
Ao mesmo tempo, o sistema registra a vacina��o de 29,7 mil pessoas de 70 a 74 anos, 36,1 mil entre 65 a 69 anos e 53,7 mil na faixa dos 60 a 64 anos que, embora fa�am parte de grupos priorit�rios, ainda n�o poderiam estar contemplados. Os n�meros j� excluem os idosos de menos de 75 anos do Amazonas e de outros Estados do Norte que tiveram autoriza��o excepcional por situa��o epidemiol�gica preocupante. Os dados do minist�rio apontam outros problemas na prioriza��o dos vacinados no Pa�s. H� entre os j� imunizados 11,9 mil doentes cr�nicos com menos de 60 anos, 3,9 mil agentes das for�as de seguran�a, 1,9 mil trabalhadores da educa��o e 387 militares. Os quatro grupos deveriam estar em etapas futuras.
Especialistas ressaltam que, diante dos n�meros, � preciso investigar se h� "fura-filas", mas apontam tamb�m outras raz�es que podem explicar o cen�rio, como a falta de padroniza��o dos crit�rios de vacina��o entre diferentes munic�pios, necessidade de utilizar doses de um frasco j� aberto para n�o haver descarte e at� erros de preenchimento no sistema. Eles destacam que o objetivo maior da vacina��o nesta fase - evitar hospitaliza��es e mortes - pode ser prejudicado com a baixa cobertura entre os mais vulner�veis.
"� claro que a gente quer que todo mundo seja vacinado e a vacina chegue aos 60 e 70 anos, mas, diante do n�mero limitado de doses, precisamos ter prioridades", afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm). Assessor t�cnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sa�de (Conasems), Alessandro Chagas explica que o �rg�o tem orientado os secret�rios. "O munic�pio tem autonomia para elaborar estrat�gias e pode at� ampliar o p�blico com alguma justificativa epidemiol�gica, mas a diretriz geral � da Uni�o. Se tem munic�pio em que a vacina��o est� chegando aos menos idosos, eles j� deveriam estar com uma alta cobertura entre os mais idosos", afirma.
Para a infectologista Ana Luiza Gibertoni, falta "conhecimento epidemiol�gico para desenhar uma estrat�gia que maximize o impacto da vacina��o sobre a popula��o". "Da forma que est� sendo feita, o impacto � m�nimo", diz. Segundo ela, o Brasil tem profissionais capacitados para articular essa estrat�gia, mas "n�o est�o dentro do governo". "Falta uma lideran�a nacional, com voz, respeitada na sociedade e na comunidade cient�fica para conduzir o plano nacional de imuniza��o."
Para a epidemiologista Carla Domingues, que foi coordenadora do Programa Nacional de Imuniza��es (PNI) entre 2011 e 2019, a escassez de doses, as falhas na distribui��o e a falta de uma comunica��o mais assertiva do minist�rio s�o os respons�veis pelas distor��es na prioriza��o dos vacinados. "�s vezes um munic�pio tem poucos idosos de mais de 90 anos e precisa usar as doses do frasco aberto em at� seis horas. � muito dif�cil de operacionalizar", diz. Carla e Isabella opinam ainda que a baixa cobertura no grupo de 90 anos ou mais pode estar relacionada � dificuldade de acesso desses idosos aos postos de sa�de e � complexidade da vacina��o domiciliar.
Crit�rios
Entre as categorias priorit�rias, a dos trabalhadores de sa�de � a que cria mais diverg�ncia entre os munic�pios. Enquanto alguns oferecem vacina para todos, outros restringem �queles que atuam em hospitais, unidades de pronto atendimento ou na aten��o prim�ria. O plano nacional de imuniza��o d� brecha �s interpreta��es. O levantamento do Estad�o mostra que 3,3 milh�es de trabalhadores da �rea j� receberam ao menos uma dose da vacina. As equipes de apoio, como recepcionistas, funcion�rios da limpeza e porteiros, est�o inclu�das nos n�meros. O PNI previa imunizar 4,9 milh�es deles at� a etapa atual.
Apesar de a cobertura vacinal estar em 67% do esperado, especialistas questionam a prioridade dada a algumas categorias e a falta de detalhamento do plano. Os dados mostram que j� foram vacinados, por exemplo, 6.979 m�dicos veterin�rios e 769 auxiliares de veterin�rio. Embora eles n�o atendam pessoas potencialmente infectadas, as categorias foram inclu�das no PNI. O plano n�o explica em detalhes como deve ser a prioridade dentro das categorias. A infectologista Ana Luiza Gibertoni fala que isso abre espa�o para que cada munic�pio interprete de maneira diferente. "Voc� precisa proteger a for�a de trabalho e vacinar os profissionais que trabalham com o p�blico, que est�o expostos � doen�a. Os demais devem esperar."
A m�dica trabalha no sistema nacional de sa�de do Reino Unido e conta que, no pa�s, os profissionais foram convocados nominalmente. "N�o d� para pedir que as pessoas se apresentem voluntariamente."
S� em S�o Paulo h� 1,1 milh�o de trabalhadores de sa�de sem subcategoria. N�o � poss�vel quantificar m�dicos, enfermeiros ou veterin�rios. Em nota, o Estado alega que o PNI n�o prev� a subcategoriza��o dos profissionais de sa�de e "em nenhum momento pontuou a necessidade desse tipo de segmenta��o em campanhas". O governo disse tamb�m que na plataforma estadual Vacivida � poss�vel acompanhar a segmenta��o dos grupos priorit�rios.
Registro
O levantamento do Estad�o mostra ainda problemas no registro de vacinados que podem indicar at� fraudes. No grupo categorizado como idosos, a reportagem encontrou 9 mil registros de imunizados com menos de 60 anos, segundo an�lise feita conforme a data de nascimento e a idade.
H� at� registro de vacinados menores de idade - grupo que n�o pode receber o imunizante por falta de testes cl�nicos pr�vios. S�o 94 pessoas com menos de 18 anos classificadas no grupo dos idosos. Em outras categorias, como trabalhadores da sa�de e ind�genas, a inconsist�ncia tamb�m aparece, totalizando 2,4 mil pessoas com 17 anos ou menos vacinadas.
Outro problema � a falta de categoriza��o de parte dos vacinados. H� 118 mil imunizados que n�o foram inclu�dos em nenhum grupo priorit�rio, o que dificulta o controle e favorece at� poss�veis desvios. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.