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Estado de Minas EXPLORA��O MAR�TIMA

O ge�logo 'escorra�ado' do Brasil por sugerir � Petrobras que procurasse petr�leo no mar

Contratado para achar o recurso nas bacias do pa�s, Walter K. Link antecipou explora��o mar�tima em pelo menos duas d�cadas. Hoje, ela corresponde a quase toda a produ��o brasileira.


24/10/2023 09:45 - atualizado 24/10/2023 10:26
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Foto 3x4 em preto e branco de Walter K. Link
Contratado para achar o recurso nas bacias do pa�s, Walter K. Link apontou para o potencial da explora��o mar�tima de petr�leo %u2014 forma que corresponde hoje a quase toda a produ��o brasileira (foto: Reprodu��o/Arquivo Nacional)

“H� tanto petr�leo no fundo do mar – e t�o forte � a sua press�o – que o melhor t�cnico da Petrobras ainda n�o conseguiu dominar inteiramente o jorro”.

Foi assim que o ent�o rep�rter do jornal O Estado de S. Paulo Paulo Barbosa de Ara�jo descreveu a cena que testemunhara no dia anterior, rodeado de t�cnicos da empresa norte-americana Zapata Drilling Company no alto da plataforma de explora��o Vinegaroon, n�o muito longe da arrebenta��o das ondas da orla de Aracaju (SE).

Era come�o de outubro de 1968 e, na semana anterior, a Petrobras havia anunciado ao mundo o que se esperava h� quase quatro d�cadas: o Brasil tinha petr�leo no mar.

J� aposentado, sentado no escrit�rio de casa, no Estado de Indiana, nos EUA, o ge�logo norte-americano Walter Karl Link n�o se surpreendeu com a not�cia. Tampouco se orgulhou.

Havia nele apenas um senso de justi�a: sete anos antes, ele havia deixado o Brasil escorra�ado pela imprensa, por autoridades e por diretores da pr�pria Petrobras por sugerir que a empresa mudasse a estrat�gia de perfurar po�os em bacias terrestres (onshore) e fosse atr�s dele, justamente, no oceano (offshore).

“Link era um cientista muito s�rio. Imagino que ele tenha ficado mais satisfeito com a comprova��o cient�fica do seu trabalho do que com qualquer quest�o pessoal”, acredita a pesquisadora Drielli Peyerl, da Universidade de Amsterd�, nos Pa�ses Baixos, que passou anos estudando a vida do ge�logo durante seu p�s-doutorado, nos EUA.

“Hoje, fica evidente que ele sofreu com o contexto da �poca: a Petrobras era seguida por todo mundo e ele havia chegado ao Rio de Janeiro como o respons�vel por faz�-la encontrar petr�leo no territ�rio do Brasil. Quando ele notou que, em terra, n�o havia tantas bacias, foi uma frustra��o n�o s� pol�tica e econ�mica para o pa�s, mas tamb�m social – e at� da ordem da identidade nacional”, completa ela, que tamb�m � pesquisadora do Instituto de Energia e Meio Ambiente e do Researcher Centre for Greenhouse Gas Innovation da Universidade de S�o Paulo (USP).

Peyerl conheceu a hist�ria de Walter Link na d�cada passada, quando estudava os investimentos pesados que a Petrobras fez desde o in�cio para formar t�cnicos brasileiros que fossem capazes de achar e explorar petr�leo. Era uma fixa��o que atravessara todos os governos desde os tempos de Get�lio Vargas at� o regime militar.

Enquanto fazia entrevistas na empresa, n�o raro ela ouvia algu�m contar, com diferen�as sutis, uma mesma hist�ria: a do ge�logo “mais famoso do mundo” em sua �poca que, contratado pela Petrobras para transformar o Brasil em autossuficiente na produ��o de petr�leo, jamais foi ouvido na �nica certeza que carregava: que a explora��o brasileira deveria ser offshore – porque, em terra, o esfor�o seria menos promissor.

Entreguistas e nacionalistas

Quase 15 anos ap�s descobrir sua primeira jazida de petr�leo, em um bairro do sub�rbio de Salvador (BA), o Brasil estava dividido. O palco era o Congresso, onde bancadas e setores empresariais defendiam que empresas petrol�feras estrangeiras que j� atuavam no pa�s – principalmente subsidi�rias da Standard Oil Co. e a Anglo-Mexican Petroleum Co. –, mantivessem o status. Ao mesmo tempo, havia a defesa da presen�a mais intensa do Estado no mercado de energia, que se expressava sob o famoso slogan “O Petr�leo � Nosso”.

Esse conflito entrou nos anos 1950 como principal dilema pol�tico do Brasil, conhecido como “problema do petr�leo”: de um lado, os “entreguistas”, a favor das empresas estrangeiras e, do outro, os “nacionalistas”, exigindo um papel mais intervencionista do Estado.

A funda��o da Petrobras, no in�cio de outubro de 1953, foi a consequ�ncia final dessa divis�o: uma empresa financiada com investimentos p�blicos e privados, mas gerida pelo governo – o que garantia o monop�lio p�blico sobre qualquer lugar onde houvesse petr�leo no territ�rio nacional. Parte dessa estrutura legal se mant�m h� exatos 70 anos.

Pouqu�ssimo tempo depois, sem saber por onde come�ar a procurar novos po�os, a nov�ssima estatal foi atr�s de Walter Link nos Estados Unidos. Em 1954 ele era, de fato, um dos ge�logos mais famosos do mundo, cuja carreira come�ara na fase final da Standard Oil Company, gigante norte-americana que se desintegrou a partir de 1911, mas se consolidara ao longo do s�culo colaborando com pa�ses como Venezuela, Equador, Suriname e Indon�sia a encontrar suas pr�prias jazidas do “ouro negro”.


Getúlio Vargas sorri ao mostrar mão suja de petróleo, rodeado por vários homens engravatados
Petrobras foi criada pelo presidente Get�lio Vargas (ao centro, mostrando m�o com petr�leo) em 1953 (foto: RENATO PINHEIROS/BANCO DE IMAGENS PETROBRAS)

J� esperando pelas cr�ticas dos “nacionalistas”, a empresa correu a argumentar que a contrata��o de Link era tempor�ria, e que seu trabalho seria mais treinar profissionais brasileiros para o futuro pr�ximo do que ditar os passos produtivos da companhia.

N�o era mentira: seu contrato tinha, de fato, dura��o at� o final de 1960. Das portas para dentro, por�m, todo mundo sabia que o plano era outro: entregar a ele o cobi�ado cargo de diretor do Departamento de Explora��o e, em troca, saber o mais r�pido poss�vel sobre as “possibilidades petrol�feras do Brasil”, como o pr�prio ge�logo contou em um relat�rio que escreveu antes de voltar ao seu pa�s.

“Era uma posi��o mais importante do que a da pr�pria presid�ncia da Petrobras, porque enquanto uma era essencialmente pol�tica, a outra dava sentido � exist�ncia da empresa – que, naquela �poca, era achar petr�leo no territ�rio brasileiro. O fato dele ser estrangeiro tamb�m colaborou para coloc�-lo diante nos holofotes”, explica Peyerl.

O jornalista Norman Gall, correspondente de diversos ve�culos da imprensa norte-americana no Brasil desde os anos 1950, foi uma das poucas pessoas que conseguiram conversar com Link para al�m das press�es pol�ticas que ele sofria dentro e fora da Petrobras. Gall, que aos 90 anos ainda vive em S�o Paulo, o entrevistou v�rias vezes.

“Ele veio sabendo que ocuparia um posto importante e que, por causa disso, teria que lidar com as cr�ticas da imprensa e dos pol�ticos”, conta Gall.

“Lembro, sobretudo, que ele ainda falava com certa excita��o sobre a possibilidade de tirar petr�leo do Rio Madeira, na Amaz�nia, que confirmava um mapeamento feito antes mesmo da funda��o da Petrobras”, continua ele, citando um po�o explorado por pouco tempo na cidade de Nova Olinda do Norte, hoje no Amazonas.

Relat�rio Link

Walter Link arrega�ou as mangas, de fato, em 1955, viajando pelas �reas onshore que a Petrobras e o Conselho Nacional de Petr�leo (CNP), entidade que a antecedera, haviam mapeado no territ�rio brasileiro desde a d�cada de 1930.

Segundo relat�rios da �poca analisados pela BBC News Brasil, ele passou por estados como Paran�, Maranh�o, Rio Grande do Norte e no Amazonas – que voltou a ser um dilema para a companhia neste ano por causa da bacia na Foz do Rio Amazonas, onde a empresa pretende investir, mas esbarra na resist�ncia do Ibama e do Minist�rio do Meio Ambiente.

Desde os seus primeiros relat�rios, Link j� expressava certa desilus�o.

“Ele viu como muitos documentos produzidos sobre o tema no in�cio da Rep�blica j� eram pessimistas. Ge�logos estrangeiros diziam que n�o havia petr�leo no pa�s desde a d�cada de 1900, por exemplo. Conforme ele ia a campo, os diagn�sticos iam se confirmando”, explica Drielli Peyerl.

Ainda assim, empolgado com o projeto da Petrobras, o ge�logo voltou aos Estados Unidos no ano seguinte com a miss�o de formar um time de t�cnicos que o ajudasse no desafio. Em paralelo, conseguiu que a estatal investisse em uma estrutura ampla, que inclu�a desde laborat�rios de paleontologia at� t�cnicos em palinologia – ramo da ci�ncia que estuda palinoformos, como gr�os de p�len, por exemplo.

Em 1956, com os primeiros resultados em m�os, ele tomou duas decis�es importantes: avan�ar no rec�m-criado programa baiano, onde havia chances s�lidas de tirar o f�ssil da abundante bacia do Rec�ncavo e, ao mesmo tempo, focar nas duas principais bacias sedimentares que conseguira mapear melhor — a do Solim�es, no Amazonas, e a do Paran�, no Sul do pa�s.

Link j� colecionava alguns insucessos, como uma perfura��o no Sergipe que n�o tinha achado nenhum resqu�cio de petr�leo, como contou um ex-funcion�rio da equipe dele � Folha de S. Paulo em 2003. Foi puro azar, porque, anos depois, muito perto dali se estabeleceria o maior campo terrestre da Petrobras no Brasil: o de Carm�polis, vendido � espanhola Carmo Energy em 2021.

Norman Gall lembra que o petr�leo brasileiro recebia aten��o mundial em meados dos anos 1950, muito por conta do imagin�rio de que o pa�s possu�a grandes bacias repletas de petr�leo intocado.

“Os jornais norte-americanos me pediam constantemente para acompanhar o que ele estava fazendo na Petrobras e, principalmente, se ele tinha achado alguma coisa”, relembra aos risos.

Nos anos seguintes, por�m, os problemas foram tomando conta da mesa de Link. O diagn�stico era que as bacias estavam em regi�es de dif�cil acesso, sobretudo na Amaz�nia, o que dificultaria o escoamento da produ��o e a log�stica dos equipamentos. Ele chegou a destinar 60% dos recursos do seu departamento para a explora��o do Solim�es, mas havia outro entrave ainda mais grave para seus planos: a falta de tecnologias e, principalmente, de t�cnicos qualificados para avan�ar no projeto – o que o ge�logo procurou resolver criando centros de pesquisa e treinamento dentro da pr�pria Petrobras.

Interlocutores da empresa ouvidos pela BBC News Brasil se repetem em dizer que esse � o legado mais evidente de Link, conclus�o que aparece tamb�m nas mem�rias de Carlos Walter Marinho Campos, ex-diretor de Explora��o da companhia – que o homenageou dando seu sobrenome � bacia que hoje se estende do Rio de Janeiro ao Esp�rito Santo.

“Ele deixou em n�s a mentalidade, mas tamb�m os procedimentos necess�rios de uma ind�stria petrol�fera”, escreveu.

Os �nimos mudaram em junho de 1959, quando Link apresentou um artigo t�cnico em um congresso global de energia, em Nova York, nos EUA, contando ao mundo que o Brasil s� possu�a uma �nica bacia de onde se podia tirar petr�leo para vender e consumir: a do Rec�ncavo baiano, com capacidade de mais de 1 bilh�o de barris. No debate com os especialistas presentes, ele tamb�m reclamou da falta de instrumentos, tecnologia e de m�o de obra.

“Eu n�o sei de onde o petr�leo vem, mas n�s acreditamos, ou desejamos, que o que temos chamado de xisto de Ponta Grossa, acima de Furnas e abaixo de Itarar�, seria o lugar mais prov�vel para encontr�-lo. (...) Se n�s tiv�ssemos estrutura acho que tamb�m achar�amos algo na bacia do Paran�. Devo admitir que estamos absolutamente perplexos sobre o que fazer”, afirmou Link, segundo os autos do encontro.

Assim que o leram, os outros diretores da Petrobras ficaram estarrecidos.

“Imagina voc� dizer � comunidade internacional, em um momento de corrida intensa, que o Brasil n�o tinha quase petr�leo nenhum? O impacto pol�tico foi imediato – e o econ�mico era quest�o de tempo”, observa Drielli Peyerl.

Walter Link, no entanto, j� n�o vislumbrava sua perman�ncia na Petrobras. A imprensa seguia questionando seus vencimentos altos – de cerca de 125 mil cruzeiros mensais (aproximadamente R$ 45 mil em valores atualizados) –, enquanto a empresa sofria press�es pol�ticas por manter um quadro estrangeiro com poder significativo de decis�o.

A acusa��o mais contumaz era que Link era um infiltrado das petrol�feras norte-americanas que haviam herdado a estrutura da Standard Oil – a Exxon e a Mobil. Estava no rol dos “entreguistas”, mas disfar�ado.

O que definiria a passagem do ge�logo no Brasil, por�m, viria a seguir: um documento de cerca de dez p�ginas que Walter Link entregou, em meados de 1960, nas m�os do ent�o presidente da Petrobras, o coronel do Ex�rcito Id�lio Sardenberg.

Conhecido imediatamente pelo s�mbolo inequ�voco do seu sobrenome, o Relat�rio Link era uma an�lise t�cnica assinada por ele e outros 14 t�cnicos da companhia em que se dizia objetivamente que o Brasil deveria parar de procurar petr�leo em bacias sedimentares (onshore), onde n�o encontraria muita coisa, porque elas eram geologicamente muito antigas, e “investir em plataformas continentais” ou, em outras palavras, no mar.

Link e seu time ainda sugeriam que a empresa investisse na explora��o e produ��o de petr�leo em outros pa�ses do continente sul-americano. � �poca, Equador e Venezuela j� eram potenciais nomes regionais do setor.

“O documento teve impacto tamb�m porque Link escreveu de forma direta: ‘as bacias sedimentares brasileiras n�o apresentam ind�cios de produ��o em larga escala de petr�leo e as pesquisas precisam ser redirecionadas para o mar”, revela Drielli Peyerl.

“Na verdade, ele n�o aguentou tanto descontentamento e press�o: mesmo com gente de dentro da Petrobras pedindo para ele ficar, ele resolveu partir. N�o teria clima ainda que quisesse. No dia do embarque, muita gente foi ao aeroporto fotograf�-lo indo embora.”

“Como o conheci, imagino que ele estava aliviado. Apesar da press�o que recebeu, ele era muito honesto. O relat�rio � uma prova disso, j� que ele foi contratado para apresentar justamente uma conclus�o contr�ria” completa Norman Gall, que escreveu reportagens sobre a crise envolvendo o ge�logo e o Brasil ao longo dos anos 1960.

A primeira crise da Petrobras

O Relat�rio Link foi publicado pelos jornais brasileiros e repercutiu na imprensa internacional dias ap�s surgir na mesa de Sardenberg, n�o sem endossarem as cr�ticas que o ge�logo e a Petrobras recebiam pela presen�a dele na estatal.

Mais do que isso, o documento trouxe � tona novamente o velho “problema do petr�leo”. Sardenberg precisou ir � C�mara, semanas depois da partida, explicar a um grupo de deputados que o relat�rio era “sumamente pessimista” e que continha um erro estrutural: olhava para a produ��o petrol�fera brasileira “de um ponto de vista comercial”.

“Mas a Petrobras n�o concorda com essa opini�o, pois para o Brasil o problema do petr�leo � de interesse nacional e n�o comercial”, disse ele � �poca.

Ainda assim, o “problema do petr�leo” escalou tanto que, em meados do ano seguinte, se metamorfoseou em uma Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) na C�mara dos Deputados.

“Talvez tenha sido a primeira crise da hist�ria da Petrobras”, sugere Peyerl.

De fato, em fevereiro de 1961, ainda antes da CPI, Sardenberg foi preso acusado de ato de indisciplina contra J�nio Quadros, depois de criticar publicamente o ent�o presidente do pa�s em meio a uma discuss�o sobre a situa��o financeira da companhia.

Ele passara os meses anteriores se explicando sobre a quantidade de barris que o Brasil produzia e o quanto essa margem podia aumentar.

Foi seu substituto, Geon�sio Barroso quem expressou de forma mais inequ�voca o tamanho do impacto do Relat�rio Link sobre a Petrobras. Chamado para depor na CPI em maio de 1961, ele disse que o documento criou um “clima emocional” pesado dentro e fora da empresa e que, para aplac�-lo, havia ordenado a realiza��o de novos estudos que provassem as previs�es “excessivamente pessimistas” de Walter Link.

No final, as pesquisas contratadas refor�aram a tese do ge�logo.

O pr�prio Link foi perguntado, na ocasi�o, sobre a crise – e respondeu enf�tico.

“N�o � o petr�leo o grande problema do Brasil. � a pol�tica”, disse ao jornal carioca �ltima Hora.

“Na verdade, ele nunca ficou muito amargurado com essa hist�ria. Amava muito o Brasil, assim como muitos outros norte-americanos daquele tempo”, relembra Gall.

L�grimas por nada


Piloto de helicóptero observa plataforma de exploração no mar
Piloto observa plataforma na costa de Itagua� (RJ); segundo dados da ANP, 98% dos barris de petr�leo produzidos pelo Brasil v�m do mar (foto: MAURO PIMENTEL/AFP via Getty Images)

Drielli Peyerl encontrou recentemente cartas que Link trocou com colegas brasileiros depois de voltar para os Estados Unidos. Em uma delas, enviada em mar�o de 1962 para o paleont�logo Frederico W. Lange, ainda lotado na Petrobras, ele questionava a si mesmo se o esfor�o que havia feito durante a d�cada anterior surtira algum efeito.

“Eu sempre senti que voc� teria problemas quando eu fosse embora, mas nunca imaginei que, em t�o pouco tempo, a empresa completaria seu ciclo e retornaria para o velho regime da CNP”, escreveu, citando a institui��o que dera origem � companhia e que insistia em procurar petr�leo onshore.

“O sangue, o suor e, sim, at� algumas l�grimas, foram derramados por nada”.

A desilus�o tinha sentido e objeto: naquele mesmo m�s, a Petrobras usara a descoberta de novas �reas de explora��o na Bahia para criticar nomeadamente as previs�es do ge�logo, dizendo que os achados as contrapunham.

Na entrevista coletiva de an�ncio da novidade, o ent�o presidente da empresa, Francisco Mangabeira, disse que as bacias baianas superavam o que estava no Relat�rio Link e, mais do que isso, que, “se a Petrobras tivesse seguido as recomenda��es daquele relat�rio, j� teria abandonado os trabalhos de explora��o em outros Estados”.

Em outra correspond�ncia, de maio de 1963, tamb�m remetida a Frederico Lange, Link ainda se mostrava preocupado com a crise que seu progn�stico causou no Brasil.

“Voc� n�o sabe o quanto eu lamento que tudo tenha acontecido do jeito que aconteceu. Eu esperava, para o seu bem e para o bem do seu pa�s, que algo muito construtivo e duradouro pudesse ser criado a partir da coisa toda”.

Naquele ano, em paralelo �s investidas no territ�rio (com a descoberta de Carm�polis em 1963, no Sergipe, que ajudou a acalmar os �nimos pol�ticos), a Petrobras j� admitia internamente seguir o conselho de relat�rio de Walter Link e come�ar a procurar petr�leo offshore. Em 1968, quando finalmente o encontrou no litoral do Sergipe, usava uma plataforma arrendada da Zapata Drilling Company. O po�o estava a 28 metros de profundidade.

Demoraria mais quase duas d�cadas para a previs�o se concretizar totalmente: em setembro de 1984, a estatal anunciou a descoberta do primeiro po�o de petr�leo brasileiro em �guas profundas (mais de 300 metros), no campo de Albacora, na bacia de Campos (RJ). O pr�-sal, s�mbolo da autossufici�ncia brasileira no f�ssil, � de 2008.

Mas Link n�o p�de usufruir do reconhecimento: em 1982, ano em que receberia a maior honraria da profiss�o, o Sidney Powers Memorial Award, medalha concedida pela Associa��o Americana de Ge�logos de Petr�leo (AAPG, na sigla em ingl�s), ele morreu em sua casa, em Indiana.

O Brasil, por sua vez, se consolidou como um explorador offshore. Hoje � o nono maior produtor de petr�leo do mundo, com 3,2 milh�es de barris de petr�leo por dia. Segundo os dados da Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP), quase a totalidade (98%) deles saem do mar.


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