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Estado de Minas N�MERO ELEVADO

4 ministros, avers�o ao isolamento, falta de vacina: a escalada que levou o Brasil �s 300 mil mortes por covid-19

No dia em que o n�mero de tr�s centenas de milhares de �bitos � ultrapassado no pa�s, elencamos os seis fatores que contribu�ram para chegarmos ao est�gio mais dram�tico da crise sanit�ria at� agora.


24/03/2021 18:03 - atualizado 25/03/2021 09:25

Protesto em Brasília contra a condução da resposta à pandemia pelo Planalto(foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
Protesto em Bras�lia contra a condu��o da resposta � pandemia pelo Planalto (foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

O Brasil alcan�ou nesta quarta-feira (23/3) a marca de 300 mil mortes por covid-19, segundo dados do Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (Conass).


Em pouco mais de um ano desde a confirma��o do primeiro caso da doen�a no pa�s, em 26 de fevereiro de 2020, o Brasil precisou lidar n�o s� com um v�rus com capacidade de transmiss�o in�dita, mas tamb�m com novos e velhos problemas sociais e pol�ticos que agravaram a resposta � pandemia.

Esta tr�gica combina��o al�ou o Brasil ao segundo lugar de pa�s com mais mortes por covid-19 no mundo, atr�s apenas dos Estados Unidos, onde 544.922 pessoas j� morreram pela doen�a.

O tamanho da popula��o de ambos pa�ses poderia explicar parcialmente a lideran�a em n�meros absolutos. Entretanto, a posi��o do Brasil em termos relativos tamb�m � significativa: est� no 23º lugar na taxa de total de mortes por um milh�o de habitantes, segundo a plataforma Our World in Data.

E o n�mero de novos �bitos di�rios por um milh�o de habitantes do Brasil est� crescendo desde novembro de 2020, enquanto para os Estados Unidos este n�mero s� diminui desde janeiro de 2021. O momento atual do Brasil � de "maior colapso sanit�rio e hospitalar da hist�ria", segundo relat�rio da Fiocruz.

Para os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, ignorar e subestimar a realidade s�o fatores que est�o na raiz de todos os problemas que levaram o pa�s ao colapso.

E essa nega��o encontrou resson�ncia nos gestores p�blicos de cidades, estados e governo federal, na comunidade m�dica e na pr�pria popula��o brasileira.

"O negacionismo � o eixo central que permitiu a sucess�o de erros e a total aus�ncia de prepara��o para um momento como este", analisa a enfermeira Ethel Maciel, doutora em epidemiologia e professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo.

Presidente da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco), a m�dica Gulnar Azevedo e Silva avalia que particularmente a falta de protagonismo do governo federal foi uma posi��o "deliberada".

"Um ano j� era suficiente para se ter aprendido alguma coisa para a gest�o p�blica da pandemia, mas a descoordena��o foi deliberada: n�o h� uma preocupa��o do governo federal para resolver essa crise."


Relógio de rua com aviso sobre a covid-19 em São Paulo, capital do Estado com mais casos da doença desde o início da pandemia(foto: SEBASTIÃO MOREIRA/EPA)
Rel�gio de rua com aviso sobre a covid-19 em S�o Paulo, capital do Estado com mais casos da doen�a desde o in�cio da pandemia (foto: SEBASTI�O MOREIRA/EPA)

J� o m�dico Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Cl�nica e Epidemiol�gica do Hospital Universit�rio da Universidade de S�o Paulo (USP), chama a aten��o para a falta de medidas de preven��o contra o v�rus no pa�s.

"O pouco que fizemos, em grande extens�o, foi minado pelas lideran�as federais, que nem sequer estimularam as medidas mais b�sicas de prote��o", diz.

Confira a seguir seis fatores que ajudam a explicar a escalada e o pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil.

1. Trocas no comando do Minist�rio da Sa�de

Desde que a pandemia come�ou, o Brasil teve quatro ministros da sa�de diferentes: Luiz Henrique Mandetta (at� 16 de abril de 2020), Nelson Teich (de 17 de abril a 15 de maio de 2020), o general Eduardo Pazuello (de 2 de junho de 2020 a 15 de mar�o de 2021) e Marcelo Queiroga (o atual ocupante do cargo).

"Que pa�s aguenta isso, quatro ministros em um ano durante uma pandemia?", critica a m�dica Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

"Essa troca de ministros � um atraso enorme, pois este � um momento em que todo mundo precisava estar trabalhando em plena capacidade. O ministro precisa conhecer todo mundo, os processos internos, mas tivemos pessoas erradas no lugar errado. N�o precisa ser m�dico para ser um bom gestor, mas tem que conhecer o SUS (Sistema �nico de Sa�de), valorizar as experi�ncias anteriores, ter compet�ncia", afirmou, mencionando particularmente o mandato de Pazuello, um militar da ativa.


O então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, quando foi confirmado primeiro caso de infecção por coronavírus no Brasil %u2014 em fevereiro do ano passado(foto: Reuters)
O ent�o ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta, quando foi confirmado primeiro caso de infec��o por coronav�rus no Brasil %u2014 em fevereiro do ano passado (foto: Reuters)

Mandetta e Teich foram demitidos ap�s diverg�ncias com Jair Bolsonaro — um dos principais motivos da disc�rdia era a defesa, pelo presidente, da ado��o de drogas como hidroxicloroquina e azitromicina como "tratamento precoce" contra a covid-19.

Por um lado, Bolsonaro via (e continua vendo) esses rem�dios como uma poss�vel solu��o para a pandemia, apesar das evid�ncias cient�ficas mostrarem justamente o contr�rio.

Por outro, os dois ministros, ambos com forma��o m�dica, resistiam ao chamado "kit-covid" e acabaram deixando o cargo ap�s um intenso processo de desgaste.

J� o general Pazuello se manteve na lideran�a do minist�rio por nove meses e foi efetivado no cargo por conta de sua experi�ncia em log�stica que, na avalia��o do governo federal, seria importante num momento com recursos escassos e a chegada das primeiras doses das vacinas.

Mas, na pr�tica, aconteceu o contr�rio: epis�dios como a falta de oxig�nio na cidade de Manaus, no m�s de janeiro de 2021, e a demora para a compra e a distribui��o das vacinas acabaram arranhando a imagem do ent�o ministro, que foi substitu�do em 15 de mar�o pelo m�dico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

No discurso oficial, por�m, o manejo da pandemia feita por Pazuello � considerado bom. "[Marcelo Queiroga] tem tudo no meu entender para fazer um bom trabalho, dando prosseguimento a tudo que o Pazuello fez at� hoje. A parte de gest�o foi muito bem feita por ele [Pazuello] e agora vamos partir para uma parte mais agressiva no tocante ao combate ao v�rus", discursou Bolsonaro na frente do Pal�cio da Alvorada, em Bras�lia, na noite do dia 15 de mar�o, ao anunciar a substitui��o ministerial.


Praia lotada no Rio de Janeiro em plena pandemia(foto: Reuters)
Praia lotada no Rio de Janeiro em plena pandemia (foto: Reuters)

Embora tenha feito in�meras manifesta��es p�blicas em prol das vacinas, do uso de m�scaras e do distanciamento social, Queiroga j� deixou claro que pretende seguir a pol�tica estabelecida pelo governo federal.

Resta saber como ele lidar� nas pr�ximas semanas com quest�es pol�micas e sens�veis, decisivas para a demiss�o dos seus antecessores, como a prescri��o precoce de rem�dios sem efic�cia e a resist�ncia do Planalto � ado��o de medidas mais r�gidas, como o lockdown.

2. Falta de uma pol�tica centralizada e de medidas 'pra valer'


Região central de Porto Alegre vazia em meio ao aumento de casos de covid neste início de 2021(foto: REUTERS/Diego Vara)
Regi�o central de Porto Alegre vazia em meio ao aumento de casos de covid neste in�cio de 2021 (foto: REUTERS/Diego Vara)

A troca de ministros � apenas a ponta do iceberg de um problema sist�mico, que envolveu setores t�cnicos do Minist�rio da Sa�de e culminou em exonera��es e pedidos de demiss�o de muitos servidores de carreira.

Essas mudan�as administrativas tiveram influ�ncia na cria��o de pol�ticas p�blicas centralizadas pelo governo federal na pandemia — muitos desses funcion�rios tinham experi�ncia com a condu��o de outras crises de sa�de p�blica do passado.

Al�m disso, desde a decis�o por endurecer ou flexibilizar medidas de isolamento � compra de vacinas, as respostas dos governos municipais, estaduais e federais � pandemia t�m sido consideradas descoordenadas — avalia��o n�o s� de especialistas, mas tamb�m dos pr�prios governantes.

No in�cio de mar�o, secret�rios estaduais de sa�de publicaram uma carta pedindo planos nacionais de comunica��o e de recupera��o econ�mica, al�m de um pacto nacional para uma rea��o integrada � pandemia.

"A aus�ncia de uma condu��o nacional unificada e coerente dificultou a ado��o e implementa��o de medidas qualificadas para reduzir as intera��es sociais que se intensificaram no per�odo eleitoral, nos encontros e festividades de final de ano, do veraneio e do carnaval", afirmou carta assinada por Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (Conass).

O fechamento do com�rcio e a restri��o da circula��o de pessoas pelas ruas, medidas conhecidas de forma gen�rica como lockdown, se mostraram eficazes em v�rios pa�ses que conseguiram controlar o n�mero de casos e mortes por covid-19, como China, Taiwan, Coreia do Sul e Noruega.

J� o Brasil nunca teve um lockdown nacional de verdade. Muitas cidades at� lan�aram regras mais restritivas, como a proibi��o de circula��o de pessoas em alguns hor�rios do dia (geralmente na madrugada) e limita��o do funcionamento do com�rcio e servi�os.


Fila para retirada do auxílio emergencial em 2020(foto: Reuters)
Fila para retirada do aux�lio emergencial em 2020 (foto: Reuters)

Mas essas pol�ticas variaram muito de acordo com a cidade ou o Estado — e tem muito prefeito que decidiu desobedecer e ignorar as normas do governo estadual ou n�o estabelecer uma fiscaliza��o mais r�gida para coibir as aglomera��es e festas clandestinas.

Medidas de lockdown precisam ainda vir juntas de uma s�rie de outras pol�ticas e estrat�gias, como aux�lio financeiro e programas de testagem e rastreamento (que, ali�s, ser�o tema de nosso pr�ximo t�pico).

Ou seja, a��es cujo protagonismo natural seria do governo federal.

"O SUS � concebido com a integra��o das esferas federal, estadual e municipal. Mas em uma pandemia, em que o Brasil inteiro � afetado, quem tem que liderar o processo � o Minist�rio da Sa�de. Os Estados e munic�pios precisam do governo federal, n�o s� para maior financiamento, mas na compra de vacinas e medicamentos, em que o minist�rio teria condi��es de fazer melhores acordos com a ind�stria de outros pa�ses", aponta Gulnar Azevedo e Silva, presidente da Abrasco.

O governo tamb�m nunca lan�ou campanhas massivas de comunica��o que incentivassem as medidas de prote��o contra a covid-19. Foram poucas as falas sobre uso de m�scara, distanciamento social, necessidade de permanecer em casa sempre que poss�vel, lavagem de m�os…


Sem máscara, Bolsonaro saudou manifestantes que pediram 'intervenção militar' em frente ao Quartel General do Exército, em 19 de abril de 2002(foto: AFP)
Sem m�scara, Bolsonaro saudou manifestantes que pediram 'interven��o militar' em frente ao Quartel General do Ex�rcito, em 19 de abril de 2002 (foto: AFP)

Na contram�o, Bolsonaro chegou at� a lan�ar d�vidas sobre muitos dos cuidados validados cientificamente e que contam com o respaldo de entidades como a Organiza��o Mundial da Sa�de e o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as dos Estados Unidos (CDC).

Um dos alvos mais contumazes do discurso presidencial foram as m�scaras:

"Come�am a aparecer estudos aqui, n�o vou entrar em detalhes, sobre o uso de m�scara, que, num primeiro momento aqui, uma universidade alem� fala que elas s�o prejudiciais a crian�as e levam em conta v�rios itens aqui como irritabilidade, dor de cabe�a, dificuldade de concentra��o, diminui��o da percep��o de felicidade, recusa em ir para a escola ou creche, des�nimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga... Ent�o, come�am a aparecer aqui os efeitos colaterais das m�scaras, t� ok?", afirmou o presidente, numa transmiss�o ao vivo em 25 de fevereiro de 2021.

O "estudo alem�o" era apenas uma enquete preenchida por pais e respons�veis, n�o passou por revis�o de cientistas independentes, suas observa��es s�o inconclusivas e n�o mudam em nada as recomenda��es atuais.

3. Aus�ncia de programa de testagem e rastreamento de contatos

Desde abril de 2020, a OMS adotou tr�s verbos para simbolizar as principais estrat�gias para conter a pandemia: isolar, testar e rastrear.

A covid-19 tem uma particularidade que complica demais o seu controle: uma parcela consider�vel de pacientes n�o apresenta sintomas da enfermidade, ou demora alguns dias para manifestar inc�modos suspeitos.

Mesmo no per�odo em que n�o h� ind�cio algum de doen�a, esses indiv�duos s�o capazes de transmitir o v�rus a outras pessoas, sem saber que tamb�m est�o infectados. Isso, claro, complica demais o controle dos casos e facilita o espalhamento do agente infeccioso.

Uma das sa�das mais eficazes para flagrar os pacientes com covid-19, mesmo aqueles que n�o deram qualquer pista, s�o os testes que detectam o coronav�rus. O principal deles � o RT-PCR, que avalia a presen�a do material gen�tico do agente infeccioso no organismo.

Mas o diagn�stico sozinho n�o � suficiente. Se o resultado do teste for positivo, � essencial fazer o isolamento do paciente e realizar o chamado rastreamento de contatos.

Em resumo, todos aqueles indiv�duos que estiveram pr�ximos de algu�m doente deveriam ser avisados para tomarem os cuidados b�sicos e fazerem uma quarentena.

Assim, � poss�vel quebrar as cadeias de transmiss�o e impedir que o v�rus se espalhe ainda mais por toda a comunidade.

Essa foi a estrat�gia que permitiu aos pa�ses bem-sucedidos contra a covid-19, como Nova Zel�ndia, Taiwan e Coreia do Sul, normalizarem a situa��o com muito mais rapidez.


Cemitério no bairro Bom Jardim, em Fortaleza(foto: JARBAS OLIVEIRA/AFP)
Cemit�rio no bairro Bom Jardim, em Fortaleza (foto: JARBAS OLIVEIRA/AFP)

"J� a atua��o do Brasil nesse aspecto foi nula. N�o fizemos testagem para identificar e isolar os casos ou orientar quarentena para outras pessoas que tiveram contato pr�ximo com algu�m infectado", observa Bittencourt.

O m�dico destaca que, no atual contexto da pandemia no Brasil, lan�ar m�o de um programa desses � praticamente imposs�vel.

"N�o d� para fazer busca ativa de contatos num momento em que temos 100 mil casos por dia. Seria necess�rio falar e orientar 500 ou 600 mil pessoas a cada 24 horas", calcula.

4. Insist�ncia em tratamentos ineficazes


Protesto em junho de 2002 relembra frase de Bolsonaro sobre pandemia: 'E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre'(foto: Reuters)
Protesto em junho de 2002 relembra frase de Bolsonaro sobre pandemia: 'E da�? Lamento. Quer que eu fa�a o qu�? Eu sou Messias, mas n�o fa�o milagre' (foto: Reuters)

No primeiro semestre de 2020, at� fazia sentido ter d�vidas e esperan�as sobre o efeito ben�fico de rem�dios como hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida contra a covid-19.

Mas, com mais de um ano de pandemia, esse j� � um assunto superado na maior parte do mundo.

Por�m, no Brasil, o tema continua a render. Em uma transmiss�o ao vivo na �ltima quinta-feira (18/03), Bolsonaro voltou a defender essa abordagem farmacol�gica:

"No meu pr�dio, as informa��es que tenho � que mais de 200 pessoas pegaram, fizeram algum tipo de tratamento inicial e deu certo. O tratamento inicial � bem-vindo, � uma esperan�a. N�o vamos simplesmente remar contra, falar mal", declarou.

E n�o � s� ele: alguns planos de sa�de continuam a distribuir esses kits com rem�dios e vitaminas comprovadamente ineficazes.

Entidades internacionais e nacionais, como a OMS, o CDC e a Sociedade Brasileira de Infectologia j� se posicionaram contra a prescri��o dos rem�dios que s�o genericamente inclu�dos no "tratamento precoce" ou no "kit-covid".

Essas recomenda��es est�o embasadas em estudos rigorosos, que avaliaram o poderio desses f�rmacos nas v�rias fases da infec��o pelo coronav�rus, e n�o encontraram resultado algum que justificasse a sua ado��o.

"Esse � um tema cansativo. N�o existe tratamento precoce contra a covid-19. Se existisse, todos os pa�ses do mundo estariam agora anunciando essa descoberta com a maior felicidade do mundo", sup�e Maciel.

"O que temos s�o as estrat�gias precoces, que envolvem testar, isolar, monitorar os pacientes, ter um aux�lio emergencial decente... Mas o Brasil n�o parece estar interessado em fazer essas coisas", completa.

5. Demora na negocia��o das vacinas


Vacina contra a covid-19 sendo preparada para aplicação no Rio de Janeiro(foto: EPA/ANTONIO LACERDA)
Vacina contra a covid-19 sendo preparada para aplica��o no Rio de Janeiro (foto: EPA/ANTONIO LACERDA)

Em agosto e setembro de 2020, a farmac�utica Pfizer entrou em contato com o governo federal para negociar a venda de 70 milh�es de doses de sua vacina, que naquele momento estava caminhando para a fase final dos estudos cl�nicos.

A empresa, por�m, n�o recebeu nenhuma resposta.

O segundo semestre de 2020 tamb�m foi marcado por uma s�rie de declara��es pol�micas de Bolsonaro, que lan�ou d�vidas sobre a efic�cia dos imunizantes e at� "comemorou" a interrup��o moment�nea dos testes da CoronaVac, da Sinovac e do Instituto Butantan, em novembro, ap�s a morte de um volunt�rio.

"Morte, invalidez, anomalia… Esta � uma vacina que o D�ria queria obrigar a todos os paulistanos a tom�-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser comprada. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou em suas redes sociais.

Passados alguns dias daquele epis�dio, as pesquisas foram retomadas ap�s os cientistas se certificarem de que o �bito nada tinha a ver com o imunizante: os testes prosseguiram normalmente e a CoronaVac foi aprovada em car�ter emergencial pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) em janeiro de 2021.

No pronunciamento feito pelas cadeias de r�dio e televis�o na noite de ontem (24/03), Bolsonaro disse que 2021 seria o ano da vacina��o no Brasil. Mas, at� agora, a campanha est� bem devagar, segundo os especialistas.

A Fiocruz estima que, se continuarmos no ritmo atual, demoraremos mais de dois anos e meio para aplicar uma dose em todos os brasileiros com mais de 18 anos.

E, por mais que o pa�s tenha garantido recentemente mais de 500 milh�es de doses de seis fornecedores diferentes, os cronogramas de entrega e distribui��o est�o sofrendo sucessivos atrasos, que comprometem qualquer planejamento nas esferas federal, estadual ou municipal.

"N�s temos um Programa Nacional de Imuniza��es do qual devemos nos orgulhar. Mas neste momento, infelizmente, estamos envergonhados com o que est�o fazendo com ele", critica Maciel.

A especialista destaca que, at� agora, n�o foi lan�ada nenhuma comunica��o oficial sobre as vacinas contra a covid-19 em televis�es, r�dios, m�dias sociais e outros meios.

"Pra mim � inacredit�vel que tenhamos chegado nesse n�vel. Todos os projetos de imuniza��o de sucesso do passado foram precedidos de campanhas de informa��o", lamenta.

6. Pouco investimento em vigil�ncia gen�mica

O surgimento de novas variantes do coronav�rus n�o acontece em locais onde a pandemia est� sob r�dea curta.

O v�rus sofre muta��es onde circula com mais facilidade e sem controle algum, como foi o caso de Manaus.

A nova cepa detectada no in�cio do ano na capital do Amazonas � mais contagiosa e pode at� infectar de novo quem teve covid-19 anteriormente.

O Brasil n�o tem um programa amplo e bem estruturado de vigil�ncia gen�mica, um tipo de servi�o especializado em analisar os v�rus em circula��o para encontrar poss�veis muta��es preocupantes antes que elas se espalhem por v�rios lugares.

O Reino Unido realiza cerca de 10 mil sequenciamentos gen�ticos do coronav�rus por semana — e pretende dobrar esse n�mero em breve.

J� por aqui, n�o existe nenhuma estat�stica oficial sobre o assunto, mas especialistas estimam que o n�mero de sequenciamentos semanais no pa�s fique no m�ximo na casa das centenas.

Bittencourt avalia que, por mais importante que a vigil�ncia gen�mica seja, ela n�o deve ser a prioridade no momento.

"Mesmo que descubramos novas variantes e elas sejam realmente mais preocupantes, as medidas de controle contra todas elas continuam as mesmas. Estamos num cen�rio em que precisamos implementar muita coisa antes disso", pensa.

O que fazer agora?


Um homem carrega um cilindro de oxigênio enquanto pessoas fazem fila para comprá-lo de vendedores particulares para tratar de parentes doentes em Manaus, 15 de janeiro de 2021(foto: Reuters)
Um homem carrega um cilindro de oxig�nio enquanto pessoas fazem fila para compr�-lo de vendedores particulares para tratar de parentes doentes em Manaus, 15 de janeiro de 2021 (foto: Reuters)

Para o m�dico da USP, a situa��o grav�ssima da pandemia deixa o Brasil numa esp�cie de "cobertor curto", em que n�o h� recurso e tempo suficiente para lan�ar m�o de tantas medidas que seriam essenciais.

"Na nossa atual circunst�ncia, ainda vamos ver muita gente se infectar, ser internada e morrer pela doen�a antes de come�armos a ver alguma melhora. Isso se as medidas necess�rias forem adotadas", explica.

De acordo com o especialista, a primeira coisa a se pensar � uma estrat�gia ampla de testagem, para que seja poss�vel isolar os casos confirmados.

"Tamb�m precisamos usar as m�dias digitais e f�sicas, de redes sociais a outdoor, para estimular as pessoas a fazerem isolamento e a usarem m�scaras adequadamente, de prefer�ncia as mais seguras, como a N95 ou a PFF2", detalha.

Outros passos essenciais envolveriam cancelar eventos de m�dio e grande porte, em que h� aglomera��es de pessoas, controlar a entrada de estrangeiros pelos aeroportos e reduzir ao m�nimo poss�vel o transporte entre as cidades.

"Por fim, dever�amos controlar a mobilidade das pessoas, orientando para que elas se encontrem pouco e, se necess�rio, que essas reuni�es n�o aconte�am em locais fechados, com proximidade f�sica e sem o uso de m�scaras", finaliza o especialista.


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