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Estado de Minas Sa�de

Pacientes cr�nicos ficam sem rem�dios ap�s uso para covid-19

Pessoas com doen�as cr�nicas como artrite reumatoide e l�pus enfrentam falta de medicamentos, utilizados sem comprova��o cient�fica para combater covid-19


19/07/2021 11:50

(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O uso de medicamentos na tentativa de combater a covid-19, como no caso do tratamento precoce — sem comprova��o cient�fica — desencadeou uma sobrecarga na demanda de medicamentos que eram utilizados para tratar outras doen�as, principalmente na �rea da reumatologia.

A alta procura por cloroquina, hidroxicloriquina, azitromicina e tocilizumabe afetou o abastecimento desses medicamentos na rede p�blica e privada.

“No in�cio da pandemia, a gente percebeu uma falta da hidroxicloroquina nas farm�cias de Alto Custo, nos hospitais e na rede privada. Pacientes com l�pus necessitam deste medicamento de forma cr�nica e sofreram com esse desabastecimento que, posteriormente, foi sanado”, pontua a reumatologista Tain� Carneiro.

“Agora, os pacientes reumatol�gicos est�o enfrentando a falta de imunobiol�gico (como o tocilizumabe), que tamb�m foi utilizado em casos de covid-19”, destaca.

De acordo com a reumatologista, sem a medica��o para inibir a evolu��o de doen�as como artrite reumatoide e o l�pus, esses pacientes come�am a ter sintomas mais graves da inflama��o, com dores cr�nicas e, em alguns casos, podem evoluir para sequelas.

A Sociedade Brasileira de Reumatologia estima que, no Brasil, existam cerca de 10 milh�es a 15 milh�es de pacientes reumatol�gicos. Por�m, n�o d� para dimensionar o impacto no tratamento causado pela falta dos f�rmacos.

Diagnosticada com artrite reumatoide, Jaqueline Couto Moreira, 30 anos, sentiu o impacto da falta do medicamento que inibe a doen�a em abril deste ano, quando ela soube que o imunobiol�gico estava esgotado na rede privada.

“O tocilizumabe foi o �nico que deu certo para meu tratamento. Utilizo ele h� mais de cinco anos e nunca tive problemas. Agora, est� em falta e meu m�dico me passou uma outra medica��o inferior, que n�o est� funcionando”, conta a moradora de �guas Claras.

Jaqueline explica que a doen�a � autoimune e age como uma grande batalha no organismo. “O organismo interpreta as c�lulas localizadas nas juntas como um vil�o. � como se meu corpo estivesse se combatendo. E o que a doen�a destruiu n�o tem como recuperar.

Por isso, a medica��o � importante para parar a a��o inflamat�ria”, pontua. O tocilizumabe � um f�rmaco caro, custa, em m�dia, R$ 10 mil a dose.

Durante a pandemia e a escassez do medicamento, o que tem ocorrido � um superfaturamento na venda do imunobiol�gico. “A gente tem relato de que h� um mercado paralelo para o tocilizumabe, custando de cinco a 10 vezes o valor de mercado. E ante o desespero, alguns familiares de pacientes reumatol�gicos e at� de pessoas com casos graves de covid-19 t�m buscado essa alternativa”, destaca Ricardo Xavier, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

“Mas tudo isso s�o relatos que a gente ouviu. N�o temos comprova��o. Por�m, a sociedade tem alertado os pacientes sobre essa situa��o”, pondera.

Ele explica que o tocilizumabe come�ou a ser usado para os casos da covid-19 por ser um inibidor de citocina, componente que causa inflama��o no corpo.

A grande quantidade de citocina no organismo � um dos principais fatores de les�o inflamat�ria grave no pulm�o em casos graves do novo coronav�rus. Estudos indicaram resultados positivos no uso do medicamento em pacientes com covid, por�m, em outros foram neutros.

“O que come�ou a ocorrer foi um uso generalizado deste medicamento, e a empresa farmac�utica n�o est� conseguindo dar conta dessa demanda. Nossos pacientes n�o est�o tendo acesso ao tocilizumabe na rede privada e nos planos de sa�de. Na rede p�blica, pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS), o medicamento ainda tem em estoque, porque a destina��o do Minist�rio da Sa�de est� voltada apenas para os pacientes reum�ticos”, exp�e Ricardo Xavier.
Efic�cia

A m�dica intensivista Adele Vasconcelos, do Hospital Santa Marta, ressalta que a efic�cia do tocilizumabe em alguns casos da covid-19 foi comprovada recentemente pela Anvisa. No entanto, ele n�o foi incorporado oficialmente nos protocolos de tratamento para o novo coronav�rus.

“O Minist�rio da Sa�de ainda n�o liberou o uso oficial, mas temos um protocolo de quais casos esse medicamento pode ser usado. N�o � em qualquer pessoa, porque tem muito efeito colateral. � necess�rio ter certeza de que o paciente n�o tem nenhuma outra infec��o secund�ria”, afirma.

“� preciso conscientizar a popula��o e a classe m�dica quanto ao uso adequado desse medicamento. A indica��o � bem restrita, n�o vai salvar todo mundo. Se for bem utilizado, n�o vai faltar para quem precisa”, pondera a m�dica, que acredita que pode haver novos desabastecimentos de outras medica��es.

Al�m do tocilizumabe e da hidroxicloroquina, a azitromicina tamb�m sofreu alta demanda nos hospitais e causou desabastecimento em alguns per�odos durante a pandemia. O f�rmaco � indicado para tratamento de infec��es bacterianas respirat�rias, como bronquite e pneumonia.

O medicamento come�ou a ser utilizado tamb�m em casos do novo coronav�rus. A gerente de aten��o hospitalar de Assist�ncia Farmac�utica da Secretaria de Sa�de, Julia Dantas, explica que, ao longo do ano passado e no primeiro semestre deste ano, a rede p�blica enfrentou desabastecimento c�clicos da hidroxicloroquina e azitromicina. No entanto, atualmente, o estoque desses dois medicamentos est� positivo.

"A gente tem relato de que h� um mercado paralelo para o tocilizumabe, custando de cinco a 10 vezes o valor de mercado”

Ricardo Xavier, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Palavra de especialista

S� a vacina combate a covid

"No in�cio da pandemia, com base em alguns estudos in vitro, havia uma especula��o da utiliza��o da hidroxicloroquina como uma forma de inibir a entrada do novo coronav�rus na c�lula, como um inibidor da inflama��o. Por�m, j� se sabe que n�o h� comprova��o de efic�cia deste medicamento nos casos de covid-19. Estudos apontam que a utiliza��o da hidroxicloroquina pode surtir efeito delet�rio, ou seja, piorar a situa��o do paciente, podendo contribuir para o �bito. N�o h� indica��o do uso para os casos de covid-19. Por outro lado, temos a utiliza��o do imunobiol�gico tocilizumabe, que pode ser administrado em algumas situa��es com pacientes graves, mas que n�o est�o em ventila��o mec�nica. Com a covid-19 e o aumento da procura por este medicamento, a gente observa um valor de venda cinco vezes maior, entre R$ 20 mil e R$ 25 mil. N�o � um medicamento comprado pela Secretaria de Sa�de, mas � ofertado pelo Minist�rio da Sa�de para pacientes reumatol�gicos. As pessoas precisam entender que n�o h� um medicamento capaz de evitar a forma grave da covid-19, para isso, existe a vacina. Quando se pensa na prote��o vacinal, temos um cen�rio com a diminui��o no n�mero de interna��o, o que gera um consumo menor de medicamento. � preciso focar em um diagn�stico precoce e na vacina��o".

L�via Vanessa Ribeiro, infectologista da Secretaria de Sa�de



Sem acompanhamento

Outro problema enfrentado por pacientes reumatol�gicos foi a desassist�ncia no acompanhamento m�dico. Com a pandemia e o grande volume de pacientes com covid-19, os hospitais tiveram de remanejar as consultas ambulatoriais e limitar a quantidade de atendimento.

Em termos de n�meros de consultas, os pacientes da rede p�blica enfrentaram uma certa dificuldade. Na rede privada, a telemedicina auxiliou bastante no acompanhamento da evolu��o da doen�a”, conta a reumatologista Tain� Carneiro, que trabalha no sistema p�blico de sa�de e no privado.

“Por outro lado, tamb�m tivemos uma baixa procura desses pacientes por medo de sair de casa, de ir ao hospital e pegar covid-19. Sem contar que outros servi�os necess�rios para o tratamento, como a reabilita��o com fisioterapia, tamb�m foram impactados pela pandemia”, ressalta Tain�.

De acordo com o levantamento da Secretaria de Sa�de, em 2020 foram realizados 37.919 atendimentos com m�dicos reumatologistas em 16 unidades da Rede de Sa�de do DF. At� maio deste ano, foram registrados 13.537 procedimentos nessa especialidade.

Jeisa Loiola, 28, teve o tratamento interrompido com a dificuldade de conseguir medicamento e consultar um reumatologista. Ela descobriu a artrite reumatoide em 2019; sempre enfrentava muitas dores, mas antes n�o sabia o que era.

Em 2020, come�ou o tratamento na rede p�blica e, em tr�s meses, o acompanhamento cl�nico foi suspenso devido � demanda dos casos de covid-19.

“Eu tinha rem�dio at� outubro de 2020, mas depois acabou e n�o consegui comprar. S� agora, em junho, consegui a consulta, e me passaram outra medica��o. Por�m, no posto de sa�de aqui em Santa Maria ela est� em falta. Estou aguardando chegar, e n�o posso pegar na farm�cia de Alto Custo porque n�o tenho cadastro”, afirma Jeisa, que, no ano passado, enfrentou uma luta para conseguir comprar a hidroxicloroquina para conter a artrite reumatoide.


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