
O Minist�rio da Sa�de anunciou que as primeiras doses da vacina que protege contra a monkeypox, doen�a conhecida como var�ola dos macacos, devem chegar ao Brasil ainda em setembro.
Numa entrevista � TV Brasil, o ministro Marcelo Queiroga declarou que 50 mil unidades do imunizante ser�o enviados ao pa�s "ainda na segunda quinzena de setembro".
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"E a boa not�cia � que podemos fracionar essas doses em at� cinco partes. Com isso, podemos beneficiar um n�mero maior de pessoas", disse.
Queiroga tamb�m deixou claro que a vacina n�o ser� indicada para todo mundo. "A princ�pio, [ela ser� oferecida] para quem teve contato com material contaminado ou indiv�duos de maior risco", apontou.
O ministro da Sa�de lembrou que "a doen�a � mais prevalente em homens que fazem sexo com outros homens, mas qualquer pessoa que teve contato pele com pele ou mucosa com mucosa com algu�m infectado pode adquirir [o v�rus]" e "n�o h� motivos para estigmatizar".
Entenda a seguir quais vacinas s�o utilizadas e quem podem ser os primeiros a tomar as doses.
Que vacina � essa?
H� cerca de uma d�cada, a farmac�utica dinamarquesa Bavarian Nordic desenvolveu um imunizante a partir do v�rus vaccinia, que pertence � mesma fam�lia do smallpox (o causador da var�ola humana) e do monkeypox.Nos Estados Unidos, ela � conhecida como Jynneos. J� na Europa, o nome deste produto � Imvanex.
A virologista Clarissa Damaso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que os pat�genos deste grupo (os orthopoxvirus) costumam conferir uma esp�cie de "prote��o cruzada" — se voc� se infecta com um deles, o sistema imune gera uma resposta capaz de bloquear a invas�o dos demais.
"Algumas cepas do vaccinia s�o pouco virulentas, o que as torna um alvo frequente de estudos para novas vacinas", diz a especialista.
O imunizante da Bavarian Nordic, que come�ou a ser utilizado em larga escala nos �ltimos meses para conter o monkeypox em algumas partes do mundo, se vale justamente dessa estrat�gia: ela traz o v�rus vaccinia atenuado (mais "fraquinho"), que vai promover justamente essa imunidade cruzada.
"Trata-se de um v�rus t�o atenuado que ele nem consegue se replicar nas c�lulas humanas. Mesmo assim, ele gera uma resposta imune que protege contra o monkeypox", explica Damaso.
A Jynneos/Imvanex � aplicada num esquema de duas doses, com um intervalo de quatro semanas entre a primeira e a segunda.
Algumas autoridades locais est�o optando por dar apenas uma dose por pessoa, dada a escassez desse imunizante no momento atual.
No Brasil, segundo as �ltimas informa��es divulgadas pelo ministro Queiroga, a tend�ncia � que se respeite o esquema de duas doses do produto da Bavarian Nordic.
Al�m desta vacina, os Estados Unidos possuem uma segunda op��o dispon�vel, conhecida como ACAM2000. Ela, por�m, n�o pode ser utilizada em alguns grupos com problemas no sistema imunol�gico.
Al�m desses dois recursos, h� estudos demonstrando que pessoas vacinadas contra a var�ola humana, causada pelo v�rus smallpox, tamb�m est�o mais protegidas do monkeypox.
Como o smallpox foi erradicado e n�o circula mais pelo mundo, a produ��o desses imunizantes em espec�fico foi completamente paralisada e a campanha de vacina��o n�o acontece desde o in�cio dos anos 1980.
Mesmo assim, pessoas com mais de 40 anos que tomaram as doses contra a var�ola humana durante a inf�ncia parecem manter um bom n�vel de prote��o agora.
Queiroga tamb�m comentou que h� um candidato a imunizante brasileiro na fase de estudos que poder� ser utilizado no futuro.
Ele foi desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, se necess�rio, ser� fabricado no Instituto Biomanguinhos, ligado � Funda��o Oswaldo Cruz (FioCruz).
Segundo o ministro, essa pode ser uma alternativa "se houver indica��o de vacina��o para um grupo maior de pessoas".
Que pa�ses j� iniciaram a campanha e quais s�o os p�blicos-alvo?
A vacina��o contra o monkeypox come�ou por Europa e Am�rica do Norte.

O Reino Unido, que tamb�m oferece o imunizante, definiu tr�s grupos como priorit�rios para receber as doses neste momento:
- Profissionais de sa�de que est�o lidando com pacientes diagnosticados com monkeypox. Nesse caso, s�o oferecidas duas doses.
- Gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens com alto risco de exposi��o ao v�rus. O indiv�duo deve conversar com o m�dico, que vai indicar a vacina��o de acordo com alguns crit�rios. Nesse grupo, � aplicada apenas uma dose, com a possibilidade de dar uma segunda no futuro.
- Pessoas que tiveram contato pr�ximo com um paciente infectado com o monkeypox. Nessa situa��o, as cl�nicas tamb�m est�o dando apenas uma dose, que deve ser aplicada o quanto antes (idealmente, em at� quatro dias ap�s o contato).
Ainda n�o est� claro se esse mesmo esquema ser� seguido no Brasil. O Minist�rio da Sa�de deve divulgar mais informa��es ao longo das pr�ximas semanas.
A m�dica Isabella Ballalai, da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm), explica que dar prioridade a alguns grupos faz sentido.
"Vacina��o � estrat�gia. Precisamos pensar primeiro nos grupos de maior risco, como aqueles em que o v�rus circula com mais intensidade, os indiv�duos est�o mais expostos ao pat�geno ou podem ter efeitos mais graves da doen�a", explica.
No caso dos imunizantes contra o monkeypox, a boa not�cia � que eles bloqueiam a transmiss�o do v�rus e impedem que a pessoa se infecte.
"E n�s sabemos que a resposta imune gerada � muito duradoura", complementa Damaso.

Sobre a poss�vel fabrica��o de doses em territ�rio nacional, a m�dica destaca que isso envolve etapas bem criteriosas e demoradas.
"O processo n�o � t�o simples assim. � preciso ter f�brica e cumprir uma s�rie de exig�ncias regulat�rias para garantir as condi��es de fabricar as doses", pontua Ballalai.
"Precisamos ter em mente que, quando a vacina vier, ela n�o ser� para todo mundo. Precisamos proteger os grupos de maior risco primeiro", complementa a m�dica.
Enquanto a vacina n�o chega, a recomenda��o dos especialistas � ficar atento aos principais sintomas da doen�a, como o surgimento de feridas, manchas, irrita��es, p�stulas ou espinhas na pele, especialmente na regi�o dos genitais, do �nus, da face ou dos bra�os.
Caso esses sinais apare�am, vale procurar um m�dico para fazer o diagn�stico. Se os exames confirmarem a presen�a do monkeypox, a principal orienta��o � ficar em isolamento, com o m�nimo de contato com outras pessoas, at� que as feridas sumam completamente. Isso diminui a circula��o do v�rus e evita a cria��o de novas cadeias de transmiss�o na comunidade.
De acordo com a plataforma o portal Our World In Data, da Universidade de Oxford (Inglaterra), at� o momento o mundo registra 62,2 mil casos de monkeypox. Desses, 6,8 mil foram diagnosticados no Brasil.
Nas �ltimas semanas, a progress�o de casos sofreu uma desacelera��o importante e entrou num plat�. Os especialistas em sa�de p�blica acompanham as estat�sticas para entender se os n�meros come�ar�o a diminuir ou voltar�o a aumentar em breve.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62317822
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