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Estado de Minas

Quantas Cingapuras cabem em um Brasil?


27/05/2021 04:00

Rafael Ciccarini
Historiador, reitor da Una e UniBH e diretor regional MG/GO na �nima Educa��o
 
Guilherme Rancanti Ribeiro
Historiador, pesquisador na �rea de filosofia da educa��o tecnol�gica e educador na �nima Educa��o

Apesar das infinitas diferen�as que, para o bem ou para o mal, distinguem as na��es, o mundo, hoje, parece desfrutar de um consenso: o futuro de um pa�s est� nas m�os da educa��o. Atualmente, � improv�vel que algum porta-voz, por mais exc�ntrico que pare�a aos olhos da tradi��o ocidental, ainda marcada pelo eurocentrismo, se pronuncie na dire��o contr�ria a respeito desse assunto. Os diversos debates que se formam ao redor do tema comportam as mais variadas possibilidades, por�m partem desse pressuposto comum: � necess�rio investir em educa��o.

Diante dessa positiva obviedade, � comum discutirmos os problemas do modelo educacional brasileiro � luz de projetos que teriam triunfado em outras na��es. Pa�ses como Cingapura, Coreia do Sul, China e Finl�ndia deixaram para tr�s Fran�a e Estados Unidos – importantes refer�ncias de outrora – e est�o, hoje, entre os principais exemplos que, habitualmente, t�m servido como padr�o para explicar ou exemplificar um eventual fracasso da educa��o brasileira. Inspirar-se ou, no limite, buscar solu��es em experi�ncias estrangeiras exitosas � fundamental. No caso da educa��o, esfor�os t�m sido empreendidos nesse sentido – em maior ou menor grau. Uma quest�o relevante, contudo, parece escapar a este debate, sobretudo quando ele toma fei��es comparativas: qual a rela��o entre os sistemas educacionais vigentes nesses pa�ses, tidos como modelos atuais a serem seguidos, e os regimes pol�ticos que viabilizaram sua implementa��o?.

A pergunta nasce da dificuldade em encontrar um projeto educacional exitoso que tenha sido concebido e realizado por um Estado democr�tico populoso e de propor��es continentais, como � o caso do Brasil. Tal dificuldade se materializa em uma observa��o superficial dos resultados mais recentes do Programa Internacional de Avalia��o de Estudantes (Pisa). Os Estados Unidos, pa�s mais bem colocado entre aqueles que cumpririam os requisitos, n�o figura sequer entre os 10 mais bem avaliados em nenhuma das tr�s categorias consideradas (leitura, matem�tica e ci�ncias). Os primeiros lugares se revezam entre pequenas democracias (seja em territ�rio, seja em popula��o), uma min�scula cidade-estado governada h� anos pelo mesmo partido, de vi�s autorit�rio – Cingapura – e o curioso caso chin�s, muitas vezes definido como uma esp�cie de “socialismo de mercado”. L�, um pa�s grande e populoso, a abertura econ�mica n�o se reproduziu no que se refere �s liberdades individuais, para dizer o m�nimo.

Voltamos, portanto, aos exemplos de China, Finl�ndia, Coreia do Sul e Cingapura. A que pre�o a gigante China e a min�scula Cingapura usufruem, hoje, desses excelentes resultados educacionais? Um �nico partido pol�tico no poder h� d�cadas e a supress�o da liberdade de imprensa, comum a ambos, talvez n�o sejam apenas uma infeliz coincid�ncia.

Regimes autorit�rios e de partido �nico, que controlam a m�dia e n�o desfrutam de oposi��o efetiva, s�o capazes de conceber planos de m�dio e longo prazo e execut�-los efetivamente, efetuando, no percurso, os ajustes necess�rios. Realizam isso sem ser interrompidos ou nem sequer importunados pela m�dia nacional ou por outros projetos de poder. Essa saud�vel importuna��o, que muitas vezes implica debate, aperfei�oamento, inclus�o, justi�a, � marca distintiva das democracias modernas.

Nas democracias, por�m, muitas vezes essas virtudes democr�ticas n�o se reproduzem e d�o lugar a um jogo pol�tico empobrecido, em que o grupo inquilino do poder se comporta como propriet�rio e realiza reformas que atendem � agenda da ocasi�o. Pensam no governo e talvez em seus eleitores, tudo passageiro, esquecendo-se do Estado, perene. Em um regime plenamente democr�tico, um projeto de Estado, que dure 20 ou mais anos, dever� envolver diferentes governos, de orienta��es muitas vezes opostas, mas que dever�o trabalhar juntos, colaborar em nome de uma finalidade comum.

O territ�rio das democr�ticas Finl�ndia e Coreia do Sul, somado, n�o alcan�a o tamanho do estado de Minas Gerais. Como aplicar a todo o territ�rio brasileiro – multi�tnico, constitu�do por uma complexa fus�o de culturas que, espalhadas por um vasto territ�rio, parecem, em alguns casos, unir-se apenas em torno de uma l�ngua comum – planos que triunfaram em pa�ses pequenos e culturalmente homog�neos?

Retornamos ao in�cio do texto: j� se chegou ao consenso a respeito da import�ncia fundamental da educa��o, da necessidade de se investir, de pensar a longo prazo, de planejar. Mesmo os diferentes partidos, as diferentes orienta��es ideol�gicas concordam, ainda que se diferenciem quanto � forma. J� parece poss�vel, portanto, contornar diferen�as e produzir, nas grandes democracias – como o Brasil, a �ndia e mesmo os Estados Unidos –, projetos educacionais de Estado, n�o apenas de governo. Embora repleto de falhas, desigualdade e, atualmente, distante dos primeiros lugares nos testes internacionais, os Estados Unidos obtiveram resultados importantes nesse sentido. No pa�s americano, � alto o �ndice de alfabetiza��o entre a sua popula��o. A �ndia que, embora democr�tica, convive com importantes contradi��es ainda a serem superadas, tem apresentado propostas educacionais interessantes, sobretudo no que diz respeito ao ensino superior, mas os resultados pr�ticos ainda veremos.

Aquilo que, no Brasil, mais se aproxima de uma tentativa articulada de entender a educa��o como um projeto de Estado, n�o de governo, � o Plano Nacional de Educa��o (PNE). Apesar da relev�ncia de suas 20 metas, o plano n�o est� voltado para um projeto que busque resolver quest�es cr�nicas do Brasil, como produtividade e distribui��o de renda, mas em melhorar os �ndices educacionais quase como se esses contassem com um fim em si. � um avan�o, contudo.

� importante reiterar, a essa altura, o car�ter fundamental de estarmos atentos �s experi�ncias internacionais e aprender com elas, mesmo quando as compara��es parecem inadequadas. � necess�rio compreender a complexidade do desafio frente �s especificidades do Brasil, levando em conta, entretanto, o entendimento de que o desafio que se coloca ainda n�o foi solucionado em nenhuma parte do mundo.


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