
H� 30 anos, o astr�nomo Carl Sagan j� nos advertia sobre os riscos da ignor�ncia cient�fica, alertando que "vivemos em uma sociedade absolutamente dependente do conhecimento, na qual quase ningu�m entende o que � ci�ncia e tecnologia, o que � uma receita clara para o desastre". Se estivesse vivo, Carl Sagan estaria, certamente, desapontado por n�o termos feito muito progresso na supera��o do perigo que antecipou. O movimento contra a vacina��o – uma das maiores conquistas da sa�de p�blica no s�culo 20 – � o melhor exemplo da desinforma��o que ganha for�a nas redes sociais, trazendo de volta riscos considerados j� superados e comprometendo a credibilidade da ci�ncia, em momento em que a sociedade se mostra cada vez mais dependente de conhecimento.
� desinforma��o se somam manchetes que alertam sobre problemas de controle de qualidade da ci�ncia, com crescente publica��o de resultados cient�ficos que n�o podem ser reproduzidos ou, pior, com evid�ncias de direcionamento de prioridades e at� de resultados, de acordo com o interesse de financiadores. Infelizmente, muitos cientistas e institui��es sucumbem �s press�es do mercado, produzindo resultados mais norteados pelo poder econ�mico do que pelo interesse da sociedade. � preciso reconhecer que, em resposta � competi��o �s vezes extrema no mundo acad�mico, pesquisadores t�m sido premidos a publicar, a qualquer custo, o que acaba por alimentar as distor��es descritas.
Segundo pesquisa da Universidade de Ottawa, no Canad�, em 2009, o mundo ultrapassou a marca de 50 milh�es de artigos cient�ficos publicados desde 1665, e, aproximadamente, 2,5 milh�es de novos artigos s�o publicados a cada ano. O n�mero de cientistas ativos est� aumentando a uma taxa de aproximadamente 4% a 5% ao ano. Esse crescimento acentua, ainda mais, a necessidade de aten��o com a qualidade e a �tica na ci�ncia. � premente a necessidade de se construir e disseminar narrativas que explicitem de maneira clara e acess�vel a import�ncia vital da ci�ncia para a sociedade, al�m de implementar a��es que co�bam a eros�o da sua qualidade, cobrando mais responsabilidade por relev�ncia e replicabilidade, al�m de mais colabora��o que garanta compartilhamento e robustez dos dados e conclus�es produzidos pelos cientistas.
Nesse momento de intensa dissemina��o de fake news e absurdos questionamentos de fundamentos cient�ficos amplamente comprovados e consagrados, � preciso ampliar a capacidade de comunicar a ci�ncia para o grande p�blico, trazendo � luz seus inequ�vocos benef�cios e sua essencialidade para o progresso da sociedade. Todo jovem precisa compreender como os cientistas responderam, por exemplo, � devasta��o causada pela epidemia de Aids nos anos 1980. Naqueles primeiros anos, os pacientes morriam meses ap�s o diagn�stico, muitas vezes em agonia. Gra�as ao enorme acervo de conhecimento acumulado pela ci�ncia, os pesquisadores conseguiram identificar o v�rus, desenvolver testes de diagn�stico e criar drogas antivirais extremamente eficazes em curto espa�o de tempo. Em meados dos anos 1990, terapias eficazes j� estavam dispon�veis, afastando o medo de uma epidemia global sem controle.
O Brasil jamais teria alcan�ado a posi��o de s�tima economia do mundo n�o fosse o investimento feito em ci�ncia, tecnologia e inova��o, que lhe permitiu produzir alimentos a pre�os acess�veis para sua popula��o e, ainda, exportar excedentes para todos os cantos do planeta. E a ci�ncia brasileira nos permitiu produzir aeronaves sofisticadas, extrair petr�leo das profundezas do mar, produzir uma matriz energ�tica limpa baseada no uso do etanol combust�vel, realizar elei��es de forma automatizada com resultados divulgados praticamente em tempo real, produzir pol�ticas p�blicas complexas – como o C�digo Florestal, entre muitos e muitos outros feitos.
Mais do que em qualquer outro momento da hist�ria, o Brasil precisa cuidar com grande aten��o da sua ci�ncia. A falta de planejamento estrat�gico, de investimento e de forma��o de cientistas poder� nos arrastar para posi��es de menor import�ncia no cen�rio mundial. H� uma clara reconfigura��o nas cadeias de valor globais, cada vez mais intensivas em conhecimento, e o Brasil precisar� elevar, de forma substancial, a complexidade e a produtividade da sua economia, o que s� ocorrer� com grande investimento na forma��o de talentos e na inova��o tecnol�gica. O pa�s precisa, tamb�m, estar atento � r�pida reconfigura��o da globaliza��o, com a movimenta��o de commodities e mercadorias ao redor do globo perdendo espa�o para os fluxos de servi�os, bens e ativos intang�veis, configurando cadeias de valor que beneficiam pa�ses que investem na gera��o de conhecimento e inova��es.
V�rios pa�ses se ajustam sabiamente � reconfigura��o da economia global. O melhor exemplo � a China, que em 2018 passou os Estados Unidos como o maior pa�s produtor de conhecimento cient�fico no mundo, ficando a �ndia, outro gigante asi�tico em ascens�o, em terceiro lugar. O Brasil aparece em 12º lugar no ranking, com investimentos em C&T que totalizam apenas 2% do investimento chin�s. A postura desses pa�ses precisa nos inspirar a entrar no time das na��es que est�o apostando em intelig�ncia estrat�gica, investimentos e pol�ticas cient�ficas e tecnol�gicas robustas e de longo prazo – possivelmente os �nicos caminhos na dire��o de um futuro sustent�vel.
