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O luto e a dor humana


postado em 03/07/2020 04:00

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

O mundo acompanha, pelos meios de comunica��o, a dor do luto sofrida, anonimamente, por uma grande multid�o, revelando, de maneira desconcertante, o sofrimento humano provocado pela pandemia da COVID-19. Muitas fam�lias nem sequer tiveram a oportunidade para se despedir de seus entes queridos. Uma dor sem b�lsamo, um peso necess�rio ante as exig�ncias para a preven��o de novas contamina��es. H�, pois, um clamor silencioso, mas ensurdecedor, que vem do luto dessas fam�lias. Esse clamor deve sensibilizar a sociedade, para que seja adotada a l�gica da compaix�o solid�ria, capaz de aliviar a dor dos enlutados e de promover a aprendizagem de um novo jeito de viver.

� preocupante a indiferen�a em rela��o ao luto vivido pelo outro. Essa indiferen�a, entre tantas outras, aumenta ainda mais o risco de um colapso humanit�rio. A insensibilidade para a dor do outro, que � irm�o, impede a constru��o de um tempo novo para a humanidade, pois leva � banaliza��o da vida – um dom precioso. Sua preciosidade deve ser tratada com ternura, nobre rever�ncia e sempre a partir de gestos solid�rios entre as pessoas. � nessa perspectiva da solidariedade que se deve, inclusive, lidar com as muitas perdas que fazem parte da vida. No caminho oposto – o da indiferen�a –, � ainda mais dif�cil passar pelo luto, n�o somente aquele provocado pela morte, mas tamb�m pelo fim de ciclos. Cegamente, muitas vezes, as pessoas n�o aceitam nem a perda daquilo que, na verdade, constitui oferta para o bem de todos. Em vez da consola��o, essas pessoas cultivam a revolta.

O luto � inevit�vel nas circunst�ncias da vida humana, mas pesa muito mais aquele que se origina nas irresponsabilidades, a exemplo do que � imposto pela atual pandemia. O luto se torna especialmente pesado quando n�o � vivido adequadamente, pois n�o se alcan�a a sua fecundidade dolorosa, a for�a de reden��o que surge nos limites pr�prios da condi��o humana. N�o se pode tratar o luto com indiferen�a. Trata-se de experi�ncia a ser vivida considerando a singularidade de sua dor, a consola��o que se recebe das pessoas pr�ximas, a oportunidade para aprendizados e qualifica��o da pr�pria exist�ncia, alcan�ando sentidos profundos sobre o dom da vida.

Assim � o luto crist�o, caminho experiencial terap�utico que se distingue por estar fundamentado na esperan�a. Essa experi�ncia no contexto da f� crist� � convite a vislumbrar, para al�m da separa��o terrena, o reencontro com Deus. Os crist�os consideram seus falecidos n�o como pobres mortos – eles s�o os que nos precedem e nos esperam diante de Deus. A morte provoca uma separa��o muitas vezes desconcertante. H� os que ficam extremamente desconsolados e at� deixam de enxergar sentido na vida. O luto crist�o se assenta na certeza da vida p�s-morte. Assim, reorienta o viver de enlutados, ajuda a permear o cora��o com recorda��es consoladoras dos que morreram. E, mesmo na impossibilidade do contato, na invisibilidade, continua forte a presen�a de quem parte, ajudando a superar tristezas e ang�stias dos que ficam.

A f� crist� leva � certeza da vida eterna, conquistada com Jesus – Filho de Deus. Sua morte e ressurrei��o abriram as portas da vida que nunca passa. A morte � um tr�nsito pascal, significa��o luminosa que devolve a certeza de uma vit�ria definitiva. Essa certeza, se cultivada, ameniza a sensa��o de fracasso que a perda e a partida sempre trazem. A dor da morte imp�e sempre o luto, alguns ainda mais dolorosos, sobretudo por circunst�ncias incompreens�veis � racionalidade humana. O crist�o tamb�m sente o trauma da morte biol�gica, com as suas ang�stias e sofrimentos, mas deve deixar-se orientar sempre por uma luz amorosa: a vit�ria da vida sobre a morte, b�lsamo para a dor humana. No caminho indicado por essa luminosidade, os que professam a f� em Jesus devem se comprometer com a vida, zelar por ela em todas as suas etapas. Isso inclui saber sobre a tarefa crist� de se dedicar aos enlutados, sensibilizar-se ante a dor do pr�ximo, que � irm�o, tratando-a com o b�lsamo da consola��o e da solidariedade.

Neste contexto contempor�neo de tantas feridas, de cora��es tomados pela dor, � urgente que cada pessoa busque ser presen�a solid�ria, compartilhando palavras que devolvam a esperan�a. Trata-se de cumprir miss�o paracl�tica, isto �, consoladora, responsabilidade de todos – uns cuidando dos outros, unidos, para levar luz aos momentos de luto e aliviar a dor humana.


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