
Igor Murilo, Maria Eduarda Carvalho e Camilla Lopes s�o alguns dos afetados pelo temporal que atingiu o litoral norte de S�o Paulo no �ltimo fim de semana.
Cada um � sua maneira, eles tentam agora superar a trag�dia que vivenciaram e agir em prol do bem coletivo, seja participando de mutir�es de limpeza, buscando desaparecidos ou arrecadando doa��es.
Em comum, todos estavam em S�o Sebasti�o, a cidade mais atingida pelas chuvas hist�ricas.
Eles conversaram com a BBC News Brasil por telefone e explicaram como foram de v�timas a volunt�rios nessa trag�dia.

Igor Murilo, de 22 anos, professor de CrossFit e morador de Camburi, conta que perdeu tudo, "com exce��o da TV e da geladeira".
Ele diz que estava em casa com o filho e a mulher "tirando um cochilo" ap�s a fam�lia ter curtido o Carnaval na tarde de s�bado (18/2) quando recebeu um telefonema de sua m�e: era um alerta sobre os alagamentos causados pelas chuvas.
"Minha m�e, que mora no bairro vizinho, me ligou por volta de 1h e nos perguntou sobre como estava a situa��o no entorno da nossa casa. Ela mora em uma casa mais alta do que a minha e disse que por l� j� estava tudo alagado", diz, lembrando que sua casa nunca havia alagado antes.
"Conseguimos chegar ao carro que estava numa parte mais alta e tivemos que dormir dentro dele. A situa��o ainda est� muito ruim aqui, com pessoas ainda soterradas", acrescenta.
Desde o domingo (19/2), Murilo tem coordenado a��es de mobiliza��o em Camburi.
"Tem muita gente precisando (de ajuda). Estamos recebendo dinheiro das vaquinhas que fizemos. Conseguimos unir mais de 20 motoboys para fazer entrega de marmitex. Cada localidade tem uma pessoa que est� liderando. S� ontem (segunda-feira) consegui lavar minha casa", assinala.
Ele diz que os esfor�os v�m se concentrando na Vila Sahy, uma das �reas mais afetadas, onde alagamentos e deslizamentos de terra deixaram mortos, feridos, desaparecidos e desabrigados.

Abrigo em escola
A casa de Maria Eduarda Carvalho, de 18 anos, fica nessa localidade. Ali ela morava com os sogros e o noivo.
"Quando a chuva come�ou, eu e meu namorado est�vamos em casa e hav�amos pedido uma pizza. Mas o motoboy disse que n�o conseguia entreg�-la e achamos estranho. Meu namorado desceu para a pra�a principal para busc�-la e viu que j� estava alagado, donos de supermercados metendo a m�o em bueiros para tentar fazer escoar a �gua, sem sucesso."
"Como alagamentos s�o comuns por aqui, n�o nos preocupamos muito. Comemos a pizza e dormimos por 20 minutos. Acordamos quando a �gua come�ou a entrar no nosso quarto", relembra.
"A nossa casa era a �nica da rua que n�o enchia. Come�amos a nos desesperar e tentamos criar barreiras para a �gua n�o passar".
"Quando sa�mos de casa para buscar nosso material de trabalho na praia, a �gua j� estava na altura da nossa cintura", acrescenta Carvalho, que trabalhava com uma barraca de praia.

Ela e o namorado se abrigaram na casa de um cliente que fica num condom�nio luxuoso na Barra do Sahy — ali n�o houve danos extensivos, embora, segundo Maria Eduarda, alguns im�veis de alto padr�o localizados na encosta tenham sido completamente destru�dos.
Os sogros dela est�o alojados em uma escola convertida em abrigo e, em breve, v�o se juntar ao casal no mesmo im�vel.
"Ajudei na limpeza da escola e estamos agora nos mobilizando para recolher doa��es. Felizmente, n�o h� ningu�m passando fome ou sede. As doa��es est�o chegando de barco e de helic�ptero."


Em um condom�nio da mesma localidade, estavam Camilla Lopes e suas amigas.
Naturais da capital paulista, as jovens estudam no interior juntas e haviam viajado ao litoral norte para passar o Carnaval em uma casa de praia da fam�lia de uma delas. Desde domingo, v�m atuando como volunt�rias.
"No s�bado � noite, fomos a uma casa de shows em Camburi e, no caminho de volta, j� chovia bastante. Percebemos que n�o conseguir�amos passar de carro devido ao volume de �gua, que j� estava na altura da cintura. Decidimos nos arriscar e atravessar a p�. Felizmente, nada aconteceu com a casa onde est�vamos."
"No dia seguinte, ao acordarmos, percebemos uma movimenta��o estranha no condom�nio, e foi s� ent�o que conseguimos a entender a dimens�o da trag�dia."
"Quando soubemos que havia muitos feridos, mortos e desaparecidos, decidimos nos mobilizar para ajudar. Fizemos de tudo, de limpeza at� a organiza��o da cozinha. Separamos roupas e itens de higiene pessoal."
"Agora estamos nos focando nas doa��es; entre nossos amigos, conseguimos arrecadar um grande valor de doa��o e agora estamos organizando como fazer a distribui��o desse recurso."
Camilla tamb�m diz que vem ajudando a localizar desaparecidos — como h� �reas sem acesso � internet, multiplicam-se pedidos de familiares para encontrar parentes com os quais n�o conseguiram contato at� agora.
"Passamos por todos os abrigos e tentamos entender a necessidade de cada um deles. Tamb�m usamos as redes sociais para encontrar essas pessoas".
Sem poder voltar ao interior onde estudam, devido ao bloqueio da maior parte das rodovias que d�o acesso ao litoral norte de S�o Paulo, Camilla e as amigas concordaram que v�o permanecer na regi�o at� o fim da semana ajudando nos esfor�os de mobiliza��o.
- Este texto foi publicado em
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn34e1plr9xo