O inc�ndio na Catedral de Notre-Dame, em Paris, na �ltima segunda-feira, deixou muito mais que preju�zo, tristeza e cinzas. A trag�dia que se abateu sobre o ponto tur�stico mais visitado da Europa acabou por levantar questionamentos cruciais a respeito da solidariedade, da empatia e das prioridades. Na Fran�a, em 48 horas,o volume de doa��es para a reconstru��o superava os R$ 3 bilh�es, com as empresas liderando o ranking de contribui��es. No Brasil, sete meses depois do inc�ndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio, as pessoas jur�dicas contribu�ram apenas com R$ 15 mil do total de R$ 1,1 milh�o arrecadado.
Em Paris, o fogo abalou um pr�dio que marcou a hist�ria da Fran�a e do mundo, templo religioso e marco que testemunhou fatos t�o importantes como a coroa��o de Napole�o Bonaparte. No Rio, al�m do pal�cio que serviu de resid�ncia � fam�lia real portuguesa entre 1808 e 1821, as chamas destru�ram a mais antiga institui��o cient�fica do Brasil, transformando em cinzas um acervo de mais de 20 milh�es de itens, com important�ssimos registros das ci�ncias naturais e antropol�gicas, fruto de mais de 200 anos de pesquisas, coletas, permutas, aquisi��es e doa��es.
A pol�mica se desenhou rapidamente, com brasileiros se indignando pelo fato de as empresas do pa�s terem sido t�o pouco generosas diante da gigantesca perda. Parece, de fato, um acinte que tamanha trag�dia se abata sobre a ci�ncia e a hist�ria de um pa�s sem sacudir a empatia dos empres�rios. Como � poss�vel poder ajudar e, simplesmente, n�o querer?
Na Fran�a, a solidariedade das empresas e dos empres�rios foi alvo de cr�ticas a respeito da prioriza��o da reconstru��o sobre as crescentes demandas sociais do pa�s. Ainda assim, � ineg�vel que a disposi��o de participar financeiramente da reconstru��o da catedral demonstre um tra�o cultural ainda pouco desenvolvido no Brasil.
Enquanto na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, seja comum que endinheirados destinem parte de suas reservas a universidades, centros de pesquisa e institui��es culturais em geral, no Brasil as doa��es n�o s�o uma praxe. L� fora, a cultura da gratid�o ensina bilion�rios a apoiar as escolas em que se formaram ou que formam seus filhos, a orquestra que os premia com inebriantes concertos ou mesmo iniciativas cient�ficas que busquem a cura para males que os acometem.
No Brasil, infelizmente, parecemos viver a cultura da desconfian�a, parente pr�xima da corrup��o sist�mica. Acostumados a ver recursos que encontram desvios e nunca chegam ao destino inicialmente proposto, preferimos, muitas vezes, fechar os olhos – e os bolsos – em situa��es onde a solidariedade poderia fazer a diferen�a. Decidimos combater a corrup��o e seguimos firmes neste longo caminho rumo a uma sociedade mais honesta e transparente. Mas o epis�dio de Notre-Dame e sua vexat�ria compara��o com o Museu Nacional mostra que ainda h� muito que se transformar em nossa maneira de viver a sociedade e o patrim�nio coletivo. M�os � obra!
Frases
"Precisamos de voc�s (profissionais da imprensa) para que a chama da democracia n�o se apague"
.Presidente Jair Bolsonaro, em cerim�nia de comemora��o do Dia do Ex�rcito, em S�o Paulo, ao sinalizar que busca uma rela��o mais amistosa com jornalistas
"A censura � pr�tica ileg�tima e, al�m de intoler�vel, constitui verdadeira pervers�o da �tica
do direito"
.Ministro Celso de Mello, decano do STF, ao atacar a determina��o do ministro Alexandre de Moraes de remover conte�do jornal�stico de revista e site. A decis�o foi revogada ontem