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Estado de Minas RISCO EM REDES SOCIAIS

9 em cada 10 sequestros de SP s�o 'golpes do Tinder'; entenda como agem os criminosos

Entre as estrat�gias dos criminosos, est�o atrair as v�timas para bairros isolados e marcar encontros presenciais logo ap�s o primeiro contato no aplicativo de paquera.


29/11/2022 05:14 - atualizado 29/11/2022 09:43


Pessoa usando aplicativo de paquera Tinder
Policiais ouvidos pela BBC News Brasil dizem que maior parte das v�timas da 'Quadrilha do Tinder' est� � procura de encontros r�pidos e casuais (foto: Reuters)

Um homem conhece uma mulher em um aplicativo de relacionamento, troca mensagens e, tempos depois, eles marcam um encontro. Mas, ao chegar ao local, o homem � sequestrado por uma dupla ou grupo armado. E o que seria um momento especial se torna um pesadelo que chega a durar dias. A v�tima sofre tortura psicol�gica e algumas vezes at� f�sica enquanto t�m suas contas esvaziadas.

A Secretaria da Seguran�a P�blica de S�o Paulo (SSP) afirmou � BBC News Brasil que "mais de 90% dos sequestros registrados em S�o Paulo s�o feitos a partir de relacionamentos formados a partir de perfis falsos criados em aplicativos como o Tinder.

Apenas em 2022, a SSP informou que a Divis�o Antissequestro do Dope, unidade especializada em sequestro da Pol�cia Civil paulista, esclareceu 94 ocorr�ncias desse tipo, prendeu 251 suspeitos e apreendeu 9 adolescentes infratores.

Segundo a pasta, os criminosos estudam suas v�timas. "Observam usu�rios que ostentam poder econ�mico nas redes sociais e marcam um encontro na casa da 'isca', abordando as v�timas geralmente em ruas desertas'', informou por meio de nota.

Em meados deste m�s, um m�dico do Hospital das Cl�nicas foi sequestrado e mantido em c�rcere por cerca de 14 horas ap�s marcar um encontro por meio de um aplicativo de relacionamento em Pirituba, na zona norte de S�o Paulo.

A v�tima s� foi liberada ap�s os criminosos fazerem transa��es banc�rias por meio de empr�stimos, compras e transfer�ncias no valor total de R$ 75 mil.

Mas como evitar situa��es como essas e identificar poss�veis criminosos que atuam nesses aplicativos?

A BBC News Brasil conversou com policiais e especialistas em seguran�a digital para entender como essas quadrilhas atuam e quais s�o os principais sinais de que o encontro seja apenas uma armadilha para um crime.

O Tinder, principal aplicativo de namoro citado por policiais e v�timas de sequestro , foi questionado sobre quais ferramentas e m�todos de seguran�a existem na plataforma para evitar esses golpes, mas n�o respondeu at� a publica��o desta reportagem.

Como as v�timas s�o escolhidas

Um tenente da Pol�cia Militar que atua na zona norte de S�o Paulo e pediu para n�o ser identificado afirma � reportagem que as v�timas s�o geralmente homens mais velhos e financeiramente bem-sucedidos.

"S�o pessoas acima de 40 anos, solteiras, que geralmente s�o comerciantes ou possuem pequenas empresas. S�o pessoas com alguma posse. A maior parte atrai a v�tima pelo Tinder, com mensagens sedutoras e um pedido de encontro o mais r�pido poss�vel", diz ele.

As v�timas, segundo o policial, s�o escolhidas pelo aplicativo de acordo com as informa��es que ela passa, como fotos e profiss�o. Os principais alvos s�o aqueles que publicam fotos em viagens internacionais e ao lado de carros de luxo.

"Os encontros geralmente s�o marcados em bairros mais afastados entre o fim da tarde e in�cio da noite. Um dos casos que atendi, um homem tinha tentado marcar o encontro com uma mulher em um shopping, mas ela disse que estava doente e lamentava n�o poder sair de casa para encontr�-lo. Ele acabou se iludindo com a situa��o e foi at� o local encontrar o par rom�ntico, mas foi sequestrado", conta.

O policial disse que a maneira de agir de cada quadrilha varia de acordo com o perfil de cada v�tima. Ele diz que a v�tima geralmente n�o est� atr�s de um romance, mas apenas de um encontro r�pido, sem compromisso.

"Pelo que a gente conversou com as v�timas, o encontro presencial acontece depois de um ou dois dias ap�s o primeiro contato no aplicativo. O cara acredita que a mulher vai para o 'vamos ver' com ele sem muita frescura."

Crime subnotificado

O policial disse acreditar que existe subnotifica��o desses crimes por diversos motivos. O primeiro deles � a vergonha que muitas vezes a v�tima tem de fazer um boletim de ocorr�ncia para registrar o caso. Algumas vezes isso � causado por ela estar em um relacionamento ou por sentir que foi ing�nua em cair num golpe como esse.

"O que acontece s�o os casos que a gente retira a v�tima do cativeiro. N�o sei se os n�meros da SSP englobam todos os outros casos que n�o s�o resolvidos pela divis�o, mas sim pelo policiamento local", afirma o policial.

Ele diz tamb�m que v�timas comprometidas preferem n�o dizer que ca�ram no "golpe do Tinder" para que o parceiro n�o descubra. O mais comum � que essas v�timas digam que foram roubadas na rua e, na sequ�ncia, sequestradas.

Um dos policiais disse que o que mais o impressiona � a frequ�ncia de casos de homens com alto poder aquisitivo e forma��o acad�mica que caem nesses golpes por toparem ir a bairros mais distantes para terem encontros rom�nticos.

Os policiais explicam que, na maior parte das vezes, o desaparecimento da v�tima s� � identificado no dia seguinte ao sequestro, quando a fam�lia da v�tima sente falta dela.

"Algu�m da fam�lia nota que a pessoa desapareceu e d�o o alerta. Eles passam a localiza��o de onde foram os �ltimos contatos com ela. Algumas vezes, moradores tamb�m relatam movimenta��es estranhas. Eu nunca peguei caso de v�tima que foi levada para o mesmo cativeiro, mas a regi�o � a mesma. Algumas vezes at� na mata", relata o policial.

Sinais de alerta

Especialista em seguran�a digital da Safernet, Guilherme Alves afirma que os aplicativos de namoro s�o usados por criminosos para cometer principalmente crimes de estelionato fora da plataforma.

"Um ponto importante � entender o que � responsabilidade da plataforma. O que acontece fora dela foge da esfera da empresa, mas � poss�vel solicitar na Justi�a dados sobre o perfil golpista, caso haja algum crime, como localiza��o", afirmou.

Segundo Guilherme Alves, o Marco Civil prev� que as empresas armazenem as informa��es dos usu�rios e conversas por ao menos 6 meses.

Ele explica que, em alguns casos, os golpistas n�o usam fotos e perfis falsos, mas sim pessoas reais para atrair as v�timas. Mandam �udios e mandam fotos reais da pessoa com quem a v�tima conversa.

Mas o especialista alerta para alguns sinais comuns entre os golpistas.

"Se for um golpe de catfishing [em que uma identidade falsa � criada na internet], o perfil � sim falso e h� situa��es em que o criminoso tenta levar a pessoa para outra plataforma, como WhatsApp, saindo do aplicativo de paquera. Em alguns casos, o golpista alega que excluiu o perfil da plataforma com a justificativa de que quer algo s�rio", afirmou.

Guilherme Alves identificou diversos comportamentos que s�o um sinal de alerta para quem est� conhecendo uma pessoa na plataforma e pretende marcar um encontro presencial.

"Excluir o perfil da plataforma ap�s o primeiro encontro pode sinalizar que a pessoa queira esconder informa��es. Outro ponto s�o pessoas que querem marcar encontros muito r�pido e sa�rem da plataforma para conversar no WhatsApp. Encontros em locais privados tamb�m devem ser evitados", disse o especialista em seguran�a cibern�tica.


Café e um telefone com uma ilustração de coração na tela
Especialistas recomendam que encontros sejam feitos em locais p�blicos e de grande circula��o de pessoas, como shopping (foto: Getty Images)

Ele recomenda que o ideal � sempre guardar registros das conversas, do perfil e marcar encontros sempre em locais p�blicos de grande movimenta��o de pessoas, como um shopping. Ele ressalta ainda que o golpe pode ocorrer mesmo ap�s os primeiros encontros.

"Em um caso que atendi, a v�tima teve dois encontros com o criminoso, mas s� no terceiro que ele roubou a mo�a e sumiu", conta � reportagem.

Fen�meno nacional?

A reportagem conversou com policiais de outras regi�es do pa�s para entender se esse crime se espalhou pelo pa�s. No entanto, as autoridades policiais disseram que a incid�ncia desses golpes envolvendo aplicativos de namoro s�o mais comuns nas grandes metr�poles.

O secret�rio de Seguran�a P�blica em Pontapor�, no Mato Grosso do Sul, Marcelino Nunes afirma que esse crime ocorre na regi�o que faz fronteira com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, mas com uma frequ�ncia pequena.

"O que a gente percebe � que s�o pontuais e n�o s�o feitos por quadrilhas. S�o pessoas que acabam sendo lesadas financeiramente ou v�timas de viol�ncia, mas sem sequestro. O crime mais comum que atendemos envolvendo esses aplicativos � o chamado estelionato digital. J� houve casos em que o criminoso simula uma d�vida e pagamento de exames m�dicos como forma de extors�o por meio desses relacionamentos", afirma.

Policiais de Santa Catarina ouvidos pela reportagem tamb�m disseram que esses crimes envolvendo aplicativos de namoro s�o incomuns na regi�o.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63733202


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