
Os dados integram a terceira edi��o da pesquisa quantitativa "Vis�vel e Invis�vel - A vitimiza��o de mulheres no Brasil", realizada a cada dois anos pelo Instituto Datafolha, a pedido do F�rum, que desta vez teve financiamento da Uber. O balan�o reuniu 2.079 entrevistas feitas em 130 munic�pios de pequeno, m�dio e grande porte, entre os dias 10 e 14 de maio.
Segundo o levantamento, 24,4% das participantes relataram ter sofrido viol�ncia no �ltimo ano - �ndice que equivaleria a cerca de 17 milh�es de mulheres no Brasil. Comparado � edi��o anterior, o resultado manteve-se est�vel, apesar de ter crescido a percep��o de que a viol�ncia de g�nero aumentou no per�odo. Em 2019, a preval�ncia indicada foi ligeiramente maior, de 27,4%, mas a diferen�a est� dentro da margem de erro de 3 pontos porcentuais da pesquisa.
Uma das hip�teses para explicar esse empate t�cnico passa por entender como a crise sanit�ria impactou no contexto das mulheres. "Em compara��o a 2019, h� uma queda de 29% para 19% da viol�ncia praticada nas ruas, mas ao mesmo tempo subiu de 42% para 49% nos domic�lios", analisa Samira Bueno, diretora-executiva do F�rum e uma das cinco pesquisadoras que conduziram o estudo. "J� aqueles casos em bar, balada, faculdade quase desaparecem agora, por causa da pandemia."
Em sete a cada dez ocorr�ncias, o autor � uma pessoa conhecida - principalmente companheiros (25,4%) ou ex-companheiros (18,1%). Esta edi��o da pesquisa, no entanto, detectou aumento da participa��o de familiares, como pais, m�es, irm�os e filhos, entre os agressores. "Os dados levam a crer que viol�ncia est�, cada vez mais, dentro da casa das pessoas", avalia a diretora-executiva do F�rum.
Estudiosos do tema s�o un�nimes em afirmar que a viol�ncia contra mulheres tende a acontecer em escalada. Via de regra, ela inicia com ofensas no dia-a-dia e press�es psicol�gicas que evoluem para espancamentos ou at� feminic�dio.
De acordo com o levantamento, a forma mais comum � a ofensa verbal, apontada por 18,6% das entrevistadas. Pela proje��o, isso totalizaria 13 milh�es de mulheres que foram alvo de insultos, xingamentos ou humilha��es no �ltimo ano no Pa�s.
J� 6,3%, ou o equivalente a 4,3 milh�es, afirmaram ter sido alvo de agress�o f�sica, com tapas, empurr�es ou chutes. Para 2,4% das mulheres brasileiras (1,6 milh�o), a viol�ncia atingiu formas mais graves, como espancamentos ou tentativas de estrangulamento.
Por sua vez, 5,4% foram v�timas de ofensa sexual ou tentativa for�ada de manter rela��o e 3,1% sofreram amea�as com faca ou arma de fogo. Esses contingentes equivalem a 3,7 milh�es e 2,1 milh�es, respectivamente.
"Nem todo caso de viol�ncia contra mulher deve ser resolvido pela pol�cia", diz Samira. "Igreja, fam�lia, amigos, equipamentos de assist�ncia social, atendimento psicol�gico s�o etapas importantes para a prote��o e acolhimento. A rede de apoio precisa estar atenta, porque nem sempre a mulher consegue sair da situa��o sozinha. Agora, dependendo do n�vel de gravidade ou quando a viol�ncia se torna um padr�o, � preciso sim buscar alternativas na pol�cia e na Justi�a - o que boa parte das mulheres ainda deixa de fazer."
Os dados comprovam a fala da pesquisadora. Segundo o estudo, a rea��o mais comum ap�s sofrer agress�o mais grave �, na pr�tica, "n�o fazer nada". Essa foi a resposta de 44,9% das v�timas. As alternativas que aparecem logo na sequ�ncia foram procurar ajuda da fam�lia (22%) ou de amigos (13%). S� 12% prestaram den�ncia em delegacias especializadas e 7% acionaram a Pol�cia Militar.
Entre as que optaram por n�o tomar provid�ncia, 32,8% alegaram que poderiam resolver o conflito sozinhas, 16,8% julgaram que o caso n�o era importante a ponto de envolver a pol�cia. Para 13,4%, a justificativa foi medo de repres�lia do agressor.
Falta de autonomia financeira � o principal fator de exposi��o � viol�ncia
O levantamento aponta, ainda, que a viol�ncia � mais prevalente entre mulheres jovens, pretas e divorciadas. Questionadas na pesquisa, as v�timas apontam a aus�ncia de autonomia financeira, quadro que se agravou durante a pandemia, como o principal fator de vulnerabilidade.
Entre as v�timas, 25,1% afirmaram que est�o expostas � viol�ncia porque perderam o emprego ou n�o t�m possibilidade de trabalhar para garantir renda pr�pria. "Isso � um elemento importante para endere�ar pol�ticas p�blicas e pensar em mecanismos espec�ficos", diz Samira. "Se a mulher tem autonomia financeira, ela pode romper a rela��o. Mas, quando depende financeiramente do parceiro, ela acaba relevando ou procurando justificativas para as agress�es. Afinal, o mais importante � colocar comida na mesa."
Pela pesquisa, a maior parte das v�timas tem entre 16 a 24 anos (35,2%), �ndice que vai decaindo na medida em que as faixas et�rias avan�am. Para as mulheres com 60 anos ou mais, o indicador � de 14,1%.
No recorte por cor, a preval�ncia � maior entre mulheres pretas (28,3%), seguida de pardas (24,6%) e brancas (23,5%). J� na an�lise por estado civil, a viol�ncia foi sofrida por 35% das mulheres divorciadas, 30,7% das solteiras, 17,1% das vi�vas e 16,8% das casadas.
"O momento de ruptura � quando a mulher est� exposta a maior risco. O caso t�pico de feminic�dio no Brasil � o da mulher que se separa e o parceiro n�o lida bem com isso", analisa a diretora-executiva do F�rum. "Mas h� outro elemento: muitas vezes, romper o relacionamento amoroso n�o significa estar livre, principalmente se a rela��o envolver filhos e houver algum tipo de intera��o com o agressor. A separa��o � um passo importante para afastar a viol�ncia do cotidiano, mas � preciso que ela esteja acompanhada de outras medidas para garantir a seguran�a da mulher."