
"Agrade�o a Deus por todos os momentos que vivi com o meu filho. A partir de hoje, a mem�ria dele vai ser honrada no meu cora��o." Com essas palavras, Bruno Bride expressou a dor de perder o filho Bernardo Machado em um ato de viol�ncia que chocou o Brasil. "Vou honrar a mem�ria do meu filho todos os dias, fazer valer a pena todos os momentos. Pe�o que Deus conforte meu cora��o e de todas as fam�lias", acrescentou Bride, nas proximidades da creche Cantinho Bom Pastor, localizada na Rua dos Ca�adores, bairro Velha.
Na manh� desta quarta-feira (5/4), a cidade catarinense de Blumenau, situada no Vale do Itaja�, foi cen�rio de uma trag�dia. Um homem de 25 anos invadiu o estabelecimento educacional e, armado de uma machadinha, come�ou a desferir golpes nas crian�as. Morreram no ataque Bernardo Cunha Machado, 5 anos; Bernardo Pabest da Cunha, 4 anos; Larissa Maia Toldo, 7 anos; e Enzo Marchesin Barbosa, 4 anos.
Outras cinco crian�as ficaram feridas. Quatro foram atendidas no Hospital Santo Ant�nio. Entre elas, est�o duas meninas de 5 anos, um menino de 3 anos, e um de 5 anos. Segundo a equipe m�dica, elas passaram por cirurgia e est�o com o quadro de sa�de est�vel. "Elas foram atendidas pela equipe de urg�ncia e emerg�ncia e as fam�lias est�o recebendo apoio da equipe multiprofissional da institui��o", informou o hospital, em nota. Uma quinta crian�a, com ferimentos leves, foi levada pela m�e para o Hospital Santa Isabel, segundo informa��es divulgadas pela prefeitura de Blumenau.
A trag�dia poderia ser ainda pior n�o fosse a iniciativa de uma funcion�ria da creche Cantinho Bom Pastor. Professora do maternal, Simone Aparecida Camargo estava se preparando para conduzir os pequenos para o banho de sol no p�tio da creche. Mas, ao ser alertada sobre o ataque, agiu r�pido. "Eu tranquei os beb�s em uma sala e me tranquei com eles. Na hora que sa�, ele (o criminoso) j� n�o estava mais", relatou.
Simone reconstitui os momentos de desespero. "Minha parceira de sala chegou correndo dizendo 'fecha a porta, fecha a janela porque um cara assaltou o posto", contou. "Pensamos que era um assalto porque ele invadiu a escola, s� que fechei os beb�s no banheiro, depois vieram na porta dizendo que ele 'veio matando'", lembrou.
At� o fechamento desta edi��o, n�o havia informa��es sobre um eventual v�nculo entre o autor e o local onde ocorreu o ataque. Segundo o chefe da Pol�cia Civil de SC, delegado Ulisses Gabriel, o suspeito se entregou logo depois da a��o.
A creche Cantinho Bom Pastor � uma institui��o privada, sem conv�nio com a prefeitura, e atende cerca de 220 crian�as. Demais escolas p�blicas e particulares na cidade tiveram as aulas interrompidas por tempo indeterminado. As festividades da P�scoa no munic�pio tamb�m foram canceladas.
O delegado Ulisses Gabriel afirmou que � preciso ampliar as a��es de car�ter preventivo para evitar novos ataques como o de hoje. Ulisses disse tamb�m que a pol�cia "quer identificar se mais algu�m participou, como ele tramou esse plano, onde ele obteve informa��es".
"Falhamos"
Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, decretou luto oficial de tr�s dias no estado. Ele usou as redes sociais para lamentar o epis�dio. "� com enorme tristeza que recebo a lament�vel not�cia de que a creche particular Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, foi invadida por um assassino que atacou crian�as e funcion�rios. Infelizmente quatro n�o resistiram e morreram, al�m de tr�s feridos. Determinei imediatamente a a��o das nossas for�as de seguran�a, que j� est�o no local. Tamb�m decretei luto oficial de tr�s dias. O assassino j� est� preso. Deixo aqui a minha total solidariedade. Que Deus conforte o cora��o de todas as fam�lias neste momento de profunda dor", escreveu.
A prefeitura da cidade vai instalar um comit� de crise para acompanhar o caso e delimitar as a��es. Segundo o prefeito M�rio Hildebrandt, o foco do governo ser� o atendimento e apoio �s fam�lias das v�timas.
A trag�dia em Blumenau tamb�m abalou autoridades em Bras�lia. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, em participa��o em um evento da pasta, lamentou o epis�dio. Falando de improviso, disse que "n�o estava feliz" e fez um desabafo. "Um pa�s - um mundo, n�? - que mata crian�as � tudo menos democracia. � tudo menos um mundo decente", afirmou.
"Senhoras e senhores, n�s estamos falhando miseravelmente com as crian�as e com os adolescentes. N�s estamos falhando miseravelmente com as pessoas que mais precisam de n�s neste pa�s, e n�s temos que admitir isso pra poder dar um passo � frente", completou o ministro.
Ariel de Castro Alves, Secret�rio Nacional dos Direitos da Crian�a e do Adolescente, defende que o uso inadequado da internet fomenta cen�rios como esse. "Algumas p�ginas e chats se tornaram espa�os de fomento ao �dio, viol�ncia, discrimina��o e intoler�ncia", afirma. O secret�rio tamb�m lamentou as mortes e disse que "temos o desafio de construir um pa�s sem viol�ncia ou qualquer tipo de viola��o".
Na noite desta quarta, moradores de Blumenau foram � creche Cantinho Bom Pastor para render homenagem �s v�timas. Segundo informa��es do portal NSC Total, deixaram velas e flores diante do educand�rio no bairro Velha enquanto rezam.
Em determinado momento, populares rezaram pelas v�timas e fam�lias, de m�os dadas em uma roda. Mariana Ludwig, coordenadora pedag�gica da Escola Alberto Stein, participou da homenagem. Uma das crian�as assassinadas na escola fazia o contraturno escolar no CEI.
"Eles s�o nossos pilares, nosso futuro. A gente precisa proteg�-los da melhor forma poss�vel", pediu.
Delegado v� caso isolado; m�dia global destaca maior frequ�ncia
O delegado Ulisses Gabriel afirmou que o massacre da Creche Cantinho Bom Pastor se trata de um caso isolado. Ele negou que o indiv�duo fizesse parte de um grupo coordenado de ataques a unidades educacionais. Segundo a pol�cia, o suspeito tem passagens por porte de droga e tentativa de homic�dio contra o padrasto. Ele ser� indiciado por quatro homic�dios triplamente qualificados e tr�s tentativas de homic�dio triplamente qualificadas. "A situa��o � de caso isolado. N�o tem rela��o com outras pr�ticas criminosas e n�o � um fato coordenado, seja por jogo, seja por rede social, seja por meio de conversas e negocia��es entre criminosos", disse Gabriel.
O comandante-geral da Pol�cia Militar, Aur�lio Jos� Pelozato da Rosa, garantiu que a corpora��o iniciou a��es de seguran�a nas unidades de ensino do estado. Uma das iniciativas � colocar o Programa de Resist�ncia �s Drogas e � Viol�ncia (Proerd) no hor�rio de entrada dos alunos, para que os policiais fa�am a entrada na unidade com os estudantes.
Outra a��o � o retorno de policiais da reserva para patrulhamento. Al�m disso, a prefeitura inicia nesta quinta (6/4) reuni�es com diretores de escolas p�blicas e privadas para aumentar a seguran�a no ambiente educacional. "Queremos somar for�as nas estrat�gias de seguran�a e resposta para essas e outras situa��es que possam acontecer em ambiente escolar", declarou. As aulas est�o suspensas na rede p�blica e particular blumenauense at� segunda-feira.
O ataque foi destaque nos principais jornais do mundo. As reportagens ressaltam que esse tipo de crime em escolas come�a a ser comum no pa�s.
A ag�ncia americana Associated Press informa que o ataque chocou o Brasil e colocou press�o nas autoridades para conter a onda crescente de viol�ncias nas escolas do pa�s.
O ingl�s The Guardian indica que "ataques a escolas no Brasil t�m acontecido com maior frequ�ncia nos �ltimos anos" e relembra o caso em S�o Paulo, na semana passada, com a morte de uma professora de 71 anos.
O norte-americano Washington Post aponta que, de 2000 at� 2022 o Brasil registrou 16 ataques violentos contra escolas, sendo quatro deles apenas no segundo semestre do ano passado.
O italiano Corriere Della Sera destaca que o ataque aconteceu menos de 10 dias ap�s um adolescente esfaquear a professora em S�o Paulo.
A R�dio Fran�a Internacional destacou a fala do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Ele disse que "um pa�s que mata crian�as � tudo menos democracia".
(Colaboraram Henrique Lessa e Raphael Pati - estagi�rios sob supervis�o de Carlos Alexandre de Souza)
