
Durante o per�odo, a Monja aproveitou para tocar ainda mais projetos. O principal meio foi a escrita. A primeira obra lan�ada foi V�rus, um livro inspirado na literatura de cordel com hist�rias a partir da percep��o da pandemia. A partir da�, escreveu outras publica��es. Duas delas foram lan�adas em 2021: O bom cont�gio, sobre como a trag�dia social pode servir para uma reavalia��o, e Despertar inspirado, escrito com o professor Cl�vis de Barros Filho com reflex�es positivas e motivacionais para o dia a dia.
Em entrevista ao Correio via aplicativo de v�deo, a l�der budista zen, que est� isolada na casa templo em S�o Paulo, compartilhou como se encontrou na filosofia de Buda na d�cada de 1980, falou sobre as novas publica��es e ainda comentou sobre como a sociedade ainda precisa se curar do ego�smo.
Entrevista // Monja Coen Roshi
O que a levou ao budismo?
O que � a vida? O que � a morte? O que � Deus? Do que est�o falando? Essas quest�es existenciais, que s�o de todos n�s, eu tinha desde os 11 anos. Procurei ler muito sobre elas. Fui vagando de um lugar para o outro, � procura de alguma coisa que pudesse responder meus questionamentos. Quando encontrei o zen, percebi que isso est� aqui, est� em n�s, n�o est� fora.
As pessoas que escreveram sobre experi�ncias m�sticas passaram por um processo de autoconhecimento. Para mim, esse foi o caminho. Passei a fazer pr�ticas meditativas, assistir a algumas palestras por dia. Cada vez mais falei: esse � o caminho que eu quero. Encontrei aquilo que responde �s quest�es que continuam sendo levantadas.
As pessoas que escreveram sobre experi�ncias m�sticas passaram por um processo de autoconhecimento. Para mim, esse foi o caminho. Passei a fazer pr�ticas meditativas, assistir a algumas palestras por dia. Cada vez mais falei: esse � o caminho que eu quero. Encontrei aquilo que responde �s quest�es que continuam sendo levantadas.
Como foi o primeiro contato da senhora com a filosofia zen budista?
Eu me interessava por pr�ticas meditativas. Tinha lido sobre ondas mentais alfa (respons�veis por um estado de relaxamento profundo) e depois assisti a uma reportagem sobre cl�nicas que levavam a esse estado por indu��o. A rep�rter foi entrevistar um monge zen para saber o que ele achava disso. Ele disse: “por que induzir um estado que a medita��o leva? Por que entrar pela janela, se existe uma porta?” Fui procurar o zen. Encontrei o Zen Center de Los Angeles, na d�cada de 1980. L�, descobri como o zen budismo trazia autoconhecimento e como era importante. Pedi pra ser monja.
Como foi o processo para se tornar uma monja?
Venho de uma fam�lia crist� e acabei me ordenando monja em Los Angeles. Depois, fiquei 12 anos num mosteiro feminino no Jap�o. Fiz minha forma��o completa. Sou professora de soto zen (que une as tradi��es Rinzai e Soto, pr�ticas de medita��o japonesas). Voltei para o Brasil para trabalhar no Templo Budista da Liberdade (bairro japon�s da capital paulista), onde fiquei durante sete anos. Sa� para criar uma comunidade que n�o fosse t�o ligada � col�nia japonesa. Assim foi sendo minha caminhada para me tornar uma monja.
A senhora consegue levar o conhecimento do budismo ao p�blico leigo. Como faz para ter uma linguagem t�o acess�vel?
Acho muito importante que eu possa levar meu conhecimento a todas as pessoas, de todos os n�veis. T�m v�rios caminhos para levar o conhecimento. Tenho livros, um podcast (Despertar zen), um programa na R�dio Vive Mundial de S�o Paulo, fa�o palestras para empresas, bancos, universidades... Falo para um p�blico geral, procuro fazer uma fala que todos possam entender. Comecei a ler aos 9 anos. Meu primeiro livro foi O Mandarim, de E�a de Queir�s.
Minha fam�lia sempre foi ligada �s letras. Minha m�e era poetisa. Formei esse racioc�nio e sempre gostei de ler. No col�gio, eu recebia pr�mios de escrita. Aos 19 anos, trabalhei no Jornal da Tarde, num emprego de foca (nome dado para os rep�rteres iniciantes numa reda��o). Ali, realmente aprendi a escrever. Foi a minha grande escola. Uma maneira de escrever com frases curtas, pontuais e descritivas. Criei uma maneira de escrever um pouco jornal�stica, mas com a poesia da minha m�e. Sinto prazer em escrever.
Minha fam�lia sempre foi ligada �s letras. Minha m�e era poetisa. Formei esse racioc�nio e sempre gostei de ler. No col�gio, eu recebia pr�mios de escrita. Aos 19 anos, trabalhei no Jornal da Tarde, num emprego de foca (nome dado para os rep�rteres iniciantes numa reda��o). Ali, realmente aprendi a escrever. Foi a minha grande escola. Uma maneira de escrever com frases curtas, pontuais e descritivas. Criei uma maneira de escrever um pouco jornal�stica, mas com a poesia da minha m�e. Sinto prazer em escrever.
A senhora acabou escrevendo mais ainda na pandemia, n�?
Essa pandemia me deu essa oportunidade. Acho que foram de sete a oito livros em um ano. Foi uma provoca��o exatamente por ser algo que eu gosto e posso fazer. Tamb�m fiz muitas lives. Tem muita gente apresentando ansiedade, estresse, desespero e depress�o. Eu quis levar um bom cont�gio � vida delas.
Acredita que sairemos melhor dessa pandemia, como muitos disseram no in�cio da quarentena, em 2020?
A pandemia nos facilita o processo de despertar o apreciar pela vida; de poder filosofar; escolher o que ler, que programas assistir; participar de aulas de medita��o. Essas possibilidades se abriram para muitas pessoas, que puderam come�ar a amadurecer e iniciar o processo de despertar. Mas alguns n�o pegaram. Se passar um cavalo arriado, monte e v�. Tem gente que n�o montou. Tem pessoas fazendo festinhas, aumentando o cont�gio, que n�o acreditam na ci�ncia, s� pensam em si.
Est� na hora de despertar, ver a realidade e atuar de forma adequada. Se eu nego a realidade, eu n�o me curo. E temos muitas coisas para curar. Dizem: “O Brasil � um pa�s racista. Mas n�o � o pa�s que � racista, s�o as pessoas”. Se eu n�o vejo a doen�a, n�o posso cur�-la. A mesma coisa � o racismo, a xenofobia, a homofobia e tantas outras que existem, que s�o doen�as estruturais. � uma nega��o do outro. Se eu vejo a doen�a, eu vou passar um rem�dio, vou me curar. Despertar � isso, � ver a realidade como ela �. E eu quero contagiar as pessoas com amor, paz, paci�ncia, resili�ncia, compaix�o, sabedoria (temas do livro O bom cont�gio).
Est� na hora de despertar, ver a realidade e atuar de forma adequada. Se eu nego a realidade, eu n�o me curo. E temos muitas coisas para curar. Dizem: “O Brasil � um pa�s racista. Mas n�o � o pa�s que � racista, s�o as pessoas”. Se eu n�o vejo a doen�a, n�o posso cur�-la. A mesma coisa � o racismo, a xenofobia, a homofobia e tantas outras que existem, que s�o doen�as estruturais. � uma nega��o do outro. Se eu vejo a doen�a, eu vou passar um rem�dio, vou me curar. Despertar � isso, � ver a realidade como ela �. E eu quero contagiar as pessoas com amor, paz, paci�ncia, resili�ncia, compaix�o, sabedoria (temas do livro O bom cont�gio).
Despertar � a palavra t�tulo do livro que a senhora escreveu com o professor Cl�vis de Barros Filhos. Como se deu essa parceria para a obra?
Conheci o professor h� alguns anos numa palestra em Uberl�ndia (MG). Ele era um dos palestrantes. Eu o conhecia pela televis�o. Quando o conheci pessoalmente, me surpreendi. A palestra dele era antes da minha. Ele fala alto, vai se entusiasmando, � como se ele entrasse dentro da gente. Todos ficaram de p� aplaudindo. Eu sou o oposto dele.
Sou t�mida. Depois me convidaram para fazer o livro A monja e o professor: Reflex�es sobre �tica, preceitos e valores (2018) com ele. Ficamos amigos. Fomos criando um v�nculo, uma ternura, uma amizade. Nessa jornada de fazermos coisas juntas e de termos encontros, ele apresentou o Despertar inspirado. Comecei a ouvir, escrevia textos budistas e mandava para ele (sobre os epis�dios). Na segunda vez que fiz um coment�rio, ele perguntou se eu n�o queria gravar e colocar no livro.
Sou t�mida. Depois me convidaram para fazer o livro A monja e o professor: Reflex�es sobre �tica, preceitos e valores (2018) com ele. Ficamos amigos. Fomos criando um v�nculo, uma ternura, uma amizade. Nessa jornada de fazermos coisas juntas e de termos encontros, ele apresentou o Despertar inspirado. Comecei a ouvir, escrevia textos budistas e mandava para ele (sobre os epis�dios). Na segunda vez que fiz um coment�rio, ele perguntou se eu n�o queria gravar e colocar no livro.
Como foi o processo de escrever a sua parte de Despertar inspirado?
Trago um outro olhar mais oriental e budista para o pensamento greco-romano que ele desenvolve sobre os temas do Despertar inspirado. S�o textos curtinhos que nasceram muito de ouvi-lo, de forma espont�nea. O meu trabalho como monja zen budista � de mostrar que a vida � maravilhosa. Minha inten��o � despertar a sabedoria que est� em voc� e a compaix�o que existe em n�s, que elas venham para a superf�cie. A maioria de n�s vive semiadormecida, n�o percebe a beleza da vida e toma medidas erradas. Temos que gostar da vida e de estarmos acordados.
O que � o Despertar inspirado?

H� quase um ano, o professor e jornalista Cl�vis de Barros Filho criou o Despertar inspirado — projeto em que, diariamente, �s 6h, compartilhava os primeiros pensamentos que viam na mente dele no canal da Revista Inspire-C. Ao todo, foram 40 epis�dios. At� que, neste ano, a iniciativa se estendeu ganhando as p�ginas dos livros, em uma obra escrita em parceria com a Monja Coen Roshi, lan�ada pela editora Citadel.
A ideia surgiu de manter um canal de comunica��o com o p�blico levando uma mensagem positiva. “Peguei a ideia do despertar, que � cheia de significados e met�foras e de coisas positivas. E como sempre dizem que eu trago inspira��es para as pessoas, juntei as duas ideias. Todo dia, �s 6h, eu compartilhava o que passava na minha cabe�a ao amanhecer. A monja come�ou a me mandar coment�rios sobre aquilo que tinha dito e a editora teve a ideia de fazer um livro dando conta desse nosso di�logo, num Despertar inspirado mais verbal com o conte�do da monja ali no calor do impacto da mensagem”, explica Cl�vis. Dos 40 conte�dos, foram escolhidos 15 para serem publicados no livro.
Tr�s perguntas // Cl�vis de Barros Filho
Como foi o processo de escolher os temas que iria tratar a cada Despertar inspirado?
A ideia era que fosse muito espont�neo, tanto que os temas n�o t�m uma coer�ncia interna. O crit�rio mesmo era a espontaneidade. A primeira coisa que me vinha � cabe�a, procurava me articular naquele tema. Acordava 10 para 6h, punha a roupa e j� ia gravar. Sempre com a ideia da sexta badalada do mosteiro, de criar uma rotina.
No final das contas, a pandemia foi marcada muito por ter mudado a rotina das pessoas. Era uma ideia de que era poss�vel criar uma nova, com novas preocupa��es, um novo jeito de organizar o tempo e o dia a dia. Fiz quest�o de fazer sempre no mesmo hor�rio, respeitando rigorosamente a simbologia do despertar, falando do nascer do sol e dando conta da possibilidade de come�ar o dia de maneira inspirada atrav�s da reflex�o de uma atividade da alma.
No final das contas, a pandemia foi marcada muito por ter mudado a rotina das pessoas. Era uma ideia de que era poss�vel criar uma nova, com novas preocupa��es, um novo jeito de organizar o tempo e o dia a dia. Fiz quest�o de fazer sempre no mesmo hor�rio, respeitando rigorosamente a simbologia do despertar, falando do nascer do sol e dando conta da possibilidade de come�ar o dia de maneira inspirada atrav�s da reflex�o de uma atividade da alma.
Como o senhor acha que a pandemia impactou na vida das pessoas?
Acredito que a pandemia representou uma ruptura com o cotidiano e de uma certa maneira ainda n�o acabou. Suas consequ�ncias mais tr�gicas ainda est�o sendo vividas. Ela �, sem d�vidas, uma ruptura com o cotidiano, que � sempre marcado por uma certa mediocridade, de fazer tudo de maneira dividida, fragmentada. A possibilidade da quarentena responde ao cotidiano como um tempo de reflex�o mais maduro, um pouco mais profundo e, claro, espero com alguns benef�cios para a pr�pria vida no sentido de uma avalia��o segura de como estamos administrando o tempo da vida.
Quais s�o os seus reais valores, o que realmente importa para que tenha valor, para que valha as suas dores e dificuldades? A oportunidade foi dada para uma reflex�o profunda ante a presen�a gritante da finitude com os n�meros expressivos de �bitos di�rios.
Quais s�o os seus reais valores, o que realmente importa para que tenha valor, para que valha as suas dores e dificuldades? A oportunidade foi dada para uma reflex�o profunda ante a presen�a gritante da finitude com os n�meros expressivos de �bitos di�rios.
Esse foi um per�odo de muito trabalho para o senhor, n�?
Talvez eu nunca tenha trabalhado tanto. S� com a editora Citadel s�o quatro livros. Escrevi um sobre S�crates com a Ciranda Cultural. Estou escrevendo um sobre liberdade. H� uma produ��o fren�tica. Porque a oportunidade � dada justamente para esse tipo de reflex�o. O pr�ximo livro tem como t�tulo Moral da hist�ria. Est� pronto, com o projeto editorial feito. S�o 10 hist�rias da minha vida apresentadas como cr�nicas.
Cada cap�tulo tem tr�s partes: a minha hist�ria, a moral da hist�ria e a hist�ria do outro, com situa��es an�logas na literatura brasileira. O outro livro que est� pronto � Cooperar, destinado a uma reflex�o filos�fica do significado de coopera��o como uma estrat�gia conjunta de somat�rios para alcan�ar um fim comum. O �ltimo livro � uma transcri��o do meu podcast In�dita pamonha, que traz toda quinta-feira uma reflex�o sobre a vida.
Cada cap�tulo tem tr�s partes: a minha hist�ria, a moral da hist�ria e a hist�ria do outro, com situa��es an�logas na literatura brasileira. O outro livro que est� pronto � Cooperar, destinado a uma reflex�o filos�fica do significado de coopera��o como uma estrat�gia conjunta de somat�rios para alcan�ar um fim comum. O �ltimo livro � uma transcri��o do meu podcast In�dita pamonha, que traz toda quinta-feira uma reflex�o sobre a vida.