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Estado de Minas

Professor Agnelo, 100 anos


14/12/2021 04:00

Lu�s M�rcio Vianna
Publicit�rio

Meu pai, o professor Agnelo Corr�a Vianna, faria 100 anos neste 14 de dezembro de 2021. Coincidentemente, neste mesmo dia, h� vinte e oito anos, ele nos deixava para sempre, salvo para a boa lembran�a.

Nosso primeiro ano de conviv�ncia foi em Nova Lima, onde ele dirigia a Escola do Senai de l�, jogava basquete e era um ardoroso villa-novense.

Menino ainda, de cal�as curtas, o acompanhava em Belo Horizonte em caminhadas debaixo dos f�cus da Afonso Pena, no Parque Municipal e nas manh�s de s�bado na Escola T�cnica Federal, na Augusto de Lima, e, depois, na Escola do Senai, da Cidade Industrial. Ficava impressionado com a fila de alunos em busca de orienta��o educacional e vocacional, na primeira, e sua autoridade na segunda.

Sua prosa era sempre a mesma: vov� Ant�nio, sapateiro, vov� Cotinha, calceira e grande contadora de hist�rias, e iguais � m�e, tia Ruth e tia Marta; sua lida de comerci�rio; seus colegas do Trist�o de Ata�de, do CPOR e professor de dan�a no Centro Social do Sesi, no Carlos Prates.

Passei-lhe um grande aperto quando fomos subir a Serra do Curral, no Anchieta, depois que sa�mos da Floresta e mudamos para l�. Fomos ele, eu, e meus irm�os Maria Cristina e Fernando Ant�nio. Na descida, do outro lado da serra, desabalei-me e rolei serra abaixo. Passagem pelo Pronto-Socorro infantil, colete de gesso no tronco e no bra�o esquerdo. E um supersusto em dona Milce, que esperava a Maria Cl�udia e depois concluiu a prole com o Agnelo Jr.

Dirigiu a ent�o Escola T�cnica Federal de Minas Gerais e l� promoveu uma exposi��o da antiga Tchecoslov�quia e n�o deixou que os militares levassem alunos internos da escola, postos � sua guarda nos dias sombrios de abril de 64. Isso nos valeu ouvidos colados no r�dio durante muito tempo, na “Hora do Brasil”, aguardando a sua aposentadoria compuls�ria.

Na d�cada de 60, o presidente J�nio Quadros o chamou para integrar um grupo que criaria a Universidade do Trabalho no Brasil. Com a ren�ncia, o governador Magalh�es Pinto o nomeou reitor da rec�m-criada Universidade do Trabalho de Minas Gerais, a Utramig. 

Fui para o Col�gio Militar e logo queria sair. Uma reforma de ensino me prendeu at� o final do antigo gin�sio. Ele me aconselhou o Estadual Central e eu me matriculei tamb�m no movimento estudantil. Nessa mesma �poca, assumiu a Secretaria do Trabalho e A��o Social no governo Israel Pinheiro. A censura era afeta � sua pasta e eu fazia parte de um grupo que tentou passar por l� um texto teatral, o “Gesarol 66”, que foi inteiramente proibido. Em casa, aconselhou-me: leva na marra, e assim fizemos.

Voltou para a Utramig e eu fui trabalhar com ele. Era uma luta para acordar cedo e acompanh�-lo. L�, ele estreitou as rela��es com o MEC, criando o Laborat�rio de Curr�culos da reforma Passarinho e com a OEA, na capacita��o de quadros na gradua��o, na p�s-gradua��o e na consultoria em educa��o profissional e tecnol�gica nas Am�ricas. L� tamb�m fui mensageiro, auxiliar de escrit�rio e, depois, fui trabalhar no Suplemento Liter�rio do Minas Gerais.

Entrei na Ci�ncias Econ�micas, a contragosto dele. Achava que eu devia estudar Direito. Est�vamos em plena era da tecnocracia e eu estava fascinado pela Economia. Acabei optando pela Administra��o, feito ele. O Direito veio depois de 20 anos de formado e quitei seu gosto.

Quando o governador Rondon Pacheco o convidou para ser secret�rio de Educa��o, ele me levou de novo para trabalhar com ele. Ligou para o seu amigo Viana de Assis, meu patr�o � �poca, e me requisitou. Fui o primeiro assessor parlamentar do governo de Minas. A miss�o que ele me deu: buscar na Assembleia Legislativa os pleitos e de tarde entreg�-los resolvidos. O trabalho caiu nos ouvidos da bancada na C�mara dos Deputados e no Senado Federal e politizou-se uma rela��o que era tida como tecnocr�tica. Lembro-me da nossa alegria pela institui��o do primeiro Estatuto do Magist�rio, do Pr�mio Liter�rio Guimar�es Rosa e da Cole��o Mineiriana da Biblioteca P�blica.

Voltou de novo para a Utramig e continuou sua luta. Quando deixou sua principal trincheira, voltou � sala de aula na Escola T�cnica, na �poca Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas Gerais, e ainda teve tempo de criar o mestrado em educa��o t�cnica, o primeiro do Centro.

O tempo todo pensava e escrevia. Mais jovem, escreveu "Mutir�o", livro de contos, e mais maduro, o cl�ssico "Educa��o t�cnica".

Fui seu companheiro, no final, e solid�rio com as suas decis�es de n�o se submeter a tratamento extenuantes de combate ao c�ncer e, ao mesmo tempo, resignado com o decorrer do cap�tulo final da sua vida.

Instado por mim para dar um basta em seu sofrimento, me disse n�o, e me convenceu de que as repercuss�es seriam piores que suas dores.

Saiu da vida em uma madrugada, educadamente, para poder ser sepultado no final da tarde no dia do seu anivers�rio e sem causar mais inc�modos.   


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