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Estado de Minas PANDEMIA

Fuga de talentos para os EUA � a maior em 10 anos; sa�da de m�dicos tem 'boom'

EUA registraram alta de 36% nos vistos concedidos a brasileiros em uma categoria espec�fica, o EB2, voltada para os chamados "profissionais excepcionais"


27/05/2021 13:01 - atualizado 27/05/2021 13:45

Em números absolutos, 1.899
Em n�meros absolutos, 1.899 "profissionais excepcionais" deixaram o Pa�s de forma definitiva no ano passado, o maior �ndice em pelo menos uma d�cada (foto: ORLANDO SIERRA)

O casal de m�dicos Raquel e Diego Laurentino Lima, de 32 e 36 anos, estava na linha de frente do combate � COVID-19 no Pa�s. Emergencista, ela cuidou de dezenas de pacientes, 12 horas por dia. J� ele, cirurgi�o, conduziu estudos sobre a doen�a. Em agosto, Lima aproveitou uma oferta de trabalho e os dois resolveram que era hora de ir morar em Nova York. "A pandemia deixou claro que o Brasil, por tudo que est� passando, convida os bons profissionais a se retirarem."

H� um boom na sa�da de profissionais de sa�de para os Estados Unidos, destaca o Estad�o. Assim como o casal Lima, a maioria vai em busca de valoriza��o profissional, melhor remunera��o e investimentos em pesquisas. Segundo o relat�rio fiscal de 2020, os EUA registraram alta de 36% nos vistos de perman�ncia concedidos a brasileiros em uma categoria espec�fica, o EB2, voltada para os chamados "profissionais excepcionais" - o tipo mais comum requisitado por m�dicos, enfermeiros e fisioterapeutas, mas que tamb�m inclui outras �reas deficit�rias naquele pa�s, como avia��o e engenharia.

Em n�meros absolutos, 1.899 "profissionais excepcionais" deixaram o Pa�s de forma definitiva no ano passado, o maior �ndice em pelo menos uma d�cada. A estat�stica inclui tanto novos vistos concedidos quanto ajustes de status - ou seja, casos de pessoas que entraram no pa�s com autoriza��o de outra natureza, mas conseguiram trocar depois. Esse aumento contrasta com a queda de 48% nas emiss�es de vistos, em geral, pelo governo americano em 2020.

"S� consegui embarcar porque, como minhas pesquisas s�o relacionadas � COVID, fui considerado prioridade", relata Lima, que deu entrada para obter o EB2. Segundo conta, ele j� vinha pensando em morar fora e at� fez est�gios em Jap�o e Estados Unidos antes. "Tive ainda mais certeza da decis�o quando vi a forma que o Brasil enfrentou a pandemia. Somos um dos �nicos pa�ses a ficar insistindo em coisas sem respaldo cient�fico, como cloroquina."

Para Lima, tamb�m pesaram as condi��es de trabalho e qualidade de vida. "No Brasil, o m�dico pode at� ganhar dinheiro, mas n�o tem tempo de aproveitar. Aqui, os contratos s�o de U$ 200 mil, U$ 300 mil (R$ 1 milh�o a R$ 1,6 milh�o) por ano e o ambiente � muito melhor. Entre os brasileiros, a gente brinca que 'virou modinha' vir para os Estados Unidos."

Limite

Em paralelo aos relat�rios oficiais, a assessoria D4U USA, especializada em imigra��o legal, relata ter observado, no ano passado, alta de 30%, considerando apenas profissionais de sa�de � procura de visto de resid�ncia nos Estados Unidos. "O volume aumentou bastante, n�o s� pela pandemia. � a situa��o do Brasil, como um todo", diz o CEO da empresa, Wagner Pontes. "Quando a gente senta com o cliente, a maioria fala que chegou ao limite."

Pontes explica que a tend�ncia, apesar de mais acentuada agora, j� vinha sendo percebida desde o fim de 2016, quando o governo americano flexibilizou regras e encurtou o processo para o EB2. Antes, o visto levava cerca de 36 meses para sair. Hoje, pode ser obtido em menos de um ano. Para ele, esse aumento deve ficar ainda mais claro nos relat�rios oficiais seguintes. "A partir de mar�o de 2020, praticamente n�o houve entrevista consular, ent�o muitos processos ficaram amarrados. Existe uma demanda represada. S� aqui no escrit�rio, s�o centenas (de processos)."

� o caso da dentista Mariana Antunes, de 38 anos, que atua no Sistema �nico de Sa�de (SUS) no Brasil, aplicou o visto no ano passado e aguarda alguns tr�mites para se mudar de vez. "Passei um ano nos Estados Unidos, em 2018, e o que mais me deixou feliz foi a seguran�a de poder caminhar na rua sem medo", descreve.

Para exercer a profiss�o nos EUA, o imigrante tamb�m precisa validar o diploma e cumprir uma s�rie de etapas burocr�ticas. Um dos empecilhos � o alto custo do processo, com provas que custam U$ 900 (R$ 4,7 mil) cada. N�o raro, o investimento ultrapassa R$ 100 mil. Com experi�ncia em UTI e centro cir�rgico, a enfermeira Nat�lia Marques, de 36 anos, mora h� cinco anos l� com o marido e o filho. "Estou no processo de recebimento do visto de trabalho e j� tenho licen�a para atuar em Nova York", afirma.

Nat�lia avalia que a espera vale a pena. "No Brasil, cheguei a trabalhar 36 horas seguidas e, muitas vezes, o sal�rio pago n�o � o justo." J� a fisioterapeuta Elisangela Ishida fez carreira em cl�nicas do interior de S�o Paulo, mas trocou de pa�s em 2019. "Nos EUA, a pessoa consegue validar o diploma em um dia e est� empregada no outro."

Recupera��o econ�mica

A fuga de talentos afeta principalmente as �reas de sa�de, pesquisa, tecnologia e inova��o, segundo especialistas. Para eles, o cen�rio prejudica o combate ao coronav�rus, traz impactos para a qualidade de vida da popula��o at� p�e em risco a capacidade de recupera��o econ�mica do Brasil.

De acordo com a professora Luciana Lima, de Estrat�gias de Neg�cios e Pessoas do Insper, investimentos em tecnologia e inova��o tendem a aquecer a economia e, portanto, acelerar a recupera��o dos pa�ses depois de crises. "E isso n�o existe sem capital humano. Por esse motivo, h� uma guerra por talentos no mundo", diz.

Presidente da Academia Brasileira de Ci�ncia (ABC), Luiz Davidovich destaca que "s�o pessoas de boa forma��o que deveriam ser vistas como uma reserva no Pa�s". Outros pesquisadores avaliam que cortes em financiamentos p�blicos de pesquisas t�m estimulado a sa�da. "Sem recurso, muitos n�o veem perspectiva de continuar os projetos nos seus laborat�rios", afirma Fernanda Sobral, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia (SBPC).

Vanessa Cepellos, professora de Gest�o de Pessoas da FGV-EAESP, tamb�m aponta fuga de talentos associada � "falta de perspectiva". "N�o � uma decis�o tomada do dia para a noite." Professora da Unicamp e � frente de pesquisas sobre migra��o, Ana Maria Carneiro lamenta que "grande parte dessas pessoas � proveniente de universidades p�blicas ou recebeu bolsas de pesquisa". "Ou seja, o Pa�s perde todo o recurso que investiu na forma��o, al�m das compet�ncias espec�ficas." 


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