
Os alertas de especialistas desde o fim de 2020 n�o impediram o Brasil de chegar a um patamar alarmante da pandemia, com diversos estados com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com COVID-19 � beira do completo esgotamento. Dados das secretarias estaduais mostram taxas de ocupa��o dos leitos do Sistema �nico de Sa�de (SUS) para adultos em 80% ou mais em 17 estados, o que j� � considerado cr�tico pelo comit� Observat�rio COVID-19, ligado � Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A taxa est� acima de 90% em oito estados. M�dicos apontam: o cen�rio � de colapso neste momento em que o pa�s enfrenta o auge da pandemia de coronav�rus no Brasil. No Rio Grande do Sul, Porto Alegre atingiu 101,08% de ocupa��o e 136 aguardavam vaga para interna��o em UTI nesse s�bado (27/02).
Em nota t�cnica divulgada na sexta-feira (26/2), a Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirmou que taxas observadas no �ltimo dia 22 j� mostravam “uma clara piora do quadro geral do pa�s referente �s taxas de ocupa��o de leitos de UTI COVID-19 para adultos – o que configura-se no pior cen�rio j� observado no pa�s”. Naquela ocasi�o, 13 unidades federativas estavam com taxa de ocupa��o acima de 80%.
No dia 1º, o n�mero era de nove unidades da federa��o, o que mostra a tend�ncia de crescimento do cen�rio. Na an�lise da funda��o, a Regi�o Norte se mant�m em situa��o muito preocupante, e todos os estados do Sul pioraram de situa��o. Alertas n�o faltaram.
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Ainda em dezembro, a Fiocruz j� falava que “sem cuidados devidamente adequados e sem manuten��o do isolamento social” em meio �s festividades de fim de ano, a rede de sa�de brasileira poderia colapsar.
Entre os fatores que contribu�ram para o agravamento da pandemia, foram citados a “desmobiliza��o de leitos extras dos hospitais de campanha; a ocupa��o de leitos por outros problemas de sa�de que ficaram represados durante o avan�o da epidemia de COVID-19; a maior circula��o de pessoas; as dificuldades de identifica��o de casos e seus contatos devido � baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de distanciamento social, uso de m�scaras e higiene”.
UTIs em colapso no Brasil
Confira a taxa de ocupa��o de leitos de UTI adulto para pacientes com COVID-19 no Sistema �nico de Sa�de (SUS) em todos os estados:
- Acre 97,2%
- Alagoas 69%
- Amap� 63,9%
- Amazonas 86,8%
- Bahia 82%
- Cear� 95,3%
- Distrito Federal 94,9%
- Esp�rito Santo 72,3%
- Goi�s 94,1%
- Maranh�o 83,7%
- Mato Grosso 87,1%
- Mato Grosso do Sul 87%
- Minas Gerais 72,6%*
- Par� 79,9%
- Para�ba 71%
- Paran� 94%
- Pernambuco 90%
- Piau� 76,2%
- Rio de Janeiro 62,8%
- Rio Grande do Norte 89,4%
- Rio Grande do Sul 94,5%
- Rond�nia 96,7%
- Roraima 80%
- Santa Catarina 93,9%
- S�o Paulo 71,1%
- Sergipe 62,4%
- Tocantins 80%
*Minas n�o distingue leitos de UTI adultos exclusivos para COVID-19 das demais vagas.
Auge da infec��o no Brasil
A funda��o agora aponta que “os dados consolidados para o pa�s confirmam a forma��o de um patamar de intensa transmiss�o da COVID-19”, com nenhum estado apresentando tend�ncia de queda significativa nas �ltimas tr�s semanas epidemiol�gica no n�mero de casos e �bitos por COVID-19.“A manuten��o de altos �ndices da doen�a, bem como a sobrecarga de hospitais, podem ser ainda decorrentes de exposi��es ocorridas no final de 2020 e em janeiro de 2021, com a ocorr�ncia de festas de fim de ano, festivais clandestinos e intensifica��o de viagens”, pontuou.
Infectologista do Hospital Em�lio Ribas, em S�o Paulo, Jamal Suleiman ressalta que desde novembro do ano passado os especialistas est�o chamando a aten��o para o aumento de casos e sobre o que aconteceria com o sistema de sa�de. “J� era absolutamente previs�vel esse repique simult�neo no pa�s inteiro”, diz.
De acordo com ele, as pessoas se aglomeraram nas festas de fim de ano e depois no carnaval, e somou-se a isso a aus�ncia de uma pol�tica central de controle da pandemia. “O colapso � o desfecho que a gente previa desde o ano passado”, afirma.
Trag�dia anunciada na sa�de
Conforme o infectologista, uma taxa de ocupa��o acima de 90% “� o colapso”. “O sistema de sa�de n�o pode estar voltado exclusivamente para uma mesma doen�a”, ressalta. Para o m�dico, falta uma coordena��o nacional, com planejamento. “Essa trag�dia � anunciada. O que aconteceu � que a gente saltou do 20º andar sem nenhuma rede embaixo. Todas as narrativas foram no sentido de caracterizar isso como um fen�meno irrelevante, com 250 mil pessoas mortas”, relata.
O diretor cient�fico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Jos� Davi Urbaez, tamb�m afirma que o cen�rio � de colapso imediato quando a taxa de ocupa��o est� neste n�vel. De acordo com ele, hospitais nunca devem ter taxas de ocupa��o de leitos de UTIs acima de 80%, porque a sobrecarga dos servidores acaba sendo intensa e h�, ainda, uma redu��o na efetividade da interna��o.
Em meio � grave situa��o, governadores come�aram a decretar medidas mais restritivas, com fechamento de com�rcios, por exemplo. Para Urbaez, as medidas s�o tardias para uma situa��o que j� era prevista por especialistas, com falta de a��es de controle, festas de fim de ano e carnaval. “O Flamengo ganhou e as pessoas comemoraram como se n�o houvesse pandemia. E o poder p�blico, totalmente omisso”, afirma.
� lockdown? Brasil n�o consegue adotar modelo
Conforme o infectologista, nada que est� acontecendo � novo ou inesperado. “Quando come�ou essa hist�ria de flexibiliza��o, fechamento de leito, a gente sempre advertiu que o v�rus estava em altas taxas de circula��o”, pontua. Para ele, tudo o que o pa�s vive � reflexo de uma aus�ncia de dispositivo de controle de pandemia.

Governo bate na tecla de abertura de leitos
Enquanto o sistema de Sa�de em diversos estados se aproxima do total esgotamento, o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, aponta o aumento do n�mero de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) como uma das a��es priorit�rias a serem tomadas no momento, que ele chamou de “nova etapa” da pandemia. A pr�pria Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), entretanto, e outros especialistas alertam que sem outras medidas, abrir leitos n�o ser� eficaz.

Diretor-geral do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanit�rio (Cepedisa) e professor titular do Departamento de Pol�tica, Gest�o e Sa�de da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (USP), Fernando Aith � enf�tico: abrir leitos e n�o trabalhar na redu��o da transmiss�o � “enxugar gelo”. “N�o adianta fazer leitos de UTI, porque o problema � que voc� tem que reduzir o n�mero de infectados e a taxa de transmiss�o, que tem que ser menor que 1, se n�o a gente vai ter cada vez mais infectados circulando na sociedade”, diz.
Aith frisa o que tem sido falado por especialistas ao longo de toda a pandemia, que a solu��o est� no uso de m�scara e nas medidas de distanciamento social. “Eu posso fazer leitos, mas se eu n�o cuidar da preven��o e aumentar o n�mero de infectados, os leitos nunca ser�o suficientes”, afirma.
O diretor tamb�m pontua que para cada leito, � preciso ter profissionais treinados e habilitados para o tipo de tratamento. “Falar em leitos � populismo barato; � desviar aten��o, dizendo que o problema � UTI. N�o, � o problema porque n�s deixamos chegar em um n�vel de estados graves que n�o � mais tempo disso”, ressalta.
P�s-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (UFES), a epidemiologista Ethel Maciel tamb�m frisou que apenas abrir leitos n�o � a solu��o, visto que h� um limite de profissionais.
“Para voc� ter leitos, principalmente os de UTI, voc� precisa de pessoal qualificado, pessoas que saibam operar as m�quinas. S�o muitos equipamentos espec�ficos, que n�o s�o simples”, diz. A especialista ressalta a necessidade de aumentar a testagem e as medidas de isolamento, com apoio � popula��o (como um aux�lio emergencial) e aos pequenos e microempres�rios, para que possam fechar.
“Para voc� ter leitos, principalmente os de UTI, voc� precisa de pessoal qualificado, pessoas que saibam operar as m�quinas. S�o muitos equipamentos espec�ficos, que n�o s�o simples”, diz. A especialista ressalta a necessidade de aumentar a testagem e as medidas de isolamento, com apoio � popula��o (como um aux�lio emergencial) e aos pequenos e microempres�rios, para que possam fechar.
Sistema transbordado de pacientes
O diretor-executivo do Programa de Emerg�ncias em Sa�de da OMS, Michael Ryan, apontou que aumentar o n�mero de leitos n�o � uma solu��o suficiente para controlar o cen�rio de colapso. “O seu sistema de sa�de ficar� transbordando se a trajet�ria dos casos estiver aumentando. E o seu sistema n�o pode cobrir hoje e certamente n�o ir� cobrir amanh�, se essa press�o continuar no sistema. Ent�o, sim, � sempre bom fortalecer a capacidade da sa�de, � sempre bom conseguir abrir mais leitos, mas s� isso n�o � suficiente”, afirmou.
Al�m de apostar na abertura de novos leitos, Pazuello disse, ainda, na �ltima semana, que frente � lota��o de UTIs, ir� adotar como uma das estrat�gias a transfer�ncia de pacientes entre estados. A proposta � criticada pelo infectologista do hospital Em�lio Ribas, em S�o Paulo, Jamal Suleiman. “J� � um processo de isolamento grave do paciente em rela��o a sua fam�lia, e ainda � em outro lugar”, explica.
O pr�prio presidente do Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (Conass), Carlos Lula, ressaltou ao lado do ministro da Sa�de na �ltima semana que v�rios estados receberam, h� algumas semanas, pacientes de outros estados em colapso, como do Amazonas e de Rond�nia, mas que fazer isso neste momento seria mais dif�cil. “Hoje a gente j� teria dificuldade bem maior de fazer esse transporte porque todo mundo est� no seu limite”, disse.
Ao falar sobre a situa��o de colapso na �ltima semana, o ministro Eduardo Pazuello n�o minimizou a gravidade do momento, mas sinalizou que a situa��o n�o era esperada, apesar de todos os alertas de especialistas desde o fim do ano passado. “Em novembro, est�vamos observando a situa��o de estabilidade em n�mero de casos de �bitos e, com a chegada da vacina, far�amos uma baixa efetiva”, afirmou.
O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
- Em casos graves, as v�timas apresentam:
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
- Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
