
As avalia��es apontam que as oito usinas de menor estrutura - que s�o classificadas no setor el�trico como "pequenas centrais hidrel�tricas", ou PCHs - seriam capazes de gerar cerca de 300 megawatts de energia.
Para se ter uma ideia do que isso significa, apenas uma turbina de Belo Monte gera 611 megawatts. N�o por acaso, o plano do governo paraense passou a ser extremamente criticado por ambientalistas e conhecedores da regi�o. Qualquer complexo e�lico ou solar, por exemplo, tem capacidade maior de gera��o.
Para al�m de questionamentos sobre a viabilidade econ�mica dos projetos e seus impactos ao meio ambiente, pesa ainda contra a ideia o fato de que a margem direita do rio, por centenas de quil�metros, � formada por terra ind�gena e por �rea da Aeron�utica, uma regi�o conhecida como Serra do Cachimbo.
Em setembro, a Ag�ncia Nacional de Energia El�trica assinou um acordo de coopera��o com a Secretaria de Meio Ambiente do Par�, para detalhar o potencial de gera��o de energia que as usinas tirariam das �guas do rio. A ideia seria fazer um "invent�rio participativo", para trazer mais "seguran�a" a empreendedores durante o processo de licenciamento ambiental das usinas.
O fato � que n�o h� clareza sobre o licenciamento. Qualquer empreendimento que afete terra ind�gena deve ser submetido ao Ibama e Funai, �rg�os federais. Se o impacto ocorre em �rea da Aeron�utica, que � federal, isso tamb�m significa que n�o se trata, unicamente, de uma decis�o do governo do Par�.
As pequenas hidrel�tricas, como qualquer outra usina desse tipo, dependem da forma��o de algum reservat�rio, mesmo que em menor escala, o que significa supress�o da �rea ao redor. Esse tipo de barragem tamb�m n�o possui formas de transpor o rio, ou seja, a navega��o fica travada entre cada estrutura. Outro impacto direto ocorre em rela��o �s esp�cies de peixes. Com o rio travado, v�rias esp�cies que dependem da piracema e do fluxo normal da �gua simplesmente desaparecem, porque n�o resistem a esse tipo de situa��o.
A reportagem tentou diversas vezes ouvir o governo do Par� a respeito, mas n�o houve nenhuma resposta. A Aneel n�o se manifesta sobre o assunto, porque se trata de uma fase inicial, de invent�rio do rio. O governador do Par�, Helder, Barbalho, esteve reunido pessoalmente com o diretor-geral da Aneel, Andr� Pepitone, para tratar do assunto e firmar o acordo de "coopera��o-t�cnica".
O S�o Benedito � um dos afluentes do Teles Pires, rio que possui diversas usinas. O Teles Pires avan�a pelo Par� at� se encontrar com o Juruena e, a partir dali, formar o imenso Tapaj�s. Ambientalistas que estudam a regi�o s�o radicalmente contra a constru��o das usinas, que acabariam com um rio onde o ecoturismo est� consolidado h� d�cadas, atraindo brasileiros e estrangeiros atr�s de suas belezas naturais, pesca e aves raras.
"O ecoturismo no local j� � uma atividade econ�mica relevante, que tem gerado empregos e renda e contribu�do para a prote��o do meio ambiente. Ainda que esteja presente na regi�o a press�o do avan�o da soja e outras culturas, o S�o Benedito resiste, provavelmente por ter em suas margens terra ind�gena e a �rea militar do Cachimbo", diz Suely Ara�jo, especialista s�nior em pol�ticas p�blicas da organiza��o Observat�rio do Clima. "A proposta de implanta��o de empreendimentos hidrel�tricos no S�o Benedito assusta. Mesmo que sejam pequenas centrais hidrel�tricas, haver� degrada��o, ainda mais quando se somam os impactos do conjunto de unidades. Espero, sinceramente, que isso n�o seja levado adiante."
O bi�logo e pesquisador Peter Crawshaw conta que esteve no rio quatro anos atr�s. "Tive a oportunidade de conhecer o rio S�o Benedito em 2016 e registrar a sua beleza e riqueza em biodiversidade. Seria um crime considerar essa �rea para a constru��o de hidrel�tricas que venham a inundar esse para�so, j� t�o salvaguardado por iniciativas p�blicas e privadas, incluindo as For�as Armadas do Pa�s", comenta.
Para M�rio Haberfeld, fundador e presidente do projeto On�afari, associa��o voltada � prote��o da on�a-pintada, a regi�o � uma das mais ricas para quem gosta de observar a natureza. "Pessoas de todo o mundo visitam o rio todos os anos. A regi�o abriga mais de 500 esp�cies de aves, algumas restritas � �rea da Serra do Cachimbo. � um dos hotspots para observadores de fauna no sul da Amaz�nia."
N�o h� previs�o para que o invent�rio das usinas fique pronto. S� a partir desses dados t�cnicos � que tem in�cio o processo de licenciamento ambiental, para atestar ou n�o a viabilidade dos empreendimentos.