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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

No Xingu, 200 �rvores foram desmatadas por minuto no governo Bolsonaro, diz estudo

Regi�o concentra 5 dos 6 territ�rios ind�genas mais desmatados da Amaz�nia Legal, Apyterewa, Cachoeira Seca, Ituna-Itat�, Trincheira-Bacaj� e Kayap�


27/04/2023 10:29 - atualizado 27/04/2023 11:39

Queimada em área desmatada para formação de pasto dentro da Terra Indígena Trincheira Bacajá, na região de São Félix do Xingu, no sudoeste do estado do Pará
Queimada em �rea desmatada para forma��o de pasto dentro da Terra Ind�gena Trincheira Bacaj�, na regi�o de S�o F�lix do Xingu, no sudoeste do estado do Par� (foto: Lalo de Almeida/Folhapress)
Durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), a bacia do Xingu, casa de 26 povos ind�genas, registrou mais de 730 mil hectares de floresta desmatada -uma �rea quase do tamanho da Grande S�o Paulo.

Isso equivale a uma m�dia de 200 �rvores derrubadas a cada minuto, de acordo com o estudo Xingu Sob Press�o, elaborado pelo ISA (Instituto Socioambiental) com base em imagens de sat�lite e an�lise de dados geogr�ficos.

A regi�o concentra cinco dos seis territ�rios ind�genas mais desmatados da Amaz�nia Legal: os territ�rios de Apyterewa, Cachoeira Seca, Ituna-Itat�, Trincheira-Bacaj� e Kayap�.

A regi�o � alvo de press�o de grandes obras -a rodovia BR-163, a usina de Belo Monte e a poss�vel Ferrogr�o (projeto de ferrovia para ligar o Centro-Oeste aos rios da Amaz�nia)- e da atua��o de criminosos ambientais, como grileiros, garimpeiros e madeireiros.

Na Apyterewa, no Par�, a lideran�a Venatoa Parakan�, 32, diz que as fazendas j� avan�aram t�o profundamente no territ�rio que h� inclusive gado vivendo em uma das aldeias de seu povo. Segundo ela, � comum ind�genas se depararem com rebanhos.

"Os invasores est�o praticamente dentro da aldeia Pared�o, e j� tem fam�lia que j� est� saindo de l� por falta de alimento, ca�a, pesca. Porque n�o tem mais onde ca�ar, s� tem fazenda, e peixe n�o tem como pescar porque a �gua est� polu�da. S� restaram quatro, cinco fam�lias. No in�cio do ano havia por volta de 15", afirma Venatoa, recentemente eleita a primeira mulher presidente da Associa��o Tatoa, do povo Parakan�.

Ela diz que ainda sofre com a resist�ncia dos homens de sua etnia e conta que em junho viajar� para a Alemanha, para participar de um evento das Na��es Unidas. Sua inten��o � expor a situa��o do Xingu e buscar recursos para auxiliar a prote��o dos povos.

"Quando crian�a, eu nunca tinha visto fazendeiros, a gente nem ouvia falar. �amos com nossos pais passar tr�s semanas no mato. Hoje em dia � muito dif�cil passar esse tempo todo no mato. Os fazendeiros constru�ram vilas com posto de gasolina, cabar�s, tudo. S� falta um banco", diz.

A principal vila � a Renascer, criada em 2016 dentro do territ�rio e que conta com ampla estrutura e at� um hotel.

Mesmo homologada em 2007, a TI (Terra Ind�gena) Apyterewa viu um exponencial crescimento da destrui��o. Em 2022, foram 8.916 hectares de floresta derrubada, mais que o dobro que os 4.228 de 2018. Atualmente, � o territ�rio mais desmatado da Amaz�nia.

Venatoa diz que fazendeiros j� ofereceram dinheiro e viagens a caciques da regi�o para que os ind�genas deixassem de oferecer resist�ncia aos invasores. N�o que n�o tenham feito amea�as.

A �ltima foi no in�cio do ano. "Estamos com medo, a gente n�o sabe o dia de amanh�. Quando a gente recebe a amea�a, a gente fica pensando o que pode acontecer", completa.

As cinco terras ind�genas de maior desmatamento da bacia do Xingu correspondem a 60% da destrui��o de floresta da Amaz�nia. Entre 2018 e 2022, a derrubada de �rvores cresceu quase 40%.

Em Ituna-Itat�, pequeno territ�rio ao norte do Xingu que ainda n�o teve sua portaria homologada --atualmente, tem apenas uma portaria de restri��o de uso--, o �ndice cresceu 303% apenas de 2021 para 2022.

O territ�rio fica na regi�o de Altamira, regi�o dominada por pol�ticos ligados ao garimpo e � extra��o ilegal de madeira.

A bacia do Xingu, ali�s, � rodeada por rodovias. Segundo o estudo, desde 2018, foram abertos mais de 5.700 km de ramais ilegais saindo das estradas e adentrando os territ�rios.

Tamb�m � na regi�o do Xingu que fica a usina de Belo Monte. Sua constru��o foi o estopim para a sa�da de Marina Silva do governo Lula, em 2008. De volta ao minist�rio do Meio Ambiente, a renova��o da licen�a da hidrel�trica ficar� a cargo do atual governo.

O estudo ainda destaca a situa��o da Terra Ind�gena Trincheira-Bacaj�, que atualmente tem fluxo de invas�es cont�nuas vindas do norte, noroeste e, principalmente, ao sudeste.

Bebere Xikrin, 36, lideran�a da regi�o e morador da aldeia Kenkro, a mais ao sul do territ�rio, afirma que j� foram inclusive destru�das pontes usadas pelos criminosos -mas que elas foram, posteriormente, reconstru�das.

"Nosso medo � o pessoal atacar nossa aldeia, porque � a mais pr�xima, fica a 3 km em linha reta das �reas de invas�o. Ano passado j� fomos v�timas de amea�as", diz.

Nos quatro anos de governo Bolsonaro, a TI viu 3.880 hectares desmatados ao norte e ao nordeste; ao sul, foram 5.561 hectares. No sudoeste, a invas�o come�ou com uma estrada ilegal constru�da em 2019 e j� soma mais de 1.000 hectares de floresta derrubada.

Como mostrou a Folha, na regi�o de S�o F�lix do Xingu, justamente no sudoeste da TI, uma opera��o da Pol�cia Federal teve negado o apoio por parte das For�as Armadas e ficou marcada por tumulto e bloqueio de estradas feito por pessoas que estavam no territ�rio; pela aus�ncia de direcionamento �s fam�lias, que ficaram pelas vilas vizinhas; e pela retirada, sem apreens�o, de cabe�as de gado usadas por grileiros para dominar a regi�o.

A terra ind�gena � uma das sete nas quais o ministro do Supremo Tribunal Federal Lu�s Roberto Barroso ordenou que sejam feitas opera��es para a expuls�o de invasores.

A PF e a For�a Nacional promoveram a retirada de cerca de 200 fam�lias de posseiros do territ�rio e de cerca de 600 cabe�as de gado.

"No sudeste da Trincheira-Bacaj�, na d�cada de 1980, 1990, havia invasores. Desde ent�o, eles foram retirados e assentados. Agora, eles voltaram, desde 2017, na mesma �rea que era, daquela mesma �poca", completa Bebere sobre a piora da situa��o no territ�rio onde vive o seu povo.

O projeto Planeta em Transe � apoiado pela Open Society Foundations.


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