F�bio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras
Jornalista
"Sonho de mineiro." "Sonho de Verano." Os que fazem pouco dos projetos, da dedica��o, da compet�ncia realizadora dos nascidos aqui nas nossas montanhas usam o ato de sonhar no sentido pejorativo do voc�bulo. Como algo anunciado que n�o ser� realizado. � como se dissesse: "Conversa fiada". Que n�o deve ser levada a s�rio.
Agress�es verbais injustas. Deixam acreditar que os mineiros anunciam obras que nunca ser�o concretizadas. Nossa realidade empresarial � outra. Vejam o mapa industrial, comercial, agr�cola, mineral. Lembrem-se do desenvolvimentismo do mineiro JK.
O assunto me ocorreu e me faz escrever e comentar, ao reler velhas cartas, recortes de jornais, documentos oficiais que estavam em uma pasta empoeirada e amarelada pelo passar dos muitos anos, mas guardada com o respeito que sempre tive pelo remetente da documenta��o, meu bom e saudoso amigo dr. Anthony Vereker, um s�brio e aut�ntico cidad�o ingl�s, digno representante da melhor aristocracia cultural do pa�s de minha bisav� Mary.
O curioso � que as duas express�es injustas para n�s, mineiros, a dos sonhos, t�m rela��o com o Dr. Vereker. Uma, citada por ele, a de um presidente da Siderbras, Sr. Sarcineli Garcia, dita em Londres, a banqueiros e empres�rios ingleses do Lloyds Bank, da GKN e da ICC. Os tr�s grupos estavam finalizando, a pedido de Vereker, no final de 1973, participa��o no financiamento e instala��o, em Ouro Branco, aqui em MG, de uma usina sider�rgica, a que viria a ser a poderosa A�ominas.
Depois do que ouviram do Sr. Sarcineli, obviamente, desistiram da parceria. O que obrigou Vereker a buscar outros parceiros.
O outro "sonho" injusto, o de Verano, aconteceu dias depois da transmiss�o do cargo ao novo prefeito. Como representante da Procuradoria-Geral, como advogado, na comiss�o designada para criar a Metrobel, pedi a ele orienta��o a respeito. Resposta r�pida e definitiva: "O metr� � um sonho de Verano".
O metr� do Verano acabou ali. N�o mais se falou nele, at� ressurgir, muito tempo depois, como trem suburbano de superf�cie.
Verano, excelente prefeito, sonhava, sim, com um transporte p�blico moderno, r�pido, que s� o metr� subterr�neo oferece. Pediu a Anthony Vereker, com experi�ncia na �rea, que conseguisse apoio e financiamento com empres�rios ingleses.
Quanto � A�ominas, sem os recursos financeiros e log�stico que Vereker conseguiu na Inglaterra e em outros pa�ses da Europa, certamente o sonho continuaria a ser sonhado por muitos anos.
A empresa surgiu em 1924, h� 96 anos, quando o presidente Arthur Bernardes, mineiro, assinou o decreto 4.081, de 9/1/1924, autorizando a cria��o de uma sider�rgica no Vale do Paraopeba.
Desde ent�o, continuou apenas no decreto, no papel. Em 1968, no governo do general Costa e Silva, ganhou nome: A�o Minas Gerais S.A. S� nome, sem corpo. At� 31 de agosto de 1971, h� 49 anos, com a entrada de Vereker no problema. O engenheiro Athos Lemos Rache, representando o governador Rondon Pacheco, convidou Anthony Vereker, consultor financeiro, para um almo�o no restaurante Astrodomo, no Rio.
Athos exp�s a situa��o da A�o Minas Gerais e contou que o estado tentava h� 20 anos implantar a usina, criada em 1924, ou seja, h� 47 anos, "mas n�o sabiam onde e como conseguir financiamento e apoio". Da� o almo�o para pedir a ajuda de Vereker.
Antes de aceitar a miss�o, ele pediu um relat�rio da situa��o e de viabilidade. S� depois enfrentou, e venceu, o desafio. Conversou com seus amigos banqueiros ingleses, foi com Athos a Londres para visitar sider�rgicas e acertar os entendimentos que manteve com o Lloyds Bank e outros grupos financeiros. Quando tudo parecia conclu�do e aprovado, aconteceu o epis�dio lament�vel do "sonho de mineiro" do presidente da Siderbras, j� mencionado. O Lloyds e os demais financiadores cancelaram o que haviam combinado.
Vereker n�o desistiu. Procurou outros banqueiros, Morgans Bank, Mackee, e conseguiu. O projeto estava or�ado, na �poca, em US$ 400 milh�es. Em 1976, o presidente Geisel bateu a primeira estaca da obra. E, em Londres, com Vereker, firmou memorando com os empres�rios ingleses.
Em 1977, 1978, o alto-forno e o maquin�rio ingl�s estavam sendo montados. Vinte e dois mil oper�rios trabalhavam l�. Em 1986, a A�ominas foi inaugurada pelo presidente Jos� Sarney.
Vereker, o her�i da batalha da A�ominas, recebeu a Medalha da Inconfid�ncia "em reconhecimento pelo que fez de fundamental import�ncia para a viabilizacao da A�ominas". Recebeu homenagens da empresa que viabilizou? Tem seu nome gravado l�?
Vereker era meu amigo e de minha fam�lia h� muitos anos – ele foi diretor da Saint John del Rey, a Morro Velho, em Nova Lima. Vinha muito ao Brasil e sempre a BH, hospedando-se no hotel Del Rey, comprando queijos e doces mineiros no Mercado Central para levar para sua fam�lia. N�o deixava de me visitar no jornal, sempre levando uma lembran�a para Rosana, minha secret�ria, de jantar comigo no Dona Derna ou no Taste du Vin, e de tomar um scotch em minha casa, no Morro do Chap�u, recebido com carinho por Rachel, meus filhos e alguns amigos.
O Dr. Anthony Vereker estava de viagem de volta, dizia definitiva, � sua medieval e arborizada Sevenoaks, Kent, distante uma hora de carro de Londres, mas o destino cruel impediu. Deixou vi�va a Sra. Martha Vereker e duas filhas, Susanna e Catherine.