Ver�nica Souza
Catadora, assistente social, representante do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicl�veis e consultora da RC8 Treinamentos
Em meio ao crescente debate sobre a correta destina��o dos res�duos s�lidos produzidos no mundo, o Brasil apresenta n�meros irris�rios quando o assunto � reciclagem. Segundo dados divulgados em 2022 pela Associa��o de Empresas de Limpeza P�blica e Res�duos Especiais (Abrelpe), no pa�s, apenas 4% dos quase 28 milh�es de toneladas de res�duos recicl�veis produzidos anualmente s�o enviados para esse processo. �ndice quatro vezes menor que o de pa�ses com perfil socioecon�mico similar, como Chile, Argentina e Turquia, que apresentam m�dia de 16% de reciclagem.
Al�m do enorme impacto ambiental, as estimativas mostram que o Brasil perde pelo menos R$ 14 bilh�es todos os anos em res�duos recicl�veis n�o processados. Para se ter uma ideia da relev�ncia econ�mica da atividade, cerca de 800 mil pessoas vivem da reciclagem no territ�rio brasileiro, de acordo com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicl�veis (MNCR).
O baixo �ndice dessa pr�tica no Brasil pode ser explicado por diferentes fatores, como a falta de conscientiza��o da pr�pria popula��o, que descarta inadequadamente o lixo, e a escassez de pol�ticas p�blicas e iniciativas privadas voltadas para tratamento correto dos res�duos s�lidos. Sem a��es e recursos para a estrutura��o do setor, a cultura de reciclagem n�o avan�a.
Outro entrave foi a queda da demanda por material nacional, registrada a partir do segundo semestre de 2022. Importar mat�ria prima passou a ser mais barato que comprar dentro do pa�s, resultando em baixa procura. Com isso, os galp�es ficaram abarrotados ou vazios, enquanto as importa��es cresceram consideravelmente.
Com o fim da desonera��o sobre res�duos s�lidos importados, anunciado recentemente pelo Governo Federal, espera-se um aquecimento do setor j� nos pr�ximos meses.
Nesse cen�rio, a articula��o entre o poder p�blico, as associa��es de catadores e a iniciativa privada se torna ainda mais relevante. Nas cidades onde h� investimento na implanta��o e no fortalecimento da coleta seletiva, o �ndice de ades�o dos moradores � significativo, assim como a potencializa��o da atividade.
Exemplo disso s�o os munic�pios de Ouro Preto, Bar�o de Cocais e Itabirito, em Minas Gerais. Nesses territ�rios, seis associa��es de catadores de materiais recicl�veis recebem apoio do projeto Reciclo Agora, desenvolvido pela Vale em parceria com a RC8 Treinamentos, com o objetivo de ampliar a capacidade produtiva e de gest�o dessas associa��es e contribuir para a gera��o de trabalho e renda e a destina��o sustent�vel de res�duos.
Desde o ano passado, os membros das associa��es recebem capacita��es em diferentes �reas, apoio para formaliza��o dos espa�os e recursos financeiros para a estrutura��o da atividade. Os resultados s�o bastante relevantes. Ant�nio Pereira, distrito de Ouro Preto, ganhou sua primeira associa��o de catadores e, desde maio, conta com coleta seletiva porta a porta. A associa��o comercializou, at� o momento, mais de 10 toneladas de material recicl�vel, o que gerou cerca de R$ 10 mil em renda para os catadores envolvidos.
Iniciativas como essa ainda s�o pontuais, mas mostram o potencial da reciclagem como aliado para um futuro mais sustent�vel e como importante gerador de renda. Com investimentos adequados e pol�ticas p�blicas inteligentes, o Brasil pode mudar a realidade de milhares de catadores e alavancar sua relev�ncia no panorama mundial.