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Estado de Minas

Manspreading: express�o do machismo cotidiano


25/04/2023 04:00

Liliane Rocha
Mestre em Pol�ticas P�blicas pela FGV, CEO e fundadora da Gest�o Kair�s e conselheira de Diversidade
 
O assunto pode parecer trivial, mas tenho a oportunidade de pensar nele quase todos os dias, basta eu utilizar �nibus, avi�o, metr� ou qualquer outro transporte coletivo. Por�m, por mero recurso discursivo, come�arei por um fato que ocorreu recentemente.

Minha namorada, Fernanda, e eu est�vamos em um voo para um pa�s da Europa, sentadas naquelas cadeiras t�picas de tr�s lugares. Durante as 12 horas em que durou a viagem, pudemos observar o homem que estava sentado ao meu lado ficar de pernas abertas, se espa�ando para o lugar do meu assento, com as duas m�os na nuca batendo o cotovelo na minha cabe�a, me acotovelando no apoiador dos bra�os durante a viagem.

O inc�modo foi tanto que, em determinado ponto do trajeto, apesar da barreira idiom�tica, pedi a ele que, por favor, se reservasse a usar o espa�o que lhe cabia em sua poltrona, sinalizando com a m�o at� onde o meu espa�o ia e onde o dele come�ava, pois estava me incomodando. Cheguei a lembrar do meu pai que me educou com uma frase muito boa: “O seu direito acaba quando o do pr�ximo come�a”. Voltando � hist�ria, ele sorriu e disse que entendeu, mas, em poucos minutos, tudo j� havia come�ado de novo.

Conversando sobre o assunto, Fernanda e eu chegamos a duas conclus�es: 1) essa postura dos homens, mesmo os mais moderninhos e educados, de se refestelar em espa�os coletivos � um gesto simb�lico da estrutura social, na qual n�o somente acham que n�o s�o obrigados a se delimitar a um determinado espa�o que lhes cabe em prol de temas, espa�os e lutas relevantes para outros grupos sociais. H� uma lacuna no entendimento e do pensar de que “eu ocupo meu espa�o, nem mais nem menos, para que voc� tamb�m tenha o direito de ocupar o seu”, mas, ainda mais grave; 2) � a pr�pria nega��o do espa�o do outro ou da outra em si, ou seja, “eu ocupo o meu espa�o e o seu espa�o, porque voc� n�o tem direito a espa�o nenhum”.

Notamos a dificuldade do homem (branco, heterocisnormativo, sem defici�ncia) em se perceber como parte dessas mudan�as que os novos tempos trazem, com relut�ncia em aceitar que o seu espa�o � do mesmo tamanho que o de grupos que, historicamente, estiveram em desvantagem social para sustentar seus privil�gios.

Quando um homem se senta no �nibus, metr� ou avi�o e abre as pernas, ocupando dois espa�os, obrigando a pessoa ao lado a se encolher, ele est� comportamentalmente dizendo que “voc� n�o tem direito a espa�o nenhum”, “todos os espa�os s�o meus”. Notem a for�a dessa atitude e o quanto ela reproduz quest�es estruturais profundas. Essa pr�tica � t�o recorrente no Brasil e no mundo que, al�m de analisada, � chamada de “manspreading” ou “man-sitting”, que n�o t�m uma tradu��o literal para a l�ngua portuguesa, mas que reflete a pr�tica retratada neste artigo.

Esse fato ocorreu h� uma semana, e eu j� havia me esquecido que queria escrever sobre isso!  Por�m, novamente, uma semana depois e em outro aeroporto, tive que pegar o �nibus at� o avi�o. Havia um �nico lugar, e l� estava outro homem com as pernas abertas a ponto de ocupar dois lugares. Pedi licen�a, me sentei, e ele, da forma como estava ficou. Foi o tempo do trajeto inteiro assim, sem mover um mil�metro do espa�o que considerava seu por direito.

Pensei no quanto eu seria chamada de “mimizenta” (termo utilizado para reduzir a dor de algu�m a mera reclama��o indevida, ou mal-humorada, quando na verdade est� se reivindicando um espa�o que h� muito j� deveria lhe ter sido dado por justi�a) se toda vez que isso acontecesse eu reclamasse da forma devida, ou mais, o quanto eu deixaria este comportamento impactar momentos da minha vida por ter que estar, constantemente, ensinando sobre respeito ao pr�ximo, educa��o e boas maneiras a homens adultos, o que n�o aprenderam dentro de suas casas ou que, se aprenderam, acabaram por esquecer ao longo de suas trajet�rias.


Se a minha palavra n�o serve, uso aqui a de um homem, e repito o que meu pai me dizia: “Seu espa�o acaba quando come�a o do outro”. Seja no �nibus, no metr�, no avi�o, com suas fam�lias, nas empresas ou na rua! 
 


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