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Estado de Minas VIOL�NCIA

Filhos denunciam m�e por rotina de supostos maus-tratos contra o padrasto

Tr�s filhos decidiram denunciar a m�e por agress�o, maus-tratos e c�rcere privado cometidos supostamente contra o marido, padrasto deles


13/09/2021 12:02 - atualizado 13/09/2021 12:35

(foto: Aquivo pessoal/Cedido ao Correio)
Em relatos pol�micos, tr�s filhos decidiram denunciar a pr�pria m�e por agress�o, maus-tratos e c�rcere privado cometidos supostamente contra o marido, o padrasto, deles, um servidor p�blico aposentado do Banco Central (Bacen), de 49 anos, que ter� a identidade preservada pela reportagem.

A Pol�cia Civil do Distrito Federal (PCDF) abriu um inqu�rito para apurar as den�ncias, que s�o baseadas em v�deos, fotos e documentos. O Correio colheu relatos de testemunhas importantes que d�o detalhes contundentes acerca dos fatos. Uma das entrevistadas � uma empregada dom�stica que trabalhou para a mulher durante um m�s e presenciou as agress�es.

A suspeita dos crimes � Maruzia das Gar�as Brum Rodrigues, 52, formada em economia e direito. Em 2002, ela conheceu o servidor, que morava sozinho � �poca em um apartamento no Sudoeste. Os dois passaram a morar juntos e n�o demorou muito para os filhos dela come�arem a notar que tinha algo de errado. "Meu padrasto sempre foi uma pessoa ativa, que corria no parque, nadava no clube, dirigia, namorava e vivia uma vida normal, feliz", contou a filha mais velha, que trabalha como policial militar do DF.

Natural do Rio de Janeiro, o homem foi para Bras�lia em 1998, ano em que tomou posse no cargo de especialista do Banco Central em 9 de julho e entrou em exerc�cio em 15 de julho, como consta nos documentos do Banco. Solteiro e sem filhos, ele deixou a m�e e dois irm�os no Rio e logo parou de ter contato com os mesmos. Poucos anos depois, foi quando conheceu Maruzia. Muito bem organizado, o servidor tinha mania de "toque" e algumas manias. "Ele deixava os livros separados por ordem alfab�tica, tinha planilha de gastos e as roupas sempre bem organizadas. Nisso, minha m�e come�ou a dizer que ele tinha problemas psiqui�tricos e o levou em diversos m�dicos. Foi quando ele come�ou a tomar in�meros rem�dios com alta dosagem", detalhou a filha.

A situa��o foi piorando, at� que os filhos perceberam que o padrasto passava a maior parte do dia dopado, deitado em uma cama, sem conseguir fazer as atividades b�sicas do dia-a-dia, como colocar comida no prato e tomar banho. "Ele ficou submisso � ela e falava para n�s que minha m�e s� estava cuidando dele e s� queria o bem. Mas a� iniciaram-se as agress�es. Ela j� fechou a m�o dele na porta do carro por v�rias vezes. Quando cheg�vamos em casa, tinha panela quebrada e ele sempre com marcas pelo corpo. No per�odo em que morei com eles, tinha vezes que nem �gua ela queria comprar e come�ou a faltar tudo e n�o entend�amos o porqu�", afirmou.

O filho ca�ula morava com a m�e e o padrasto, mas decidiu sair de casa ainda em 2006 devido � falta de mantimentos. "At� n�s, filhos, apanhamos muito dela, a ponto de termos que passar sal grosso para cicatrizar. Quanto ao meu padrasto, foi uma viol�ncia gradual, que piorou com os anos. Presenciei ela o xingando v�rias vezes, o chamando de "demente" e pedindo para que ele mesmo repetisse que era um "demente". Era uma situa��o constrangedora." O filho acredita que a principal motiva��o para tamanha viol�ncia era a quest�o financeira e ressalta que a m�e, com 52 anos, nunca trabalhou de carteira assinada. "Ela sempre gostou de tudo do bom e do melhor. Das melhores roupas, os celulares mais caros, tablets e n�o consegu�amos entender porque faltava tanta coisa l� em casa. At� que resolvi morar s�", completou.

Mudan�a para Portugal

O casal teve um filho, que hoje est� com 21 anos e mora em Portugal. A reportagem entrou em contato com o jovem, mas n�o foi correspondida. Entre 2013 e 2014, Maruzia disse que pretendia fazer um mestrado em Portugal. Nessa �poca, ela alugou uma quitinete na 402 Sul, pr�ximo ao Banco Central, para que o companheiro pudesse ir e vir do trabalho � p�.

Os filhos chegaram a visitar o padrasto nessa �poca e o encontraram em condi��es deplor�veis. "Nos espantamos, quando vimos a situa��o que ele se encontrava. Por semana, ela mandava R$ 100 para ele comprar o b�sico e deixava duas vasilhas de comida, uma de arroz e outra de carne mo�da, prontas para ele comer todos os dias. Chegou uma �poca em que ele comia lasanha congelada na parte da manh�, tarde e noite", contou a filha mais velha.

Enquanto a m�e estava em Portugal, a filha do meio, recebeu uma liga��o do Banco Central questionando o porqu� o padrasto pedia R$ 10 na porta do banco para almo�ar. "O pessoal da cl�nica de psiquiatria me telefonou tamb�m perguntando porque ele estava almo�ando todos os dias l�. Acharam estranho. Durante todo esse tempo, fizemos v�rias den�ncias an�nimas, mas nunca deu nada", disse.

Maruzia retornou ao Brasil em 2019, ano em que o servidor se aposentou, em 20 de agosto, depois de ser diagnosticado com aliena��o mental. Os dois, ent�o, retornaram para Portugal. No final de julho deste ano, o casal veio para Bras�lia, pois a mulher passaria por uma cirurgia de abdominoplastia e harmoniza��o facial em um hospital particular do DF.

A revela��o

Na capital, Maruzia alugou um apartamento em um condom�nio de �guas Claras, onde iria ficar com o marido at� recuperar-se da cirurgia est�tica. Enquanto estava internada no hospital, os filhos decidiram visitar o padrasto. Ao chegarem no edif�cio, foram informados pelo porteiro que ningu�m com determinado nome morava naquele endere�o. "Liguei para o dono do im�vel e perguntei se minha m�e ainda tinha contrato com ele. Ele respondeu que sim. Expliquei toda a situa��o e o propriet�rio foi at� n�s, quando conseguimos subir at� o apartamento", afirmou a filha.

A ordem dos filhos de n�o entrarem no im�vel teria partido da pr�pria m�e. A empregada que negou a entrada prestou depoimento na delegacia. O Correio teve acesso ao interrogat�rio, e nele a funcion�ria confessa que a patroa temia que os filhos levassem o marido � for�a. Em outro trecho do depoimento, ela afirma que o servidor tomava de oito a 10 comprimidos s� na parte da manh� e noite.

Quando soube que os filhos haviam conseguido entrar no apartamento, Maruzia fez uma chamada por v�deo ao marido. A cena foi gravada e, durante a conversa, a mulher, em tom amea�ador, diz: "Se est� trabalhando, n�o responde. Cad� sua m�e? N�o responde. Est� tomando rem�dio? N�o responde. Est� trabalhando? N�o responde. Entendeu? Para de dar conversa", diz a economista. A filmagem foi repassada ao Correio, mas para preservar a identidade da v�tima, n�o ser� divulgada.

Em 8 de setembro, um dia depois do feriado, uma viatura da Pol�cia Militar e ambul�ncia do Servi�o de Atendimento M�vel de Urg�ncia (Samu) foram acionadas at� o endere�o. Durante o atendimento do Samu, ficou constatado pelas equipes que a v�tima estava sob efeito de superdosagem medicamentosa, como consta no pr�prio boletim policial registrado na 21ª Delegacia de Pol�cia (Taguatinga Centro), unidade que apura o caso.

Na ocorr�ncia, as filhas relataram que o padrasto apresentava v�rias escoria��es e equimoses no bra�o esquerdo, que aparentavam datas distintas apresentando tamb�m voz enrolada e quadro evidente de superdosagem de medicamentos psiqui�tricos. "S� queremos que ela pague por tudo o que fez com ele. Meu padrasto tinha uma vida ativa, era atleta e feliz. Agora, est� sendo dominado, foi tomado por ela e acha que est� sendo cuidado", desabafou a filha.

No im�vel, os filhos encontraram v�rias caixas de rivotril, medicamento utilizado no tratamento de dist�rbios de ansiedade, como s�ndrome do p�nico, ansiedade social, entre outros. Caso tomado em excesso, o rem�dio pode levar a aus�ncia de reflexos (arreflexia), apneia, hipotens�o arterial, depress�o cardiorrespirat�ria e outros sintomas. "Para n�s, ele confessou que estava tomando rem�dio para castra��o qu�mica. Isso � um absurdo. � um crime", frisou ela.

Investiga��o

O caso segue em andamento na 21ª DP. Em contato com o delegado-chefe da unidade, Alexandre Grat�o, ele afirmou � reportagem que a apura��o da den�ncia "est� completa", mas n�o deu mais detalhes para n�o atrapalhar as investiga��es.

Com uma riqueza de detalhes, a mulher revela que ela mesma notou que o servidor tinha um ferimento no bra�o supostamente causado por Maruzia. O corte profundo foi de uma facada desferida pela mulher, acredita a empregada. "Quando perguntei a ele do que se tratava o machucado, ele foi at� a cozinha, pegou uma faca e apontou para o bra�o, dando a entender de que havia sido esfaqueado. Depois disso, escondi todas as facas debaixo do arm�rio", disse.

A empregada foi contratada para cuidar da casa enquanto a patroa passaria pelo procedimento cir�rgico e ficava das 7h30 at� �s 17h30 na resid�ncia. "S�o v�rias caixas de rem�dio que t�m. N�o tive a oportunidade de ler, mas s�o muitos frascos e ele toma muito rem�dio durante o dia. D� para ver que ele foi maltratado ao longo do tempo. � uma pessoa sofrida e triste", relatou.

Em algumas situa��es, a empregada flagrou v�rias amea�as de Maruzia ao marido. "Ela fala que se ele comentar qualquer coisa a algu�m, vai deix�-lo na rua sozinho. Ele n�o pode olhar para ela, nem falar, nem dormir na cama e muito menos usar o banheiro dela. Uma vez, ela achou que ele tinha mexido no sabonete dela. Foi a maior confus�o e eu nunca ouvi tantos xingamentos em minha vida", detalhou.

A foto em que mostra o ferimento causado por uma suposta faca foi tirada pela pr�pria dom�stica, que insistiu para que o servidor deixasse fazer o registro. "Ele disse que era muito perigoso, mas mesmo assim deixou. Parece que ele est� dominado por ele. N�o tem for�as para agir."

A Justi�a requereu ao Banco Central o encaminhamento dos eventuais relat�rios m�dicos que atestem a incapacidade do servidor. Al�m disso, foi solicitado que a Pol�cia Federal impe�a o homem de deixar o Brasil at� a conclus�o das investiga��es. A reportagem n�o localizou a defesa de Maruzia. O espa�o permanece aberto para manifesta��es.


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