Diz o folclore que os povos t�m suas caracter�sticas. As marcas s�o t�o fortes que se torna in�til lutar contra elas. Assim, com a naturalidade de quem anda pra frente ou os dias sucedem �s noites, o franc�s poupa dinheiro, o ingl�s acredita no Times, o alem�o persegue a excel�ncia, o espanhol se fascina com a morte, o americano usa gravata colorida e o japon�s tira fotos, o brasileiro adia. Deixa para amanh� o que pode fazer hoje. Se poss�vel, para depois de amanh�. E, com jeitinho, para a semana que vem ou o m�s que vem.
A tend�ncia inelut�vel n�o afeta s� as pessoas. As institui��es seguem o mesmo script. Vale o exemplo do Senado. L�deres da C�mara Alta tomaram decis�o que lan�ou nuvem escura sobre medida que parecia dirigir-se at� o ponto final sem turbul�ncias. Trata-se da reforma da Previd�ncia. Aprovada na C�mara dos Deputados, a proposta de emenda � Constitui��o encontrou a casa revisora preparada para dar-lhe prosseguimento r�pido, respeitados os prazos regimentais. Temas mais pol�micos buscaram abrigo na PEC paralela.
Lido o relat�rio, foi marcada a vota��o na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) para ter�a-feira, dia 24. Mas ficou o dito pelo n�o dito. O presidente Davi Alcolumbre conjugou dois verbos de sentidos opostos. De um lado, antecipou a an�lise dos vetos � lei de abuso de autoridade. Das 33 impugna��es presidenciais, o Congresso derrubou 18. De outro, adiou a vota��o da PEC da Previd�ncia.
Mas informou que o calend�rio ser� mantido. No dia 1º, haver� duas vota��es: uma na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) e outra no plen�rio do Senado. Ou, talvez, o colegiado fa�a a sua parte no dia 2. De qualquer forma, at� 10 de outubro, ser� votado o segundo turno da proposta. Espera-se que as promessas se transformem em a��es. Se h� alguma coisa de que o pa�s n�o precisa � de mais um fator de inseguran�a. N�o por acaso, a bolsa de valores caiu depois do an�ncio da posterga��o e lobbies poderosos se articulam para derrubar dispositivos at� ent�o pacificados.
A presidente da CCJ, senadora Simone Tebet, classificou o adiamento de "erro de estrat�gia". Talvez seja. O inaceit�vel � haver raz�es menos republicanas para a manobra e, com ela, deixar em segundo plano o interesse nacional. � o caso de dar resposta � opera��o da Pol�cia Federal realizada contra o l�der do governo no Senado, Fernando Bezerra, considerada abuso de autoridade pela c�pula da Casa. Ou de pressionar o governo a cumprir promessas feitas a parlamentares pela aprova��o da reforma – pagar emendas a deputados antes da vota��o do Senado.