Vacinar ou n�o as crian�as de 5 a 11 anos? O tema se tornou uma pol�mica entre o Pal�cio do Planalto e a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa). Hoje, o Brasil, no ranking mundial, ocupa a segunda posi��o em n�mero de mortes de crian�as pela COVID-19 – s�o quase 4 mil que perderam a batalha contra o novo coronav�rus. O dado � alarmante, mas o governo se revela insens�vel e se op�e � imuniza��o dessa parcela da popula��o. Coloca-se contr�rio � an�lise t�cnica e cient�fica da equipe da Anvisa, que recomendou, na �ltima quinta-feira, a aplica��o da dose apropriada para essa faixa et�ria produzida pela Pfizer.
Na sua tradicional live das quintas-feiras, o presidente Jair Bolsonaro listou alguns efeitos adversos da vacina��o no p�blico infantil e deixou a decis�o para os pais ou respons�veis pelas crian�as. Amea�ou revelar o nome dos t�cnicos da Anvisa que participaram dos estudos sobre a viabilidade e a efic�cia da vacina para crian�as. Uma op��o pouco respons�vel, uma vez que, h� menos de dois meses, os servidores foram amea�ados de morte pelos negacionistas apoiadores do seu governo.
Os t�cnicos da Anvisa, na pr�tica, poderiam ser coagidos ou agredidos pelos extremistas antici�ncia, com consequ�ncias inimagin�veis. A dire��o da Anvisa e a Associa��o dos Servidores (Univisa) condenaram a atitude de Bolsonaro de querer divulgar nomes envolvidos na aprova��o da vacina contra a COVID-19 para crian�as. A orienta��o do �rg�o regulador n�o est� descolada do entendimento de especialistas ou de institui��es que representam pediatras, pneumologistas, infectologistas, que t�m lidado com pacientes afetados pela COVID-19.
H� consenso de que a vacina��o � a op��o mais acertada para proteger as crian�as, assim como ocorreu com os adultos. O n�mero de casos e de mortes – apesar dos quase 620 mil �bitos pelo v�rus – passou a cair em todo o pa�s depois do avan�o da imuniza��o de adultos e jovens.
Diante da resist�ncia do Planalto, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, acolheu a��o movida pelo PT, e deu prazo de 48 horas para que o governo explique suas raz�es sobre a vacina��o de crian�as.
O ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, defende um debate sobre a imuniza��o dos pequenos, com a participa��o de especialistas. O comportamento do ministro, para n�o desagradar ao presidente, � mais uma contradi��o. A Anvisa � �rg�o federal que avalia e autoriza os medicamentos e vacinas que podem ser usados no pa�s. Portanto, re�ne corpo t�cnico capacitado e compromissado com a sa�de p�blica. E jamais deixou de submeter temas relevantes a um amplo debate com especialistas.
Durante esta epidemia, a ag�ncia mostrou-se extremamente respons�vel para a libera��o dos imunizantes que foram oferecidos ao pa�s. Privar as crian�as da imuniza��o � o mesmo que conspirar contra a vida dessa parcela da popula��o. Significa impedi-las de uma conviv�ncia saud�vel com seus iguais em ambientes coletivos, como a escola, onde estariam expostas � infec��o ou como ativos transmissores da doen�a.
Europa, Estados Unidos e v�rios pa�ses da Am�rica Latina, desde junho �ltimo, iniciaram a imuniza��o da popula��o infantil. Esse p�blico n�o pode ser objeto de disputa pol�tica, ideol�gica ou de qualquer outra motiva��o. A sa�de p�blica est�, ou pelo menos deveria estar, acima de interesses menores, mesquinhos ou de compreens�es equivocadas, que colocam o pa�s na contram�o do roteiro mundial. Vacina para crian�as, sim.