As comunidades remanescentes de diferentes povos africanos, reconhecidas como quilombolas, t�m sido desprezadas, assim como os ind�genas. Entram e saem governos e o mandamento constitucional, que garante a demarca��o das terras que ocupam, n�o � respeitado. Nos �ltimos 10 anos, pelo menos 30 l�deres quilombolas foram mortos, por resistirem � press�o de especuladores ou de latifundi�rios que ambicionam as terras que ocupam. � assim com os ind�genas, estejam eles em �reas demarcadas, ou n�o. Nesta quinta-feira, a l�der da comunidade Pitanga de Palmares, na Bahia, Bernadete Pac�fico, de 72 anos, foi executada com 14 tiros, em casa, por dois homens de capacete, ainda n�o identificados. Jurandir, filho de M�e Bernadete, como ela era conhecida, por ser uma ialorix� (dirigente de uma casa de candombl�), atribui o assassinato � especula��o imobili�ria. Segundo ele, a m�e havia recebido v�rias amea�as. Em 2017, o irm�o Fl�vio Gabriel Pac�fico foi morto diante da escola da mesma comunidade. Ambos os casos ser�o investigados pela Pol�cia Federal.
Os quilombolas somam 1.327.802 pessoas, ou 0,65% da popula��o brasileira, espalhadas por 1.696 munic�pios, segundo o Censo de 2022. Depois da Bahia, onde vivem 397.059 quilombolas (29,90% da popula��o recenseada), e o Maranh�o, com 269.074 pessoas, Minas Gerais tem a terceira maior popula��o de remanescentes dos quilombos – 135.310 pessoas, distribu�das em 392 comunidades oficialmente reconhecidas. Desde a Constitui��o de 1988,o Instituto Nacional de Coloniza��o e Reforma Agr�ria (Incra) titulou menos de 60 quilombos, dos 3 mil existentes no pa�s, de acordo com levantamento da Funda��o Palmares, que n�o tem a atribui��o de regularizar os territ�rios. Nos c�lculos de especialistas, mantido o atual ritmo de identifica��o e titula��o dos territ�rios, provavelmente, o Brasil levar� 2.188 anos para concluir a legaliza��o dessas �reas.
Os quilombolas, bem como os povos origin�rios, vivem da produ��o agropecu�ria. Mas, como os ind�genas, t�m relevante import�ncia na preserva��o do patrim�nio ambiental. Esse costume tem estreita rela��o com a afrorreligiosidade praticada pelos afrodescendentes. Os cuidados com a flora e com as nascentes fazem parte das tradi��es desses povos. Preservar a natureza vai al�m dos conceitos de sustentabilidade ambiental. � uma express�o religiosa, legada pelos seus ancestrais.
A morosidade do poder p�blico em quest�es de interesse dos ind�genas e dos negros �, entre tantas outras, uma manifesta��o de desprezo e desrespeito a esses segmentos da sociedade. Favorece aos conflitos, que resultam em perdas de vidas e preju�zos aos dois grupos, que n�o contam com influentes representantes nos espa�os de poder pol�tico.
Intoler�ncia e racismo andam juntos no Brasil – e alimentam-se mutuamente. Desde o in�cio do s�culo 16, quando chegaram os primeiras grupos de negros sequestrados, para serem escravos nas terras Santa Cruz, que a sociedade brasileira estabeleceu uma divis�o desumana entre pretos e brancos. Os negros eram, na concep��o dos crist�os, indiv�duos sem alma, sem sentimento e, portanto, n�o eram humanos, mas, sim, as criaturas inferiores em rela��o aos eurocentristas. Esse entendimento ainda prevalece em diferentes camadas da sociedade, o que explica as renitentes e cru�is express�es de racismo, em pleno s�culo 21. Explicam tamb�m o descuido das inst�ncias de poder com essas parcelas da sociedade.