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COVID-19: Brasil deve enfrentar pior fase da pandemia nas pr�ximas semanas

H� v�rios fatores que podem facilitar o aumento dos n�meros de casos e de mortes; entenda o impacto deles o que pode ser feito para se proteger contra a doen�a


20/01/2021 06:59 - atualizado 20/01/2021 12:49

Atraso nas notificações, festas de final de ano, mutações no vírus e comportamento das pessoas são fatores que apontam para o recrudescimento da pandemia no país(foto: Reuters)
Atraso nas notifica��es, festas de final de ano, muta��es no v�rus e comportamento das pessoas s�o fatores que apontam para o recrudescimento da pandemia no pa�s (foto: Reuters)

Nos �ltimos dias, a pandemia no Brasil foi marcada por imagens de dor e de esperan�a. De um lado, a falta de oxig�nio em Manaus mostrou a trag�dia causada pela falta de coordena��o contra a covid-19. Do outro, a aprova��o das primeiras vacinas deu o primeiro sinal, ainda bem distante, de que essa crise sanit�ria vai ter um fim.


Em meio a tantas not�cias, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil alertam que a situa��o da pandemia no pa�s deve se agravar entre o final de janeiro e o in�cio de fevereiro.

"Estamos num momento bem preocupante. Talvez as pessoas n�o estejam percebendo ainda, mas tudo indica que as pr�ximas semanas ser�o complicadas", antev� o bioinformata Marcel Ribeiro-Dantas, pesquisador do Institut Curie, na Fran�a.

De acordo com o levantamento feito pelo Conass (Conselho Nacional de Secret�rios da Sa�de), o pa�s contabiliza at� o momento 8,5 milh�es de casos e 210 mil mortes por covid-19. Nos �ltimos dias, a confirma��o de novas infec��es e �bitos pela doen�a tem se mantido num patamar considerado alto.

A tend�ncia, de acordo com epidemiologistas, bioinformatas e cientistas de dados ouvidos pela reportagem, � que esses n�meros se mantenham elevados ou subam ainda mais daqui para a frente.

Mas qual a raz�o para isso? H� pelo menos quatro fatores que ajudam a explicar esse momento da pandemia no Brasil.

Efeito Natal e R�veillon

N�o foram poucos os relatos de aglomera��es nos �ltimos dias de dezembro. A despeito das orienta��es das autoridades em sa�de p�blica, muitos familiares e amigos resolveram se reunir para celebrar o Natal e a passagem para 2021.

Os efeitos das festas come�am a ser sentidos agora. E isso pode ser explicado pela pr�pria din�mica da covid-19 e o tempo que a doen�a demora a se manifestar e se desenvolver.

"A transmiss�o do v�rus pode at� ter ocorrido durante essas festas, mas a necessidade de ficar num hospital ou at� a morte do paciente leva semanas para acontecer", nota o estat�stico Leonardo Bastos, pesquisador em sa�de p�blica da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Em linhas gerais, o indiv�duo que � contaminado pelo coronav�rus pode demorar at� 14 dias para ter algum sintoma (como febre, tosse seca, dores, cansa�o e falta de paladar ou olfato).

O problema � que, nesse �nterim, ele pode transmitir o agente infeccioso para outras pessoas, criando novas cadeias de transmiss�o na comunidade.

J� nos quadros mais graves da doen�a, que evoluem para falta de ar e acometimento dos pulm�es, h� uma janela de cerca de sete dias entre o contato com o v�rus e a necessidade de interna��o.

Depois da hospitaliza��o, os pacientes que morrem por covid-19 podem ficar at� cinco semanas num leito antes de falecer.

Considerando esse tempo todo de evolu��o da doen�a e o atraso nas notifica��es, � de se esperar que as infec��es pelo coronav�rus que aconteceram entre os dias 24 de dezembro e 1º de janeiro apare�am com mais frequ�ncia nos boletins epidemiol�gicos daqui pra frente.

Essa bola de neve do final de ano pode ser emendada com outra, provocada pelas aglomera��es relacionadas ao Enem.

� preciso considerar que, no �ltimo domingo (17/12), mais de 2,5 milh�es de brasileiros se deslocaram at� o local da prova e permaneceram por v�rias horas em locais fechados com desconhecidos ao redor.

Os epidemiologistas e cientistas de dados poder�o medir o efeito dessa movimenta��o de tanta gente nas cidades brasileiras a partir de fevereiro ou mar�o.

Onda de muta��es e variantes

Nas �ltimas semanas, cientistas detectaram variantes do coronav�rus que causaram grande preocupa��o.

Tr�s dessas novas vers�es ganharam destaque. Elas foram encontradas no Reino Unido, na �frica do Sul e no Brasil (mais precisamente em Manaus).

O que chamou aten��o � que esse trio traz muta��es nos genes relacionados � esp�cula, uma estrutura que fica na superf�cie viral e permite que ele invada as c�lulas do nosso corpo para dar in�cio � infec��o.

Tudo indica que essas mudan�as gen�ticas deixaram o v�rus ainda mais infeccioso e podem facilitar a sua transmiss�o. Isso ajudaria a explicar, por exemplo, o aumento de casos que ocorreu em algumas cidades brit�nicas ou em Manaus.

Por mais que essas variantes n�o tenham sido relacionadas a quadros mais graves de covid-19, elas podem ter um efeito indireto na mortalidade — afinal, se mais gente pegar a doen�a, o n�mero de interna��es e mortes subir�.

"Os v�rus sofrem modifica��es a todo o momento e, quanto mais ele circular entre as pessoas, maior ser� a chance de ele ter muta��es e se tornar mais ou menos agressivo", pondera o m�dico Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Cl�nica e Epidemiologia do Hospital Universit�rio da Universidade de S�o Paulo (USP).

Demora na atualiza��o dos dados

No m�s de dezembro, � comum que muitos funcion�rios tirem f�rias. Setores e departamentos de empresas privadas ou �rg�os p�blicos entram em recesso por alguns dias. Alguns setores chegam a trabalhar com equipes reduzidas.

Isso, claro, aconteceu com trabalhadores da �rea de sa�de e de vigil�ncia epidemiol�gica dos estados e dos munic�pios brasileiros.

"Uma coisa que notamos desde o final de 2020 � um atraso muito grande na digita��o dos dados de pacientes com covid-19 confirmada. No Rio Grande do Sul, por exemplo, 68% dos casos de infec��o pelo coronav�rus que apareceram nos sistemas do governo em janeiro ocorreram nos meses anteriores", observa o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede An�lise Covid-19.

Os laborat�rios que fazem testes dos casos suspeitos da doen�a tamb�m est�o demorando muito mais para soltar o resultado, segundo os relat�rios do Gerenciador de Ambiente Laboratorial, plataforma mantida pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS).

No m�s de novembro, 91% das amostras dos pacientes com suspeita de covid-19 eram processadas e avaliadas num per�odo de at� dois dias e 8% demoravam entre tr�s e cinco dias.

J� em dezembro, 73% dos exames tiveram seu lado liberado em menos de 48 horas. Cerca de 18% das an�lises levavam entre tr�s e cinco dias e 9% tiveram que aguardar at� dez dias para ter um diagn�stico confirmado ou descartado.

� claro que atrasos j� aconteciam antes, mas eles est�o mais graves e preocupantes nas �ltimas semanas, afirmam os especialistas.


Nas últimas semanas, resultados dos testes para diagnóstico de covid-19 começaram a demorar muito mais para saírem(foto: Reuters)
Nas �ltimas semanas, resultados dos testes para diagn�stico de covid-19 come�aram a demorar muito mais para sa�rem (foto: Reuters)

Novas gest�es e ac�mulo de trabalho

Outro fator que parece ter atrapalhado ainda mais a coleta das estat�sticas foi a transi��o de governo em muitas cidades brasileiras. V�rias prefeituras tiveram uma troca de comando a partir de janeiro.

"H� casos em que o novo prefeito modificou o secret�rio de sa�de e reformulou a equipe que acompanha essas quest�es. H� um tempo at� que esses novos gestores se acostumem ao ritmo e �s necessidades da pandemia", afirma Schrarstzhaupt, da Rede An�lise Covid-19.

Por fim, os profissionais de sa�de est�o sofrendo com o ac�mulo de fun��es. Em muitos lugares, s�o os pr�prios m�dicos e enfermeiros que precisam alimentar o sistema de inform�tica com os novos casos confirmados de covid-19 no hospital.

"E isso envolve at� uma quest�o �tica. Entre digitar uma ficha no computador e tratar um paciente que demanda cuidados, a segunda op��o � sempre mais urgente. Necessitamos de mais investimento em vigil�ncia e profissionais que fa�am esse trabalho de atualiza��o", aponta Bastos, da Fiocruz.

"Tenho visto cada vez mais m�dicos postando nas redes sociais fotos da montoeira de fichas de papel que aguardam digita��o no sistema. � uma pilha que parece nunca diminuir", completa Schrarstzhaupt.

Realidade paralela

O descompasso entre o que mostram as curvas epid�micas desatualizadas e o verdadeiro cen�rio da pandemia pode fazer muito estragos.

Para in�cio de conversa, essa subnotifica��o de casos e mortes por covid-19 traz uma falsa sensa��o de seguran�a, como se o pior j� tivesse passado.

"E isso ajuda a vender uma ret�rica que agrada algumas pessoas. Quantas vezes j� ouvimos gente anunciar que a pandemia estava chegando ao fim? Que ter�amos uma queda dos casos e mortes a partir da pr�xima semana?", questiona Ribeiro-Dantas, do Institut Curie.

A principal li��o � sempre tomar cuidado com as estat�sticas mais recentes. "� preciso ter mais transpar�ncia e evidenciar que os dados dos �ltimos 15 dias n�o s�o absolutamente confi�veis e sofrer�o atualiza��es. Se os n�meros estiverem caindo, devemos ter um pouco de calma antes de anunciar que a situa��o est� tranquila", ensina o bioinformata.

A parte que nos cabe

Bittencourt, do Hospital Universit�rio da USP, diz que o aparecimento das variantes do v�rus era algo esperado durante a pandemia. "O comportamento do v�rus � altamente previs�vel. Mas a mesma coisa n�o pode ser dita sobre o comportamento das pessoas", diz.

O especialista se refere ao papel de cada cidad�o no enfrentamento da pandemia. Afinal, apesar do cansa�o acumulado dos quase 12 meses pand�micos, as medidas preventivas continuam essenciais.

Todos precisamos seguir com os cuidados b�sicos, como a limpeza das m�os, o uso de m�scaras e o distanciamento f�sico das pessoas que n�o fazem parte de nosso conv�vio di�rio. Outro ponto pouco lembrado na lista das recomenda��es b�sicas � a prefer�ncia por locais abertos e com boa circula��o de ar.


(foto: BBC)
(foto: BBC)

Se, por um lado, h� uma s�rie de responsabilidades individuais muito importantes, por outro n�o podemos nos esquecer tamb�m das pol�ticas de sa�de p�blica, que sempre carecem de refor�o das autoridades municipais, estaduais e federais.

Nesse sentido, o recrudescimento da pandemia vai exigir a��es mais contundentes para diminuir a circula��o das pessoas.

"N�o h� a menor d�vida de que temos que aumentar medidas de controle. Isso depende da din�mica de cada lugar, mas no geral o maior impacto ocorre quando as interven��es s�o feitas em lugares fechados, onde as pessoas ficam mais pr�ximas umas das outras ou n�o usam m�scaras. Esses locais n�o deveriam estar abertos agora", esclarece Bittencourt.

A chegada das primeiras vacinas sinaliza um caminho promissor para o fim da pandemia. Mas ainda h� muito ch�o a ser percorrido antes que a covid-19 se torne um tormento do passado.

Danny Altmann, professor de imunologia na Universidade Imperial College, em Londres, diz que n�o aconselharia ningu�m a se considerar seguro 14 dias ap�s a primeira dose da vacina contra o coronav�rus. "Me comportaria exatamente como se ainda n�o tivesse tomado a vacina", diz Altmann. "N�o baixaria minha guarda ou faria algo diferente."

Deborah Dunn-Walters, professora de imunologia da Universidade de Surrey, na Inglaterra, concorda, inclusive para quem tomou duas doses. "Uma raz�o � que voc� n�o estar� totalmente protegido. E outra � que ainda n�o h� evid�ncias de que ter tomado a vacina vai impedir que voc� pegue o v�rus e passe adiante".

Dunn-Walters faz quest�o de salientar que a imunidade leva tempo para se desenvolver. Ent�o, independentemente de uma �nica dose de qualquer uma das vacinas covid-19 poder fornecer prote��o, n�o estaremos totalmente imunes nas primeiras semanas.


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