
O Correio Braziliense teve acesso com exclusividade aos processos e investiga��es conduzidas pela Coordena��o de Repress�o �s Drogas (Cord), sob a coordena��o do delegado Alexandre Grat�o, � �poca da pris�o do traficante. Os documentos detalham, por meio de fotos, den�ncias, �udios, liga��es, mensagens e confiss�es dos autores como funcionava a quadrilha, que se articulou por cerca de 1 ano e quatro meses para um s� objetivo: lucrar com a venda de entorpecentes na capital, especialmente a coca�na, uma das drogas mais caras (leia o esquema criminoso).
O assassinato de Wesley, vulgo Macarr�o, permeia d�vidas. Preso desde 2013 e condenado a maior pena da hist�ria da capital, em mais de 45 anos de pris�o, o criminoso cumpria regime semiaberto e havia sa�do do Centro de Progress�o Penitenci�rio (CPP) em 13 de outubro, pois tinha conseguido uma carta de emprego para trabalhar na loja de som onde instalava e consertava os equipamentos. No dia do crime, em 22 de outubro, Wesley chegou pela manh� no estabelecimento. Foi por volta de 12h que um homem de capuz aproveitou o momento que Macarr�o mexia no celular e atirou.

"Foram mais de 15 tiros", disse uma testemunha sob condi��o de anonimato ao Correio. Os disparos quebraram as vidra�as da loja e acertaram a cabe�a, o ouvido e o peito de Wesley, que ficou com a massa encef�lica exposta. Antes mesmo da chegada do Corpo de Bombeiros Militar (CBM-DF), ele estava morto. "Vi ele fuzilado. N�o sabemos o que aconteceu. Atirou e saiu como se nada tivesse acontecido", relatou a testemunha.
As investiga��es est�o � cargo da 12ª Delegacia de Pol�cia (Taguatinga Centro), que apura o caso em sigilo. Ao que se sabe, houve, pelo menos, a participa��o de outros tr�s homens, al�m do executor. Os homicidas estavam em um carro preto e, at� o fechamento desta edi��o, n�o foram localizados. "Estamos no encal�o para captur�-los", disse o delegado-chefe da unidade, Josu� Ribeiro.
O esquema criminoso
Uma den�ncia an�nima e detalhada feita em junho de 2012 foi o pontap� para o in�cio das investiga��es que levaram � pris�o e condena��o de 11 pessoas envolvidas no abastecimento de drogas na capital. O declarante alegou que Wesley usava dois carros para distribuir os entorpecentes, um Hyundai e um Nissan, e fazia a entrega nas segundas-feiras e sextas-feiras na casa de uma mulher, conhecida como "Ana do p�".
As negocia��es para trazer o caminh�o com coca�na de Ponta Por� (MS) ao DF come�aram em mar�o de 2012 at� junho de 2013, data da pris�o dos envolvidos. L�der do grupo, Wesley era o respons�vel por firmar contratos diretos com fornecedores de drogas da regi�o de Mato Grosso do Sul, na divisa com o Paraguai. Uma fonte policial que participou diretamente da opera��o da Cord contou ao Correio que Macarr�o era ligado a uma ala do Primeiro Comando da Capital (PCC) - fac��o oriunda de S�o Paulo - de Ponta Por� e Paraguai. Wesley fazia quest�o de negociar as drogas diretamente com os traficantes e viajava, pelo menos, duas vezes por m�s para articular e buscar os entorpecentes no Mato Grosso do Sul.
A quadrilha era formada com as seguintes pessoas: Wesley do Esp�rito Santo (o cabe�a), Leandro Rodrigues dos Santos, Leonardo Magno de Jesus, Alexandre Costa de Souza, Landstaynner Barros Gusm�o, Ana Cl�udia do Esp�rito Santo de Jesus (irm� de Wesley), Gisele Vasconcelos Gomes, Paulo S�rgio Gon�alves, Marcelo Barrionuevo da Costa, Rosane Ferreira, Vidal Cueto, Hudson de Castro (veja Quem � quem).
No in�cio de 2013, Macarr�o viajou para Ponta Por� para dar in�cio �s articula��es com Marcelo Barrionuevo, morador do Mato Grosso do Sul. Os dois trocaram mensagens sobre a contrata��o de um motorista que ficaria respons�vel por dirigir o caminh�o carregado de drogas. Wesley ordenou que o condutor n�o tivesse passagens criminais e nem problemas com a carteira de habilita��o. Uma forma de despistar a pol�cia. Na troca de mensagens, em 29 de janeiro de 2013, Marcelo pergunta: "Quanto vai pagar o menino?''. Wesley responde: "Vinte e cinco por viagem", referindo-se a R$ 25 mil. No dia seguinte, Marcelo diz que encontrou um "senhor da hora", que j� tinha feito um servi�o do tipo antes. "A� � firma de que?", pergunta Wesley. Marcelo responde: "Gr�os de soja e que vai mais para esse lado."

Especializado cada vez mais no tr�fico, o criminoso decidiu comprar o pr�prio caminh�o para cortar os gastos com o frete. Foi nessa empreitada que a irm� de Wesley, Ana Cl�udia, estreou a participa��o. Empres�ria, ela intermediou a negocia��o do ve�culo com um vendedor de Curitiba (PR). Macarr�o pagou R$ 170 mil � vista pela compra. O motorista contratado foi Landstaynner Barros Gusm�o, morador de Ponta Por�. Em depoimento � �poca, ele relatou que estava desempregado e com contas a pagar. Contou que recebeu a proposta de conduzir um caminh�o com carga de fumo.
Quando passava com a carga pr�ximo ao Engenho das Lajes, na divisa de Goi�s, o motorista foi abordado por policiais e disse ter se surpreendido com a quantidade de coca�na encontrada em um fundo falso criado por Willian. Como mostra imagem obtida pelo Correio, o compartimento na traseira do ve�culo serviu para armazenar os entorpecentes. Com Landstaynner, os agentes apreenderam, ainda, R$ 7 mil, dinheiro pago como parte do pagamento pelo transporte da droga.
Marcelo, que era como bra�o-direito de Wesley nas negocia��es e intermedia��es com os fornecedores de drogas, alegou que conheceu o traficante em 2010 em Ponta Por�. Na ocasi�o, Marcelo topou um servi�o de um dos comparsas de Wesley, o qual receberia R$ 12 mil pelo transporte da droga. Os 12kg de pasta base que veio para Bras�lia foi colocado da seguinte forma: o pneu do estepe era aberto e a droga era introduzida.
Ao chegar em Bras�lia, Marcelo deixou a droga em uma ch�cara do tio de Wesley, pr�xima ao Gama. Segundo o relato de Marcelo, em 2010, Macarr�o trouxe mais drogas ao DF. Para o comparsa, Wesley fez propostas para ele continuar no esquema do tr�fico, oferecendo percentuais na venda ou movimenta��o dos caminh�es, que, tamb�m, fariam fretes e transportariam as subst�ncias.
Pris�o
Em 16 meses, a PCDF reuniu elementos contundentes que comprovaram a pr�tica criminosa e deflagraram, em 2 de junho de 2013, a opera��o Makar, que custou mais de R$ 200 mil. O caminh�o foi interceptado na BR-060 com 78kg de escama de peixe, onde a grama custa cerca de R$ 80, e 32kg de pasta base de coca�na. Segundo as investiga��es, o p�blico alvo dessa droga eram as classe m�dia e alta do DF e a venda poderia gerar um lucro de R$ 5 milh�es.
"Foi uma grande opera��o na �poca e a maior entre v�rios anos. Ele era o cabe�a. A gente conseguiu sequestrar v�rios bens dele. Inclusive, na casa dele encontramos um colar avaliado em R$ 65 mil", detalhou o delegado que coordenou as investiga��es na �poca, Alexandre Grat�o.
No mesmo dia, os policiais civis cumpriram mandados de busca e apreens�o na casa dos presos. Na resid�ncia de Wesley, foram apreendidos tr�s carros, incluindo uma caminhonete, R$ 149 mil, oito rel�gios de marca de luxo, um cord�o de ouro avaliado em mais de R$ 65 mil, uma espingarda calibre 5.5 e um rev�lver calibre .38.
Ana Cl�udia, irm� de Wesley, tamb�m presa, escondia duas armas em casa. Paulo S�rgio, por sua vez, tinha uma pistola, com 13 muni��es. J� Gisele, respons�vel por arrecadar dinheiro para Wesley, tinha uma pistola e 13 cartuchos.
Quem � quem
Ana Cl�udia do Esp�rito Santo
Intermediou o caminh�o para realizar o transporte da droga
Condenada a 25 anos e 6 meses
Marcelo Barrionuevo
Intermediava contatos para a aquisi��o de drogas em Ponta Por�
Condenado a 21 anos e 9 meses
Leandro Rodrigues dos Santos
Adquiria droga de Wesley para revenda
Condenado a 26 anos
Landsteynner Bairros
Motorista contratado para transportar a droga
Condenado a 21 anos
Gisele Vasconcelos
Arrecadava dinheiro para Wesley e disponibilizava conta banc�ria
Condenada a 21 anos
Alexandre Costa de Sousa
Cobrador de d�vidas e distribui��o de drogas
Condenado a 9 anos
Leonardo Magno
Condenado a 1 ano
Paulo S�rgio Gon�alves
Aliciava pessoas para o tr�fico
Condenado a 12 anos
Rosane Ferreira
Viabilizava o transporte da droga
Condenada a 21 anos
Vidal Cueto
Contratado para conduzir o caminh�o
Condenado a 21 anos