
Segundo o levantamento, a popula��o residente no pa�s era de 203,1 milh�es de pessoas em 2022 –o contingente exato foi de 203.062.512. Proje��o anterior do instituto apontava que o Brasil teria entre 213 milh�es e 214 milh�es de habitantes.
O n�mero de moradores representa uma alta de 6,5% (12,3 milh�es a mais) em rela��o ao Censo anterior, de 2010 (quando o pa�s tinha 190,8 milh�es de habitantes). Isso significa que a taxa de crescimento foi de 0,52% ao ano.
Trata-se do menor n�vel j� registrado em um recenseamento no Brasil. O primeiro ocorreu 150 anos antes, em 1872. De l� para c�, o pa�s soma 13 opera��es censit�rias.
A s�rie hist�rica divulgada pelo IBGE mostra que a taxa de crescimento anual j� chegou a 2,99% na passagem de 1950 para 1960.
O percentual encolheu de forma consecutiva nas d�cadas seguintes, at� atingir 1,17% em 2010 e 0,52% em 2022. � a primeira vez que o avan�o fica abaixo de 1% em um Censo.
Esse movimento ilustra o que especialistas chamam de transi��o demogr�fica, que traz reflexos tanto em quest�es comportamentais quanto na �rea econ�mica.
Pesquisador explica
"A queda da fecundidade come�ou no final da d�cada de 1960. Come�ou com uma queda pequena, mas a partir da d�cada de 1970 se espalhou pelo Brasil todo", diz o dem�grafo Jos� Eust�quio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE.
"De l� para c�, a fecundidade s� cai. Ao mesmo tempo, temos um aumento da expectativa de vida e uma redu��o das taxas de mortalidade."
Com menos filhos, as fam�lias tendem a investir mais na forma��o de uma mesma crian�a, e as mulheres podem encontrar menos dificuldades para a entrada no mercado de trabalho, afirma Alves.
O crescimento menor da popula��o, por outro lado, encaminha o pa�s para o fim do chamado b�nus demogr�fico, segundo o especialista.
Isso traz desafios para a economia, j� que a parcela da popula��o em idade de trabalhar tende a diminuir, enquanto a de aposentados, aumenta. O segredo para superar o quadro, diz Alves, � elevar a produtividade –capacidade de produzir mais com menos.
"A transi��o demogr�fica � o maior fen�meno de mudan�a de comportamento em massa da humanidade. Est� mexendo com a vida das pessoas, com a morte delas", afirma.
Na vis�o da popula��o
Higor Gon�alves, 37, trabalha como rela��es p�blicas e � filho �nico. Sua m�e vinha de uma casa cheia: tinha dez irm�os.
"Minha m�e tinha pavor de fam�lia gigantesca e isso impactou na decis�o de ter s� um filho", diz ele, que n�o planeja ser pai.
"N�o queria colocar um filho no mundo para ser criado por bab�. Queria dar aten��o e cuidar. Mas, no mundo de hoje, est� muito complicado pela rotina e pelo trabalho. Sou muito absorvido pelo trabalho e � algo que me satisfaz", afirma.
"T�nhamos mais tempo antes, trabalh�vamos no hor�rio comercial, hoje n�o. Com WhatsApp, isso fica imposs�vel."
Com o casamento se aproximando, a assessora de eventos J�ssica Souza, 28, acredita que a press�o por ter filho deve aumentar. Por�m, nem ela e nem o noivo desejam uma crian�a.
"Tenho outras prioridades, outros objetivos, e ter um filho precisa de condi��es, casa, or�amento. Gosto da minha liberdade, chegar na hora que quiser", diz.
Presidente do IBGE
O presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, disse que o instituto ainda trabalha para entender o que est� por tr�s do crescimento menor da popula��o.
Segundo ele, tamb�m � necess�ria uma an�lise mais detalhada a respeito de eventuais impactos da mortalidade provocada pela pandemia de Covid-19.
A divulga��o do Censo 2022 ser� feita em etapas. A primeira, ocorrida nesta quarta, n�o trouxe dados sobre as caracter�sticas et�rias e de g�nero dos brasileiros. Ficou centrada na evolu��o do n�mero de habitantes e de domic�lios.
"A gente precisa esperar o trabalho que os dem�grafos do IBGE est�o fazendo para que a gente possa entender melhor o quanto o Brasil p�s-pandemia est� sendo influenciado por fecundidade, mortalidade, migra��o internacional, uma s�rie de fatores que podem contribuir de forma expressiva para a queda da taxa de crescimento anual", afirmou Azeredo.
A coleta das informa��es do Censo come�ou no dia 1º de agosto do ano passado, e o IBGE planejava encerrar as entrevistas em tr�s meses, at� outubro. O instituto, contudo, encontrou uma s�rie de dificuldades para avan�ar nos trabalhos. Por isso, foram feitas coletas de dados residuais at� o final de maio deste ano. Ou seja, a opera��o levou quase dez meses.
Restri��es or�ament�rias, atrasos em pagamentos para recenseadores e o clima de tens�o em meio � corrida eleitoral est�o entre os motivos apontados para a demora.
A taxa de n�o resposta ao Censo foi de 4,23% no Brasil. � o percentual de domic�lios onde o IBGE constatou que havia moradores, mas n�o conseguiu fazer as entrevistas.
J� a taxa de recusa alcan�ou 1,38%. Trata-se do percentual de domic�lios onde as pessoas n�o quiseram prestar as informa��es.
Essas porcentagens foram maiores no estado de S�o Paulo, o mais populoso do pa�s. A taxa de n�o resposta local alcan�ou 8,11%, e a de recusa, 2,34%.
Questionado se os percentuais de S�o Paulo impactaram o resultado geral da popula��o brasileira, Azeredo disse que a cobertura est� "muito consistente" e que o IBGE est� "bastante contente" com os resultados.
O presidente interino lembrou que, em pesquisas como o Censo, e n�o s� no Brasil, � usada a t�cnica de imputa��o em domic�lios ocupados cujos moradores n�o participam das entrevistas. Trata-se de uma estimativa.
Segundo Azeredo, a imputa��o n�o prejudicou o resultado geral. "Hoje, a gente tem total certeza de que a popula��o � essa que est� colocada, os 203 milh�es", disse.
Em 2022, a popula��o imputada no Brasil foi de quase 8 milh�es, o equivalente a 3,92% do total. A contada alcan�ou 195,1 milh�es.
No Censo de 2010, a parcela resultante do processo de imputa��o havia sido de 2,8 milh�es, segundo o IBGE. Foi menos de 2% do total � �poca.
Popula��o recenseada � menor do que estimativa
A nova edi��o do Censo tem o dia 31 de julho de 2022 como data de refer�ncia. Assim, as pessoas nascidas ap�s essa data n�o foram inclu�das na contagem.
Durante a opera��o censit�ria, especialistas alertaram que a coleta prolongada traria riscos de imprecis�o para os dados, mas o IBGE argumentou que o uso de novas tecnologias minimizaria as amea�as.
Os dados da contagem da popula��o, contudo, mostram diferen�as em rela��o �s estimativas populacionais do instituto.
Em 2021, o �rg�o havia projetado a popula��o brasileira em 213,3 milh�es de habitantes, ou seja, em torno de 10 milh�es a mais do que a contagem do ano passado.
As estimativas populacionais s�o feitas a partir da edi��o mais recente do Censo. Um dos procedimentos recomendados por especialistas para calibr�-las � a realiza��o de uma nova contagem, mais enxuta do que o Censo, no meio de cada d�cada. Por�m, em 2015, essa contagem foi cancelada por falta de verba.
Azeredo afirmou que os dem�grafos do IBGE est�o "debru�ados" sobre os dados para entender as diferen�as entre as estimativas e o Censo. Ele, contudo, chamou aten��o para a falta da contagem no meio da d�cada passada.
"Essa diferen�a, ela tem uma associa��o, n�s n�o tivemos a contagem de popula��o no meio da d�cada. � fundamental que, em 2025, a gente fa�a a contagem da popula��o", disse.
"Temos que fazer uma contagem para que a gente n�o se depare com diferen�as grandes. Acho que a pandemia teria sido muito mais branda se n�s tiv�ssemos tido uma contagem de popula��o no meio da d�cada. A pandemia pegou o Brasil num apag�o de dados", acrescentou.