
No mesmo per�odo, indiv�duos de outros cinco munic�pios do Amazonas (Silves, Manaus, Parintins, Caapiranga e Autazes) tamb�m foram diagnosticados com a mesma condi��o.
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Todos os 44 casos registrados at� o momento est�o sendo investigados, mas a principal suspeita � que esses indiv�duos tenham sido acometidos pela doen�a de Haff, conhecida popularmente como "doen�a da urina preta".
Conhecida desde a d�cada de 1920, a enfermidade est� relacionada a uma toxina que � encontrada em peixes e crust�ceos.
� justamente essa subst�ncia que provoca as les�es nos m�sculos e pode at� danificar seriamente os rins.
Mas o que explica o surto no Amazonas? Quais s�o as formas de preven��o, diagn�stico e tratamento? Saiba o que j� se conhece e o que ainda falta saber sobre essa doen�a.
Mist�rio no B�ltico
De acordo com um artigo escrito em 2013 por especialistas do Hospital S�o Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro, o nome da mol�stia tem a ver com a sua origem.
Os primeiros relatos sobre ela s�o de 1924 e v�m da regi�o litor�nea K�nisberg Haff, que fica pr�xima do Mar B�ltico. Atualmente, esse local integra a cidade de Kaliningrado, que pertence � R�ssia e faz fronteira com Litu�nia e Pol�nia.
� �poca, os m�dicos que trabalhavam no local descreveram um quadro de in�cio s�bito, com "rigidez muscular, frequentemente acompanhada de urina escura".
Ap�s a publica��o dos primeiros relatos, foram registrados novos casos no local durante os nove anos seguintes. Eles ocorriam principalmente entre o ver�o e o outono e tinham um fator em comum: o consumo de pescados.
"Devido � aus�ncia de febre e pelo r�pido in�cio dos sintomas ap�s a ingest�o de peixe cozido, acredita-se que a doen�a de Haff seja causada por uma toxina", escrevem os autores brasileiros.
De l� para c�, novos surtos foram registrados em outros pa�ses, como a antiga Uni�o Sovi�tica, a Su�cia, os Estados Unidos e a China.
No Brasil, os primeiros casos foram identificados em 2008 e 2009.
O momento de maior gravidade aconteceu em 2017, quando a Bahia contabilizou 71 pacientes com a doen�a, 66 deles na capital Salvador.
Sintomas e diagn�stico
Como � rara e pouco estudada, a doen�a de Haff n�o possui uma lista fechada de manifesta��es.
Os principais inc�modos s�o dores musculares poucas horas ap�s o consumo de peixes ou crust�ceos.
"Geralmente n�s vemos essa dor muscular se concentrar na regi�o do trap�zio, dos ombros e do pesco�o", diz o m�dico Luis Filipe Miranda, do Servi�o de Nefrologia do Hospital Portugu�s da Bahia, em Salvador.
Alguns pacientes tamb�m apresentam dor no peito, falta de ar, sensa��o de dorm�ncia, n�usea, tontura e fraqueza.
Outro sintoma caracter�stico � a urina escura (da� seu nome popular), que se assemelha � cor do caf�.

Acredita-se que o causador do dist�rbio seja alguma toxina encontrada em esp�cies de peixes (caso de salm�o, pacu, enguia e v�rios outros, tanto de �gua doce quanto de salgada) e crust�ceos (como lagostas, lagostins e camar�es).
At� o momento, os cientistas n�o identificaram qual � a toxina por tr�s da enfermidade.
"Desde os primeiros casos em 1924 tenta-se descobrir que subst�ncia � essa, mas at� o momento n�o se encontrou nada espec�fico", refor�a Miranda.
"N�o se sabe tamb�m como o pescado adquire essa toxina. Suspeita-se de mudan�as no ecossistema, presen�a de toxinas de cianobact�rias ou metais pesados, mas at� o momento n�o foram identificados n�veis t�xicos dessas subst�ncias", completa o nefrologista.
Pelo que se sabe, todas essas repercuss�es no corpo t�m a ver com a tal da rabdomi�lise, uma destrui��o progressiva das fibras que comp�em os m�sculos esquel�ticos (aqueles respons�veis pelas nossas contra��es e movimentos).
Com o tempo, o conte�do dessas c�lulas musculares � despejado no sangue, o que muitas vezes leva a uma segunda complica��o: a insufici�ncia renal.
Isso acontece porque um dos componentes das c�lulas musculares � a mioglobina, uma enzima t�xica para os rins.
De acordo com o artigo do Hospital S�o Lucas Copacabana, o diagn�stico da doen�a de Haff pode ser feito no pr�prio consult�rio, com a an�lise dos sintomas e a confirma��o de que o paciente comeu peixe nas �ltimas 24 horas.
Para ter 100% de certeza, � poss�vel fazer exames de sangue que determinam a destrui��o muscular. Eles medem o n�vel de enzimas como a mioglobina e a creatinofosfoquinase.
Tratamento e preven��o
Na maioria das vezes, o quadro costuma evoluir bem, mas h� risco de morte, especialmente em pessoas com comorbidades.
O indicado � procurar ajuda logo ap�s o aparecimento dos primeiros sintomas para que o diagn�stico seja feito o mais r�pido poss�vel.
Quando o paciente precisa ficar internado, uma das principais formas de tratamento � fazer uma hidrata��o refor�ada.
Uma boa quantidade de l�quidos permite "dissolver" e diminuir a concentra��o de impurezas no sangue, o que facilita o trabalho dos rins.
"N�s tamb�m suspendemos o uso de medica��es que podem lesionar ainda mais os m�sculos e os rins, como as estatinas e os anti-inflamat�rios", complementa Miranda.
Quando os rins j� est�o acometidos, muitas vezes � preciso apelar para a hemodi�lise (procedimento em que uma m�quina faz a filtra��o do sangue por um per�odo espec�fico ou pelo resto da vida daquela pessoa).
Se os recursos terap�uticos j� s�o escassos, a preven��o da doen�a de Haff � ainda mais incerta.
N�o h� nada espec�fico que possa ser feito para evitar a enfermidade.
N�o existem formas de identificar a toxina: ela n�o tem cheiro, gosto ou cor e n�o desaparece ap�s o cozimento da carne.
"Em linhas gerais, a orienta��o � procurar um hospital quando aparecem os sintomas nas primeiras 24 horas ap�s o consumo do peixe ou do crust�ceo e n�o fazer uso de medicamentos por conta pr�pria", conta Miranda.

O que falta saber sobre o surto do Amazonas?
De acordo com a �ltima nota publicada no site da Funda��o de Vigil�ncia em Sa�de do Amazonas (FVS-AM), at� 30 de agosto haviam sido identificados 44 casos de rabdomi�lise.
A cidade mais afetada � Itacoatiara, com 34 pacientes e 1 �bito. Na sequ�ncia, aparecem os munic�pios de Silves (4 casos), Manaus (2), Parintins (2), Caapiranga (1) e Autazes (1).
"Nesta segunda-feira (30/8), seguem internadas 10 pessoas, todas de Itacoatiara. Os demais pacientes receberam alta hospitalar", informa a entidade.
Por ora, as autoridades locais seguem investigando o problema e n�o confirmam oficialmente que o surto seja realmente da doen�a de Haff, embora essa seja a principal suspeita.
Isso porque a rabdomi�lise pode ter outras causas, como traumatismos, atividade f�sica extenuante, crises de convuls�o, uso de medicamentos e �lcool, ingest�o de metais pesados ou consumo de alimentos, como os pescados.
Em outra nota publicada no site do FVS-AM, especialistas dizem que a popula��o n�o precisa deixar de comer pescados, at� porque eles formam a base da alimenta��o amazonense.
"O importante � entender que, se formos comparar o n�vel de consumo de peixe com o n�mero de casos [de rabdomi�lise], a gente v� que � uma rela��o m�nima, por�m, n�o menos preocupante. Qualquer situa��o que coloque em risco a sa�de das pessoas deve ser avaliada com cuidado, as pessoas devem ser tratadas da maneira mais adequada poss�vel e temos que ter preocupa��o tamb�m com o aspecto econ�mico e nutricional", orienta no texto o infectologista Antonio Magela, da Funda��o de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, em Manaus.
"Ainda trabalhamos no campo das hip�teses. Pode ser uma bact�ria, um v�rus, ou at� mesmo uma toxina. As pessoas t�m um quadro cl�nico sugestivo de intoxica��o, ap�s a ingesta alimentar, e � de evolu��o r�pida. At� hoje, em todas as situa��es que isto ocorreu, com todas as an�lises de amostras, de tecidos, n�o se conseguiu ainda dar uma confirma��o da causa real desses casos de rabdomi�lise, que s�o associados � pr�via ingest�o de peixes", completa o infectologista.
Desde 2017, outros casos suspeitos ou confirmados da doen�a de Haff foram relatados n�o apenas no Amazonas, mas tamb�m em Cear�, Alagoas, Bahia, Pernambuco e Goi�s.
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