
Segundo o Estad�o apurou, a lista teria sido feita pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Danilo Dupas, com a anu�ncia do MEC. Essas pessoas receberiam a permiss�o para entrar na sala segura do Enem, um ambiente com detectores de metal e senhas nas portas, e escolher as quest�es da prova a partir do banco de itens. Poderiam tamb�m acompanhar a impress�o da prova na gr�fica.
A rela��o de nomes foi descoberta por servidores do Inep em abril e levou a um pedido de demiss�o do coordenador da �rea, que discordava da medida. A lista circulou entre funcion�rios e muitos manifestaram seu descontentamento. O conflito fez Dupas recuar e retirar os nomes da rela��o.
Al�m dos servidores, a montagem da prova tem sempre colaboradores externos - professores escolhidos por meio de um edital de sele��o que leva em conta o curr�culo e a forma��o acad�mica. Este grupo n�o passou por essa sele��o.
Um dos requisitos obrigat�rios que mais contam pontos, segundo o edital de 2020, � a experi�ncia em "elabora��o e/ou revis�o de itens do ensino m�dio", ou seja, as quest�es da prova. Depois de selecionados, eles ainda participam de 40 horas de capacita��o sobre "as normas e os procedimentos t�cnicos exigidos para desenvolver o trabalho", de acordo com texto do Inep sobre os aprovados deste ano.
A lista que chegou a integrantes da diretoria da Avalia��o da Educa��o B�sica do Inep tinha 15 nomes que inclu�am professores j� aprovados e servidores, al�m dos 22 professores que n�o passaram pelo processo de sele��o. Todos faziam parte de um grupo que seria vacinado prioritariamente pelo governo, j� que sairiam do trabalho remoto para atuar juntos em salas fechadas e cercadas de seguran�a.
O pedido de vacina��o para nomes estranhos chamou a aten��o dos servidores. Segundo relatos, muito do descontentamento que levou aos 37 pedidos de exonera��o da semana passada come�ou nesse epis�dio. Eles acusam Dupas de ass�dio moral e desconsidera��o de crit�rios t�cnicos. Procurado, o Inep n�o se manifestou at� �s 20h50 desta quinta-feira, 18.
NOMES
Dois dos integrantes da lista s�o membros do grupo Docentes pela Liberdade (DPL), que se intitula "um grupo apartid�rio" cujo objetivo � "romper com a hegemonia da esquerda e combater a persegui��o ideol�gica". A primeira p�gina do site tem uma foto de Bolsonaro segurando uma camiseta do DPL. O perfil do Twitter do grupo ainda repassou mensagens que criticam o Supremo Tribunal Federal (STF) e do ex-ministro da Educa��o Abraham Weintraub pedindo a pris�o do youtuber Felipe Neto, cr�tico do governo.
Aline Loretto Garcia, mulher do diretor do DPL Marcelo Hermes Lima, est� na lista do Inep como especialista de Hist�ria. Em uma postagem aparece ao lado do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, investigado no inqu�rito das mil�cias digitais no STF. Procurada, ela afirmou que "nunca elaborou" a prova do Enem nem recebeu convoca��o para participar de atividades. O secret�rio executivo do DPL, Pedro Lucena, est� na rela��o como professor de Geografia. "Eu n�o desempenhei tarefa nenhuma", respondeu ao ser questionado.
A professora do Mackenzie Vera Lucia Azevedo, que aparece como especialista em Matem�tica, disse ao Estad�o que foi convidada, por um telefonema, para uma reuni�o no Inep em Bras�lia, mas rejeitou. "N�o participei, n�o cheguei a ir em nada. Realmente, algu�m colocou meu nome, mas recusei porque tinha compromissos aqui (em S�o Paulo)", disse ela, que destacou n�o ter participado de edital relacionado ao Enem.
O professor da Universidade Federal do Tocantins Antonio Egno do Carmo Gomes, na lista na �rea de Literatura, � do N�cleo de Estudos B�blia e Literatura, financiado pelo Fundo Mackpesquisa. O presidente do Inep foi, de 2014 a 2020, gerente administrativo do MackPesquisa, do Mackenzie.
"Com todo respeito, n�o importa o que voc� amigo evolucionista venha me dizer e nem qual argumento voc� venha me trazer, eu n�o vou mudar meu posicionamento, e isso n�o faz de mim menos bi�loga que voc�. Sou criacionista e isto n�o est� em discuss�o", escreveu nas redes sociais Mayara Cordeiro, na lista como especialista em Biologia. Ela d� aulas numa escola religiosa em Blumenau. Procurada ontem, ela confirmou o contato do MEC, mas disse que n�o "est� fazendo parte da equipe".
Outra da �rea de Biologia na lista � Joselena Mendon�a Ferreira, professora substituta na Universidade Federal Rural do Semi-�rido, que nas redes sociais j� questionou dados sobre mortes de covid. Em Artes, Th�r�se Hofmann Gatti Rodrigues da Costa, da Universidade de Bras�lia, tem pesquisa sobre "melhoria na qualidade da educa��o b�sica" no programa das escolas c�vico-militares, criado por Bolsonaro em 2019. O Estad�o tentou contato com ela, Gomes e Joselena, mas n�o obteve resposta.
TRANSPAR�NCIA
Ex-presidente do Inep, Chico Soares explica que as equipes que atuam nas quest�es do teste devem passar por processo "formal e transparente" de sele��o. "O Inep n�o faz tudo sozinho, sempre faz em parcerias. Mas � a institui��o p�blica, s� pode fazer quando apoiado por formas p�blicas." Para ele, convocat�rias fora de editais ferem a transpar�ncia, "um dos princ�pios b�sicos da gest�o."
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.