
A nomea��o do pediatra foi assinada pelo ministro Marcelo Queiroga e publicada no Di�rio Oficial da Uni�o do dia 6 de outubro. Gurgel, por�m, nunca chegou a exercer o cargo efetivamente. Por tr�s semanas, esperou o contato do minist�rio para saber quando poderia assumir. Sem resposta, decidiu pegar um avi�o em Sergipe, onde mora, e ir at� Bras�lia bater na porta do minist�rio. "Eu vim a Bras�lia por minha conta, porque estava incomodado com essa situa��o e fui informado que n�o irei tomar posse", disse ele.
Institu�do na d�cada de 1970, o PNI organiza e implementa as a��es de vacina��o no Pa�s. Em meio � pandemia da covid, o programa est� sem coordena��o desde o in�cio de julho, quando a enfermeira e epidemiologista Francieli Fantinato deixou o posto. Em depoimento � Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito da Covid, no Senado, ela afirmou ter decidido sair por causa da "politiza��o" que tomou conta da vacina��o contra covid-19. "Estou desde 2019 na coordena��o do PNI, venho trabalhando incansavelmente. Pelos �ltimos acontecimentos da politiza��o do assunto em rela��o � vacina��o, eu decidi seguir os meus planos pessoais", disse Fantinato, na ocasi�o.
Desde o ano passado, o presidente Jair Bolsonaro tem dado declara��es desestimulando a vacina��o contra covid, colocando em d�vida a efic�cia dos imunizantes. Ele pr�prio disse que n�o pretende se vacinar.
Gurgel, que assumiria o cargo, � professor de pediatria e, no mesmo dia em que sua nomea��o foi publicada, deu declara��es que contrariam Bolsonaro. Em entrevistas, defendeu a vacina��o de adolescentes, que chegou a ser suspensa no m�s passado pelo Minist�rio da Sa�de ap�s press�o de bolsonaristas. Tamb�m afirmou ser contr�rio ao uso do chamado "kit covid", composto por medicamentos ineficazes contra a doen�a, como cloroquina e ivermectina, que � incentivado pelo presidente.
Ao Estad�o , o m�dico relatou ter sido recebido no Minist�rio da Sa�de apenas por um coordenador de departamento. "Ele me comunicou que eu n�o tomaria posse", afirmou. "N�o me disseram mais nada. N�o teve justificativa."
Gurgel contou que agora espera poder voltar a trabalhar na Universidade de Sergipe, onde leciona. Para isso, aguarda que o minist�rio publique a exonera��o. "Eu pedi que me fizesse esse documento, porque eu preciso assumir de volta (na universidade), n�? Eu pedi a eles que me fizessem esse documento o mais r�pido poss�vel", contou. "Eu fui convidado, mas agora vou voltar para minha vida normal, sem problemas. Eu tenho o que fazer."
O m�dico disse ter se encontrado uma �nica vez com Queiroga, quando foi entrevistado para o cargo. Ele contou que n�o conhecia o ministro e n�o houve mais contatos desde ent�o. "Eu n�o tenho acesso ao ministro", disse.
A nomea��o chegou a ser divulgada no site do Minist�rio da Sa�de no dia 7 de outubro. "A partir de agora, Gurgel estar� � frente de temas priorit�rios para o Minist�rio da Sa�de, como a cobertura vacinal dos imunizantes previstos no Calend�rio Nacional de Vacina��o e a continuidade da campanha contra a Covid-19, que j� imunizou quase 94% da popula��o adulta com a primeira dose", diz o texto, que ainda est� no ar.
Em manifesta��o ao site, Gurgel chegou a planejar como seria o trabalho no PNI. "A prioridade ser� refor�ar as coberturas vacinais dos calend�rios do PNI, principalmente das crian�as, mas tamb�m dos adolescentes, gr�vidas e idosos. Precisamos colocar em n�veis seguros, para que essas doen�as n�o retornem. � claro que tamb�m temos muito trabalho relacionado � vacina��o contra a Covid-19", afirmou � �poca.
Reincid�ncia
O caso de Gurgel n�o � in�dito no Minist�rio da Sa�de. Anunciada em maio como chefe da Secretaria Extraordin�ria de Enfrentamento � Covid-19, a m�dica Luana Ara�jo foi informada dez dias depois que sua nomea��o n�o seria concretizada.
Luana � defensora da vacina��o em massa e j� declarou ser favor�vel a medidas restritivas e contra o "kit covid". Em uma entrevista, a m�dica afirmou que "todos os estudos s�rios" demonstram a inefic�cia da cloroquina e que a ivermectina � "fruto da arrog�ncia brasileira" e "mal funciona para piolho".
Na �poca, Queiroga negou press�o do Planalto. Sem informar o motivo de Luana ter deixado o cargo, se limitou a dizer que a pasta buscaria por outro nome com "perfil profissional semelhante: t�cnico e baseado em evid�ncias cient�ficas".
Poucos dias depois, no entanto, durante audi�ncia da Comiss�o de Fiscaliza��o Financeira e Controle da C�mara dos Deputados, o ministro disse que a doutora era uma "pessoa qualificada" e tinha as condi��es t�cnicas para exercer "qualquer fun��o p�blica", mas n�o foi nomeada porque al�m de "valida��o da t�cnica", era necess�rio "valida��o pol�tica" para nomea��o. "Vivemos em um regime presidencialista", afirmou o ministro.
Procurado, o Minist�rio da Sa�de n�o se manifestou sobre o caso de Gurgel.
