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Estado de Minas SURTO

Acre | 'Resgatei beb� que podia morrer de dengue': a situa��o ca�tica com enchentes e doen�as

Mais de 130 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas no Acre. Al�m de problemas na sa�de e de enchentes, Estado tamb�m enfrenta crise migrat�ria.


23/02/2021 08:44 - atualizado 23/02/2021 11:39


Aluno-cabo Leandro Simões resgatou bebê de quatro meses durante enchente no Acre, na semana passada(foto: Corpo de Bombeiros do Acre - 7°BEPCIF)
Aluno-cabo Leandro Sim�es resgatou beb� de quatro meses durante enchente no Acre, na semana passada (foto: Corpo de Bombeiros do Acre - 7�BEPCIF)

Na �ltima quinta-feira (18/02), o aluno-cabo Leandro Sim�es, de 33 anos, trabalhava junto com a sua equipe do Corpo de Bombeiros quando resgatou um beb� de quatro meses em meio a uma enchente em Tarauac�, no Acre.

"A crian�a estava com muita febre e teve uma convuls�o pouco antes de ser resgatada", diz Sim�es.

Posteriormente, segundo ele, exames confirmaram que a crian�a estava com dengue. Foi mais um caso da doen�a em meio a tantos outros registrados nas �ltimas semanas no Acre.

O Estado vive um duro per�odo de surto de dengue, casos de covid-19 em alta e enchentes que j� afetaram cerca de 130 mil pessoas, segundo o governo local. Al�m disso, tamb�m enfrenta uma crise migrat�ria.

"Tudo o que tem acontecido traz preocupa��es. S�o quest�es humanit�rias", diz o promotor de Justi�a Marco Aur�lio Ribeiro, coordenador do Grupo Especial de Apoio e Atua��o para Preven��o e Resposta a situa��es de emerg�ncia ou estado de calamidade devido � ocorr�ncia de Desastres (GRPD) do Acre.

Na semana passada, o Estado decretou situa��o de emerg�ncia nas regi�es duramente afetadas pelas enchentes. Nesta segunda-feira (22/02), o governo do Acre aumentou o alerta e decretou estado de calamidade p�blica em dez cidades atingidas pelas cheias dos rios.

Nos �ltimos dias, muitas fam�lias tiveram de ser levadas para alojamentos improvisados em escolas. A medida tomada �s pressas pode colaborar para o agravamento da situa��o da covid-19, porque especialistas apontam que nesses locais � mais complicado seguir medidas de distanciamento social.

Enquanto os leitos de covid-19 est�o sobrecarregados no Estado, a busca por atendimentos a casos de dengue tamb�m aumentou.


Idosa de 81 anos sofreu com alagamentos e foi resgatada por bombeiros(foto: Corpo de Bombeiros do Acre - 7°BEPCIF)
Idosa de 81 anos sofreu com alagamentos e foi resgatada por bombeiros (foto: Corpo de Bombeiros do Acre - 7�BEPCIF)

As cheias dos rios

As enchentes atingem dez munic�pios do Estado, incluindo a capital, Rio Branco. Nos �ltimos dias, o n�vel de �gua em alguns rios come�ou a diminuir. Apesar disso, autoridades ainda demonstram muita preocupa��o.

Desde a semana passada, cenas como resgates em barcos em ruas alagadas e entrega de mantimentos a moradores em regi�es isoladas pelas �guas se tornaram comuns em diversas regi�es do Estado. Milhares de casas ficaram sem energia el�trica.

Na semana passada, o n�vel do Rio Acre chegou a 15,77 metros na capital, 2 metros acima do n�vel de transbordamento. Ao menos uma dezena de bairros foi atingida.

Neste m�s, alguns munic�pios do Estado, como Cruzeiro do Sul e Rodrigues Alves, chegaram a registrar as piores marcas durante enchentes ao longo das �ltimas d�cadas.

Uma das cidades mais atingidas atualmente pelas cheias no Acre � Tarauac�, a cerca de 400 quil�metros de Rio Branco. Autoridades apontam que a enchente atingiu 90% do munic�pio. O n�vel do Rio Tarauac� chegou a abaixar nos �ltimos dias, mas logo subiu outra vez.

"� o per�odo mais dif�cil que j� passei na corpora��o at� hoje. A enchente bateu recorde de n�mero de pessoas atingidas, que agora est�o fora de suas casas e tiveram perdas materiais", afirma Sim�es, que est� h� seis anos no Corpo de Bombeiros de Tarauac�.

Na �ltima sexta-feira (19/02), o Corpo de Bombeiros registrou que o n�vel da �gua na cidade estava a 11,15 metros — o limite de transbordamento � 9,5 metros. "A �gua nunca havia chegado a um n�vel nas ruas e casas como o atual. � a maior enchente dos �ltimos tempos", diz o tenente Corr�a, coordenador de batalh�es da regi�o.

Em 2014, segundo os registros, o n�vel da �gua na cidade durante as chuvas atingiu 11,93 metros. "Mas o impacto da enchente atual � bem maior. A medida anterior (para avaliar o n�vel do rio) era question�vel", diz o tenente � BBC News Brasil. "A enchente de 2021 � considerada a maior do per�odo de 1995 pra c�."

Em meio ao atual per�odo, os bombeiros precisaram resgatar diversos moradores de Tarauac�. Na semana passada, o aluno-cabo Sim�es ajudou a levar uma idosa de 81 anos, que n�o conseguia andar, a uma embarca��o para que pudesse ser encaminhada a um abrigo. Ele tamb�m levou �gua pot�vel para alguns moradores que estavam isolados em �reas alagadas e n�o queriam deixar suas resid�ncias.

Um momento que marcou o aluno-cabo nos �ltimos dias, e foi fotografado e muito compartilhado em grupos da regi�o, foi quando ele resgatou um beb� em seus bra�os. "A m�e da crian�a era uma adolescente que estava em um local de dif�cil acesso. O n�vel da �gua havia subido muito. A casa da fam�lia j� havia sido tomada pela �gua e eles estavam na casa de um amigo", diz o integrante do Corpo de Bombeiros.


Muitos moradores tiveram de deixar suas casas após locais serem atingidos pelas enchentes(foto: Divulgação/ Secom Acre)
Muitos moradores tiveram de deixar suas casas ap�s locais serem atingidos pelas enchentes (foto: Divulga��o/ Secom Acre)

Sim�es relata que a crian�a havia tido uma convuls�o antes do resgate e estava com febre muito alta. "O beb� tinha sintomas de dengue", diz. Logo que foi resgatado em um barco, o garoto recebeu atendimento m�dico. "Se o menino n�o fosse retirado da enchente naquele momento e recebesse o aparato m�dico necess�rio, talvez ele n�o resistisse", afirma � BBC News Brasil.

O aluno-cabo afirma que ficou comovido com o resgate do beb� e tantos outros que fez nos �ltimos dias.

Segundo Sim�es, o beb� passa bem, recebeu alta hospitalar e est� com a m�e em um alojamento para v�timas das enchentes. Assim como eles, milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas em raz�o dos alagamentos recentes no Estado: alguns conseguiram abrigo com parentes ou amigos, enquanto outros precisaram recorrer a abrigos montados pelo poder p�blico.

O governo do Acre afirma que desde o in�cio das enchentes tem organizado abrigos em escolas e tendas para acolher as fam�lias retiradas das fam�lias das �reas atingidas. Al�m disso, o Executivo argumenta que tem distribu�do alimentos, produtos de higiene e �gua pot�vel aos moradores afetados pela situa��o, al�m de fazer monitoramento do sistema el�trico das regi�es.

Por meio do decreto de calamidade p�blica, o Estado reconheceu a necessidade de ajuda financeira do governo federal para enfrentar a situa��o, como por meio de aux�lio para prestar assist�ncia humanit�ria �s pessoas atingidas pelo transbordamento dos rios.

Covid-19 e dengue

Para o governo do Acre, a atual situa��o representa o per�odo mais cr�tico da hist�ria da sa�de p�blica do Estado.

De acordo com o Minist�rio da Sa�de, o Acre, que tem cerca de 894 mil habitantes, j� registrou 54,9 mil casos de covid-19 e 968 mortes em decorr�ncia do coronav�rus.

Atualmente, conforme o Minist�rio P�blico do Estado, h� casos de pacientes com o coronav�rus que aguardam por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Na semana passada, o governo do Acre reconheceu a possibilidade de a rede p�blica hospitalar entrar em colapso.

H� 150 leitos cl�nicos e 80 de UTI na regi�o da capital, para onde muitos pacientes s�o encaminhados. Nas outras regi�es do Estado, h� mais 122 leitos cl�nicos e 26 de UTI.

"A taxa de ocupa��o dos leitos de UTI est� sempre acima de 90% na regi�o da capital, funcionando no limite. Nas �ltimas duas semanas, sempre h� solicita��es pendentes. Recentemente, havia 14 pessoas esperando por uma vaga de UTI, depois o n�mero caiu para 9. � muito din�mico, mas sempre est� no limite", afirma o promotor de Justi�a Gl�ucio Ney Shiroma, que atua na defesa da sa�de na Promotoria do Acre.

J� os leitos cl�nicos para pacientes com a covid-19 na regi�o de Rio Branco, segundo o promotor, estiveram com ocupa��o entre 80% e 90% nas �ltimas semanas. No interior do Estado, segundo o membro do Minist�rio P�blico, os n�meros de ocupa��o s�o semelhantes.


Dez cidades do Acre sofrem com alagamento em razão de chuvas intensas das últimas semanas(foto: Marcos Santos/ Agência Pará)
Dez cidades do Acre sofrem com alagamento em raz�o de chuvas intensas das �ltimas semanas (foto: Marcos Santos/ Ag�ncia Par�)

"� um retrato da rede de sa�de quase no limite. � um cen�rio muito preocupante", aponta Shiroma � BBC News Brasil.

A situa��o preocupa ainda mais diante do cen�rio de abrigos improvisados em escolas que re�nem milhares de desabrigados na cidade — segundo a Defesa Civil, h� cerca de 2.100 fam�lias desabrigadas em todo o Estado at� o momento.

"Os n�meros de desabrigados podem aumentar, se a situa��o n�o melhorar. Os locais em que esses desabrigados est�o sendo colocados (nas escolas) n�o possuem o distanciamento adequado. Embora possa haver a preocupa��o para manter o distanciamento, � muito complicado garantir isso (em um local com diversas pessoas vivendo em condi��es at�picas)", declara Shiroma.

"Em 2015, por exemplo, houve uma cheia que levou 15 mil pessoas a terem de se abrigar no parque de exposi��es (em Rio Branco). Se isso acontecer hoje, durante a pandemia, vai ser um cen�rio de trag�dia", explica Glaucio, em raz�o dos riscos de propaga��o da covid-19.

Ainda no cen�rio da sa�de p�blica, a dengue tem causado bastante preocupa��o no Acre. Segundo o governo do Estado, neste ano foram registrados quase 1.500 casos confirmados da doen�a e outros 8.600 suspeitos. E isso aumenta a press�o sobre o sistema de sa�de estadual.

O governo do Acre estima que os casos de dengue correspondem a 80% dos casos que chegam �s Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) no per�odo recente.

A BBC News Brasil questionou o Minist�rio da Sa�de sobre as medidas que t�m sido tomadas para auxiliar o Acre, mas n�o obteve respostas at� a conclus�o desta reportagem. O governo do Acre n�o respondeu aos questionamentos sobre a atual situa��o dos leitos no Estado.

Crise migrat�ria

Em meio �s atuais dificuldades relacionadas �s enchentes e � sa�de p�blica, o Acre tamb�m enfrenta uma crise migrat�ria na cidade de Assis Brasil, na fronteira com o Peru. Na regi�o, aproximadamente 400 imigrantes, na maioria haitianos, tentam atravessar a fronteira, que est� fechada desde mar�o passado em raz�o da pandemia.

O objetivo de muitos desses imigrantes, frustrados com a falta de empregos no Brasil, � migrar para os Estados Unidos. Para isso, precisam fazer o caminho inverso da rota que h� uma d�cada serviu de entrada para milhares deles no Brasil.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os haitianos que est�o na fronteira planejam fazer um roteiro de meses em dire��o aos EUA, por meio de um trajeto perigoso que costuma durar meses e atravessa toda a Am�rica Central e o M�xico.

Entre os imigrantes, que est�o acampados na fronteira desde 13 de fevereiro, h� mulheres gr�vidas, homens e muitas crian�as. Segundo o governo federal, a maioria vivia em S�o Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

O governo do Acre alertou que a situa��o pode causar um poss�vel aumento de casos de covid-19 na regi�o, que n�o tem leitos de UTI nas proximidades.

Em nota, o Minist�rio da Cidadania afirma que o secret�rio nacional de Assist�ncia Social (SNAS), Miguel �ngelo Oliveira, est� na regi�o de Assis Brasil para avaliar a situa��o e orientar os gestores p�blicos. "O objetivo � definir a aloca��o dos recursos que o estado e os munic�pios j� possuem e, caso necess�rio, solicitar verba emergencial", diz comunicado da pasta.

De acordo com a Prefeitura de Assis Brasil, 150 imigrantes da regi�o est�o em abrigos, com o apoio do Minist�rio da Cidadania. Outros 100 permanecem acampados na fronteira.

"� uma situa��o que nos traz preocupa��es. H� muitas pessoas, inclusive crian�as, envolvidas", diz o promotor de Justi�a Marco Aur�lio Ribeiro, que acompanha a situa��o.

Pedido de socorro

A situa��o, dizem autoridades, pode ficar ainda pior se n�o houver medidas para acolhimento das fam�lias v�timas dos alagamentos. Nas redes, muitos moradores da regi�o ou apoiadores de uma campanha "SOS Acre" cobram ajuda intensa do governo federal para o Estado.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que planeja ir ao Acre nesta quarta-feira (24/02) para apoiar a popula��o.

O governo federal afirma que tem acompanhado de perto a situa��o no Acre. Em nota, argumenta que montar� uma coordena��o para articular a atua��o dos �rg�os federais na regi�o para a��es como o apoio por meio de recursos para as popula��es das �reas atingidas pelas enchentes.

Nos pr�ximos dias, a situa��o no Estado pode piorar. Isso porque a previs�o � de mais chuvas intensas. Segundo o Minist�rio da Cidadania, a Defesa Civil do Acre considera que o volume de chuvas previsto para os pr�ximos dias � alto: cerca de 100 mil�metros, com possibilidade de algumas localidades registrarem at� 150 mil�metros.

Diante da previs�o, autoridades da regi�o permanecem em alerta. "Pelo hist�rico pluvial de anos anteriores, at� meados de mar�o deve haver mais chuvas", diz o promotor de Justi�a Marco Aur�lio Ribeiro. A situa��o pode fazer com que mais pessoas tenham de deixar suas casas.

"Tudo o que poderia acontecer de ruim para agravar a situa��o (no Estado) est� acontecendo. � uma cadeia de eventos nefastos."


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