
N�o � hora de relaxar, mas algum al�vio o cen�rio atual sobre a COVID-19 no Brasil suscita. O �ndice que mede o ritmo de transmiss�o da doen�a diminuiu, nesta semana, para o menor n�vel de cont�gio desde abril de 2020, quando o Imperial College de Londres, que faz a aferi��o dos n�meros em contexto mundial, come�ou a medir as taxas. De acordo com a universidade brit�nica, a taxa de transmiss�o est� em 0,60, superando o menor patamar que havia sido registrado at� ent�o, de 0,68.
A menor taxa, antes da atualiza��o do Imperial College dessa segunda-feira (11/10), havia sido registrada em novembro do ano passado. No entanto, naquela �poca, o sistema do Minist�rio da Sa�de sofreu um problema que impediu estados e munic�pios de adicionar informa��es de casos e mortes por coronav�rus. Com isso, j� que os n�meros da pasta federal s�o levados em conta para a aferi��o por parte da universidade brit�nica, o erro de tecnologia acabou influenciando na queda dos indicadores.
A taxa de transmiss�o de 0,60 significa que 100 pessoas com COVID-19 s�o capazes de transmitir o v�rus para outras 60. No entanto, o Imperial College trabalha com margem de dados. A estat�stica, chamada de Fator RT, tamb�m pode chegar a 0,79 ou at� mesmo ser menor, com 0,24.
A maior taxa de transmiss�o constatada no Brasil at� o momento foi aferida durante a segunda onda da COVID-19, neste ano. De acordo com o Imperial College, o �ndice registrado na semana de 15 a 22 de mar�o foi de 1,23. Ou seja, naquela ocasi�o, cada 100 pessoas doentes eram capazes de passar coronav�rus para outros 123 indiv�duos.
O ideal � que a taxa de transmiss�o fique abaixo de 1, uma vez que, acima desse n�mero, significa que uma pessoa infectada pode passar a doen�a para mais de um indiv�duo. Belo Horizonte, por exemplo, adota os padr�es internacionais: quando o Fator RT est� abaixo de 1, aponta que o indicador est� em fase de controle. Acima de 1, o alerta � intermedi�rio, representado pela cor amarela. De 1,20 para cima a cor j� � vermelha, situa��o mais preocupante.
Assim como o Brasil, Belo Horizonte atingiu o maior patamar da taxa de transmiss�o durante a segunda onda da COVID-19. No dia 15 de mar�o, a capital mineira registrou um Fator RT de 1,28. A menor foi observada em 10 de agosto do ano passado, com 0,85.
O que dizem os especialistas

A infectologista e epidemiologista Luana Araujo explica que a taxa, nesses n�veis, mostrando uma redu��o na dimens�o da pandemia, � compat�vel com a interven��o, sabidamente eficaz, da vacina��o em massa. "N�o � nada diferente do que n�s esperar�amos que acontecesse. � absolutamente dentro da expectativa com a introdu��o dessa estrat�gia. Com o oferecimento de vacinas eficientes, era certo que conseguir�amos n�o s� uma diminui��o no n�mero de casos graves, hospitaliza��es e mortes, mas tamb�m uma redu��o da transmiss�o, a partir da redu��o da circula��o viral", diz.
Mas a especialista pondera sobre problemas quanto � interpreta��o desses dados devido � taxa de testagem para a doen�a no Brasil, nem t�o satisfat�ria assim. Com a capacidade diagn�stica limitada, ela complementa, pode acontecer algum tipo de enviesamento nesse sentido. "No Brasil, o n�vel de testagem sempre foi bastante ruim, por isso � preciso olhar para esse n�mero de transmiss�o com um certo cuidado, ainda assim entendendo que, mesmo que esse �ndice n�o seja exato, h� sim a tend�ncia de queda no n�vel de casos da doen�a", afirma.
Luana salienta, por outro lado, que nada disso significa que as medidas de precau��o podem ser deixadas de lado. "� preciso que haja a completude do esquema vacinal para toda a popula��o adulta, que avancemos tamb�m para os adolescentes e, assim que poss�vel, a imuniza��o das crian�as. Hoje sabemos que o grande grupo de risco, as pessoas mais vulner�veis, s�o os n�o vacinados", acrescenta.
Para Luana, a ideia de que a pandemia est� enfraquecendo n�o pode ser generalizada. "Isso n�o pode ser encarado como se todas as subpopula��es estivessem sendo beneficiadas da mesma forma. H� que se acelerar a vacina��o, principalmente para as pessoas mais suscet�veis, como idosos, imunossuprimidos, crian�as e profissionais de sa�de", ressalta.
Com tudo isso, para a infectologista ainda assim as perspectivas s�o otimistas, conquanto que as pessoas n�o esmore�am. Ela classifica o momento como um caminho final da pandemia e, mantendo esse ritmo, aos poucos as medidas de preven��o poder�o ser flexibilizadas. Mas n�o � hora de perder o foco, alerta, com aten��o para as possibilidades que, infelizmente, a pandemia ainda carrega.
"Estamos inseridos em um contexto global. Existe uma desigualdade vacinal muito grande, e o risco tamb�m da emerg�ncia das variantes. Tudo isso precisa ser considerado para que, em todo o planeta, quem conseguiu algum avan�o na vacina��o n�o tenha os bons resultados colocados a perder", avalia.
Para o infectologista e diretor m�dico da Target Medicina de Precis�o, Adelino de Melo Freire Junior, os dados trazem uma certa sensa��o de al�vio, principalmente se considerados os meses em que esse �ndice se manteve em padr�es de sustenta��o. E, para ele, a perspectiva � de melhora a m�dio e longo prazos.
Ao mesmo tempo, tamb�m com mais pessoas imunizadas e o n�mero de infectados cada vez menor, s�o indicadores que podem apontar para a flexibiliza��o das medidas restritivas quanto ao coronav�rus daqui para frente, como a n�o necessidade de uso de m�scaras em locais abertos, a realiza��o de eventos com p�blico maior, mais tranquilidade para a volta total das escolas e do com�rcio. "S�o situa��es que j� eram esperadas com os indicadores melhores, e isso de fato est� acontecendo. � um cen�rio mais animador. Agora podemos enxergar uma luz no fim do t�nel", diz.
Para Adelino, outro dado positivo � sobre a chegada da variante Delta que, no Brasil, ao contr�rio do que aconteceu em outras partes do mundo, n�o ocasionou consequ�ncias no sentido de tornar a pandemia mais severa. "N�o tivemos uma nova onda, e isso tamb�m � um al�vio", atesta, lembrando que, ainda com essa outra cepa do v�rus, a curva de transmiss�o da infec��o no pa�s segue em redu��o.
Adelino tamb�m elogia a campanha de vacina��o. "Est� sendo bem sucedida. S�o bons n�meros no Brasil em geral. Com mais pessoas imunizadas e o avan�o das doses completas, a expectativa � de indicadores ainda melhores, com a transmiss�o ainda mais reduzida", complementa.
Vacina��o
A queda da taxa de transmiss�o contrasta com a alta na vacina��o pelo Brasil. De acordo com dados do Minist�rio da Sa�de, mais de 249 milh�es de doses j� foram aplicadas no pa�s, sendo que 149,7 milh�es delas como primeira dose e 99,5 milh�es como segunda dose ou dose �nica.Minas Gerais e Belo Horizonte j� registram mais da metade de suas respectivas popula��es com o esquema vacinal completo. O estado possui 51,6% de pessoas acima de 12 anos com as duas doses ou dose �nica, enquanto BH registra 54,8% do p�blico-alvo completamente imunizado.
O percentual do estado e da capital tamb�m s�o semelhantes quando o assunto � primeira dose. Minas Gerais registrou 84,03% da popula��o acima de 12 anos com o esquema vacinal iniciado, enquanto BH tem 81,7%. Mais de 15 milh�es de doses foram aplicadas em Minas como primeira inje��o, sendo 2.064.794 apenas em Belo Horizonte.
