Franklin Delano Roosevelt foi presidente dos Estados Unidos por quatro mandatos, entre 1933 e 1945. Entrou para a hist�ria como um dos personagens mais importantes do s�culo 20, respons�vel por retirar os EUA da Grande Depress�o e ser decisivo na vit�ria dos aliados contra o Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial. Um aspecto particular do her�i norte-americano, no entanto, ganhou notoriedade nos �ltimos anos, ap�s muito esfor�o em deix�-lo oculto: Roosevelt era uma pessoa com defici�ncia. Aos 39 anos, em 1921, contraiu uma paralisia, que o deixaria sobre uma cadeira de rodas at� o fim da vida.
O pr�prio Roosevelt mantinha firme disposi��o de n�o tornar p�blica sua condi��o pessoal. S�o raras as imagens do ex-presidente que sugerem a paralisia do pol�tico democrata. Havia uma estrat�gia deliberada de evitar que a limita��o f�sica se tornasse algum �bice para as necessidades pol�ticas naquele emblem�tico per�odo do s�culo 20.
A trajet�ria de Roosevelt � um dos exemplos de como o capacitismo – o preconceito contra as pessoas com defici�ncia – est� profundamente arraigado nas sociedades. Vem de tempos imemoriais o estigma contra essa parcela da popula��o. Registros hist�ricos descrevem atos cru�is e sum�rios contra aqueles que apresentavam alguma defici�ncia. A segrega��o tamb�m era comum.
� precisamente para mudar esse estado de coisas que o Brasil precisa se engajar na luta contra o capacitismo. O Dia Nacional de Luta das Pessoas com Defici�ncia, celebrado no �ltimo dia 21, � um marco importante para lembrar a condi��o de aproximadamente 18,6 milh�es de brasileiros. Esse � o contingente da popula��o que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), apresenta alguma defici�ncia – e uma s�rie de direitos plenos.
O capacitismo se manifesta de v�rias formas. Est� presente, por exemplo, na precariedade das pol�ticas p�blicas voltadas para a acessibilidade. � importante frisar, nesse sentido, que a no��o de acessibilidade n�o se resume a permitir a circula��o de pessoas com mobilidade reduzida. Ela tamb�m � necess�ria para que as pessoas com defici�ncia tenham acesso � informa��o, � cultura, � educa��o, aos servi�os de sa�de, ao mercado de trabalho. N�o � preciso ser especialista no assunto para perceber as enormes lacunas existentes para essa parcela da popula��o no Brasil de 2023.
� indiscut�vel que as pessoas com defici�ncia podem contribuir de forma inestim�vel para o pa�s. Segundo dados do IBGE, mais da metade dos trabalhadores dessa categoria atuam na informalidade. � preciso reconhecer que existe um esfor�o da iniciativa privada e do poder p�blico em oferecer oportunidades de emprego para essa parcela da popula��o, mas ainda h� muito a percorrer para que a economia absorva todo o potencial desses brasileiros que re�nem todas as condi��es de atuar com compet�ncia no mercado de trabalho.
� hora, pois, de dar visibilidade a tantos talentos que est�o ocultos sob a sombra do preconceito. O combate ao capacitismo precisa ocorrer at� na linguagem. N�o se se usam mais termos como “portadores de necessidades especiais”, por exemplo. Em uma das ideias mais poderosas nessa luta contra a discrimina��o, � fundamental lembrar: a pessoa sempre vem antes da defici�ncia. n
