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Estado de Minas IMUNIZA��O

Fiocruz descumpre promessas em s�rie e s� produz 1 de cada 6,5 vacinas

Apesar de ter turbinado a produ��o e as entregas de vacinas a partir de abril, entidade executou papel secund�rio no processo de vacina��o


10/05/2021 14:50 - atualizado 10/05/2021 15:31

Fiocruz reduziu a promessa de produção de vacinas de 265 milhões para 210 milhões(foto: Divulgação/AstraZeneca)
Fiocruz reduziu a promessa de produ��o de vacinas de 265 milh�es para 210 milh�es (foto: Divulga��o/AstraZeneca)
 

Em 31 de julho do ano passado, quando o governo anunciou um acordo para produzir no pa�s a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e comercializada pela farmac�utica anglo-sueca AstraZeneca, era dif�cil imaginar que a Funda��o Oswaldo Cruz, a quem caberia levar a cabo a miss�o, iria se tornar alvo de cr�ticas generalizadas e at� de piadas entre cientistas e profissionais de sa�de, por causa de atrasos em s�rie na entrega do imunizante e de previs�es fantasiosas feitas por seus dirigentes.

 

Ao longo de seus 120 anos de exist�ncia, a Fiocruz construiu uma reputa��o irretoc�vel no Brasil e no exterior, pela qualidade de suas pesquisas, por sua atua��o no enfrentamento de epidemias e pela efici�ncia na produ��o de diversas vacinas. A expectativa, portanto, era de que a Fiocruz liderasse a produ��o de vacinas contra o coronav�rus, garantindo a agilidade necess�ria ao processo de vacina��o, e adotasse uma postura ponderada em suas previs�es de entrega, transmitindo � popula��o um quadro realista sobre as perspectivas de imuniza��o.

Ainda que o Instituto Butantan, ligado ao governo de S�o Paulo, tivesse largado na frente na corrida pela vacina, ao negociar uma parceria com a farmac�utica chinesa Sinovac para produ��o da Coronavac, boa parte da comunidade m�dica e cient�fica apostava que a Fiocruz, vinculada ao Minist�rio da Sa�de, assumiria o protagonismo na luta contra o v�rus.

Mas, passados dez meses desde a assinatura do primeiro contrato com a AstraZeneca, o que se observa � que a Fiocruz desempenhou at� agora um papel secund�rio no processo de imuniza��o, apesar de ter turbinado a produ��o e as entregas de vacinas a partir de abril.

De acordo com n�meros do Minist�rio da Sa�de, das 46,4 milh�es de doses de vacinas contra covid j� aplicadas em todo o Brasil at� 6 de maio, incluindo a primeira e a segunda doses, s� 11 milh�es, o equivalente a 24% do total - ou uma em cada quatro - foram do imunizante Oxford/AstraZeneca produzido pela Fiocruz. O restante foi de Coronavac. (A vacina da Pfizer/BioNTech importada pelo governo, que come�ou a ser aplicada na semana passada, ainda n�o havia aparecido nas estat�sticas oficiais.)

A rigor, a participa��o das vacinas produzidas pela Fiocruz no total de doses aplicadas at� o momento � ainda menor, j� que quatro milh�es de doses prontas de AstraZeneca foram importadas da �ndia e est�o somadas � sua produ��o no balan�o do minist�rio. Descontadas as doses indianas da conta, o saldo de vacinas produzidas pela institui��o e j� aplicadas na popula��o cai para 7,1 milh�es, o equivalente a 15,3% do total ou uma em cada 6,5 doses administradas at� agora no Pa�s (veja o gr�fico).

Ainda que indiretamente, esse desempenho acabou prolongando o ciclo de cont�gio, ao limitar o processo de imuniza��o nos primeiros meses do ano, e gerou frustra��o na popula��o, ansiosa por se "blindar" o quanto antes contra o v�rus letal, que j� levou quase meio milh�o de vidas desde o in�cio da pandemia, em mar�o de 2020.

'Melhor cen�rio'


Procurada para falar sobre a quest�o e outros temas ligados � produ��o da vacina contra a covid, a presidente da Fiocruz, N�sia Trindade Lima, n�o quis se pronunciar, alegando n�o ter "disponibilidade na agenda". O rep�rter insistiu, mostrando-se disposto a ajustar o cronograma da reportagem, para incluir os coment�rios e explica��es de N�sia, mas n�o recebeu mais resposta da entidade. Mesmo assim, a reportagem traz no texto abaixo as justificativas da Fiocruz e de seus gestores para a morosidade e os atrasos na produ��o da vacina, compiladas a partir de declara��es e comunicados oficiais feitos nos �ltimos meses.

"At� agora estamos praticamente s� com o Butantan", diz o ex-ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta. "Quando o Butantan fez a parceria com a Sinovac e a Fiocruz com a AstraZeneca, todo mundo acreditava que a Fiocruz iria se dar melhor, mas o que acabou acontecendo foi o contr�rio", afirma o bi�logo Fernando Reinach, autor do livro A chegada do novo coronav�rus no Brasil e colunista do Estad�o.

Os resultados parecem ainda piores quando confrontados com as promessas feitas pelos dirigentes da Fiocruz, que desde o princ�pio anunciaram proje��es muito elevadas para a entrega das doses, desmentidas seguidamente pelos fatos. "Eles sempre tendem a prometer o melhor cen�rio poss�vel - e na vida n�o � assim", diz Reinach. "Nunca acontece o melhor cen�rio poss�vel."

Logo depois da assinatura do contrato inicial, por exemplo, a Fiocruz chegou a falar na produ��o de 265 milh�es de doses da vacina ao Programa Nacional de Imuniza��o (PNI) em 2021. No fim do ano passado, por�m, a previs�o foi reduzida em 20%, para 210,4 milh�es de doses - 100,4 milh�es fabricadas com Insumo Farmac�utico Ativo (IFA) importado da China e outras 110 milh�es com IFA nacional, a ser produzido numa nova unidade industrial, que ainda est� em constru��o.

Em janeiro, a Fiocruz anunciou a entrega de 50 milh�es de doses da vacina Oxford/AstraZeneca at� abril e manteve a previs�o mesmo quando surgiram as primeiras dificuldades para cumpri-la. No mundo real, o n�mero de doses entregues ao Programa Nacional de Imuniza��o (PNI)no per�odo ficou em 22,5 milh�es, menos da metade. Em 5 de fevereiro, a Fiocruz prometeu entregar 15 milh�es de doses em mar�o, mas entregou s� 2,8 milh�es, o equivalente a 18,7% do prometido.

A entrega de vacinas com insumo nacional, inicialmente prevista para agosto, passou para setembro e agora dirigentes da Fiocruz j� falam que s� acontecer� a partir de outubro, comprometendo o cumprimento da meta do segundo semestre (leia o quadro).

'Lamban�a'


"Promessas n�o cumpridas diminuem a credibilidade e a confian�a nas institui��es", afirmou o ex-ministro da Sa�de Nelson Teich, que deixou o governo antes de completar um m�s no cargo, por diverg�ncias com o presidente Jair Bolsonaro, em um coment�rio no Twitter. "A gente fica nessa lamban�a de gerar um otimismo exagerado e de querer deixar a popula��o mais tranquila, mas as informa��es precisam ter base na realidade", diz o senador Conf�cio Moura (MDB-RO), presidente da comiss�o tempor�ria do Senado que foi criada em fevereiro para acompanhar as a��es contra a covid.

Um virologista que trabalha num centro de desenvolvimento de vacinas ligado a uma das principais universidades do Pa�s, que preferiu n�o se identificar, conta que as promessas n�o cumpridas da Fiocruz viraram tema de ironias e coment�rios maldosos em grupos de pesquisadores e cientistas no WhatsApp. M�dicos de diferentes especialidades ouvidos pelo Estad�o tiveram rea��o semelhante. Um deles chegou a defender a privatiza��o da Fiocruz, para torn�-la mais eficiente.

Segundo o virologista, "a grande falha" da entidade foi "vender ilus�es" � popula��o em rela��o � vacina��o. "A dist�ncia entre a expectativa criada e a realidade � absolutamente frustrante", afirma. "A Fiocruz deveria ter admitido que a produ��o da vacina seria um processo muito mais moroso do que se acreditava." Para ele, as falsas expectativas criadas pela Fiocruz tiveram efeito perverso no planejamento do processo de imuniza��o. "Quando voc� tem uma expectativa e passa a consider�-la como fato consumado, deixa de buscar alternativas, como a compra de mais vacinas prontas ou de mais insumo importado para envasar as vacinas aqui."

Responsabilidade 'terceirizada'


Ao justificar os atrasos e as seguidas revis�es nas promessas de produ��o da vacina Oxford/AstraZeneca, a Fiocruz "terceiriza" a responsabilidade pelos problemas. A institui��o n�o admite ter sido excessivamente otimista em suas previs�es ou subdimensionado os obst�culos que enfrentaria para cumprir o que prometeu desde o fechamento do acordo com a farmac�utica AstraZeneca, em julho de 2020.

A presidente da Fiocruz, N�sia Trindade Lima, n�o quis dar entrevista para esta reportagem, alegando falta de espa�o na agenda. Mas, nos �ltimos meses, a Fiocruz e seus dirigentes apresentaram diferentes explica��es para as revis�es feitas nas proje��es de produ��o e entrega de vacinas.

Segundo a entidade, o atraso na entrega das doses produzidas com Insumo Farmac�utico Ativo (IFA) importado da China, cujo envio estava previsto inicialmente para dezembro e janeiro, mas acabou ocorrendo s� em fevereiro, deveu-se a "dificuldades burocr�ticas e diplom�ticas" para a libera��o do produto na origem, em raz�o da falta de aval do governo brasileiro � opera��o.

Para explicar o adiamento da entrega das primeiras doses da vacina do come�o de fevereiro para meados de mar�o, a Fiocruz alegou que houve a quebra de uma m�quina, com descarte indevido de vacinas, al�m do atraso no envio do IFA chin�s. No caso do atraso da entrega de 4 milh�es de doses prontas da �ndia, praticamente s� rotuladas pela Fiocruz, os dirigentes da institui��o disseram que, al�m da repeti��o dos problemas enfrentados na China, o agravamento da pandemia no pa�s acabou por retardar ainda mais a libera��o da mercadoria.

O mesmo argumento foi usado para justificar o atraso no envio de mais 8 milh�es de doses prontas da �ndia, produzidas pelo Instituto Serum. "O problema da vacina��o contra covid-19 n�o foi apostar em poucas vacinas, mas conduzir de forma ineficiente as negocia��es, o planejamento e a execu��o", afirmou o ex-ministro da Sa�de Nelson Teich no Twitter.

Em rela��o ao atraso da produ��o de vacinas com IFA nacional, os dirigentes da Fiocruz dizem que ele vai se dar devido � "complexidade" da tarefa e � nova tecnologia que est� sendo incorporada no processo. Inicialmente prevista para come�ar em agosto, a entrega das vacinas com IFA nacional agora s� deve ocorrer a partir de outubro, de acordo com informa��es de gestores da Fiocruz e do pr�prio Minist�rio da Sa�de. Embora os dirigentes da entidade evitem falar sobre o assunto, o atraso na produ��o da vacina com IFA nacional tamb�m tem a ver com a demora para fechar com a AstraZeneca o acordo de transfer�ncia de tecnologia, cujas cl�usulas est�o em discuss�o desde o ano passado (leia o quadro acima).

Al�m de tudo isso, boa parte do problema se deve � postura do governo na pandemia. A posi��o antivacina do presidente Jair Bolsonaro durante meses acabou dando uma contribui��o decisiva para retardar a negocia��o de imunizantes e o processo de vacina��o em massa no Pa�s. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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