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Estado de Minas LUTO

Ita� faz vel�rio e enterro em s�rie de v�timas de acidente que matou 41 pessoas

Vel�rios duravam cerca de duas horas e sepultamentos, feitos a toque de caixa e na presen�a de poucas pessoas, vararam a noite


26/11/2020 11:11 - atualizado 26/11/2020 13:04

Acidente entre caminhão e ônibus ocorreu na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, entre Taguaí e Taquarituba, interior de São Paulo(foto: Corpo de Bombeiros SP)
Acidente entre caminh�o e �nibus ocorreu na Rodovia Alfredo de Oliveira Carvalho, entre Tagua� e Taquarituba, interior de S�o Paulo (foto: Corpo de Bombeiros SP)
�s 3h45, em plena madrugada, Margarete Santos, de 39 anos, segurava um arranjo de flores e assistia em sil�ncio a terra encobrir o caix�o do marido Claudinei Carlos Barboza, de 30. Acompanhando a vi�va havia apenas uma tia e quatro coveiros, que, mesmo aparentando cansa�o, se esfor�aram para acabar o trabalho o quanto antes. Entre o corpo chegar ao cemit�rio e o fim do sepultamento passaram exatamente 15 minutos.

Aquela era sexta vez em poucas horas que a cena se repetia no Cemit�rio Municipal de Ita�, no interior de S�o Paulo, cidade onde moravam 37 dos 41 mortos no acidente entre uma carreta e um �nibus com funcion�rios de uma f�brica t�xtil.

Com muitos corpos a enterrar e orienta��o do Instituto M�dico-Legal (IML) para evitar o mau cheiro, os vel�rios duravam cerca de duas horas e os sepultamentos, feitos a toque de caixa e na presen�a de poucas pessoas, vararam a noite. Todos os caix�es estavam fechados. Em alguns, havia apenas uma pequena foto da v�tima.

"Ele gostava muito de pescar e estava pronto para ajudar o outro. Fazia amizade muito f�cil", Margarete descreveu o marido, com quem vivia h� cerca de sete anos. Foi por esse mesmo per�odo que Barboza trabalhava na f�brica. "Vivia reclamando que o motorista do �nibus corria muito e a pista era perigosa, sempre via acidente."

Reclama��o semelhante teria feito Tiago Aparecido Aulfs, de 25 anos, funcion�rio da f�brica, treinador de um time de v�rzea e d�cima vitima sepultada em tr�s horas. O caix�o foi enterrado com a bandeira do Unidos do Capit�o. "Ele ficava preocupado porque o motorista andava em alta velocidade", diz o cunhado e goleiro da equipe, Wesley Souza. "� muito triste n�o poder nem ver o rosto dele."

Sem ilumina��o adequada, o cemit�rio precisou receber caminh�es de luz emprestados de concession�rias de rodovias para realizar os vel�rios em s�rie. Ainda assim, familiares e parentes das v�timas tiveram de usar a lanterna de celulares para guiar os passos at� as covas abertas. Durante os enterros, o sil�ncio era mais comum do que o choro.

"A gente queria velar por mais tempo, mas s� tivemos duas horas. Achei injusto", afirmou o administrador Ricardo Santos, primo de Ana Cl�udia Santos, de 31 anos, a primeira v�tima a chegar ao cemit�rio. Ao fim do enterro, houve uma salva de palmas discreta. "Ela trabalhava na f�brica havia 12 anos e estava juntando dinheiro para ter um neg�cio pr�prio. A fam�lia vai abrir o neg�cio e p�r o nome dela em homenagem."

Antes da trag�dia, os novos t�mulos em Ita� variavam entre 12 e 15 por m�s. S� na quinta-feira, 25, no entanto, foram escavadas mais do que o dobro: 37. Os vel�rios foram realizados em tr�s locais diferentes, com controle de acesso e dist�ncia de seis metros entre os caix�es por causa da pandemia da covid-19.

O esfor�o exigiu uma for�a-tarefa, com a transfer�ncia de funcion�rios de outros setores da prefeitura para atuar nos enterros, al�m da ajuda de volunt�rios e de cidades vizinhas, como Fartura e Tagua�, o local do acidente. Para os vel�rios, a cidade recebeu at� suporte de caix�o emprestado. As tr�s funer�rias do munic�pio, at� ent�o concorrentes, tamb�m juntaram as equipes para dar conta dos corpos.

"� o dia mais triste da hist�ria de Ita�", disse o prefeito Thiago Michelin (Republicanos), que compareceu ao vel�rio coletivo e se emocionou ao comentar o acidente. Por causa da trag�dia, a prefeitura decretou luto de tr�s dias e manteve aberto s� os servi�os essenciais. Lojas tamb�m cerraram as portas e colaram cartazes de p�sames.

Segundo Michelin, a maioria das v�timas tinha at� 27 anos. "S�o jovens que acabaram de entrar no mercado de trabalho e estavam no primeiro emprego", disse.

Um dos casos foi de Aline Fernanda de Oliveira, de 20 anos. "Como em Ita� n�o tem oportunidade, as pessoas precisam ir para a ind�stria de cidade da regi�o", relatou o irm�o Djair Oliveira, de 21 anos. "A divers�o dela era aquela f�brica. Ela estava crescendo aos poquinhos e ia come�ar a pagar as coisas dela."

J� Lucielen Firmino, de 27 anos, trabalhava de costureira, mas antes havia sido secret�ria. "O sonho mesmo dela era ser modelo. Ela desfilava para loja de roupa, cal�ado, perfume", lembrou a m�e Tereza Maria Firmino, de 50, que, em vez de chorar, sorriu e distribuiu abra�os na maior parte vel�rio. "Minha filha era muito extrovertida. Eu tenho certeza de que ela est� feliz de me ver assim."

A irrever�ncia tamb�m era principal caracter�stica de Elis�ngela Aparecida Mingote, outra jovem funcion�ria da f�brica. "Ela era muito alegre, vivia todos os dias como se fosse o �ltimo", disse o primo Paulo Mingote.

Volunt�ria da for�a-tarefa, a estudante Taila Ferreira, de 26 anos, era amiga de Elis�ngela. As duas sa�ram juntas h� duas semanas. "Resolvi ajudar porque eu conhe�o todo mundo que morreu, seja de vista ou de internet", disse. "Era a �nica coisa que poderia fazer."

Hoje, Taila mora em Ribeir�o Preto, mas j� chegou a trabalhar na mesma fabrica de confec��es quando era mais jovem. "Eu tinha medo do transporte. S� aguentei uma semana."


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