escrita para desabafar. Mas n�o s� isso. Esp�rita kardecista, ela acredita que pode ser uma forma de materializar a comunica��o com o filho. “Come�ou como um di�rio do meu luto. Depois, eu comecei a escrever como se fosse para ele, como se ele fosse ler, contando do meu dia”, relata. Mas, discreta, n�o publica os textos. Nem mesmo os rel�.
Vivendo cada momento

Desde o primeiro diagn�stico, os pais j� se preparavam para todas as possibilidades, inclusive para a pior delas. Durante os seis meses de tratamento contra o c�ncer e, depois, de cuidados paliativos, a ideia era deixar Henrique o mais feliz e confort�vel poss�vel, apesar da agressividade da doen�a e das medica��es. “Decidimos dedicar todo o tempo para que ele tivesse qualidade de vida, enquanto aguentasse, quisemos cerc�-lo de carinho”, conta o pai.
Henrique teve uma festa de anivers�rio, mesmo internado na unidade de terapia intensiva do hospital e participou das comemora��es da m�e e da av�, j� em casa. Amigos da Universidade de Bras�lia (UnB), onde ele cursava publicidade, e da antiga escola costumavam visit�-lo. E, junto com toda a estrutura m�dica no quarto, foi colocada uma tev�, com todos os canais, para que o torcedor do Corinthians assistisse aos jogos de futebol, esporte que amava.
Tatiana fez terapia, e o casal leu diversos livros sobre o momento que viviam. Isso foi essencial para que vissem aqueles �ltimos meses com o filho como algo bonito, como uma oportunidade. “Muita gente perde a pessoa que ama para um suic�dio, um acidente, uma viol�ncia, sem poder se despedir. A gente teve esse tempo”, consola-se Alexandre. Henrique disse “eu te amo � m�e”, � irm� e ao pai antes de n�o conseguir mais movimentar a cabe�a, que era como ele soletrava as palavras � medida que a fam�lia ditava o alfabeto. Foi um dos momentos mais emotivos.
Se, para alguns, como para a pr�pria Tatiana, que � kardecista, a vida continua de alguma forma em outro lugar, Alexandre n�o tem essa certeza. “Mas sei que a gente viveu na plenitude uma bela hist�ria, com problemas, claro: conflitos de um homem de 50 anos e um jovem de 18; mas de plenitude”, afirma. Al�m disso, a perda deixou uma li��o preciosa: “Ensinou que existir � um momento �nico. Aprendemos que a gente precisa viver a vida o tempo todo, porque a morte vai chegar para todo mundo.”
Cuidados paliativos
Um dos livros que marcaram a experi�ncia de Alexandre e Tatiana com o filho Henrique foi A morte � um dia que vale a pena viver, escrito por Ana Claudia Quintana Arantes, refer�ncia em cuidados paliativos no Brasil. Ela � fundadora da Casa do Cuidar, uma organiza��o social sem fins lucrativos que atua na pr�tica e nos ensino de cuidados paliativos. Entrevistamos a vice-presidente da institui��o, a psic�loga Cristiane Ferraz Prade:
O que s�o cuidados paliativos?
� a assist�ncia a pacientes com uma doen�a grave, progressiva, que amea�a a continuidade da vida. Qualquer pessoa que est� em sofrimento, enfrentando uma doen�a grave que traz sofrimento n�o s� f�sico, mas social, familiar e espiritual se beneficia do cuidado paliativo. Ele nasceu na Inglaterra, criado pela enfermeira, assistente social e m�dica, Cicely Saunders, muito admirada por n�s. O cuidado paliativo atendendo o paciente nas v�rias dimens�es do sofrimento humano. Ele e seus familiares v�o tendo v�rios lutos, v�rias perdas. Lidamos com questionamentos como “quem sou eu neste mundo se n�o tenho uma fun��o?”; sofrimento espiritual de cren�as e valores, com pensamentos como “Deus est� me castigando”.
Ele � voltado s� para o paciente?
N�o, porque a doen�a grave traz sofrimento n�o s� para o paciente como para a fam�lia toda. E dependendo da fam�lia, toda circunst�ncia muda: se o pai � o provedor, pode envolver problema financeiro; se um dos familiares acaba tornando-se o cuidador principal. E o trabalho � feito em equipe, com muitos profissionais para acolher paciente, fam�lia. Temos tamb�m que olhar para a equipe e validar a necessidade de cuidar de n�s mesmos.
Uma doen�a grave nos coloca muito pr�ximos da morte. �s vezes, n�o da pr�pria, mas da de um ente querido. Como o cuidado paliativo trabalha isso com os pacientes?
Ele te convida a reconhecer a ang�stia, mas te acolhe no processo. Assim que se recebe a not�cia de uma doen�a grave, come�a o luto antecipat�rio para a pessoa que est� doente e para a fam�lia. E a�, � preciso pensar em como se vai atravessar esse per�odo de luto: � importante validar que ele � real e que pode ser bem usado. � um processo que pode trazer aproxima��o, oportunidade para resolu��o de conflitos, de resolver pend�ncias. O luto antecipat�rio vivido, enfrentado e validado � uma chance de viver um momento de muito sentido, constru�do em fam�lia. N�o significa que � mais f�cil, mas as pessoas desenvolvem mais for�a para enfrentar a realidade.
� preciso falar sobre a morte

Th�mar Dias, 57 anos, funcion�ria p�blica, descreve a perda do filho como uma “mutila��o brutal”. A dor ainda � enorme, mas, se antes era latente todo o tempo, a m�e diz que agora est� mais instalada. “A gente vai aprendendo a conviver com ela.” Quando chega pr�ximo do dia 27, a m�e j� come�a a se sentir pior. “�s vezes, nem sei que a data est� chegando. Ela est� gravada na am�gdala”, afirma. E, nesse dia, ela sempre escreve. “� um jeito que eu tenho de sobreviver, � algo que ameniza a minha dor”, afirma.
Foi num dia 27, h� um ano e oito meses, que o filho Lucas Dias, de 23 anos, morreu de H1N1. Estudante de ci�ncia pol�tica da UnB, j� tinha lido tudo quanto � livro de filosofia poss�vel. No dia anterior, ele chegou em casa, � noite, sentindo-se gripado. Acordou no meio da madrugada vomitando e a m�e notou sinais de um choque s�ptico. Ele considerou um exagero, mas a m�e estava certa. “Mesmo com plano de sa�de, corri para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), porque sei que os melhores m�dicos para emerg�ncia s�o os dos hospitais p�blicos”, lembra Th�mar.
A infec��o foi controlada e, no dia seguinte, come�aram a resolver a burocracia para transferi-lo para a interna��o em uma unidade particular, j� que na p�blica n�o tinha vaga. Ele j� estava bem, conversava, brincava. Mas o nariz come�ou a sangrar. Era uma hemorragia interna, no pulm�o. E j� n�o havia nada que se pudesse fazer por ele. Diante da not�cia, s� restou a Th�mar se despedir. “N�o sei de onde tiramos for�a. Fiquei com ele, disse que ele ia dormir”, relembra.
Ela considera-se sortuda por ter tido esse momento: “Agora, com o coronav�rus, tanta gente n�o p�de se despedir.” Ela lamenta as pessoas n�o poderem ter vel�rios. O de Lucas foi uma como��o na cidade. “� um consolo muito forte ver muita gente l�. Numa perda dessa, � importante ver que aquilo n�o tem import�ncia s� para voc�, mas para muitas pessoas. � um amparo. � a valoriza��o da perda. Ver que ele era importante para muita gente, que est�o dividindo o sofrimento. Receber um abra�o. � algo que tem me angustiado: ver que as pessoas n�o podem se despedir”, lamenta.
S�o muitas as ferramentas para lidar com o fato de n�o ter o filho por perto. Th�mar convive com muitas pessoas que tamb�m perderam filhos — muitas que passaram por isso a procuram — e faz terapia. “Tenho primas que perderam filhos e somos muito ligadas. E eu achava que eu entendia o que elas sentiam. Hoje, eu sei que eu n�o sabia. S� sabe o que � isso quem passou. Rezo para que ningu�m passe por algo assim”, deseja.
Lidando com a perda

Th�mar n�o se esquece de um amigo que, no dia do vel�rio de Lucas, aconselhou: “N�o deixe que ningu�m cobre que voc� melhore, que voc� pare de sentir dor”. Na �poca, ela n�o entendeu bem, mas n�o demorou para aquilo fazer mais sentido. Depois de alguns meses da perda, se ela se emocionava falando do filho, se sofria, algumas pessoas diziam que j� fazia tempo demais e que ela estava prorrogando o luto. “Eu fui ficando t�o chocada. Nunca passou pela minha cabe�a — nem antes — que as pessoas faziam isso. Hoje, exige-se uma superficialidade em tudo, e as pessoas n�o t�m paci�ncia nem com a dor do outro.”
Com outras pessoas, ela sentia constrangimento ao comentar algo sobre Lucas. “Voc� fala do seu filho com relativa normalidade, mas as pessoas ficam constrangidas porque est� falando de um morto. Parece que querem que pare de falar sobre ele”, analisa. Th�mar n�o julga quem faz isso. E tem uma tese: “Voc� vira a face do pior pesadelo das pessoas; as pessoas t�m muito medo de perder o filho, ent�o, quando v�m falar com voc�, pensam muito nisso.”
Para a psic�loga Cristiane Ferraz Prade, vice-presidente da Casa do Cuidar, organiza��o social sem fins lucrativos que atua na pr�tica e ensino de cuidados paliativos, as pessoas t�m dificuldade de lidar com a morte. Isso se traduz em frases como “vira essa boca para l�” toda vez que o tema � abordado. “Nossa sociedade evita ang�stias e elabor�-las. Prefere comprar alguma coisa para se distrair um pouco. A gente prioriza a distra��o, o entretenimento, o consumismo”, afirma.
Segundo ela, as pessoas evitam lidar com a morte e a� ficam sem saber o que fazer quando se deparam com ela. “Procuram qual a frase certa, perguntam-se se tem frase certa e acabam falando coisas que n�o ajudam. A gente se afasta desta ang�stia e n�o se permite elaborar a exist�ncia da finitude, que pode ser uma elabora��o enriquecedora, que permite que se viva de forma aut�ntica e mais inteira. A morte � uma grande professora, mas a gente precisa ficar para ouvir a li��o”, recomenda.
A terapia da escrita
Di�rios ficaram famosos ao longo da hist�ria. Como � o caso do de Anne Frank, a adolescente judia que escrevia sobre seus dias, enquanto vivia escondida num quarto oculto, durante a ocupa��o alem� nos Pa�ses Baixos. Nos documentos, ela afirma: “...pelo menos posso escrever, se n�o, me asfixiaria completamente”. Al�m de nos contar a hist�ria daquele tempo, escrever foi uma forma de a garota superar cada dia dif�cil.
Para a terapeuta e escritora Solange Perpin, os di�rios funcionam como uma catarse. Na terapia, as frases n�o precisam seguir regras, n�o importa a forma, mas o conte�do, os eventos, as percep��es deles, as sensa��es, as emo��es e os pensamentos. “Escrever no dia tem a fun��o cat�rtica, principalmente se as ideias ainda est�o um pouco confusas; � como se fosse um analg�sico, alivia na hora”, afirma.
“A escrita terap�utica pode servir pra desabafar sobre uma emo��o presente, para rever um fato do passado”, sugere. Solange explica que colocar no papel eventos dolorosos e traumas ajuda a dar significado a eles. “Se n�o ressignificamos aquela experi�ncia, aquilo pode ficar como uma ferida aberta, causando dor.”
De acordo com a mestre em psicologia Idon�zia Benetti, � comum referir-se � psicoterapia como a “cura pela fala”, mas escrever � tamb�m um recurso dispon�vel. S�o processos diferentes. Para Solange, o falar � um ato mais impulsivo. Escrever faz com que pensemos mais. “Diferentemente da express�o verbal da emo��o, a narrativa que emerge do uso da palavra escrita favorece os insights a partir de palavras cognitivamente encadeadas e associadas”, esclarece Idon�zia.
Luto transformado em ativismo

A aposentada Renata Arag�o, 61 anos, perdeu o filho h� tr�s anos e ganhou uma causa pela qual lutar. O ciclista Raul Arag�o, estudante de ci�ncias sociais da UnB e integrante da ONG Rodas da Paz, foi atropelado por um carro que trafegava a pelo menos 95km/h na L2 norte. Ele coordenava pesquisas para a organiza��o, ensinava pessoas a pedalarem e incentivava o uso na bicicleta como meio de transporte.
No in�cio de 2019, uma volunt�ria do Rodas da Paz, Josi Paes, apresentou um texto para lan�arem um livro infantil. Renata abra�ou o projeto e a ajudou na produ��o de Pedalar � suave, que tem o filho Raul como personagem. “O texto era a cara do Raul. Contava o que eles viveram, falava sobre o maior respeitar o menor, questionava: para que tanta pressa?”, conta a m�e. Como ainda s� tinham o texto, come�ou a organiza��o financeira, a procura por artistas para ilustrar. Mais trabalho.
Ilustrado pelos artistas Pedro Sangeon, o Gurulino, que j� tinha feito uma homenagem a Raul com um grafite num tapume atr�s da Rodovi�ria do Plano Piloto, e Luda Lima, o livro foi lan�ado em vers�o on-line no dia 24 de setembro — a semana mundial sem carro. Aproveitaram e colocaram um p�ssaro sempre acompanhando Raul, representando o ciclista Pedro Davison, tamb�m atropelado e morto, em 2006.
Agora, est� sendo vendida a vers�o impressa no site do Rodas da Paz. “Todo esse trabalho preenche o rombo deixado por ele. � como se eu tivesse fazendo por ele, dando minha energia para ele. � um conforto ser volunt�ria, fazer um trabalho para que tenha harmonia no tr�nsito”, afirma.
Renata era atuante secund�ria na organiza��o, sempre levada por Raul. Mas, com a morte dele, passou a trabalhar mais no movimento pelo respeito aos ciclistas e pela paz no tr�fego. “Todos do Rodas o conheciam e me apoiaram muito. Eu fiquei com pena do mundo de perd�-lo. Ele tinha muito a fazer pelo tr�nsito, por todos os modais”, conta.
Abra�o reconfortante
No vel�rio, foi uma grata surpresa receber o abra�o de tantas pessoas e ouvir delas a vis�o que tinham de Raul. “Professores me agradeciam pelo aluno que eu tinha dado a eles. Apareceu at� uma senhorinha que conheceu o Raul porque ele colocou uma ghost bike para o marido dela, ciclista, que morreu em Samambaia. E ela gostou tanto dele que foi ao vel�rio”, relembra.
M�e tamb�m de Flora Gondim, Renata conta que os tr�s eram muito unidos, e brinca que a fam�lia era como a descrita por Mafalda, personagem criada pelo cartunista Quino. “Tem uma tirinha em que ela abre a porta e pedem para falar com o chefe da fam�lia. E ela responde que eles s�o uma cooperativa. N�s �ramos assim.”
Flora era estudante de audiovisual na UnB, na �poca do acidente. Acabou atrasando um pouco a formatura por conta da trag�dia, mas transformou o ativismo do irm�o, o desrespeito aos ciclistas e a desproporcionalidade das penas impostas aos motoristas no document�rio Pedalar � suave, dispon�vel no YouTube, que fez como trabalho final da faculdade e apresentou em 2018.
“A gente faz muita coisa para manter a mem�ria dele viva”, afirma Flora. A m�e ajudou em toda a produ��o do filme, com financiamento coletivo e outras quest�es. E quando achou que seria momento de descansar, engatou no projeto do livro.
O trabalho de conclus�o de curso de Raul, que ficou incompleto, era na �rea de sociologia urbana, e a orientadora dele chegou a publicar fragmentos no anu�rio de sociologia. “Era um aluno brilhante, e o TCC dele teve a s�ntese com a pr�pria morte dele, com o impacto dos carros nos pedestres e ciclistas”, lamenta a m�e.
Ghost bikes

As ghost bikes s�o bicicletas brancas instaladas em locais de acidentes fatais com ciclistas. “� uma homenagem a quem morreu e uma mensagem de paz no tr�nsito”, afirma Renata Arag�o. A ghost bike de Raul � a bicicleta dele, pintada de branco. Ele a chamava de Dory, por ser azul como o peixe do filme Procurando Nemo.
Quando foi colocada, a Rodas da Paz e amigos da fam�lia fizeram um grande evento. Encontraram-se no Museu Nacional e pedalaram at� a 407 Norte, onde aconteceu a trag�dia. Em v�rias cidades, ciclistas tamb�m pedalaram em homenagem a Raul. “No primeiro dia, colocaram bal�es e, no anivers�rio dele, tamb�m. Depois, eu e minha m�e tivemos a ideia de enfeitar mais vezes. J� aconteceu de amigos dele colocarem outras homenagens e a gente sempre achou �timo”, conta Flora.
Ela chama a aten��o de quem passa, sempre com a pintura branca em dia e enfeitada com flores e at� adornos tem�ticos, dependendo da �poca. Quando est� fora, Renata pede para amigas ajudarem. Quando completou tr�s anos do acidente, estava na Alemanha, para acompanhar o nascimento da primeira neta, ent�o, pediu para amigas ajudarem.
“Todo mundo cuida um pouco da Dory. At� quem n�o conheceu o Raul. Um m�sico j� tocou saxofone l�. E, uma vez, eu estava cuidando dela e parou uma pessoa no carro para me contar que tinha visto um beija-flor nela e tirado uma foto. Pediu meu n�mero para me enviar”, conta Renata. Tudo isso traz uma sensa��o de suavidade � m�e. “N�s n�o somos pessoas religiosas, somos ativistas; ele era um soci�logo, anarquista. N�o temos o conforto da igreja, porque n�o � nossa linha, mas das mensagens que ele passou e que a gente passa”, afirma a m�e.