A Pol�cia Federal abriu um inqu�rito para investigar se houve tr�fico humano. Ainda na noite de ter�a-feira, ap�s 25 horas de viagem, Mois�s deu depoimento � PF por 2 horas e 40 minutos e participou de uma oitiva com representantes do Minist�rio do Trabalho e da Defensoria P�blica da Uni�o.
Mois�s, que joga como atacante, estava atuando pelo �gua Santa, de Diadema (SP), no Campeonato Paulista Sub-20, quando foi procurado por um empres�rio chamado Wilson Tuia, que ele havia conhecido em uma peneira ao final de 2020. Tuia tem uma empresa e teria oferecido um contrato com o Al Rams Club, dos Emirados �rabes.
A Folha de S.Paulo tentou contato com o clube, mas n�o obteve retorno. Os empres�rios Tuia, que teria mediado a transa��o, e Michel Mrad, que hospedou Mois�s em Dubai e tem uma f�brica de cosm�ticos, alegam que o jogador sabia do teor exato da proposta -na verdade, uma peneira- e que ele escolheu ficar no pa�s por conta pr�pria ap�s ser dispensado.
"Ele [Tuia] entrou em contato comigo dizendo que eu tinha uma chance em Dubai. Que a oportunidade era �nica. Chance de carro, casa, dinheiro. Uma vida literalmente de xeique. Mas que eu n�o poderia meter empres�rio no meio e nem o clube em que eu estava. Que eu seria contratado e que, se eu n�o fosse [para Dubai], eu seria muito bobo", disse Mois�s.
Apesar do conselho de Tuia, Mois�s disse que comunicou ao seu empres�rio � �poca, Rog�rio S�rgio Coutinho, e a um parente sobre a viagem, mas n�o ao �gua Santa. �s v�speras de um jogo, em julho de 2022, Mois�s fugiu do clube. Aos colegas que o procuraram por WhatsApp, disse que tinha voltado ao Rio Grande do Sul, sua terra natal, para ver a av�.
Contatado pela Folha, Coutinho disse que tentou demover Mois�s da ideia e se prontificou a falar com o �gua Santa para tentar uma sa�da amig�vel, mas o jogador j� estava decidido. O empres�rio disse que considerou o contrato entre os dois rompido.
Mois�s chegou a ter o embarque barrado duas vezes no Aeroporto de Guarulhos por quest�es de visto. Conseguiu embarcar ao trocar de companhia a�rea e ter em m�os uma passagem de volta -nunca utilizada- para uma semana ap�s a ida. As passagens foram compradas por um amigo de Tuia.
Uma vez em Dubai, Mois�s conta que ficou hospedado em um hotel do Al Rams, mas diz que n�o havia contrato algum, apenas uma peneira com dezenas de jogadores de outras nacionalidades. Cerca de dois meses de treinos depois, ele teria sido dispensado ap�s passar mal ap�s um treino por ter c�imbras.
Ap�s ser cortado, Mois�s disse que foi convencido por Michel a ficar ao menos mais um m�s nos Emirados �rabes fazendo novas tentativas em outros clubes. Ficaria hospedado em sua casa junto com outro brasileiro que estava na mesma condi��o, chamado Othavio.
Mois�s chegou a fazer peneiras de um dia em tr�s outros clubes, dois nos Emirados �rabes e um em Om�. Michel, ent�o, teria acenado com uma proposta de emprego dizendo que, se o atleta n�o gostasse, pagaria a passagem para ele voltar.
Na f�brica, Mois�s afirma que as jornadas de trabalho eram das 7h �s 22h e que ele trabalhava descarregando ou embarcando mercadorias. Nesse tempo, recebia apenas algum dinheiro quando tinha despesa pessoal, mas nunca um sal�rio. Isso durou cerca de sete meses. Em troca da hospedagem, seria respons�vel tamb�m por tarefas dom�sticas.
Em determinado momento, Michel teria dito que se Mois�s quisesse voltar, deveria acionar Tuia ou Marcelo para bancar seu retorno. O jogador, ent�o, entrou em contato com um parente no Brasil para tentar viabilizar seu resgate. Um dos contatos feitos pelo familiar foi com a Comiss�o de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do RS, que acionou o Itamaraty em 30 de mar�o.
Em 21 de abril, ap�s uma discuss�o, Mois�s diz ter pego parte dos seus pertences e embarcado em um �nibus sem pagar para Porto Rashid, onde parou em uma esta��o e pediu a um policial que fizesse contato com a embaixada do Brasil. J� a par do caso, a embaixada enviou uma servidora para resgat�-lo.
O retorno do jogador esbarrou ainda na portaria 402/2022, que pro�be que o governo arque com multas de brasileiros que est�o em situa��o ilegal em outros pa�ses. No caso de Mois�s, a multa de R$ 10 mil foi paga por uma vaquinha mobilizada pela deputada estadual Laura Sito (PT).
Contatados pela Folha, Wilson Tuia e Michel Mrad contam vers�es que divergem da de Mois�s. Tuia admite ter sido o porta-voz do interesse do Al Rams, mas alega que Mois�s estava ciente de que a oportunidade no time �rabe era apenas um teste e nega ter aconselhado o jogador a n�o comunicar seu clube. Diz ter indicado Mois�s por acreditar legitimamente que se tratava de um jogador diferenciado.
Michel admite ter hospedado Mois�s, a quem chama de "ingrato", mas nega ter feito qualquer tipo de intermedia��o ou tradu��o entre ele e o Al Rams. Disse que acolheu o jogador a pedido de Othavio, que segue morando com ele, e que j� havia acolhido anteriormente outros brasileiros, mas por solidariedade.
Sobre o trabalho de Mois�s em sua f�brica, Michel diz que o jogador apenas o acompanhou "quatro ou cinco vezes, se muito", mas sem ter trabalhado. Nega ainda ter feito proposta de emprego, ter levado o jogador a peneiras ou prometido a passagem de volta. Ele e Tuia admitem se conhecer, mas ambos negam qualquer associa��o entre eles.