K�nia de Souza Missuti
Pedagoga, p�s-graduada em psicopedagogia,
portadora de l�pus eritematoso sist�mico,
transplantada renal e imunossuprimida
Muitas vezes, � vendida erroneamente pela sociedade a ideia de que o transplante � uma cura definitiva da doen�a renal. Fato � que o transplante pode proporcionar melhor qualidade de vida para a pessoa e para a fam�lia. Em virtude da rigidez do tratamento hemodial�tico, a realiza��o do transplante renal representa, muitas vezes, a esperan�a de uma vida com mais liberdade e qualidade. No entanto, as pessoas se esquecem de que os transplantados continuam a ser portadores de uma doen�a cr�nica, que tem no transplante uma das modalidades terap�uticas, o que, portanto, exige cuidados e acompanhamento.
A doen�a cr�nica fragiliza a pessoa n�o s� f�sica, como mental e emocionalmente. O senso de valor e a autoestima dos pacientes tamb�m se fragilizam. Isso pode ser interiorizado n�o s� pela pessoa, que pode passar a se sentir “menos” do que realmente �, mas tamb�m pela sociedade.
As dificuldades tamb�m existem no �mbito social, j� que o conv�vio fica, muitas vezes, restrito � fam�lia ou a um cuidador, problema esse agravado ainda mais em tempos de pandemia. Quanto aos problemas na reinser��o laboral, a dificuldade est� associada ao preconceito de alguns empregadores em rela��o � capacidade do transplantado e a poss�veis aus�ncias/afastamento em virtude das consultas peri�dicas, que dependendo do estado cl�nico do transplantado podem ser frequentes e que, geralmente, ocorrem em localidade distante da resid�ncia do transplantado. Existem relatos de algumas associa��es de apoio sobre casos de preconceito em v�rias etapas do processo seletivo: na entrevista, no exame admissional e na conversa com o RH.
O descaso do poder p�blico com os transplantados tamb�m � preocupante. A medica��o imunossupressora de alto custo, apesar de ser fornecida pelo governo, muitas vezes atrasa ou at� mesmo falta por longos per�odos, colocando em risco a vida do transplantado. O n�o reconhecimento da incapacidade laborativa pelos pr�prios m�dicos peritos do INSS, que negam o benef�cio assistencial – que em muitos casos seria a �nica fonte de renda do transplantado n�o reinserido no mercado de trabalho – � revoltante e compromete a pr�pria subsist�ncia da pessoa, gerando mais desgaste f�sico e emocional.
Com base nessas constata��es, acredito ser de suma import�ncia a elabora��o de uma lei que d� prote��o e amparo aos transplantados e deficientes renais cr�nicos, e que ofere�a programa de sa�de, de assist�ncia social, de educa��o e pesquisa, de capacita��o, de recoloca��o profissional e de defesa de direitos. A sugest�o tem como objetivo incluir os pacientes renais cr�nicos e transplantados na classifica��o de pessoas com defici�ncia (PCD), em conson�ncia com a Lei Brasileira de Inclus�o da Pessoa com Defici�ncia (Estatuto da Pessoa com Defici�ncia – Lei 13.146/2015), pois os receptores de �rg�o continuam mantendo uma condi��o cr�nica.
