
O homem que foi espancado e morto por seguran�as em um supermercado Carrefour, Jo�o Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, tinha "postura de dur�o, mas cora��o mole" e era "brincalh�o e malandro", segundo seus amigos.
Jo�o Alberto, conhecido pelos amigos como Beto e Nego Beto, um homem negro, foi morto por seguran�as ap�s ser surrado e imobilizado no supermercado na zona norte de Porto Alegre. A morte aconteceu �s v�speras do Dia da Consci�ncia Negra, celebrada nesta sexta, 20 de novembro, data atribu�da � morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
O seguran�a e o PM tempor�rio envolvidos no caso foram presos, suspeitos de homic�dio doloso. Amigos, familiares e integrantes do movimento negro est�o organizando um protesto em frente ao supermercado nesta tarde, �s 18h. Est�o revoltados.
"Dois seguran�as batendo num homem negro com covardia. N�o tem justificativa", diz o amigo M�rcio Cardoso, de 29 anos.
O espancamento e a morte foram gravados, e v�deos est�o circulando nas redes sociais. A morte tem sido comparada � de George Floyd, que morreu neste ano ao ser sufocado por policiais nos Estados Unidos, e cuja morte provocou uma onda de protestos no pa�s.
Em nota, o Carrefour chamou a morte de "brutal" e afirmou que tomar� medidas para "responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso" (leia �ntegra no final). "O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplic�vel epis�dio, iniciamos uma rigorosa apura��o interna e, imediatamente, tomamos as provid�ncias cab�veis para que os respons�veis sejam punidos legalmente."
'Cara dif�cil' e 'carinhoso'
Freitas vivia de bicos, segundo os amigos. J� tinha trabalhado como motoboy, em empresa de transportadora, e passado por v�rios trabalhos.
"Era trabalhador, honesto. � o que mais deixa a gente revoltado", diz Cardoso.
Para ele, o amigo era "um cara s�rio, com postura de dur�o, mas com cora��o mole". "Tinha uma postura de escudo, forte, mas quem conhece, quem andou com ele, sabe que ele tinha cora��o mole, era um cara carinhoso."
A amizade dos dois se formou na arquibancada do Clube S�o Jos�, da zona norte de Porto Alegre, de quem os dois eram torcedores.
"A gente se encontrava sempre por ali, sempre animados", conta ele. "O Beto era bem conhecido no bairro, no Iapi, bem da rapaziada mesmo. A gente gostava de tomar uma cervejinha junto depois do jogo. Fui pego de surpresa."

Os amigos sempre frequentavam aquela mesma unidade do supermercado Carrefour, que fica pr�xima ao est�dio Passo d'Areia, sede do clube para que torciam (a dist�ncia � de 1km, 13 minutos caminhando). Al�m disso, diz ele, Freitas com frequ�ncia fazia compras no supermercado com a fam�lia porque morava ao lado.
"V�rias vezes j� estive com ele ali, e a gente j� sabe como � o tratamento. Eu, branco, n�o sinto o mesmo tratamento quando entro ali. E sempre que eu estava acompanhado amigos negros era sempre esse tipo de olhar, parece que quer correr a gente dali", diz Cardoso.
"Estou muito abalado. N�o tinha nada no corpo dele de mercadoria e, mesmo se tivesse, n�o justificaria."
Freitas era um "cara dif�cil, brig�o, que incomodava um pouco", diz Andr� Gomes, um amigo de inf�ncia, "mas n�o existe motivo para fazer o que foi feito".
"N�o sei o que aconteceu no Carrefour pra chegar a essa ponto. Se ele j� estava dominado, n�o existe qualquer motivo para trat�-lo dessa forma."
Os dois se conheciam do Batuque, religi�o afrobrasileira a que eram devotos, desde pequenos, com suas fam�lias. "T�nhamos a mesma m�e de santo durante muitos anos, �ramos da mesma casa de religi�o. Passamos a nossa inf�ncia andando juntos, brincando." Ali, Freitas tornou-se tamboreiro.
"Ele sempre foi muito brincalh�o, muito esperto, malandro", diz o amigo. Separados ultimamente por causa da pandemia de coronav�rus, os dois costumavam se encontrar de vez em quando para tomar uma cerveja juntos.
"A gente ria, lembrava das coisas que a gente fazia quando era crian�a", lamenta o amigo.
Espancamento
Nos v�deos que circulam nas redes sociais, � poss�vel ver Freitas sendo espancado no rosto por um homem diversas vezes, enquanto outro tenta segur�-lo. Uma mulher fica ao lado deles, e parece estar gravando a cena. Funcion�rios do SAMU (Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia) foram at� o local e fizeram massagem card�aca, mas ele n�o resistiu.
A agress�o teria acontecido depois que Freitas fez um gesto interpretado pela caixa do supermercado como uma tentativa de agress�o, segundo o site Ga�chaZH. Ela chamou seguran�as (um seguran�a de uma empresa terceirizada e um PM tempor�rio que, segundo informa��es preliminares, estava trabalhando no local) que levaram Freitas para o estacionamento, onde foi espancado at� a morte.
A Brigada Militar, como � chamada a Pol�cia Militar do Rio Grande do Sul, afirmou em nota que prendeu todos os envolvidos no supermercado, "inclusive o PM tempor�rio, cuja conduta fora do hor�rio de trabalho ser� avaliada com todos os rigores da lei" (leia �ntegra no final). Afirmou ainda que o PM n�o estava em servi�o policial.
Nota do Carrefour
"O Carrefour informa que adotar� as medidas cab�veis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Tamb�m romper� o contrato com a empresa que responde pelos seguran�as que cometeram a agress�o. O funcion�rio que estava no comando da loja no momento do incidente ser� desligado. Em respeito � v�tima, a loja ser� fechada. Entraremos em contato com a fam�lia do senhor Jo�o Alberto para dar o suporte necess�rio.
O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplic�vel epis�dio, iniciamos uma rigorosa apura��o interna e, imediatamente, tomamos as provid�ncias cab�veis para que os respons�veis sejam punidos legalmente.
Para n�s, nenhum tipo de viol�ncia e intoler�ncia � admiss�vel, e n�o aceitamos que situa��es como estas aconte�am. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais."
Nota da Brigada Militar
Imediatamente ap�s ter sido acionada para atendimento de ocorr�ncia em supermercado da Capital, a Brigada Militar foi ao local e prendeu todos os envolvidos, inclusive o PM tempor�rio, cuja conduta fora do hor�rio de trabalho ser� avaliada com todos os rigores da lei.
Cabe destacar ainda que o PM Tempor�rio n�o estava em servi�o policial, uma vez que suas atribui��es s�o restritas, conforme a legisla��o, � execu��o de servi�os internos, atividades administrativas e videomonitoramento, e, ainda, mediante conv�nio ou instrumento cong�nere, guarda externa de estabelecimentos penais e de pr�dios p�blicos.
A Brigada Militar, como institui��o dedicada � prote��o e � seguran�a de toda a sociedade, reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais, e seu total rep�dio a quaisquer atos de viol�ncia, discrimina��o e racismo, intoler�veis e incompat�veis com a doutrina, miss�o e valores que a Institui��o pratica e exige de seus profissionais em tempo integral.
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