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Estado de Minas artigo

Agenda social e ecologia

� inadequado aquele desenvolvimento que gera riqueza apenas para os mais ricos, em desfavor dos pobres, acentuando as vergonhosas desigualdades sociais


08/07/2022 04:00






Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte 
Presidente da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

A consci�ncia da forte vincula��o entre agenda social e ecologia est� crescendo, mas ainda � insuficiente. O reconhecimento desse v�nculo � importante interpela��o da carta-enc�clica Laudato Si’ – sobre o cuidado com a Casa Comum, do papa Francisco. O documento evidencia: a degrada��o ambiental relaciona-se tamb�m, e de modo determinante, com a deteriora��o da vida humana. Consequ�ncia dos estilos de vida agressivos, indiferentes e predat�rios no planeta. Assim, a pauta da ecologia integral precisa se destacar na agenda social, contemplando seus v�rios aspectos, com ricas abordagens, para que sejam efetivadas profundas transforma��es. O ser humano � uma criatura deste mundo, com o direito de viver e de ser feliz, ancorado na sua especial dignidade, t�o ferida com a degrada��o ambiental. N�o se pode mais desvincular a dimens�o social da vida das amplas quest�es ambientais, pois tudo est� interligado. 

Assim, por exemplo, o modo como s�o tratados os territ�rios influencia a vida das fam�lias. A depreda��o ambiental irracional, movida por uma gan�ncia sem limites pelo lucro, � tamb�m respons�vel pela desigualdade planet�ria, conhecida por todos. E as perdas no ambiente natural impactam o contexto social, com os pobres e mais fr�geis pagando pre�o mais alto, conforme indicam diversos estudos cient�ficos. O papa Francisco, neste horizonte, expressa preocupa��o pela falta de consci�ncia sobre os problemas que amea�am, particularmente, os exclu�dos, que constituem a maior parcela da humanidade.  Os problemas sociais e as fragilidades que impactam a realidade dos pobres precisam de lugar preponderante na pauta ecol�gica, interagindo com a agenda social. N�o � adequada a abordagem ambiental tendo em vista um progresso meramente lucrativo, sem compromisso com o desenvolvimento integral.  
 
 
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� inadequado aquele desenvolvimento que gera riqueza apenas para os mais ricos, em desfavor dos pobres, acentuando as vergonhosas desigualdades sociais. As consequ�ncias dessa ilimitada e predat�ria busca pelo lucro, em benef�cio de poucos, s�o o agravamento dos flagelos da fome, da indisponibilidade de �gua pot�vel para todos, entre outras priva��es de muitos bens essenciais � vida. Rea��es mais vigorosas precisam emergir a partir das interfaces inteligentes entre a agenda social e a pauta ecol�gica, para superar esses cen�rios. Ora, os gemidos da m�e Terra unem-se aos clamores dos abandonados do mundo, reclamando um novo rumo, diz o papa Francisco. H� de se promover uma cultura human�stica alicer�ada em lastros de sensibilidades social e ecol�gica, para o adequado enfrentamento da crise atual. 

N�o s�o suficientes as alian�as entre as tecnologias e a economia, ignorando perversa e indiferentemente o bem comum. Compreenda-se que guerras novas est�o sendo geradas pelo esgotamento de recursos, urgindo o despertar de novas l�gicas, alcan�adas a partir da conjuga��o entre o campo social e a dimens�o ecol�gica. Parta-se da convic��o, envolvendo crentes e n�o crentes, de que a Terra � uma heran�a comum, cujos frutos, sublinha a Laudato Si’, devem beneficiar todas as pessoas. A carta-enc�clica ainda lembra que, para os crentes, cultivar essa convic��o � sinal de fidelidade ao Criador, porque Deus criou o mundo para todos. A Doutrina Social da Igreja Cat�lica ensina que toda abordagem ecol�gica deve integrar uma perspectiva social, tendo em vista os direitos fundamentais dos mais desfavorecidos. O direito universal aos bens gerados pelos recursos naturais � “regra de ouro” para orientar o comportamento humano, sendo o primeiro princ�pio de toda ordem �tico-social. 

Oportuno � estudar a carta-enc�clica Laudato Si’, que em seu 4º cap�tulo se dedica ao sentido de ecologia integral, envolvendo, articuladamente, as dimens�es social, ambiental, econ�mica e cultural. Estudar a carta-enc�clica consolida a compreens�o inquestion�vel sobre a incid�ncia dos problemas ecol�gicos nos cen�rios das desigualdades sociais. O ponto de partida para se efetivar um desenvolvimento integral em benef�cio de todos � a considera��o fundamental de que a busca por solu��es para os problemas enfrentados pela humanidade deve considerar as intera��es entre os sistemas naturais e a ordem social. Os contextos da pol�tica e dos empreendedores, tamb�m do Judici�rio, em uni�o com o exerc�cio da cidadania, est�o desafiados a compreender melhor essas intera��es:  um mar a ser navegado com horizontes favor�veis � vista, a inter-rela��o entre a agenda social e a pauta ecol�gica. 


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