Talitha Nobre
Psic�loga do Grupo Prontobaby

Empoderar mulheres e promover a equidade de g�nero s�o a��es essenciais para o desenvolvimento socioecon�mico e ambiental do pa�s, al�m da melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo, � o que afirma a Entidade das Na��es Unidas para a Igualdade de G�nero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres).
Para o pr�ximo dia 8 de mar�o, a pergunta que fica �: como criar meninas empoderadas?
Empoderar � o ato de dar poder a algu�m. Quando falamos sobre empoderamento infantil, basicamente estamos proferindo sobre permitir que a crian�a conhe�a suas emo��es, tenha autoestima e autoconfian�a em conversar e dizer como se sente.
Dados levantados pela Unicef apontam que meninas de 5 a 14 anos passam 160 milh�es de horas a mais do que os meninos da mesma faixa et�ria em atividades dom�sticas n�o remuneradas. Isso compromete o acesso � educa��o, desenvolvimento de seus potenciais, al�m de oportunidades de lazer e atividades de socializa��o.
A constru��o do feminino � feita de maneira inconsciente, desde o nascimento da mulher. Existe uma influ�ncia do modelo patriarcal, da repress�o � mulher e da submiss�o ao homem. Apesar de o movimento feminista ter feito grandes avan�os, as mulheres ainda sofrem muito na sociedade para sair desse lugar objetificado.
Na cl�nica, observamos sofrimentos ps�quicos oriundos da dif�cil tarefa de se construir como mulher. “O que � ser mulher?” � uma pergunta que nos acompanha desde a inf�ncia. Todo esse contorno da sociedade que nos objetifica torna essa busca um sofrimento ainda maior, porque isso n�o responde a essa indaga��o do que � ser.
Uma pesquisa publicada pela revista Science aponta que 30% das meninas entre 6 e 7 anos se sentem menos inteligentes do que os meninos. Essa constata��o demonstra a import�ncia e a necessidade do empoderamento das garotas na inf�ncia. Neste cen�rio, a educa��o � um caminho para a desconstru��o.
Quando pensamos na quest�o da constru��o do feminino, os pais, sem perceber, desde cedo j� aprisionam suas filhas a padr�es est�ticos pr�-definidos e isso vai se repetindo na escola, na m�dia. � importante que os adultos rompam com essa l�gica e permitam um ambiente onde os filhos possam ser conscientes de si pr�prios, de suas habilidades e beleza. � necess�rio que eles possam valorizar a crian�a na sua subjetividade.
Estere�tipos aprisionam e s�o reducionistas. Somos seres subjetivos e quanto mais engessados a padr�es, mais adoecidos emocionalmente podemos ficar. Os pais t�m um papel fundamental nesse processo. Todos somos diferentes um do outro e � importante que possamos ser. Os r�tulos, aparentemente inocentes, muitas vezes inibem a produ��o de subjetividade da crian�a e faz com que ela se sinta mal quando percebe que tem alguma coisa diferente dos colegas.
Criar crian�as empoderadas requer investimento e di�logo, por isso, para que possam se impor e lutar pelos seus pr�prios direitos no futuro, � importante que desde os primeiros anos elas tenham seus sentimentos validados.
Toda crian�a precisa ter um espa�o de fala. Normalmente objetificamos as crian�as e subestimamos seus sentimentos. Por exemplo: como voc� se sentiria se batessem seu carro? E por que quando a crian�a se entristece porque quebrou um brinquedo dizemos: n�o chore, a gente compra outro? Veja: para ela, aquele brinquedo era t�o importante quanto para voc� � o seu carro. Precisamos permitir que a crian�a expresse seus sentimentos, frustra��es, afetos e valid�-los. Dizer que ela n�o deve chorar ou sentir pode causar um grande estrago.
Em 2016, a ONG Save The Children publicou uma pesquisa apontando o Brasil como um dos piores pa�ses para ser menina. Segundo o �ltimo Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica, de 2018, uma mulher � assassinada a cada duas horas no Brasil. Na edi��o de 2020, os dados sobre estupro mostravam um registro a cada 8 minutos.
Incentivar a leitura de livros escritos por mulheres ou sobre elas, abordar a import�ncia de lideran�as femininas na hist�ria, promover debates sobre viol�ncia de g�nero a partir de not�cias recentes s�o algumas diretrizes para trabalhar o empoderamento feminino nas crian�as.
O maior sofrimento ps�quico que pode haver � quando o sujeito � silenciado, quando lhe censuram a express�o. E esse ideal padronizado acaba por inibir a singularidade e constr�i rob�s, corpos padronizados e ideais man�acos inating�veis. � preciso nos libertar desse imperativo da perfei��o para que possamos nos aproximar de n�s mesmos. A autoaceita��o est� ligada diretamente ao autoconhecimento. Pol�ticas p�blicas e engajamento social, como a lei Maria da Penha, tamb�m t�m sido pilares fundamentais para uma mudan�a na sociedade. Mas essa mudan�a pode tamb�m ser feita a partir de cada um de n�s, de espa�os como esse, provocando reflex�o. � um longo, por�m importante caminho. S� � poss�vel trabalhar o empoderamento infantil quando compreendemos todo esse contexto e desconstru�mos essa cultura que permeia a sociedade.