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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Rio Amazonas � o maior do mundo? Expedi��o vai medir

Embora a maioria dos especialistas e da literatura cient�fica afirmem que o Nilo ocupa a posi��o de destaque, nos �ltimos anos, diversas pesquisas t�m gerado uma d�vida plaus�vel em rela��o a essa afirma��o


15/08/2023 20:19 - atualizado 16/08/2023 13:07
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imagem do rio Amazonas visto de cima
Equipe de brasileiros est� em expedi��o para medir toda a extens�o do Amazonas (foto: Getty Images)

Guerras, revolu��es e outros movimentos pol�ticos e econ�micos alteraram significativamente a geografia nos �ltimos 30 anos.

Mas como se o fato de na��es inteiras desaparecerem dos mapas e outras ressurgirem ou nascerem n�o fosse suficiente, uma expedi��o agora amea�a tornar obsoletos os livros escolares em todo o mundo, pois tenta provar que o Amazonas � o rio mais longo do planeta.

Em abril de 2024, um grupo liderado pelo documentarista e explorador brasileiro Yuri Sanada partir� para os recantos mais remotos dos Andes peruanos com o prop�sito de mapear e medir todo o curso do rio, a fim de comprovar que � este, e n�o o Nilo, como afirmam a maioria dos textos, o mais extenso do globo.

De acordo com a Enciclop�dia Brit�nica, o Servi�o Geol�gico dos Estados Unidos e o Livro dos Recordes do Guinness, o Nilo tem uma extens�o de 6.650 quil�metros, enquanto o Amazonas se aproxima com 6.400.

No entanto, uma s�rie de pesquisas e estudos realizados nos �ltimos quinze anos por institui��es como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica), assim como por alguns exploradores norte-americanos, t�m colocado em d�vida esses dados.


Yuri Sanada em um barco no Amazonas.
O documentarista e explorador brasileiro Yuri Sanada comandar� a expedi��o que partir� dos Andes peruanos (foto: Arquivo pessoal Yuri Sanada)

Uma tarefa que poucos aceitaram

"Vamos a provar que o Amazonas nasce no rio Mantaro, no Peru", declarou � BBC Mundo Sanada, l�der da expedi��o batizada de "Amazonas, do gelo ao mar".

Tradicionalmente, os rios Apur�mac e Mara��n, tamb�m no Peru, t�m sido considerados os afluentes mais distantes do Amazonas. No entanto, uma pesquisa publicada em 2014 pelo explorador norte-americano James Contos confirmou que o Mantaro tamb�m � um tribut�rio.

Localizado no centro do pa�s andino, a cerca de 4.000 metros acima do n�vel do mar, o Mantaro poderia acrescentar ao gigante sul-americano dezenas de quil�metros em comprimento, chegando a 6.800 quil�metros, o que tiraria o primeiro lugar no ranking de seu rival africano.

"Embora j� tenha sido comprovado que o Mantaro est� conectado ao Amazonas, at� agora ningu�m fez uma medi��o completa em campo desde os Andes at� o oceano deste rio", afirmou Sanada, que esteve em muitas partes do Amazonas, mas nunca o percorreu integralmente.

"A c�pula do monte Everest foi alcan�ada por cerca de 4.500 pessoas, e 1.500 cruzaram o Atl�ntico a remo, mas apenas cerca de dez pessoas fizeram a jornada desde a nascente do rio at� a sua foz", acrescentou para justificar a expedi��o, que estima ter uma dura��o de cerca de seis meses.

Muitos dos estudos mais recentes sobre o comprimento do Amazonas t�m se baseado em imagens de sat�lite e em percursos parciais de seu curso.


O rio peruano Mantaro ao passar pela cidade de La Oroya.
A expedi��o partir� do rio Mantaro, nos Andes peruanos, considerado o mais distante afluente do Amazonas (foto: Getty Images)

O problema de encontrar o ponto 0

Sanada explicou que a miss�o come�ar� nas montanhas peruanas, onde um grupo liderado por ele percorrer� o rio Mantaro em canoas, enquanto outro grupo percorrer� o rio Apur�mac a cavalo. Ambas as equipes se encontrar�o mais tarde no rio Ene, tamb�m no Peru, e dali seguir�o de barco at� o Amazonas.

Especialistas consultados pela BBC Mundo admitiram que nos �ltimos anos t�m surgido d�vidas mais do que razo�veis sobre qual � o rio mais longo do planeta.

"A pol�mica sobre qual � o primeiro afluente do Amazonas nos Andes peruanos e qual � o primeiro afluente do Nilo na �frica existe h� algum tempo, e acredito que esse debate sempre persistir�", afirmou Antonio De Lisio, ge�grafo da Universidade Central da Venezuela (UCV) e professor do Centro de Estudos do Desenvolvimento dessa institui��o acad�mica.

Por sua vez, o ge�grafo brit�nico Jeremy Anbleyth-Evans declarou que "o consenso internacional entre os especialistas e a literatura cient�fica � que o Nilo � o mais longo, embora haja certamente d�vidas e um debate sobre isso".

"O problema est� em localizar a nascente", explicou De Lisio.


Imagem do Rio Nilo
Para a maioria dos cientistas, o rio Nilo, na �frica, ainda � o mais longo com seus mais de 6.600 quil�metros de percurso (foto: Getty Images)

O crit�rio para definir a origem de um rio n�o � uniforme.

"A principal discuss�o sobre qual dos dois rios � mais longo se baseia no debate sobre se o curso de um rio deve ser medido ao longo dos afluentes mais volumosos ou daqueles que s�o efetivamente mais extensos", explicou David Haro Monteagudo, professor de Hidrologia e Gest�o de Recursos H�dricos da Universidade de Aberdeen, na Esc�cia.

"H� alguma discuss�o sobre se afluentes com represas s�o v�lidos ou n�o, embora eu ache que isso n�o fa�a muito sentido, j� que o Nilo tem a represa de Assu� bem no meio", acrescentou o professor.

Por sua vez, De Lisio assegurou que o fato de um afluente n�o contribuir com �gua permanentemente n�o impede que seja considerado uma das nascentes.

"O fato de um rio ser sazonal n�o implica que n�o seja afluente", acrescentou.

No entanto, Haro tamb�m enfatizou que a origem n�o � a �nica quest�o controversa.

"No caso do Amazonas, por exemplo, sua foz � t�o ampla e repleta de ilhas que tamb�m � dif�cil determinar onde ela termina antes de se transformar no oceano Atl�ntico", observou.


Uma mina ilegal na parte peruana da selva amazônica
A expedi��o buscar� n�o apenas provar que o Amazonas � o maior rio do mundo, mas tamb�m registrar os estragos causados %u200B%u200Bpelo homem (foto: Getty Images)

Mais do que provar uma teoria

No entanto, a expedi��o n�o apenas buscar� medir o Amazonas, com o prop�sito de determinar seu comprimento real, mas tamb�m perseguir� outros objetivos.

"Essa disputa entre o Nilo e o Amazonas � interessante, mas o mais importante � o legado que vamos deixar para a popula��o da Amaz�nia, n�o apenas do Brasil, mas tamb�m da Col�mbia e do Peru", disse Sanada.

"Iremos documentar com c�meras profissionais a biodiversidade da �rea e os danos que v�m sofrendo por causa do homem, devido a mineiros ilegais, traficantes de drogas e crime organizado que se instalaram l�... A ideia � fazer um document�rio IMAX", afirmou Sanada.

Uma miss�o que o explorador admitiu ser arriscada e, por isso, eles est�o em conversa��es com l�deres ind�genas para garantir prote��o durante sua jornada.

"N�o me preocupam as serpentes ou os jaguares, mas sim os seres humanos que est�o l�", destacou.

Organiza��es criminosas transformaram a Amaz�nia em uma �rea muito mais perigosa do que naturalmente j� era. Entre 2016 e 2021, 58 l�deres e moradores ind�genas foram assassinados na regi�o selv�tica compartilhada pelo Brasil, Col�mbia, Equador e Peru, conforme revelado por uma investiga��o realizada por 11 organiza��es ambientalistas.


Indígenas amazônicos caminhando pela selva.
Os excursionistas est�o solicitando o apoio de v�rias comunidades ind�genas para atravessar a selva de forma segura. (foto: Getty Images)

At� o momento de 2023, quatro defensores dos povos ind�genas foram assassinados somente no Brasil, de acordo com um relat�rio da Comiss�o Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

Al�m disso, n�o podemos esquecer que no ano passado o mundo ficou chocado com as not�cias dos assassinatos do trabalhador da Funda��o Nacional do �ndio (Funai), Bruno Pereira, e do jornalista brit�nico Dom Phillips, que estavam produzindo um document�rio sobre as amea�as que as comunidades amaz�nicas brasileiras enfrentam de fazendeiros e organiza��es criminosas.

Um terceiro objetivo da expedi��o ser� testar barcos el�tricos totalmente desenvolvidos no Brasil, que n�o s� t�m um custo muito mais baixo do que os fabricados na Alemanha, mas tamb�m s�o mais resistentes e f�ceis de reparar do que os chineses.

"Um motor el�trico custa cerca de US$ 5.000, mas nosso motor custar� 500 d�lares", afirmou o explorador brasileiro.

Durante a expedi��o, ser�o utilizados tr�s prot�tipos cuja constru��o est� sendo finalizada pela Faculdade de Tecnologia de S�o Paulo.


Jeremy Anbleyth-Evans nos Andes peruanos.
O ge�grafo brit�nico Jeremy Anbleyth-Evans admite que h� d�vidas sobre qual � o maior rio do mundo, mas adverte que a maioria dos especialistas tende a favorecer o Nilo. (foto: Arquivo pessoal Jeremy Anbleyth-Evans)

Uma controv�rsia que est� longe de ser resolvida

Embora no Brasil se considere comprovado que o Amazonas � o rio mais longo, e mesmo sendo essa informa��o ensinada �s crian�as nas escolas, se a expedi��o confirmar essa afirma��o, isso n�o necessariamente encerrar� o debate em �mbito internacional. Isso foi ressaltado pelos especialistas consultados pela BBC Mundo.

"N�o acredito que simplesmente medir o Amazonas seja suficiente; tamb�m seria necess�rio medir o Nilo, porque os eg�pcios provavelmente continuar�o a afirmar que o rio deles � mais longo e dir�o que sua nascente est� al�m do que conhecemos hoje", afirmou De Lisio.

Essa opini�o � compartilhada por Jes�s Rocamora Esquiva, membro da Junta de Governo do Col�gio Oficial de Engenharia Geom�tica e Topografia da Espanha.

"No caso do Nilo, tamb�m h� espa�o para d�vidas (sobre sua origem), uma vez que alguns especialistas argumentam que a rede hidrol�gica que alimenta o pr�prio lago Vit�ria, em Tans�nia, deveria estar conectada ao rio Nilo, o que aumentaria seu comprimento total", explicou.

Independentemente do resultado da expedi��o, o lugar de destaque que ambos os rios ocupam no mundo permanecer� inalterado.

Dessa forma, o Amazonas, que serve como pilar de uma das regi�es mais biodiversas do planeta e � respons�vel por capturar um ter�o das emiss�es de carbono globais, continuar� sendo considerado o "pulm�o do mundo".

Por outro lado, no caso do Nilo, ningu�m questionar� que ele foi o motor impulsionador de civiliza��es como o antigo Egito dos fara�s.


linha cinza
(foto: BBC)


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