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Estado de Minas PERTO DO VENCIMENTO

Brasil pode jogar no lixo quase 7 milh�es de testes para COVID-19

Exames perdem a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021, e custaram R$ 290 milh�es


22/11/2020 15:22 - atualizado 22/11/2020 16:27

(foto: Divulgação)
(foto: Divulga��o)
Um total de 6,86 milh�es de testes para o diagn�stico do novo coronav�rus comprados pelo Minist�rio da Sa�de perde a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. Esses exames RT-PCR est�o estocados num armaz�m do governo federal em Guarulhos e, at� hoje, n�o foram distribu�dos para a rede p�blica. Para se ter ideia, o SUS aplicou cinco milh�es de testes deste tipo. Ou seja, o Pa�s pode acabar descartando mais exames do que j� realizou at� agora. Ao todo, a Sa�de investiu R$ 764,5 milh�es em testes e as unidades para vencer custaram R$ 290 milh�es - o lote encalhado tem validade de oito meses.

A responsabilidade pelo preju�zo que se aproxima virou um jogo de empurra entre o minist�rio, de um lado, e Estados e munic�pios, de outro. Isso porque a compra � feita pelo governo federal, mas a distribui��o s� ocorre mediante demanda dos governadores e prefeitos. Enquanto um diz que sua parte se resume a comprar, os outros alegam que o governo entregou material incompleto, falta de capacidade para processar as amostras e de lideran�a do minist�rio nesse processo

O RT-PCR � um dos exames mais eficazes para diagnosticar a COVID-19. A coleta � feita por meio de um cotonete aplicado na regi�o nasal e far�ngea (a regi�o da garganta logo atr�s do nariz e da boca) do paciente. Na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400. As evid�ncias de falhas de planejamento e log�stica no setor ocorrem num per�odo de aumento dos casos no Pa�s. 

Os dados sobre o prazo de validade dos testes em estoque est�o registrados em documentos internos do minist�rio, com compila��o de dados at� o �ltimo dia 19. Relat�rios acessados pelo Estad�o indicam que 96% dos 7,15 milh�es dos exames encalhados vencem em dezembro e janeiro. O restante, at� mar�o. O minist�rio j� pediu ao fabricante an�lise para prorrogar a validade dos produtos. A falta de outros componentes para realizar testes, um dos problemas que travam o fluxo de distribui��o, por�m, deve continuar.

A pasta diz que s� entrega os testes quando h� pedidos dos Estados. Ainda ressalta que nem sequer as 8 milh�es de unidades j� repassadas foram totalmente consumidas. Secret�rios estaduais e municipais de Sa�de dizem que n�o usaram todos os testes, pois receberam kits incompletos para o diagn�stico, com n�mero reduzido de reagentes usados na extra��o do RNA, tubos de laborat�rio e cotonetes de coletar amostras. Tamb�m veem dificuldade para processar amostras. Isso prejudica o repasse dos produtos, pois as prefeituras, em especial, n�o t�m como armazenar grandes quantidades.

O minist�rio lan�ou duas vezes o programa Diagnosticar para Cuidar, que previa 24,2 milh�es de exames no SUS at� dezembro. S� 20% foram feitos. A pasta prometeu tamb�m insumos para entregar kits completos, mas os neg�cios foram travados por suspeita de irregularidades, hoje sob an�lise do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU).

Com meta de alcan�ar 115 mil testes di�rios no SUS, o minist�rio registrou em outubro m�dia de 27,3 mil na rede p�blica, n�mero inferior ao dos dois meses anteriores. Militares com cargos de influ�ncia na pasta ouvidos pela reportagem consideram o ritmo razo�vel. A auxiliares, o ministro Eduardo Pazuello j� afirmou que h� testes suficientes nas m�os de Estados e munic�pios. A c�pula da pasta avalia que as amostras excedentes podem ser enviadas a centros equipados pelo minist�rio, como o da Fiocruz em Fortaleza. Gestores da Sa�de ainda dizem que o diagn�stico pode ser feito pelo pr�prio m�dico, o que tornaria o RT-PCR menos importante.

Especialistas, por�m, dizem que o teste n�o serve s� para diagn�stico. � essencial na interrup��o de cadeias de infec��o. "A vantagem da Europa, agora, � que aumentou tanto a capacidade de testagem que � poss�vel detectar casos leves", diz o vice-diretor da Organiza��o Pan-Americana de Sa�de (Opas), Jarbas Barbosa. Para ele, um bom indicador para verificar se o Pa�s testa pouco � o n�mero de positivos. Se for acima de 5%, � sinal de que os testes s�o insuficientes. No Brasil, cerca de 30% dos exames RT-PCR no SUS deram positivo.

Estados e cidades

Sem a lideran�a do minist�rio, Estados e munic�pios adotaram estrat�gias pr�prias de testagem, em muitos casos, tamb�m ineficientes. Contrariando recomenda��es da OMS, alguns locais apostaram em exames sorol�gicos, como os testes r�pidos, que encontram anticorpos para a doen�a. Ele � �til para mostrar que a infec��o ocorreu no passado e foram criadas defesas no organismo contra o v�rus, al�m de mapear por onde a doen�a j� passou, por inqu�ritos sorol�gicos. Mas n�o serve para alertar sobre a alta de casos ativos. 

Os conselhos de secret�rios municipais (Conasems) e estaduais de Sa�de (Conass) afirmam que o minist�rio n�o entregou todos os kits de testes e m�quinas para automatizar a an�lise das amostras que havia prometido. "O contrato que permitia o fornecimento de insumos e equipamentos necess�rios para automatizar e agilizar a primeira fase do processamento das amostras foi cancelado pelo Minist�rio da Sa�de", destacou o Conass. "H� o compromisso da pasta de manter o abastecimento durante o per�odo de 3 meses, contados a partir do cancelamento. � fundamental, por�m, que uma nova contrata��o seja feita e a distribui��o dos insumos seja retomada em tempo h�bil", completou

J� o assessor t�cnico do Conasems, Alessandro Chagas, diz que a dificuldade para processar amostras, que pode exigir envio do material a outro Estado, desestimula a fazer testes. "O que causa estranheza � esse estoque parado enquanto temos dificuldade de levar a coleta para a aten��o b�sica", diz. 

Falha no armazenamento afeta resultado, aponta especialista

A preserva��o do teste de diagn�stico da COVID-19 exige cuidados especiais. Pequenas altera��es de temperatura no armazenamento podem mudar o resultado do exame. "Quando o kit passa do vencimento, as enzimas podem perder sua efici�ncia. Para um contexto de diagn�stico, pode acabar levando a varia��es no resultado final", afirma Mellanie Fontes-Dutra, p�s-doutoranda em Bioqu�mica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Vejo com muita preocupa��o a possibilidade de estender os kits para al�m do prazo de validade", afirma.

A pesquisadora pondera que seria positivo confirmar que os exames podem ser usados por mais tempo, desde que mantenham a qualidade. "Testamos muito pouco. Se der certo e n�o modificar a efici�ncia dos kits, pode ser bom", disse.

Procurada, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) n�o deu detalhes sobre como a validade do produto pode ser renovada, mas informou que a entrega de testes vencidos � uma infra��o sanit�ria. 

O Minist�rio da Sa�de disse que a Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (Opas) est� realizando estudo "para verificar a estabilidade de utiliza��o dos testes". Os testes foram comprados pelo governo federal por meio da organiza��o. O resultado da an�lise deve sair na pr�xima semana, diz o Minist�rio da Sa�de. Questionado sobre o que far� para entregar os testes antes de vencer a validade, o minist�rio apenas declarou que distribui os exames a partir de demandas dos Estados.

Sob a gest�o do general Eduardo Pazuello, o Minist�rio da Sa�de tem sido alvo de cr�ticas em meio � pandemia ao, por exemplo, n�o dar orienta��es claras sobre o benef�cio do distanciamento social, uso de equipamentos de prote��o e outros cuidados b�sicos

Na �ltima quarta-feira, 0 Minist�rio da Sa�de chegou a excluir do Twitter uma publica��o que reconhecia n�o existir vacina ou medicamento contra a COVID-19, al�m de orientar o uso de m�scara e isolamento social. As orienta��es seguiam cartilhas de autoridades sanit�rias e entidades m�dicas, mas chamaram a aten��o nas redes sociais por se contrapor ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que j� estimulou o uso de medicamentos sem efic�cia comprovada contra o novo coronav�rus, como a hidroxicloroquina.


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