
Resgatados em uma opera��o mobilizada por MTE (Minist�rio do Trabalho e Emprego), MPT-RS (Minist�rio P�blico do Trabalho do Rio Grande do Sul), Pol�cia Federal, Pol�cia Rodovi�ria Federal na noite de quarta-feira (22/2), os homens que trabalhavam na colheita da uva em Bento Gon�alves (RS) em regime an�logo � escravid�o relatam ter sido enganados e submetidos a uma rotina de explora��o e horrores.
Desde o resgate pelas autoridades, eles foram alojados no gin�sio municipal da cidade tur�stica da serra ga�cha, onde seriam identificados para, segundo o MTE, receberem o pagamento da empresa que os contratou, os respectivos valores referentes a direitos trabalhistas e transporte de volta para casa. Eles tamb�m receber�o tr�s parcelas do seguro desemprego.
No gin�sio, eles relataram terem sido ludibriados com propostas de emprego tempor�rio com pagamento de R$ 4 mil, alojamento e refei��es. Alguns receberam a proposta encaminhada por redes sociais por parentes e conhecidos. Outros teriam sido aliciados.
Desde a chegada, no in�cio de fevereiro, eles se viram alojados em quartos apertados em uma pousada no bairro Borgo e submetidos a uma rotina de trabalho di�rio das 5h �s 20h na colheita da uva, com folgas somente aos s�bados.
Os trabalhadores relataram ser vigiados e intimidados por seguran�as armados, o que inclu�a serem retirados da cama com uma arma de choque e constantemente xingados por serem baianos. Eles contaram ainda que a comida oferecida era estragada e, caso quisessem comprar outros alimentos, s� poderiam faz�-lo em um mercadinho a poucos metros dali, que praticava pre�os superfaturados. Nesse caso, o valor seria descontado do valor da remunera��o ao final do trabalho.
Caso quisessem deixar o local, eram impedidos pelos seguran�as por estarem em d�vida com o empregador pelo alojamento e pelo transporte. O somat�rio das pr�ticas levou o MPT-RS a classificar a pr�tica como um caso an�logo � escravid�o e a opera��o que as interrompeu como um resgate.
O caso foi descoberto quando seis homens conseguiram fugir. Tr�s foram a Caxias do Sul e tr�s para Porto Alegre, cidades em que procuraram a Pol�cia Rodovi�ria Federal e denunciaram o caso.
O empres�rio Pedro Augusto Oliveira Santa, respons�vel pelas empresas F�nix Servi�os de Apoio Administrativo e Oliveira & Santana, foi preso e libertado mediante pagamento de fian�a de R$ 39.060.
Conforme os trabalhadores relataram aos investigadores, eles prestaram servi�os a tr�s vin�colas locais: Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton. Conforme o MPT-RS, ap�s o pagamentos aos trabalhadores das verbas rescis�rias e do transporte para a cidade de origem, a institui��o vai trabalhar na responsabiliza��o da cadeia produtiva.
Em nota de esclarecimento � imprensa, a F�nix declarou que "os graves fatos relatados pela fiscaliza��o do trabalho ser�o esclarecidos em tempo oportuno, no decorrer do processo judicial".
A vin�cola Aurora, tamb�m por meio de nota � imprensa, disse que "se solidariza com os trabalhadores e refor�a que n�o compactua" ao que eles foram submetidos. Segundo o texto divulgado, a vin�cola contrata, no per�odo sazonal da colheita, "trabalhadores terceirizados, devido � escassez de m�o de obra na regi�o" e que repassava R$ 6.500 � terceirizada por m�s por cada trabalhador.
A Cooperativa Garibaldi, em nota, disse que desconhecia a situa��o relatada e que, diante do apurado, encerrou o contrato com a empresa para a presta��o de servi�o de descarregamento de caminh�es, mas que "seguia todas as exig�ncias contidas na legisla��o vigente".
O texto diz ainda que a cooperativa "reitera seu compromisso com o respeito aos direitos –tanto humanos quanto trabalhistas – e repudia qualquer conduta que possa ferir esses preceitos".
J� a Salton, tamb�m em nota, disse que "a empresa n�o possui produ��o pr�pria de uvas na Serra Ga�cha, salvo poucos vinhedos [...] manejados por equipe pr�pria", mas que tinha contrato com sete trabalhadores da empresa em cada turno para o descarregamento de carga. Diante do relatado pela imprensa, disse que "n�o compactua com estas pr�ticas e se coloca � disposi��o dos �rg�os competentes para colaborar com o processo".
O caso em Bento Gon�alves levou a Uvibra (Uni�o Brasileira de Vitivinicultura) a emitir nota dizendo n�o tolerar, "sob qualquer circunst�ncia, as condi��es de trabalho e de habita��o oferecidas por esta empresa prestadora de servi�o".
A entidade admitiu que, embora as vin�colas n�o fossem as empresas empregadoras, "existe amplo consentimento de que a cadeia vitivin�cola deve ser mais vigilante e austera com rela��o � contrata��o de servi�os terceirizados." A Uvibra tamb�m se colocou � disposi��o para participar de um colegiado com autoridades e sindicatos para fiscalizar a quest�o dos servi�os tempor�rios.