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Estado de Minas MEDICINA

A falta cr�nica de cad�veres que prejudica forma��o de m�dicos no Brasil

Universidades brasileiras buscam conscientizar a popula��o sobre a import�ncia de doar corpos � ci�ncia


07/06/2023 20:00 - atualizado 08/06/2023 09:42
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Alunos de medicina da UFJF dissecando - a foto tem foco nas mãos e não mostra a peça humana
(foto: UFJF)

"Voc� prefere ser operado por um m�dico que dissecou um cad�ver ou por aquele que apenas estudou em pe�as sint�ticas?"

O questionamento feito por Erivan Fa�anha, professor de Anatomia na Universidade Federal do Cear� (UFC), tem por tr�s uma realidade compartilhada por muitas institui��es com cursos de Medicina do Brasil: a escassez de cad�veres para ensino e pesquisa.

Esse � um problema cr�nico que prejudica o aprendizado dos alunos em boa parte das melhores universidades do pa�s, como mostra um levantamento feito pela BBC News Brasil.

Foram procuradas as 30 universidades mais bem avaliadas no ranking Universit�rio da Folha (RUF) 2019 - a edi��o mais recente. Todas s�o p�blicas.

Esse ranking foi escolhido em vez da avalia��o dos cursos feita pelo Minist�rio da Educa��o (MEC), que avalia as institui��es com base no desempenho dos alunos por meio de uma prova) porque algumas universidades, como � o caso da Universidade de S�o Paulo (USP), por exemplo, optam por n�o fazer o exame.

Al�m disso, o RUF avalia as universidades de forma mais ampla, com base em cinco aspectos: pesquisa, ensino, mercado, internacionaliza��o e inova��o.

No total, 26 responderam � consulta sobre se cad�veres s�o usados nas aulas e de qual forma, e tamb�m se o n�mero de exemplares dispon�veis � suficiente.

Mais da metade delas, 17 ao todo, afirmaram que enfrentam uma falta de corpos para estudo e pesquisa, e apenas duas disseram que a quantidade de cad�veres que t�m � disposi��o � satisfat�ria.

Outras sete relataram que n�o t�m esse problema porque ainda est�o montando um programa de anatomia ou porque a pr�pria institui��o n�o teria condi��es de mant�-los em boas condi��es para uso.

O ensino de anatomia na pr�tica, cortando camadas, identificando estruturas e �rg�os em um cad�ver, � uma experi�ncia considerada insubstitu�vel por professores e m�dicos experientes.

Mas � algo dif�cil de ser feito nas universidades de Medicina brasileiras.

A maioria das institui��es consultadas relata que faltam corpos suficientes para disseca��o h� anos e que o problema � dif�cil de solucionar, porque faltam recursos para preservar os cad�veres e, principalmente, doa��es pela sociedade civil - uma pr�tica que ainda � pouco difundida no Brasil.

"Alguns alunos optam, inclusive, por cursos fora do pa�s buscando essa op��o. Estados Unidos e Canad� s�o alguns dos destinos mais procurados", diz Kennedy Martinez de Oliveira, professor de anatomia humana da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Quando n�o h� cad�veres suficientes para a dissec��o, professores buscam as op��es mais pr�ximas para oferecer uma experi�ncia mais fiel nas aulas de anatomia.

"A pr�tica de disseca��o, que � primordial para a anatomia topogr�fica, fica deficit�ria em nossas aulas. Temos alguns modelos sint�ticos e usamos pe�as cadav�ricas", diz C�lia Regina de Godoy Gomes, professora de Anatomia Humana do Departamento de Ci�ncias Morfol�gicas da Universidade Estadual de Maring� (UEM).

Por que faltam cad�veres?

Cad�veres n�o reclamados por fam�lias de uma pessoa morta em at� 30 dias depois do �bito eram no passado a forma mais comum de doa��o para uso de corpos no ensino e pesquisa. Isso supria as necessidades de boa parte das institui��es.

Hoje, j� n�o � mais t�o comum ter corpos n�o reclamados, explica Daniel Martinez Saez, professor do departamento de Medicina da Universidade Federal de Lavras (UFLA), uma das universidades que relatam ter poucos cad�veres � disposi��o dos alunos.

Sae diz que isso ocorre porque novas tecnologias ajudam atualmente na identifica��o dos corpos por familiares.

Na cidade de S�o Paulo, por exemplo, o Servi�o Funer�rio do Munic�pio e o Instituto M�dico Legal (IML) enviam uma lista de corpos n�o identificados ao Di�rio Oficial municipal, que pode ser consultado pela internet.

H� tamb�m uma p�gina online do Programa de Localiza��o e Identifica��o de Desaparecidos (PLID), banco nacional que que sistematiza dados a pol�cia, do IML e de boletins de ocorr�ncia, contribuindo para localiza��o e identifica��o de pessoas.

A imprensa e as redes sociais tamb�m acabam ampliando o alcance dessas publica��es e ajudando para que cheguem a familiares dos mortos.

Outro ponto, segundo Saez, que levou a um uso menos frequente destes cad�veres � que os tr�mites burocr�ticos para sua libera��o para as institui��es de ensino s�o demorados, e o tempo � um fator importante para que os corpos possam ser devidamente preparados e conservados.

"Por fim, existe uma tend�ncia mundial de n�o recebimento de corpos por essa via, sendo j� proibido em alguns pa�ses, por uma quest�o �tica", afirma Saez.

No Brasil, a lei 8.501, de 1992, prev� que, seguindo uma s�rie de tr�mites legais, estes corpos podem ser destinados para universidades p�blicas.

Algumas institui��es, seguindo a legisla��o, t�m parcerias com a pol�cia e institui��es como o IML, que existe em diferentes Estados e munic�pios do Brasil e � respons�vel por realizar exames e per�cias m�dico-legais.

A lei n�o permite a doa��o do corpo em casos de suic�dio ou quando a causa da morte � violenta, porque levar o corpo para o laborat�rio poderia destruir provas de um crime.

"Essa lei ainda est� em vigor, mas a quest�o �tica tem se sobressa�do", avalia o professor da UFLA.


Peças demonstrativas humanas no laboratório da UFJF
Pe�as demonstrativas humanas no laborat�rio da UFJF (foto: UFJF)

Na Universidade Federal de Sergipe (UFS), por exemplo, a �ltima doa��o de cad�ver por meio do IML foi feita h� pelo menos cinco anos, diz Jos� Aderval Arag�o, coordenador do programa de doa��o volunt�ria da institui��o. Isso fica muito aqu�m do necess�rio.

A UFS, explica Arag�o, conseguiu nos �ltimos anos algumas doa��es de fetos por meio de maternidades (e com a autoriza��o dos pais), mas ele diz que o ensino da anatomia em corpo humano adulto ainda est� prejudicada.

"O n�mero ideal por ano aqui, em virtude do n�mero de alunos que n�s temos na �rea de Sa�de, seria ao menos dez cad�veres por ano. J� supriria as nossas necessidades."

A isso se soma o grande aumento do n�mero de faculdades de Medicina no Brasil, o que tornou ainda mais dif�cil suprir a demanda por cad�veres para ensino e pesquisa.

Nos �ltimos dez anos, o MEC autorizou a cria��o de mais de 180 cursos nesta �rea, que hoje est�o dispon�veis em 388 universidades e faculdades.


Peças demonstrativas sintéticas no laboratório de anatomia da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Pe�as demonstrativas sint�ticas no laborat�rio de anatomia da UFJF (foto: UFJF)

Poucas doa��es

Uma alternativa para atender essa necessidade seria a doa��o volunt�ria de corpos para a ci�ncia.

Quem deseja fazer isso pode se registrar ainda em vida em programas do tipo mantidos por universidades ou informar parentes sobre seu desejo de participar para que eles fa�am a doa��o.

O levantamento mais recente feito pela Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre (UFCSPA) aponta que existem hoje 39 destes programas no Brasil.

"Ainda � pouco para a quantidade de institui��es com cursos da �rea de Sa�de, mas, se observarmos que a maioria surgiu nos �ltimos anos, considero que � um dado positivo", diz Andrea Oxley, professora de Medicina da UFCSPA.

Esses programas s�o considerados hoje a melhor forma de suprir a escassez de cad�veres, mas professores de Medicina ouvidos pela BBC News Brasil dizem que o n�mero de doa��es ainda � baixo.

O programa da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes) existe desde 2019, por exemplo. Desde ent�o, a institui��o recebeu apenas seis cad�veres.

"Al�m disso, temos cadastrados cerca de 50 futuros doadores. Esse n�mero � ainda muito t�mido, mas estamos extremamente gratos pelo que conseguimos", diz o professor Ricardo Eust�quio da Silva, coordenador do projeto de doa��o de corpos da Ufes.


Montagem de crânio dissecado feito por alunos da Universidade Estadual de Maringá
Montagem de cr�nio dissecado feito por alunos da Universidade Estadual de Maring� (foto: Reprodu��o Instagram/@anatouem.dcm)

Isso ocorre n�o porque o assunto seja um tabu, diz Oxley, mas porque essa possibilidade ainda n�o � t�o conhecida na sociedade.

"Faltam doa��es. Mas n�o precisamos convencer ningu�m. Muitas pessoas se mostram dispostas a doar quando conhecem a possibilidade", diz Oxley, que � secret�ria da Sociedade Brasileira de Anatomia.

"N�o precisamos que todas as pessoas doem, s� aquelas que t�m vontade. Isso j� seria o suficiente para todas as universidades."

Esse problema se agrava nas universidades que ficam fora dos grandes centros urbanos brasileiros.


Imagem do interior de um crânio, exibida no museu de Anatomia e Plastinação da UFC
Imagem do interior de um cr�nio, exibida no museu de Anatomia e Plastina��o da UFC (foto: UFC)

As universidades em regi�es metropolitanas, como � o caso de Porto Alegre e Belo Horizonte, onde funcionam dois dos maiores programas de doa��o volunt�ria do pa�s, da UFCSPA e UFMG, acabam se beneficiando, em compara��o �s institui��es em cidades pequenas, pela visibilidade destas iniciativas e maior n�mero de doadores em potencial.

"Belo Horizonte tem cerca de 6 milh�es de habitantes, � uma cidade grande. Entrevistas, campanhas de informa��o e o 'boca a boca' fizeram com que o projeto ficasse bem conhecido na regi�o", diz Kennedy Martinez, da UFMG, complementando que os mais de 20 anos do programa Vida Ap�s a Vida foi importante na sua consolida��o.

A falta de recursos das universidades p�blicas � outro fator que agrava esta situa��o, j� que o custo de manter um corpo na universidade � alto.

"Os laborat�rios s�o �midos e precisam ser mantidos sempre em condi��es t�rmicas espec�ficas. Os tanques de a�o inoxid�vel para armazenar os cad�veres s�o caros e exigem reparos frequentes. O l�quido utilizado, como o formol, precisa ser trocado regularmente e � t�xico, exigindo a limpeza do cad�ver e das vias a�reas de maneira cuidadosa. Al�m disso, � necess�rio bastante energia para otimizar o processo", diz Ricardo Eust�quio da Silva.

"As universidades federais tiveram um enorme corte de verbas nos dois �ltimos governos. Passamos por per�odos muito complicados, onde muitas vezes n�o havia verba suficiente nem para a limpeza dos laborat�rios."

H� tamb�m, explica o professor, quest�es de descarte, exigindo c�maras de coleta e empresas especializadas.

"Devido a esses altos custos e log�stica complexa, muitas universidades e faculdades optam por solu��es sint�ticas para o ensino, apesar de saberem do preju�zo que isso acarreta no aprendizado do aluno."

O MEC n�o respondeu ao contato da reportagem para comentar sobre os cortes e falta de recursos.

Os professores ouvidos pela BBC News Brasil ressaltam que doar um corpo n�o impede que os familiares fa�am as devidas homenagens, como realizar um vel�rio, por exemplo.

Ap�s estas cerim�nias, o transporte do corpo fica a cargo da institui��o de ensino que vai receb�-lo, e n�o h� nenhum custo para a fam�lia.

A doa��o do corpo para a ci�ncia tamb�m n�o impossibilita que os �rg�os sejam doados para quem precisa deles.

Mesmo que isso ocorra, o corpo doado sem os �rg�os pode ser valioso para o ensino da Medicina, porque outras estruturas biol�gicas, como art�rias, vasos e m�sculos, ainda podem ser estudadas. A viabilidade da doa��o, no entanto, � avaliada em cada caso.

Como forma de agradecimento, algumas universidades promovem homenagens �s fam�lias que decidiram contribuir desta forma.

Na UFCSPA, alunos do primeiro ano, que s�o os que mais utilizam os corpos para estudo, organizam, todos os anos, uma cerim�nia n�o religiosa como forma de homenagem, conta Oxley.

"Fazemos em um audit�rio para 200 pessoas que sempre fica lotado. � um momento emocionante de troca, e acredito que deixa as fam�lias mais tranquilas em rela��o � doa��o", diz a professora.


Homenagem dos alunos de Medicina da UFCSPA às famílias de doadores de corpos
Homenagem dos alunos de Medicina da UFCSPA �s fam�lias de doadores de corpos (foto: Andrea Oxley/UFCSPA)

O preju�zo causado pela falta de cad�veres

Mas por que um cad�ver � considerado insubstitu�vel no ensino da Medicina?

Os principais pontos que a disseca��o no corpo humano pode ensinar, de acordo com os especialistas, s�o:


  • Habilidades motoras;
  • �tica, empatia e respeito ao corpo do outro;
  • Identifica��o inequ�voca de estruturas do corpo humano (veias, art�rias, m�sculos);
  • Identifica��o de varia��es anat�micas;
  • Trabalho em grupo (como acontece em uma cirurgia).

"No Ocidente, � comum falarem que o cad�ver � o primeiro paciente. Gosto de usar a filosofia oriental, que trata o cad�ver como o primeiro professor", diz Saez.

Marcelo Silva, chefe da disciplina de Anatomia Descritiva da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp) afirma que o aluno pode deixar de ganhar habilidades importantes sem isso.

"Sem o cad�ver, o aluno perde habilidades de reconhecimento de varia��es anat�micas. Temos pessoas de diferentes estaturas, etnias, e em casos de enfermidades - tudo isso pode apresentar diferen�as estruturais. Se voc� usa um modelo padr�o, como um boneco ou pe�a sint�tica, perde essas caracter�sticas singulares", aponta Silva.

O aluno que estuda por meio de um corpo humano real, complementa Erivan Fa�anha, da UFC, tem uma oportunidade de aprendizado mais fidedigna ao que vai encontrar na profiss�o.

"N�o h� erro quando o aluno disseca e encontra uma art�ria, um nervo, um m�sculo… Diferente das pe�as sint�ticas, que eventualmente podem apresentar erros na sua elabora��o", diz Fa�anha.


projetos de extensão da Liga Acadêmica de Anatomia Humana da (UFOB) Universidade Federal do Oeste da Bahia, formado por estudantes do curso de medicina
Ensino de anatomia na pr�tica � considerado insubstitu�vel por professores (foto: UFOB)

Outro ponto importante � que isso j� � um treinamento para as habilidades motoras que a profiss�o vai exigir no futuro.

"O estudante que disseca um cad�ver ganha destreza. � o que queremos para um futuro cirurgi�o, que vai operar um de n�s ou nossos familiares. Al�m disso, essa experi�ncia pode despertar no estudante a voca��o para a habilidade cir�rgica em diferentes �reas", diz Fa�anha.

Andrea Oxley, da UFCSPA, aponta ainda que a experi�ncia de trabalhar com um cad�ver tamb�m � uma oportunidade de passar valores como �tica e profissionalismo aos alunos.

"Em algum n�vel, � como trabalhar com o paciente que est� em coma, em um estado de vulnerabilidade. Ensinamos o respeito com o corpo do outro - � uma quest�o de forma��o que voc� consegue trabalhar desde o in�cio", diz a professora.

"A empatia, fundamental para quem trabalha na �rea da sa�de, � exercitada quando o aluno se coloca no lugar daquela pessoa que doou, imaginar o tamanho do gesto e da fam�lia de, na hora do falecimento, respeitar a vontade do falecido em doar seu corpo."

Fa�anha acrescenta que a disseca��o de um cad�ver em grupo tamb�m possibilita um senso de parceria necess�ria na pr�tica m�dica.

"Cada um faz uma determinada tarefa. Um retira a pele, outro retira gordura, outro disseca uma regi�o espec�fica como o t�rax, o abd�men, o membro superior… Um depende do outro naquele momento."

Quais s�o as alternativas para a falta de cad�veres?

V�rias das universidades consultadas pela BBC News Brasil afirmaram que, sem ter corpos � disposi��o para a disseca��o, recorrem a exemplares de partes do corpo humano - as chamadas pe�as cadav�ricas - que s�o preservadas para serem usadas em demonstra��es em sala de aula.

S�o �rg�os como cora��o e c�rebro, por exemplo, que foram posteriormente dissecados por professores e ficam dispon�veis para que os alunos possam observar e identificar diferentes estruturas.

Mas tanto as pe�as quanto os cad�veres inteiros precisam ser substitu�dos com o tempo.

"Os nossos n�o est�o em bom estado para o desenvolvimento das atividades pr�ticas de ensino e pesquisa", explicou a ger�ncia de laborat�rios da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, � reportagem.

Procurada pela BBC News Brasil, a secretaria de Educa��o da Bahia disse apenas que as universidades t�m "autonomia".

Diante da falta de cad�veres para disseca��o, o uso de pe�as sint�ticas que simulam partes do corpo humano � uma alternativa para que o aprendizado de alunos dos cursos de Medicina e outras �reas da sa�de, como Odontologia, Fisioterapia e Biomedicina, n�o saia ainda mais prejudicado, diz Andrea Oxley.

"N�o � a minha opini�o, mas sim o que os trabalhos mostram: o aprendizado � melhor quando a gente utiliza corpos. Mas a maior parte das universidades n�o tem cad�veres suficientes para disseca��o, ent�o as pe�as demonstrativas entram como uma alternativa para tornar as aulas mais qualificadas", diz a professora.

Algumas universidades tamb�m fazem uso de sistemas virtuais, como � o caso da UFLA, onde os alunos t�m � disposi��o uma mesa multim�dia interativa em que diferentes �rg�os do corpo humano podem ser visualizados em tr�s dimens�es.

"Mas esses recursos tecnol�gicos tamb�m custam caro, porque geralmente s�o importados", diz o professor Daniel Martinez Saez.

Ainda assim, o uso destas alternativas n�o se equipara � disseca��o tradicional, avalia Oxley. "As pesquisas mostram que todos os outros meios, como softwares e diferentes modelos anat�micos, v�m para colaborar, mas n�o para substituir."


plataforma de anatomia 3D
170 cursos de medicina atendidos no Brasil usam recursos 3D para anatomia (foto: Csanmek)

Outra op��o, que ainda � uma sa�da distante para as universidades brasileiras, � a t�cnica chamada "fresh frozen".

Cada vez mais comum na Europa e nos Estados Unidos, ela envolve o congelamento de corpos logo ap�s a morte para serem dissecados depois.

Ela � uma alternativa melhor, em compara��o com a t�cnica tradicionalmente usada para conservar os corpos com formol, porque permite preservar mais as caracter�sticas do corpo humano.

Quando o corpo � mantido em subst�ncias qu�micas como o formol, parte das estruturas passam por degrada��o, diminuindo a semelhan�a com uma pessoa viva.

Os cad�veres preservados com fresh frozen ficam por sua vez praticamente intactos. Ao serem descongelados, � como se ainda estivessem vivos, at� mesmo sangrando.

Esse m�todo j� est� dispon�vel em alguns locais do Brasil. A UFMG � a �nica universidade p�blica do pa�s que possui c�maras adequadas para manter os corpos preservados com a t�cnica fresh frozen.

"A consist�ncia dos �rg�os, pele, sistemas e tecidos do cad�ver congelado permite a aplica��o de diversas t�cnicas, inclusive a simula��o de cirurgias", diz Kennedy Martinez de Oliveira, professor da UFMG.


O professor Kennedy Martinez, da UFMG, em frente à câmara de cadáveres frescos
O professor Kennedy Martinez, da UFMG, em frente � c�mara de cad�veres frescos (foto: Arquivo pessoal)

A t�cnica tamb�m � empregada em cursos privados, como os oferecidos no Instituto de Treinamento em Cad�veres (ITC) em seis cidades brasileiras.

Diferentemente do que acontece nas universidades, que congela os cad�veres que chegam de doa��es ou por n�o terem sido reclamados, o ITC importa cad�veres congelados dos Estados Unidos e pa�ses da Europa.

"Eles v�m armazenados em recipientes pr�prios para conserva��o t�rmica. No aeroporto realizamos toda a desburocratiza��o para libera��o para o transporte de acordo com as normas da vigil�ncia sanit�ria. Chegando em nossa unidade, j� ficam acondicionados em nossos freezers", explica Jorge Aires, ortopedista e s�cio do ITC.

Na maioria das institui��es p�blicas de ensino, no entanto, o fresh frozen n�o deve chegar t�o cedo.

"Temos dificuldades at� em comprar os conservantes para a manuten��o dos nossos cad�veres", diz C�lia Regina de Godoy Gomes, da UEM, no Paran�.

A secretaria de Ci�ncia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran� afirmou � BBC News Brasil que criou o Conselho Estadual de Distribui��o de Cad�veres (CEDC) em 2009 para regular as doa��es de corpos para as Institui��es de Ensino Superior (IES) no estado.

"O CEDC recebe cad�veres doados ou n�o reclamados e os distribui para as IES habilitadas. H� um cadastro de institui��es aptas a receber as doa��es, incluindo sete universidades estaduais e 47 faculdades e universidades no Paran�. O Conselho organiza as doa��es e disponibiliza uma lista p�blica das institui��es e a ordem de recebimento."

A Secretaria tamb�m afirma que a Universidade Estadual de Maring� (UEM) recebeu um aumento no valor total repassado para Ensino e Hospital Universit�rio, sem especificar �reas nas quais os recursos foram alocados.

Jos� Aderval Arag�o, coordenador do Programa de Doa��o Volunt�ria de Corpos da UFS, concorda que essa t�cnica ainda � algo distante da realidade da maioria das universidades por falta de recursos.

"Se temos dificuldade de fazer um programa volunt�rio de doa��o e montar uma estrutura b�sica de rede para receber os corpos e outras tarefas que s�o bem mais baratas, imagine a importa��o de corpos congelados."

Ricardo Eust�quio da Silva, da Ufes, diz que, na institui��o, a possibilidade de importar corpos congelados com este m�todo nunca sequer chegou a ser cogitada.

"� uma alternativa muito cara. No passado, pa�ses como os Estados Unidos, a Espanha e o Canad�, tamb�m passaram por essa mesma dificuldade, mas isso foi resolvido com a conscientiza��o da popula��o sobre a import�ncia da utiliza��o de material humano para o ensino dos futuros profissionais da �rea da sa�de."


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