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Estado de Minas BRASIL

V�tima de 'sequestro do Pix' relata c�rcere de 8h na mata

Amigas ca�ram em uma emboscada ap�s os criminosos fingirem ser clientes e marcarem um encontro de neg�cios na Zona Norte de S�o Paulo


06/07/2022 19:22 - atualizado 06/07/2022 19:22

Anna Novaes
Anna conta ter sido sequestrada com a amiga por assaltantes (foto: Arquivo pessoal)
Na mira de um rev�lver, sentadas em uma mata, sem comer ou ir ao banheiro por oito horas. H� um m�s, duas arquitetas foram v�timas de uma emboscada e ficaram ref�ns de uma "quadrilha do Pix" em S�o Paulo.

 

Os assaltantes movimentaram durante o sequestro ao menos R$ 160 mil entre saques, empr�stimos e compras. A quantia foi, posteriormente, devolvida pelos bancos.

O crime come�ou quando dois homens fingiram ser clientes e marcaram uma reuni�o com as arquitetas no Jaragu�, na Zona Norte da capital paulista.

 

No local, os bandidos armados renderam Anna Novaes, de 52 anos, e uma amiga que trabalha com ela.

 

"Nos jogaram para o banco de tr�s do meu carro e nos levaram para uma reserva. Um dos criminosos acompanhou a gente at� dentro da mata. Nos amea�avam o tempo todo", conta Anna em entrevista � BBC News Brasil.

 

Procurada, a Secretaria da Seguran�a P�blica informou que o caso � investigado pelo 46º Distrito Policial de Perus. A pasta n�o informou se algum suspeito foi preso.

 

O caso ganhou repercuss�o ap�s a arquiteta fazer um relato no Twitter, que teve mais de 2 milh�es de visualiza��es e mais de 50 mil curtidas.

 

Anna afirmou que os criminosos marcaram um encontro para falar sobre um suposto projeto. Antes de se encontrarem pessoalmente, conversaram por telefone e pelo aplicativo de mensagens WhatsApp.

 

Amigos, eu fui sequestrada, fiquei 8 horas no cativeiro com uma arma na cabe�a. Os bandidos pegaram um empr�stimo pr� aprovado e o @santander_br disse que n�o tem nada com isso, porque eu informei meus dados de forma volunt�ria. Eu nunca pedi empr�stimo para esse banco SEGUE

 

— Anna Novaes %u264A%uFE0F (@annanovaes) June 30, 2022


 

Desde o momento em que foram abordadas, por volta das 10h de 7 de junho, as duas tiveram os aplicativos e informa��es pessoais investigados minuciosamente pelos bandidos.

 

"Eles pediram todas as senhas. Eram muito h�beis com os celulares. Eu tinha um iPhone e minha amiga, um Android, e eles sabiam mexer em tudo", conta a arquiteta.

 

"A primeira coisa que fizeram foi desligar a localiza��o e rotear os telefones na internet de outro aparelho para que ele n�o fosse encontrado. Acessaram os aplicativos dos bancos e retiraram todo o dinheiro que conseguiram por transfer�ncias via Pix."

 

No in�cio, os criminosos usavam m�scaras cir�rgicas comuns, contou a v�tima. Mas, depois, ficaram de "cara limpa".

 

Anna estima que ao menos quatro pessoas faziam parte da quadrilha. Os dois primeiros que a abordaram, um terceiro com quem conversavam frequentemente e um �ltimo, que chegou no final e era chamado de "menor" pelos criminosos.

Segundo Anna, enquanto ela e a amiga estavam sequestradas, os bandidos gastaram R$ 15 mil em compras nos cart�es de cr�dito dela. Tamb�m sacaram R$ 10 mil de sua conta no banco Santander e fizeram um empr�stimo de R$ 5 mil - esse dinheiro foi transferido para outras contas por Pix.

 

Procurado pela BBC News Brasil, o Santander disse que "resolveu o caso junto � cliente". Anna afirma que o banco devolveu todo o valor roubado.

 

No Ita�, os bandidos fizeram um empr�stimo de R$ 130 mil em nome de Anna, mas s� conseguiram sacar R$ 20 mil porque o pr�prio banco fez um bloqueio autom�tico.

 

Anna disse que o banco j� havia devolvido R$ 14 mil e estornou os R$ 6 mil que restavam ap�s ser procurado pela BBC News Brasil. Antes disso, segundo ela, o Ita� alegava que ela n�o tinha feito um seguro para transa��es com Pix.

 

O Ita� confirmou ter devolvido o dinheiro e, em nota, "refor�a que, ao ser v�tima de qualquer sinistro, o cliente, assim que poss�vel, deve contatar o banco para bloqueio tempor�rio de senhas, produtos ou servi�os e registrar boletim de ocorr�ncia, de modo que as autoridades competentes possam tomar as medidas necess�rias".

 

A amiga de Anna tamb�m teve suas contas invadidas, mas os valores roubados n�o foram informados � reportagem.

 

Durante o tempo em que ficaram sob a mira de um rev�lver dos criminosos, conta a arquiteta, elas deixaram de participar de diversas reuni�es. Mas ningu�m conseguia ligar para elas, porque os telefones estavam em modo avi�o.

 

Anna diz que os sequestradores faziam quest�o de mostrar que estavam armados.

 

"Se eles me perguntassem uma senha e eu falasse que n�o me lembrava, eles davam uma coronhada na minha cabe�a, n�o para machucar, mas intimidar", contou Anna. "No meio da tarde, eles apareceram com uma sacola de padaria com refrigerante e p�es. Nos ofereceram, mas a gente negou."

Onda de crimes

Anna contou que a pol�cia identificou que os assaltantes fizeram tr�s compras na Brasil�ndia, bairro tamb�m na Zona Norte de S�o Paulo. O delegado, segundo ela, desconfia que a quadrilha que cometeu o sequestro era especializada em roubos de carro e, agora, migrou para esse tipo de crime, que est� se tornando cada vez mais frequente.

 

O delegado titular da 3ª Delegacia Antissequestro, da Pol�cia Civil, Tarcio Severo, disse � BBC News Brasil, em 2021, que o n�mero de sequestros-rel�mpago, crime considerado adormecido, disparou ap�s a implanta��o do Pix no Brasil.

 

Segundo ele, h� inclusive quadrilhas especializadas em outros crimes que est�o "migrando" para roubos envolvendo esse tipo de transa��o.

 

Sob o poder dos sequestradores, Anna diz ter mantido a calma. Segundo ela, os criminosos diziam durante todo o tempo que, se elas permanecessem calmas e colaborassem com as informa��es necess�rias, elas seriam soltas sem nenhum dano.

"A gente n�o chorou nem ficou descompensada. Se a gente tivesse chorando, seria pior. Ficamos tensas, sem esc�ndalo. Eles diziam que n�o queriam nos machucar. S� queriam o dinheiro. Mas como foi demorando, n�o t�nhamos como acreditar que tudo terminaria bem, pois eles estavam muito drogados,. Estar na mira de algu�m alterado nos deixou tensas", conta.

 

Ela diz que os assaltantes falavam falavam que as levariam de volta para o carro e as deixaria numa "quebrada". E depois elas poderiam ir embora.

 

"Eu nem sabia mais o que sentia. Se ouvir aquilo era bom ou ruim", diz Anna.

Card�pio de golpes

Pouco antes de serem libertadas, as duas amigas foram vigiadas apenas pelo assaltante chamado de "menor". Anna diz que ele perguntou como elas foram sequestradas, porque eles t�m "um card�pio de golpes".

 

A conversa entre as v�timas e o criminoso teria inclusive alongado, entre risadas, segundo Anna. Mas ela conta que, em certo momento, o celular dele tocou, e ele ficou nervoso e come�ou a tremer.

 

"Ele disse para a gente ficar quieta, sen�o a gente morreria, e desapareceu.

 

Depois de 15 minutos, a gente se deu conta que ele tinha nos abandonado, sentadas na raiz de uma �rvore enorme. A gente ent�o caminhou um pouco para o lugar por onde ach�vamos que t�nhamos vindo. Mas vimos uma estrada e um carro preto parando, ent�o, falei para voltar e sentar para n�o dar confus�o", conta Anna.


Árvores em floresta
Ap�s abordar as v�timas, bandidos as levaram para uma regi�o de mata na Zona Norte de S�o Paulo (foto: BBC)

 

Mas as amigas acabaram se perdendo. Ap�s andar para outro sentido, encontraram tr�s homens parados, olhando na dire��o delas.

 

"Um senhor disse: 'Pode sair'. Eu olhei para o lado, e tinha uma viatura da pol�cia. O senhor mora na regi�o, viu os criminosos, desconfiou da movimenta��o e chamou a pol�cia. Como eles tinham olheiros, o menino que estava com a gente foi avisado, e ningu�m foi preso", diz Anna.

 

Os criminosos levaram os celulares das v�timas e dois pares de brincos de ouro. Eles devolveram as bolsas com tudo o que havia dentro, incluindo os documentos. Anna tem um seguro que cobre tudo o que havia na bolsa e recebeu de volta o valor do celular. O carro dela foi encontrado dois dias depois, sem nenhuma avaria.

 

Ap�s o crime, Anna relata ter tido dificuldades para dormir e que inclusive teve pesadelos.

 

"Na primeira noite, eu n�o dormi. Cheguei em casa 22h bem cansada, mas quando deitei, � 1h, acordei achando que o ladr�o estava no meu quarto apontando arma contra mim e n�o consegui dormir. Eu n�o tive crise de p�nico, mas estou sobrevivendo", conta.

 

Anna diz que gostaria que a hist�ria dela servisse de exemplo para outras pessoas. "A gente precisa ficar mais atento e desconfiar mais das pessoas."

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62045088

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